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terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Susto da segunda

No pânico que tomou conta dos mercados mundiais nesta segunda-feira havia um medo que ia além da queda do crescimento chinês ou do encolhimento do preço do petróleo. Desta vez a onda de vendas de ações foi disparada pela dúvida sobre a saúde do sistema bancário global com o epicentro nos rumores em relação ao Deutsche Bank, cujas ações caíram 10%.

Houve um momento em que o “The Guardian" informou que havia uma boa notícia: em uma hora as bolsas fechariam e o dia financeiro chegaria ao fim. Era o humor inglês. O começo da segunda foi de temores em relação à China que pela primeira vez em décadas deixa de ser a economia que mais cresce. Está em segundo lugar agora, depois da Índia. 

Ninguém acredita nos números chineses e todos sabem que hoje o crescimento remanescente depende da mão de ferro do governo. A queda se espalhou por bolsas da Ásia que estavam abertas nem todas e só escapou o Japão; os preços do barril de petróleo caíram de novo. Nos EUA, o Dow Jones reduziu perdas no fim do dia e fechou a -1,1%.

Quando os mercados europeus abriram o temor novo já havia se somado aos medos velhos. Mais especificamente temia-se que o Deutsche não fosse capaz de fazer frente às suas dívidas. O banco divulgou um comunicado dizendo que tem capacidade de pagamento das obrigações de € 1 bilhão que vencerão em abril. No fim do dia o índice que mede o desempenho dos bancos europeus havia caído 5,6% na Europa o que, segundo o “Financial Times", é o pior dia de queda desde a crise da Zona do Euro, e o nível mais baixo desde 1999. A queda no ano foi de 24%.

Enquanto o Brasil pula o carnaval, num país cercado de riscos concretos, o mundo viu os ativos mudarem violentamente de preços. O Brasil terá mercados fechados por mais um dia hoje. Quando abrir, a Bovespa terá uma correção de preços para acompanhar o que houve no mundo. Menos mal se hoje houver alguma recuperação que reverta o clima de pânico que se instalou em algumas vendas e compras maciças de ontem. O ouro, que é sempre o refúgio, teve valorização forte.

O mundo vive uma temporada de volatilidade descrita em livro-texto sobre comportamento de manada do mercado. Há períodos em que vários temores se somam e qualquer notícia nova pode fazer disparar o pânico e ondas de vendas de ações. O fator mais importante na origem desse momento de baixa do mercado é o que acontece na China. Vindo de crescimento de 13%, o país desceu ano a ano e isso produziu quedas fortes nos preços das commodities que haviam subido na euforia do crescimento. O medo é que tenham se acumulado muitas distorções na economia chinesa que a levarão à queda mais forte no ritmo de expansão do PIB.

Essa onda pega o mundo com uma política monetária já muito expansionista provocada pela crise de 2008 nos Estados Unidos, que começou com a quebra do Lehman Brothers, e a crise europeia que aconteceu em seguida. Se os bancos centrais já operam com juros em zero ou perto disso, que instrumento usarão para deter o risco de uma quebradeira? Se a China despencar, há risco de uma recessão mundial? Esses fantasmas rondam os mercados financeiros globais.

A recuperação da crise de 2008 estava começando a mostrar seu resultado. Os Estados Unidos voltaram a crescer e países europeus já demostram bons indicadores, diminuindo dívida, e elevando o crescimento. Um novo golpe pode por alguns desses esforços a perder. O Brasil, para tentar se proteger da crise global de 2008, aumentou muito o gasto público, confiando no diagnóstico de que outros países tinham indicadores fiscais piores e dívidas maiores e, mesmo assim, expandiam gastos para conter os efeitos da crise. Houve um primeiro momento de crescimento para o Brasil em 2010, seguido de uma desaceleração e agora o país mergulhou numa recessão que pode ser a pior da história. 

O banco Itaú, em relatório divulgado na sexta-feira, começa dizendo que o “Brasil não se estabilizou”, ou seja, continua afundando. Foi neste relatório que o Departamento Econômico reviu para 4% a previsão de recessão em 2016. O Brasil não aproveitou a crise para se ajustar, pelo contrário, aumentou seu desajuste, por isso não está preparado para nova turbulência global. Mais uma vez o país deveria ter consertado o telhado em dia de sol.

Fonte: Coluna da Míriam Leitão - O Globo 
 

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