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quinta-feira, 30 de novembro de 2017

PCC já opera 150 postos de combustíveis em São Paulo, diz Fecombustíveis

De acordo com o presidente da entidade, crime organizado usa estabelecimentos para lavar dinheiro de roubos

'Ilegal, e daí?': Seminário sobre ilegalidade, pirataria e contrabando. Na foto, o presidente da Fecombustíveis Paulo Miranda - Roberto Moreyra / Agência O Globo

O presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), Paulo Miranda Soares, disse nesta quinta-feira que o setor enfrenta em São Paulo a concorrência desleal de, aproximadamente, 150 postos de combustíveis comandados pela facção criminosa PCC. De acordo com Soares, o crime organizado coloca os preços dos combustíveis abaixo da média do mercado para aumentar as vendas e maquiar a lavagem de dinheiro. A informação foi divulgada durante o seminário "Ilegal, e daí?", sobre ilegalidade, pirataria e contrabando, realizado pelo GLOBO, em parceria com Extra, Valor e Época, no Hotel Prodigy, no Centro do Rio. — Começamos a mapear, com ajuda de grandes distribuidoras, que postos que praticavam concorrência predatória haviam mudado de dono mas continuavam usando as suas bandeiras, mesmo comprando de outras companhias. Receptavam caminhões com combustível roubado e, quando as autoridades iam até lá, as ameaçavam. É uma fiscalização muito difícil de ser feita, porque estamos tratando com bandidos — explica Soares.

A descoberta foi feita a partir de uma reclamação sobre concorrência predatória feita por um associado em relação a um determinado posto. Segundo o presidente do sindicato, a principal finalidade dos postos comandados pelo PCC é a lavagem de dinheiro: — O crime organizado joga os preços dos combustíveis lá embaixo, as vendas disparam e, para fins de tributação pela Receita Federal, ela passa do regime de lucro real, no qual você tem de apresentar suas despesas, para o presumido, que dispensa essa apresentação porque a tributação ocorre em cima do faturamento bruto. Ele joga o faturamento lá em cima e fala que posto deu lucro enorme sem ter dado lucro nenhum e está lavando dinheiro ali, de roubo a banco, de assalto a carro forte.


A descoberta desses postos irregulares levou à criação de uma força-tarefa no estado, numa parceria entre a Secretaria de Justiça, o Ministério Público (MP-SP), o Instituto de Pesos e Medidas e Associação Nacional do Petróleo, para investigar essa rede ilegal. Segundo Soares, no entanto, o setor ainda não sentiu nenhum resultado "palpável":  A crise dos últimos três anos aumentou muito essas irregularidades.
O seminário é uma realização patrocinada por Enel, Light, Sindicom e Souza Cruz.

O Globo
 

Policiais mantêm carros com peças de segunda mão que são doadas por oficinas


TCE rejeitou esta semana um edital da Secretaria de Segurança para a compra de 750 veículos


 “A gente pode conversar, mas não tira foto minha, não. Só do carro”. O pedido é de um policial militar, que, em seguida, começa a falar em tom de desabafo. Ele tira o veículo da sombra de um pequeno prédio e o estaciona sob o sol forte do início da tarde de ontem para mostrar alguns defeitos. Cita algumas falhas mecânicas e explica por que os pneus estão carecas:  — Pode parecer estranho, mas peguei os quatro numa loja há pouco tempo. O dono vende pneus novos para a clientela e dá os velhos para a gente. Quem trabalha com policiamento motorizado está fazendo isso. Comerciantes, percebendo nossas  têm doado peças usadas para que possamos trabalhar.

O problema parece longe de uma solução, já que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) rejeitou esta semana um edital da Secretaria de Segurança para a compra de 750 veículos, que renovariam parte da frota da PM. A justificativa para a decisão: os valores apresentados pelo governo estariam acima dos praticados no mercado.

A conta avaliada durante uma sessão plenária realizada pelo TCE na terça-feira foi de R$ 66.323.853,34, o que corresponde a R$ 17.058.928,70 (34,63%) a mais que uma estimativa feita por técnicos do órgão para aquisição dos veículos. Baseados em consultas a concessionárias e cotações da tabela Fipe, eles consideraram ideal um gasto de R$ 49.264.925,20 com novos carros.

ORÇAMENTOS DIFERENTES
Os dois orçamentos, tanto o da Secretaria de Segurança quando o do TCE, consideram um acréscimo de 20% em cima dos preços devido à necessidade de instalação de acessórios especiais, como radiotransmissores, giroscópios e sirenes. Mas, em seu relatório sobre o edital, assinado pela conselheira substituta Andrea Siqueira Martins, o tribunal observa que o governo estadual deveria ter fornecido a fonte de consulta.

O TCE, diante da diferença de quase 35% entre os valores propostos, determinou que a secretaria deve ampliar as pesquisas de preços junto a empresas especializadas, incluindo as de outros estados da Região Sudeste. E, em consulta ao Sistema Integrado de Gestão e Administração da Frota da PM, o tribunal verificou que, em abril, 986 viaturas não tinham condições de rodar. O número corresponde a 38% do total de carros da corporação (2.594). No entanto, no dia 13 deste mês, o colunista do GLOBO Ancelmo Gois informou que o percentual de carros da PM parados por falta de manutenção já chegava a 52% (1.349).

Anteontem, quando o TCE divulgou sua decisão, a repórter fotográfica do GLOBO Márcia Foletto flagrou seis policiais militares empurrando uma caminhonete quebrada durante patrulhamento na Vista Chinesa. A situação da frota é tão ruim que mexeu com os sentimentos do mecânico José Ednaldo Jerônimo, que deixou sua terra natal, João Pessoa, há 35 anos e hoje é dono da Jerônimo’s Car, no Rio Comprido. Ele conserta, em média, dois carros da PM por dia. Ontem, um da corporação e um da Polícia Civil estavam na oficina do paraibano para reparos. — Trazem para cá viaturas totalmente quebradas. Vêm em reboques ou puxadas por outros carros. Faltam pastilhas de freios, velas, cabos, correias, tantas peças... Sinto que tenho o dever de ajudar. O último carro da PM que recebi está com pneus carecas, elevadores dos vidros das janelas precisando de reparos, para-choque arrebentado e lanternas e faróis quebrados. Pego viaturas de tudo quanto é lugar, até do batalhão do Leblon (23º BPM).

A quantidade de veículos que a Secretaria de Segurança tenta comprar representa quase um terço (28,9%) da frota atual da Polícia Militar. O TCE deu prazo de 30 dias para que seja feita a revisão do orçamento. Mas um outro edital da pasta foi aprovado pelo tribunal: o de chamamento público para oficinas que queiram prestar serviços de manutenção preventiva e corretiva em veículos da PM. Com uma verba prevista de R$ 93.662.160,00, o documento prevê gastos com fornecimento e instalação de peças que atendam às recomendações dos fabricantes dos carros.

A Secretaria de Segurança informou que vai encaminhar a decisão do TCE à PM, responsável pela elaboração do edital para compra de veículos. A corporação ficará encarregada de fazer os ajustes propostos e prestar esclarecimentos ao tribunal.

O Globo

Rollemberg: demita auditores de trânsito do DETRAN-DF e contrate moradores de rua - sai mais barato e funciona melhor

Mais uma vez DETRAN-DF se enrola e abandona controle de trânsito e morador de rua tem que assumir

O DF-TV,  1ª  edição de hoje, da TV Globo, não tivesse mostrado, seria dificil de acreditar.
Ontem, 29, durante uma forte chuva na L2 Sul, o semáforo na altura da 404 Sul que controla o fluxo de trânsito que vem do Lago Sul, parou de funcionar e o CAOS se instalou no trânsito.

A salvação foi um morador de rua, conhecido por Paulão, que mesmo sob forte chuva assumiu o controle do trânsito, com direito e apito e tudo, conseguindo por um pouco de ordem no CAOS.

Quando Paulão estava em plena atividade - substituindo o ineficiente DETRAN-DF, um motorista filmou uma viatura do DETRAN se deslocando pela L 2 Sul, a toda velocidade, e simplesmente ignorou a situação do trânsito e em vez de parar e assumir as funções desempenhadas de forma improvisada pelo morador de rua simplesmente seguiu em frente.

Questionado pela omissão o DETRAN-DF alegou que a viatura não parou por ir atender ocorrência mais urgente. Curioso é que naquele horário e naquela região  não ocorreu nenhuma situação de emergência no trânsito - caso tivesse ocorrido aquele Departamento poderia deslocar outra viatura, mais próxima do local da emergência e a que passou na L2 atendera a situação.

Pelo histórico de omissões do DETRAN temos a tentação de pensar que a emergência daquela viatura era simplesmente ir buscar no colégio o filho de um dos membros da guarnição???

A notícia sobre o morador de rua assumir as funções de 'auditor de trânsito' foi publicada no DF-TV 1ª edição TV Globo de hoje - veja o vídeo.


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Advogado diz a CPMI que provas usadas por Janot contra Temer foram adulteradas

Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) da JBS, nesta quinta-feira, 30, o advogado Rodrigo Tacla Duran disse que os documentos utilizados pelo então procurador-geral da República (PGR) Rodrigo Janot, em denúncia contra o presidente Michel Temer, foram “adulterados” e, portanto, são falsos.

Ao fazer essa acusação, Tacla Duran se refere aos documentos do sistema de comunicação secreto do setor de propinas da Odebrecht, chamado de Drousys. O advogado disse aos parlamentares que contratou uma perícia que mostra que sistemas internos da Odebrecht foram adulterados antes de serem entregues ao Ministério Público Federal. 

Alguns das informações disponibilizadas no Drousys pela Odebrecht foram usados por Janot para embasar a segunda denúncia contra o presidente da República, rejeitada recentemente na Câmara dos Deputados.  “A perícia comprova que os extratos do Meinl Bank são falsos. Comprovam também que o sistema Drousys da Odebrecht foi manipulado e adulterado, antes, durante e depois de ter sido bloqueado pelas autoridades da Suíça. Isso quer dizer que essas informações não se prestam como provas para incriminar quem quer que seja, muito menos deputados, senadores e o presidente. A prova é nula”, disse Tacla Duran.

Duran foi convocado para depor à CPMI porque é apontado como operador de propinas da Odebrecht. O advogado tem um pedido de prisão expedido pelo juiz Sérgio Moro, mas se mantém em liberdade na Espanha, onde vive atualmente. Por conta do pedido feito pelo magistrado, Tacla Duran foi alvo de um pedido de extradição para o Brasil, o que foi negado por autoridades espanholas.  “Eu não parto da premissa de que o procurador Janot estava mentindo. Eu parto da premissa de que ele obteve no Drousys, mas isso prova que o sistema foi manipulado depois do bloqueio feito pela Suíça em março de 2016”, argumentou o advogado em videoconferência.

Tacla Duran se recusou a entrar no acordo de delação que envolveu 77 executivos ligados à empreiteira. Ele é acusado de operar, ao lado de executivos do departamento de propinas da Odebrecht, propinas de dois contratos firmados pelos consórcios Pipe Rack e TUC, integrados pelas empresas Odebrecht e UTC, com a Petrobras para a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

 

O calvário de uma mãe para sepultar o filho



Rapaz morreu em um presídio. Equipe do GLOBO acompanhou o périplo da mãe dele por cinco dias





Descaso, burocracia e corrupção - O calvário  para sepultar o filho morto em presídio do Rio

Com um corpo médico incapaz de atender uma população carcerária crescente – apenas 56 profissionais para 50 mil prisioneiros espalhados pelo estado –, dobrou em três anos o número de presos mortos no sistema penitenciário fluminense. Um dos 230 óbitos registrados este ano (até o momento) foi o de William, mineiro de 29 anos, morto por tuberculose, doença que ele pode ter contraído na prisão. Acompanhamos o drama de sua mãe, que enfrentou descaso, burocracia e corrupção para enterrar o filho.

Sexta-feira: número desconhecido

O celular toca, mas a dona de casa Isa Maria dos Santos, de 51 anos, está ocupada na cozinha. É sexta-feira, 17 de novembro, hora do almoço. Enquanto serve o prato de Marcelinho, seu filho caçula, pede ao marido para ver quem é: número desconhecido. Do outro lado da linha, um homem se apresenta como Breno, “funcionário do serviço social do presídio Ary Franco”. Em poucas palavras, informa que William Carvalho dos Santos, preso desde julho, acusado pelo roubo de um celular na Praia de Icaraí, em Niterói, morreu na noite anterior, após passar mal e ser levado para a UPA do Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, a 25 quilômetros de distância do Ary Franco.

“Como ele morreu?", quer saber Marcelo, padrasto de William. O homem não diz – dá o número da UPA e se despede. Isa emudece ao receber de Marcelo a confirmação do que acabara de ouvir: seu primeiro filho, que veio com ela de Andrelândia, cidade mineira de 12 mil habitantes, está morto. O telefonema dá início a um calvário na vida da mãe. Naquela mesma sexta-feira, ela telefona diversas vezes para a UPA de Gericinó até ser atendida, no fim da noite. Um funcionário da equipe médica conta que o corpo está no local, mas que seria logo transferido para o Instituto Médico-Legal de Campo Grande. Diz mais: que William chegou à unidade sem vida, ao contrário do que o servidor do Ary Franco informou mais cedo.

Sábado: família vem de Minas  

                           William ao ser preso em 2014 - Reprodução


William tinha 29 anos. Era negro, alto e forte como o avô materno, Luiz Carlos dos Santos, de 75 anos, que sempre se divertiu com as graças do neto. No começo da adolescência, William voltou a morar em Andrelândia com o avô, tios e primos. Quis saber nessa época quem era seu pai – que não o assumiu quando Isa, uma mulher simples e de olhar bondoso, engravidou – e pediu ao padrinho que os apresentasse. Ele tentou marcar um encontro, mas o pai não apareceu. - William sentiu muito. Ele queria ter um pai - lembra sua mãe.

Assim que soube da repentina morte do neto, seu Luiz Carlos arrumou uma pequena mala com algumas peças de roupa. Vieram com ele, de carro, três primos de William. Cinco horas de estrada mais tarde, a família se reunia na casa de Isa, no subúrbio de Niterói. O corpo ainda não havia sido levado para o IML de Campo Grande. Isa e Marcelo ligavam para o local de hora em hora, às vezes em intervalos menores, perguntando a todo momento se o corpo já havia sido transferido para lá. A resposta era sempre negativa. Se não estava no IML, onde estaria?


Domingo: um corpo esquecido  
 Pouco depois das 8h, Isa e seu marido entram em um ônibus da linha 484 (Alcântara – Niterói) e, depois, vão de barca até a Praça Quinze. Pedem ajuda ao plantão judiciário do Tribunal de Justiça fluminense, onde são atendidos pela defensora pública Juliana Naliato. Na tentativa de ajudá-los, emite ofícios para diversos órgãos pedindo urgência no caso, além de um enterro gratuito para William.


Isa e Marcelo saem do plantão às 13h e vão para a 34ª DP (Bangu), a 50 quilômetros dali. O inspetor que os atende encontra o registro de ocorrência da morte de William, feito por um servidor da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), e percebe um erro: seu colega, que havia feito o registro, dois dias antes, esqueceu de pedir a remoção do corpo. Isa volta para casa no fim da tarde com um punhado de papéis carimbados pela defensora pública – documentos que ela não compreende exatamente o que são – e o coração pesado como nunca. Esqueceram seu filho numa geladeira de Gericinó.


Segunda-feira: como ele morreu? 
 

Galeria do presídio Ary Franco, em Água Santa, considerado o pior cárcere do Rio - Daniel Marenco m 16/12/2015 / Agência O Globo


O dia mal amanhece e já é hora de sair. Por telefone, a família de William finalmente confirma a chegada do corpo ao IML. Eles pegam dois ônibus, uma barca e, duas horas de trajeto depois, chegam ao destino. Com os ofícios de gratuidade em mãos, Isa vê pessoas serem cobradas para liberar os corpos. É informada de que ela também precisará desembolsar R$ 150 para tirar o corpo de seu filho daquele lugar, mas não naquele momento. É preciso voltar ao plantão judiciário do Tribunal de Justiça para saber em qual cemitério será o enterro gratuito. Como a família prefere levar o corpo para Niterói, escolhe-se o Cemitério Maruí, fundado em 1855, no Barreto. Às 19h30m, Isa e Marcelo voltam para casa exaustos.  - Deus nos ajude amanhã - diz a mãe, prevendo dificuldade antes de passar mais uma noite em claro. 

Até aquele momento, Isa não sabe como o filho morreu. Não falava com ele há quatro meses, desde que William telefonou de dentro do presídio, usando o celular de um colega, para avisar à mãe que estava preso. Suspeita que ele tenha sido vítima da tuberculose diagnosticada em fevereiro, menos de dois meses após deixar o mesmo presídio Ary Franco, considerado o pior cárcere do Rio, infestado de ratos, morcegos e baratas. É possível que ele tenha se contaminado no local.

Marcelo conta que o enteado conseguiu um emprego como faxineiro de um condomínio residencial em fase de acabamento. Em seu Facebook, as últimas fotos mostram um homem orgulhoso de si por estar trabalhando, sempre sorrindo com o uniforme de sua empresa. No começo de junho, a firma perdeu o contrato de limpeza e dispensou William.

Sua vida mudou: ele, que dormia no sofá da sala, começou a sair e não avisar à mãe aonde ia. Dizia que estava namorando, mas nunca apresentou a namorada a ninguém. No dia 29 de junho, caminhava na Avenida Sete de Setembro com uma mochila nas costas e um guarda-chuva na mão. Uma viatura policial o achou suspeito. William foi revistado e, com ele, os policiais encontraram um celular roubado e um cordão. Os autores da prisão divulgaram fotos de William sob poder do estado em uma página do Facebook: "Preso ladrão de Icaraí", dizia a postagem.

William foi levado para a 77ª DP (Icaraí), a mesma de quatro anos antes, quando foi preso pela primeira vez ao ser reconhecido na rua por uma mulher que teve o celular roubado.  – Ele estava tentando mudar, a gente via que ele se esforçava, mas não conseguia. Se continuasse trabalhando acredito que não teria voltado a roubar – lamenta Marcelo.

Ao acordar, Isa vai ao cemitério. Apesar do pedido de gratuidade da defensora, é informada que somente o velório e o sepultamento são de graça.  - Apesar da lei de gratuidade, o município não está arcando com essas despesas há algum tempo. Tem que ser particular - diz o servidor que a atendeu.  Chamam uma funerária pequena que funciona perto do cemitério e cobra R$ 650. Cansada e sem poder esperar mais um dia para enterrar o filho, ela paga o valor, ajudada por parentes e amigos. A empresa buscaria o corpo no IML de Campo Grande ao meio-dia, na companhia da mãe.


Mas o funcionário Luiz Fernando deixa Isa em casa alegando que precisava antes remover um cadáver em Tribobó, São Gonçalo. O carro, um modelo Palio Weekend improvisado, com o banco rebaixado para caber o caixão, foi buscá-la somente às 15h - uma hora antes do horário agendado para o enterro. Percorrer os 70 quilômetros de distância até o IML foi desesperador. A Avenida Brasil estava parada. A mãe só chegou ao instituto às 17h. Antes de ir embora, o homem da funerária pede à Isa R$ 150, entra em uma sala e volta de mãos vazias. A mãe pede um recibo: "Vai me complicar", disse Luiz Fernando.

Em agosto, uma operação no IML de Campo Grande parecia ter colocado fim a um esquema de corrupção que lucrava R$ 150 mil por mês, segundo investigação do Ministério Público estadual e da Corregedoria da Polícia Civil. Foram presos na ocasião o vereador Gilberto de Oliveira Lima (PMN), o então diretor do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), Sérgio William Silva Miana, e o comissário Franklin Silva da Paz, que chefiava a unidade – os dois primeiros já a dirigiram. Os investigadores descobriram que o “pedágio da morte” existia desde 2014.

A informação de que o esquema continua é confirmada pelo dono de uma funerária: “Lá é assim que funciona: às vezes cobram R$ 150, outras vezes R$ 200”.  – Achei que aquela ação fosse acabar com o esquema. É a miséria humana em estado bruto, que tem um braço junto às funerárias e junto ao setor médico também. As investigações continuam, os três permanecem presos. Felizmente as prisões têm sido mantidas pelos tribunais superiores. Dia 4 de dezembro, haverá a sessão de julgamento sobre este caso, para decidir se a denúncia será recebida ou rejeitada e se a prisão deles será mantida – afirma o promotor de Justiça Túlio Caiban Bruno, responsável pelo caso.

Em nota, a Polícia Civil afirma que trocou a direção do posto de Campo Grande do IML por determinação da direção do Departamento Geral de Polícia Técnico-Científica (DGPTC). A nota afirma ainda que "por ordem expressa (ordem de serviço) ficou proibida a entrada de funcionários de funerárias (agenciadores) no posto, sob pena de crime de desobediência".
"Sendo certo que o delegado titular de Campo Grande está ciente, e se colocou à disposição para encaminhar policiais da equipe dele para o local, em caso de descumprimento", diz a nota, que pede ainda que a pessoa que pagou entre em contato "a fim de formalizar tal denúncia, pois estará nos prestando um serviço".

A nota diz ainda que foi determinado que o diretor do posto "identifique o corpo oriundo da SEAP, liberado na semana passada, para que possamos ouvir a pessoa que fez a liberação, bem como o parente do morto".
Quando Isa chega ao cemitério com o corpo do filho, passa das 19h. Cinco coveiros foram obrigados a esperar, por ordem do administrador. Ele mesmo ficou até mais tarde no serviço, pois o cemitério fecha às 18h. Mas Isa e sua família precisariam ter mais paciência. Por causa do atraso da funerária, o cartório de Bangu já estava fechado quando o corpo foi liberado. Ela não teve tempo de emitir a certidão de óbito obrigatória para realizar o enterro. A mãe desabou ao ser informada pelo administrador de que não haveria enterro aquela noite. O corpo de William passaria a madrugada na capela H, com um ventilador barulhento ligado o tempo todo sobre o caixão para manter a sala minimamente resfriada.


Doze pessoas que amavam William estão ao redor do seu corpo na capela H. Isa chega depois, pois teve que ir ao cartório de Bangu para obter a certidão de óbito. É uma reunião silenciosa de mulheres e homens negros, trabalhadores, religiosos. O velório é feito com caixão aberto. Apesar da morte ter sido há seis dias, o rosto tem boa aparência. Não está tão magro nem tão pálido quanto se poderia supor, e os músculos da face estão relaxados. A família sente um inesperado conforto ao vê-lo assim: bonito. William estava em liberdade condicional. Apenas três dias antes de ser preso novamente, compareceu em juízo para assinar seu nome. – Sinto que fracassei – desabafa Marcelo durante o velório, chorando muito, antes de ser abraçado pela família.


Segundo o defensor público Marlon Barcellos, coordenador do Nuspen (Núcleo do Sistema Penitenciário), não faltam medicamentos para tuberculose nos presídios do Rio – faltam médicos.

Em resposta ao GLOBO, a Secretaria de Administração Penitenciária informou que são 56 médicos trabalhando no sistema. O promotor acha pouco para 50 mil presos, o que corresponderia a 1 médico para cada 892 presos. Um levantamento feito em 2015 pelos conselhos Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) e Federal de Medicina (CFM) aponta que a média para o país é de 2,11 médicos para cada grupo de mil pessoas.

Na mesma resposta, a Seap disse que a tuberculose de William não foi diagnosticada, mas o laudo do IML aponta infecção pulmonar como causa da morte.  – Este ano, já morreram 232 pessoas nas prisões do estado. Ano passado foram 254. Morre-se muito, de um modo geral. Há três anos morria menos da metade. Culpa da superlotação e da ineficiência do serviço médico. Quando um preso precisa de médico, precisa ser levado para a UPA de Gericinó, mas faltam motoristas e até carros para fazer esse transporte. Quando um preso está em estado grave, quem decide se ele será ou não levado ao médico é o agente penitenciário. Não é um critério médico – afirma o defensor.


Segundo ele, um preso pode demorar até três semanas para conseguir ser transportado, uma vez feito o pedido:  – Pode ter havido omissão, nunca vamos saber. Ele pode ter morrido no Ary Franco, onde já morreram 15 este ano, e foi levado à UPA para confirmar o óbito, ou pode ter morrido no caminho, depois de ter havido negligência. Uma coisa é certa: as unidades prisionais tentam se livrar do corpo para se livrar da sindicância que é feita, ou deveria ser feita, após a morte de um preso.

A Seap confirma que, nos presídios fluminenses, o transporte dos internos para a unidade médica de Gericinó é controlado pelos agentes penitenciários, uma vez tendo sido acionados pelos outros presos quando um deles está passando mal. Mas, segundo a assessoria de imprensa da pasta, o serviço é imediato: assim que um preso necessita de socorro, uma viatura do Serviço de Operações Especiais (SOE) é convocada pelos agentes para levá-lo. A secretaria nega que William tenha ficado muito tempo à espera de atendimento médico.  Um coveiro se aproxima para levar o corpo de William. Quando o caixão é fechado, Isa desaba. “Vai com Deus, filho”, diz, enquanto o corpo é levado para longe dela. Pouco depois das 12h, o caixão é colocado na gaveta 337 e sua entrada é vedada com um bloco de concreto. Seis dias após a morte, Isa consegue enterrar seu filho.

O Globo

 

 


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