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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

A Constituição de nariz quebrado - Percival Puggina

"Crês que a oposição vai derrotar a esquerda com discurso sobre ética? Com teses sobre o Brasil? 
Com visão de história? 
Com críticas construtivas? 
Papo furado, cara!". Meu amigo continuou a descrever suas observações:  "O PT começa a trabalhar o eleitor desde que ele entra na estufa da maternidade. Lá já tem uma atendente criticando "o sistema". 
 
Essa conversa aconteceu em algum momento do final do governo Dilma I e, no fundo, as coisas ainda estão muito parecidas com isso. 
A apropriação das mentes começa cedo e passa pelas experiências coletivistas do maternal. 
Engrossa nos cursos fundamental e médio quando o sistema cai nas mãos dos pedagogos marxistas, dos discípulos de Paulo Freire, do politicamente correto e dos “coletivos” étnicos ou identitários. 
Vai promovendo a relativização da verdade e do bem, a tolerância com tudo que está errado e a intolerância para com quem se atreve a apontar quaisquer erros na ortodoxia esquerdista
E vai adiante com o controle dos sindicatos, dos fundos de pensão (oba!), dos movimentos sociais, de uma constelação de ONGs (oba!), dos cursos de graduação e de pós, das carreiras jurídicas, dos seminários e cursos de teologia, da CNBB, da Globo, da cozinha dos jornais, do escambau
Se o convidarem para um Clube do Bolinha, leitor, em seguida você descobrirá que o Bolinha que manda é companheiro.

Quando eu estava desfiando a lista, meu amigo perguntou: "Os sindicatos a que te referes são de trabalhadores ou patronais?", ao que eu esclareci - "De trabalhadores, claro". Mas ele me advertiu que também as organizações patronais se aparelham quando o partido assume o controle do Tesouro e do BNDES. Imagine o leitor: temos no Brasil empresários tão petistas quanto seus operários. E arrematou: "Por motivações opostas".

Ninguém pode acusar o PT e sua parceria esquerdista, quando fora do governo (de qualquer governo), de fazerem oposição cordial, bem educada, respeitosa, construtiva. 
Como o boxeador martela o fígado do adversário, sistematicamente eles cuidam de desfigurar a imagem do opositor. Nariz, lábio, supercílio, orelha. Vencido o pleito, ocupada a cadeira, o que passam a cobrar de seus opositores? Colaboração e fidalguias. Talquinho e perfume. 
E até a pequena oposição que no Congresso Nacional resiste às tentações inerentes ao cabaré do Erário passa a ser acusada de radicalização e impertinência, polarização (!) e discurso de ódio.

Aqui, desde meu ponto de vista, o nariz quebrado que vejo é o da Constituição, o supercílio aberto é o do Estado de Direito, o lábio esmigalhado é o da liberdade de expressão e a orelha rasgada é a do direito à informação e do respeito à intimidade da vida privada.

Percival Puggina (79) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Teste das urnas: o que o ministro Alexandre quis dizer? - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino


Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

"Vaidade de vaidades, diz o Pregador. Vaidade de vaidades! Tudo é vaidade". Além do Eclesiastes, temos também a fala final do Diabo, personagem de Al Pacino, no filme "O advogado do Diabo": "Vaidade, definitivamente meu pecado favorito".

Alguém com o poder de Alexandre de Moraes acaba se cercando só de bajuladores, pois todos têm medo de fazer críticas duras, de "tocar a real". A própria imprensa tem aplaudido seu abuso de poder, pois mira basicamente em "bolsonaristas". Alexandre se fechou numa bolha.

Quando
, então, o desembargador aposentado Sebastião Coelho, homem de coragem, disse em sua cara - e na cara do Brasil todo - que os ministros do STF eram "as pessoas mais odiadas do país", isso foi uma bomba. E Alexandre parece ter reagido com o fígado mais do que com a cabeça.

Rebatendo o desembargador, que atuava como advogado do réu, Alexandre disse que uma minoria extremista odeia o STF, enquanto a maioria defendia a atuação dos ministros supremos, e deu a seguinte "prova" disso: basta ver o resultado das urnas! [vamos mais no popular: o 'teste das ruas', que são evitadas pelo maligno petista e pelos ministros da Suprema Corte.]

Não vou entrar na questão da transparência desses resultados, se são ou não confiáveis, até porque o tema virou tabu imposto pelo TSE, ou sequer no aspecto do 7 de setembro lulista totalmente às moscas, esvaziado, enquanto Bolsonaro arrastava multidões. 
O que o ministro quis dizer com isso?
 
Ora, Alexandre confessa, como fez seu colega Barroso, que o STF tinha um candidato, um partido preferido? 
O STF, como sabemos, não recebe votos. 
Logo, os votos recebidos por Lula são sinônimo de votos de confiança na atuação do Supremo?
 
Essa confissão é simplesmente bizarra! Os ministros supremos admitem à luz do dia que tinham um candidato, que "derrotaram Bolsonaro". Deixando de lado a insanidade de tal confissão e a consequente cara de paisagem da mídia e dos nossos juristas ou da OAB, cabe perguntar: 
- então os quase 60 milhões de votos que Bolsonaro recebeu foram dos que não confiam no STF? 
Se for o caso, isso está longe de ser uma minoria insignificante, não é mesmo? 
A matemática alexandrina é um tanto esquisita...
 
A democracia brasileira está morta, eis a triste realidade. 
E certamente não é a ampla maioria que aprova essa transformação do STF num partido político. 
Tanto que nem o presidente nem os ministros supremos aceitariam o "teste das ruas", preferindo se proteger atrás do "jornalismo" alinhado ou das urnas eletrônicas.

Na "democracia relativa" do lulismo, só não há espaço mesmo para o povo. Esse tem que aceitar calado essas narrativas estranhas, ou arcar com as consequências que nem marginais perigosos enfrentam. Afinal, Alexandre condenou um manifestante a 17 anos de prisão, enquanto traficantes acabam soltos pelo mesmo STF. 

Está tudo invertido no Brasil hoje...

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo

 


sexta-feira, 24 de março de 2023

Lula e o PCC sonham juntos - Augusto Nunes

Revista Oeste

O presidente que enxergou uma “armação do Moro” no plano frustrado pela PF merece virar testemunha de defesa dos criminosos

Sérgio Moro e a ameaça do PCC | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Divulgação
Sérgio Moro e a ameaça do PCC | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock/Divulgação 
 
À vontade como um Dilma Rousseff cercada por Erenices e Kátias, o presidente Lula guilhotinava plurais na entrevista concedida a jornalistas domesticados quando a conversa enveredou pelos 580 dias na gaiola em Curitiba. Depois de reafirmar que todas as acusações foram feitas por delatores intimidados por integrantes da Operação Lava Jato, confessou que a temporada na prisão o transformara num pote até aqui de mágoa: “De vez em quando, ia um procurador, entrava lá num sábado, dia de semana, para perguntar se estava tudo bem”, disse Lula. “Entravam três ou quatro procuradores e perguntavam: ‘Está tudo bem?’. Ele dizia que não: só se sentiria em paz depois do acerto de contas que ainda não chegou. “Só vai estar tudo bem quando eu foder esse Moro. E eu estou aqui para me vingar dessa gente.”
 
“Quando Lula fala, o mundo se ilumina”, garantiu em 2004 Marilena Chauí. Fora a curandeira da seita que tem num gatuno semianalfabeto seu único deus, ninguém jamais viu a voz roufenha gerando mais energia do que mil Itaipus. 
Quando o palanque ambulante agarra um microfone, o que se vê são fenômenos bem diferentes.  
Plurais saem em desabalada carreira, a gramática se refugia na Embaixada de Portugal, a regência verbal se esconde em velhos dicionários, o raciocínio lógico providencia um copo de estricnina (sem gelo) e os pronomes se preparam para resistir a outra sessão de tortura. Neste 21 de março, uma terça-feira, o elogio do rancor reduziria a destroços a “impressionante intuição” celebrada pelo falecido Antonio Cândido. Quando dava aulas na USP, o respeitado intelectual não perdoava o mais inofensivo cacófato
Convertido em militante do PT, pariu a tese segundo a qual, em matéria de política e eleição, Lula não precisou estudar nada porque já nascera sabendo tudo.
 
A senha para a derrapagem do trapalhão fantasiado de doutor honoris causa foi uma frase do dono do site 247 (pode chamar de 171 que ele atende). “A prisão foi mais que um ataque ao senhor, foi um ataque ao Brasil”, caprichou na sabujice o entrevistador-chefe. 
Com a polidez que Lula atirou ao lixo antes mesmo de aprender a falar, Moro repreendeu a repulsiva cafajestagem, recomendou mais compostura ao grosseirão juramentado e fez o alerta: o que dissera o presidente poderia estimular ações violentas contra o ex-juiz e seus parentes.  
De novo, o consórcio da imprensa recorreu a artifícios gráficos e verbos menos chulos para abrandar o palavrório de bordel. Alguns redatores recorreram a reticências: o presidente só quis f… o senador paranaense. Em outros, pretendeu apenas “ferrar” o desafeto.  
Como o vídeo escapou de truques pudicos, a viagem à beira do penhasco, contemplada com sorrisos cúmplices pelos parças da imprensa, pode ser vista em toda a sua abjeta inteireza. Fora um tremendo tiro no pé.
 
Foi transformado em tiro na testa já na quarta-feira, 22 de março, quando o país foi a
presentado às assombrosas descobertas pela Operação Sequaz. Embora tivesse sido anunciada pelo próprio ministro da Justiça, é provável que Flávio Dino tenha esquecido de comunicar ao presidente a iminente ofensiva contra o Primeiro Comando da Capital. 
Mobilizando 120 homens da lei em quatro Estados e no Distrito Federal, que sobraçavam mandados de busca e apreensão expedidos pela juíza Gabriela Hardt, a Polícia Federal impôs uma dura derrota ao PCC. Além da prisão de nove figurões da organização que lidera o ranking sul-americano do narcotráfico, o Brasil que presta pôde celebrar o confisco de manuscritos, planilhas e documentos que detalham um plano que escancara a insolência assassina do PCC. 
 
Abortada a poucos dias do início da execução, o plano se dividia em três etapas. Na primeira, o chefão Marcola seria resgatado do presídio em Porto Velho. A segunda previa o sequestro e o assassinato do senador Sergio Moro, do promotor de Justiça Lincoln Gakyia e das famílias desses dois alvos prioritários. Outras autoridades estavam na mira dos matadores. A última etapa cobraria da Justiça a imediata concessão de privilégios que tornariam ainda mais agradável a vida na cadeia de que desfrutam meliantes de altíssima periculosidade.

Como os chiliques de Dilma, os surtos de Lula são de difícil tradução. Mas não é complicado identificar os efeitos colaterais de uma fala que teria o entusiasmado endosso de qualquer napoleão de hospício

Abalados pela linguagem de pátio de presídio usada na entrevista ao Brasil 247, grogues com a descoberta de que por pouco o PCC não materializou o sonho do ex-presidiário de volta ao poder, Altos Companheiros resolveram escapar da queda golpeando a verdade.
Flávio Dino proclamou-se indignado com “o mau-caratismo de gente que tenta politizar uma operação séria, tão séria que está aqui preservando e investigando uma ação contra a vida de um senador da oposição e de outros agentes públicos”. 
Gleisi Hoffmann creditou na conta de Lula a ofensiva policial concebida no governo Bolsonaro. Em seguida, acampada em redes sociais, a presidente do PT sacou do coldre o trabuco municiado com mentiras de grosso calibre e mandou chumbo: “Juiz parcial, que não se importou com o ódio alimentado pela Lava Jato, tem aula de civilidade e democracia do governo Lula”. Dino e Gleisi imaginavam ter encontrado a saída quando outro falatório do trapalhão incontrolável devolveu às cordas a turma toda.

Na quinta-feira, 23 de março, Lula foi interceptado no Rio por jornalistas interessados no que tinha a dizer sobre as revelações da Polícia Federal. A primeira resposta foi um riso debochado. A segunda desandou na ironia: “Eu não vou falar, porque eu acho que foi mais uma armação do Moro”. Pausa. “Mas eu quero ser cauteloso, quero descobrir o que aconteceu”, recuou alguns centímetros. Então, mandou às favas a sensatez, os escrúpulos e o juízo, ergueu o tom de voz e emitiu o parecer amalucado: “É visível que é mais uma armação do Moro”. Engatou uma terceira e desandou no chilique: “Eu vou pesquisar e vou saber por que da sentença. Até fiquei sabendo que a juíza não estava nem em atividade quando deu o parecer para ele, mas isso a gente vai esperar. Eu não vou ficar atacando ninguém sem ter provas. Eu acho que é mais uma armação e se for mais uma armação ele vai ficar mais desmascarado ainda, aí eu não sei o que ele vai fazer da vida se ele continuar mentindo do jeito que está mentindo”. À esquerda do declarante, o senador Renan Calheiros aprovou o elogio da demência com movimentos verticais do queixo.

Como os chiliques de Dilma, os surtos de Lula são de difícil tradução. Mas não é complicado identificar os efeitos colaterais de uma fala que teria o entusiasmado endosso de qualquer napoleão de hospício. Em poucas palavras, Lula afirmou, sugeriu ou insinuou que a Polícia Federal está sob o controle de Sergio Moro, tanto assim que concordou com uma armação; que, por se tratar de uma operação forjada, nove garotões do PCC foram injustamente engaiolados; que são falsas as provas coletadas pelos policiais federais; que Gleisi e Dino elogiaram a operação porque não sabem o que dizem; que Moro mente mais que ele: que o Brasil é governado por uma cabeça baldia. Tudo somado, o que esperam os advogados do PCC para incluir o presidente da República entre as testemunhas de defesa dos nove chefões arbitrariamente engaiolados pela Polícia Federal.

Para o ressentido incurável, o PCC não é a maior ameaça à segurança pública nacional. É um partido aliado que garante a vitória do PT em morros e presídios. 
E os envolvidos no asqueroso complô não são matadores patológicos. 
São gente boa, disposta a tudo para materializar o maior sonho do presidente que acorda e dorme pensando em vingar-se de Sergio Moro. 
O revide dos insultados reduziu o grande intuitivo a um amador quase octogenário. 
A juíza Gabriela Hardt quebrou o sigilo do caso e exibiu um balaio de provas. O senador mostrou que está aprendendo a bater no fígado: “O senhor não tem decência? O senhor não tem vergonha?”. Moro sabe que não.

Leia também “O mais obsceno faroeste à brasileira”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste

 

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

O “Fora Lula!” só começou - Augusto Nunes

Revista Oeste

O partido que nunca soube ser feliz foi surpreendido com o nascimento da oposição que nunca existiu
 
Pronunciamento do presidente eleito, Lula, na Avenida Paulista, em São Paulo, SP, no domingo 31 | Foto: Marcelo Oliveira Março/Futura Press 

Em 28 de outubro de 2002, fui ver o comício da vitória do PT. Seria uma festa e tanto, imaginei. Em campanha desde 1982, quando não passou do quarto lugar da disputa do governo de São Paulo, Luiz Inácio Lula da Silva havia amargado três derrotas em eleições presidenciais. Em 1989, fora vencido por Fernando Collor no segundo turno. Em 1994 e 1998, Fernando Henrique Cardoso o atropelara já na rodada inicial. Só no século 21 a seita da estrela vermelha pôde comemorar a concretização do sonho perseguido anos a fio por seu único deus. Cheguei às imediações do palco armado na Paulista convencido de que testemunharia um Carnaval temporão. Dois ou três discursos bastaram para escancarar o estranho defeito de fabricação: o PT não consegue ser feliz nem mesmo nos momentos de triunfo.

Filho de um político que se candidatou a prefeito de Taquaritinga com menos de 30 anos, exerceu quatro mandatos e morreu no cargo dias depois de virar setentão, nasci e cresci entre discurseiras nas carrocerias de caminhão, santinhos, cartazes e faixas, microfones e caixas de som, cédulas e urnas, foguetórios e aplausos, beijos e abraços, choro convulsivo e ranger de dentes — e nada era mais deslumbrante que o comício da vitória. “É o único dia em que um político é completamente feliz”, dizia Adail Nunes da Silva. “A gente esquece adversários, insultos, brigas, qualquer coisa desagradável ocorrida na campanha. Só lembramos dos que nos ajudaram a ganhar. Não se vê ninguém de mau humor. É pura festa.”

Também nos pequenos municípios paulistas a campanha eleitoral frequentemente roçava o ponto de combustão, as trocas de golpes retóricos provocavam hematomas e ferimentos, de vez em quando se consumava um nocaute. Adail Nunes da Silva sempre foi um homem de bem com a vida, mas num embate eleitoral nada tinha de lorde inglês. Mirava preferencialmente o fígado dos adversários com jabs irônicos e ganchos mordazes. Acusava o desafeto pouco risonho de, no cinema, torcer pelo bandido do faroeste e pelos chifres do miúra no filme que mostrava uma tourada. Quando enfrentou pela primeira vez um devoto de Lula, afirmava que nos comícios do PT a plateia era tão diminuta que, terminado o discurso, o próprio candidato descia do palanque para ampliar a salva de palmas.

O ex-presidiário mentiu à vontade, com o desembaraço de quem transformou em boletins do PT veículos de comunicação que perderam a vergonha

Ele batia e levava. Aos 10 anos, pedi ao irmão de 17 que me levasse a um comício do inimigo. Prudente, Flávio repassou a tarefa a um forasteiro amigo que estava de passagem pela cidade. A primeira frase que ouvi foi proferida por um candidato a vereador da tribo ademarista: “O Adail é ladrão, roubou os trilhos da estrada de ferro”. Contei ao meu pai o que ouvira, ele respondeu com uma lição singela: “Quando alguém falar mal da gente, lembre que a gente vive falando mal deles. Isso é coisa de campanha eleitoral”. Terminada a apuração, os derrotados passavam uma semana pescando e os vencedores se esbaldavam no comício da vitória. Essa foi a regra até o nascimento do Partido dos Trabalhadores.

Naquela noite na Paulista, ficou claro que o acervo de exotismos políticos brasileiros incluía a única torcida do mundo que, além de não saber perder, também não sabia ganhar. Em vez de comemorar a vitória do PT, a chamada “militância” prefere festejar a derrota dos outros. 
Em vez de gargalhar ou flutuar sobre as nuvens em estado de graça, um petista padrão arma a carranca e vaga pelas ruas ou pela internet à caça de gente que rejeite a verdade oficial estabelecida pelo sinuelo do rebanho. O ressentimento parece mais prazeroso que a felicidade. E a celebração colérica atinge o clímax quando arruaceiros anexam ao roteiro quebras de vitrines, depredações de imóveis comerciais e saques de lojas. A festa da violência é afrodisíaca para as velhas vestais que caíram na vida.

Neste 30 de outubro em que Lula se elegeu de novo, atiçados pelo palavrório agora permanentemente raivoso do pregador, os participantes da missa negra na Paulista insultaram Jair Bolsonaro, a família Bolsonaro, ministros de Bolsonaro, jornalistas acusados de bolsonaristas, eleitores declarados de Bolsonaro e suspeitos de terem votado em Bolsonaro. Lula foi dispensado de dizer o que pretende fazer no governo: o público preferia ouvir o que Bolsonaro não poderá fazer. As boas notícias na economia foram tratadas como fake news. O ex-presidiário mentiu à vontade, com o desembaraço de quem transformou em boletins do PT veículos de comunicação que perderam a vergonha. Os vencedores não esperavam a brusca mudança na paisagem política do Brasil que conferiu contornos de data histórica ao 2 de novembro de 2022.

Em milhares de cidades, as ruas foram tomadas por manifestantes antilulistas que, pacificamente, formalizaram o nascimento da oposição que o PT nunca teve de enfrentar. Os atos de protestos — alguns portentosos, todos espontâneos — alteraram dramaticamente o jogo. Quando perdia a eleição, o PT nem esperava a posse do adversário vitorioso para tentar despejá-lo do cargo. Entre 1989 e 2022, os intolerantes irredutíveis gritaram “Fora Collor!”, “Fora Itamar!”, “Fora FHC”, “Fora Temer” e “Fora Bolsonaro”. Desta vez, os súditos do chefe do Petrolão ouviram um inesperado e estrepitoso “Fora Lula!”. Sem multidões a mobilizar, tiveram de suportar em casa a barulheira que apenas começou.

Leia também “Moraes roubou a cena”

Augusto Nunes, colunista  - Revista Oeste

 

quarta-feira, 2 de novembro de 2022

O “tudo ou nada” é para quem não tem nada a perder - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino - VOZES

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Difícil dormir. Tenho orado pelo futuro do Brasil. Tempos estranhos e sombrios esses em que vivemos. A vitória de um corrupto não desce pela garganta de muitos brasileiros, ainda mais da forma suspeita que foi. Tudo muito preocupante.

Esticaram demais a corda. Quem planta vento colhe tempestade. Não foi por falta de aviso. Tomara que o Brasil consiga evitar o pior! 
Mas boa parte do povo não quer brincar do teatro da democracia criado pelo sistema podre, e teme o risco concreto de virarmos uma Argentina.

O problema é o que fazer diante disso. Muita gente fala em “tudo ou nada”. Isso é all-in no poker. Quem faz isso tem que ter uma mão muito forte, ou o A na manga. Se for por puro desespero ou pouca ficha, o risco de sair de vez do jogo é grande. E esse tipo de postura costuma vir de quem tem pouco a perder.

Nós temos muito a perder! Afinal, uma bancada mais conservadora foi eleita, temos os governos de São Paulo e Minas Gerais nas mãos de gente séria e competente, o povo despertou e está atento, e uma ala do centrão não quer perder a galinha dos ovos de ouro.

Entendo o pânico de quem acha que já perdemos a democracia, mas discordo. Minha premissa é que o sistema, por mais podre que seja, é maior do que Lula, e isso, com a forte oposição eleita, pode segurar o ímpeto totalitário petista. Aposta arriscada? Sim! Mas partir para uma revolução não é?! Lembrem que Dilma sofreu impeachment...

O "argumento" de que é fácil eu bancar o prudente pois não moro no Brasil e não vou sofrer as consequências de uma venezuelização não se sustenta, pois serve para o outro lado ainda mais: seria fácil ser incendiário de longe, sem risco de prisão ou guerra civil. Penso no Brasil. Sempre.

Não são golpistas os que foram para as ruas. Não são vagabundos. São brasileiros patriotas e trabalhadores, desesperados com os riscos à frente, revoltados com a eleição mais manipulada da história, com mídia e TSE agindo como partidos petistas.  
Os meios importam, mas não demonizar essa turma é crucial.

É preciso compreender o que foi feito com nosso país por essa elite que sonha com uma "democracia de gabinete". "Estamos lidando com um moleque", teria dito um ministro supremo sobre Bolsonaro, segundo a Folha. Esse tipo de comentário "vazado" em nada ajuda, pois o povo sabe que esses ministros são os principais inimigos da liberdade e da democracia no Brasil hoje, agindo como militantes partidários e abusando do poder. É lenha na fogueira!

O povo não quer virar a próxima Argentina. Mas é preciso pensar na melhor forma de agir. Tudo que o sistema carcomido quer é que Bolsonaro lhes forneça o pretexto para realmente impor uma ditadura completa, alegando que combate o "fascismo golpista". Não podemos dar a eles o 6 de janeiro dos Estados Unidos, aquela invasão do Capitólio que serviu apenas para destruir Trump de vez e alimentar narrativas esquerdistas que justificaram quatro anos de ataques institucionais para lutar contra o fantasma imaginário que criaram.

[Um ADENDO do que o General MOURÃO pousou há pouco:

General Hamilton Mourão
@GeneralMourao
Brasileiros, há hoje um Sentimento de frustração, mas o problema surgiu quando aceitamos passivamente a escandalosa manobra jurídica que, sob um argumento pífio e decorridos 5 anos, anulou os processos e consequentes condenações do @LulaOficial.

NOSSA RESPOSTA: 
Certíssimo General MOURÃO. Mas, com todo o respeito o que nós, POVO, iríamos fazer; lembro ao senhor que se esse seu twitter tivesse sido postado qdo houve a manobra jurídica a situação seria outra. No mínimo, o eleito estaria preso.]
 

Há alguma estratégia para os manifestantes? Pensaram no “day after”? Acompanho a indignação e o desespero de muitos, mas o fígado é mau conselheiro. 
Não forneçam o pretexto para implantarem de fato uma ditadura completa e irreversível.
 Ainda não estamos lá. E, creio, temos armas para impedi-la, se Bolsonaro se tornar uma trincheira na resistência democrática contra o petismo.

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 11 de abril de 2022

Apertem os cintos, o comandante sumiu - Revista Oeste

Ana Paula Henkel

O partido de Joe Biden procura tentar conter o gigantesco dano causado em tão pouco tempo de mandato. E, para isso, nada melhor do que chamar Barack Obama 

A Casa Branca chama o ex-presidente Barack Obama | Foto: Montagem/ Revista Oeste
A Casa Branca chama o ex-presidente Barack Obama | Foto: Montagem/ Revista Oeste

Em um desses artigos, observo como o antigo Partido Democrata de John Kennedy não existe mais e que o que vemos hoje é um partido com políticas tão democratas quanto as políticas do Psol no Brasil. Muitos leitores entram em contato e me perguntam gentilmente o que, de fato, aquele insight, aquele sinal fez a minha “previsão” ser tão acurada. Vejam, eu adoraria levar o crédito de que algumas “previsões” foram parte de uma análise mirabolante. Mas, como eu disse, não há nada de mirabolante nisso. A única coisa que fiz foi ouvir. Nada de “leitura nas entrelinhas” ou “análises profundas”, não, nada disso. Foi tudo preto no branco. Cada palavra do que está acontecendo foi dita sem rodeios e sem firulas nas primárias democratas, depois nos debates presidenciais com Donald Trump. O problema é que chegou a conta de tanta sinceridade, combinada com uma eleição estranha. E ela chegou como um iceberg gigantesco na frente de um navio sem comandante.

Com Donald Trump, o malvadão do século, fora de cena, Biden agora emplaca um discurso de disco arranhando de que a culpa de todos os problemas na América é de Vladimir Putin
Com o perdão do trocadilho, só faltou combinar com os russos. 
Em janeiro de 2021, Donald Trump entregou um país, ainda dentro de uma pandemia, já com claros e sólidos sinais de recuperação econômica e com a imagem forte que sempre foi a marca registrada dos norte-americanos na política internacional.  
A instabilidade trazida pela administração Biden em poucos meses se solidificou de maneira surpreendente: inflação sem controle, desemprego em alta, crise histórica na fronteira sul com a maior imigração ilegal das últimas décadas,  reversão de políticas de independência enérgica da Era Trump, os maiores índices de criminalidade nas grandes cidades norte-americanas dos últimos 12 anos e, claro, o ápice da ineficácia e despreparo do democrata na Casa Branca: a retirada desastrosa e caótica das tropas norte-americanas do Afeganistão, causando a morte de 13 soldados norte-americanos. Isso, até hoje, está entalado na garganta da nação.

“Joe Biden não está ajudando”
E o que era óbvio para aqueles que votam em políticas e não personagens, para aqueles que assistem a debates e entrevistas com o cérebro e não com o fígado, parece ter chegado aonde menos se esperava: na velha imprensa norte-americana. 
Sim, a velha assessoria de imprensa do Partido Democrata está, dia após dia, dando as costas a Joe Biden. Poderíamos até levantar a teoria de que os militantes das redações querem empurrar Kamala Harris para o Salão Oval, mas Harris é detestada até pelos ativistas do New York Times e Washington Post, motivo pelo qual ela não conseguiu emplacar seu nome como candidata forte nas primárias democratas nem na Califórnia, seu Estado natal, e bateu em retirada sem números expressivos. 
O nome da vice foi escolhido apenas pela agenda identitária: mulher, negraA competência de Kamala como política é tão boa quanto a de Dilma Rousseff. Até as gafes no melhor estilo da “presidenta” do Brasil fazem parte do repertório da vice de Biden.,
 
A revista Rolling Stone, por exemplo, declarou recentemente que “Joe Biden não está ajudando”, como se o objetivo fosse “ajudar” como presidente, e não liderar. É sabido que até a própria família de Biden não queria que ele vencesse em 2020. 
Alguns dos parentes mais próximos do presidente garantiram a amigos que Biden estava concorrendo apenas para aliviar a dor da morte de seu filho dois anos antes, e que sair em campanha pelo país para limpar a cabeça e aliviar o coração era a melhor maneira para fazer isso. 
Verdade seja dita, o próprio Joe Biden sabia que não ia ganhar. 
E, durante meses, parecia quase certo que ele não venceria. A primeira apresentação de Biden no debate das primárias democratas, em junho de 2020, foi considerada um desastre. Parecia bastante óbvio que ele não tinha qualquer chance de ser o nome democrata. 
Logo em seguida, Bernie Sanders começou a ganhar primárias e destaque. O mesmo aconteceu em 2016 e, pelo segundo ciclo presidencial consecutivo, Sanders provou ser o único democrata em campo com apoio de base legítimo. Os doadores viram isso e entraram em pânico. O homem que odeia bilionários! O que ele vai fazer com Wall Street? Alguém pare este senhor!

A cantilena da imprensa
Bernie Sanders era inaceitável para as pessoas que financiam o Partido Democrata, mas havia um problema, as opções eram piores do que tirar Bernie da jogada — como em 2016. Pete Buttigieg, Beto O’Rourke, Elizabeth Warren? Não. Kamala Harris… horrível em todos os níveis. Absolutamente ninguém gostava de Kamala Harris e por boas razões. [fosse no Brasil a Harris seria imposta pelo absurdo sistema de cotas - que esperamos acabe em novembro próximo.]  
Então, acabou sendo Joe Biden por alguma chamada executiva de algum deus democrata: “Tirem as teias de aranha do material de campanha de Joe. Todas as nossas fichas estão com ele”. E, claro, a mídia entendeu a mensagem imediatamente. No momento em que Biden foi coroado como o salvador do mundo contra o malvado laranja fascista, a assessoria dos democratas — pode chamar de imprensa mesmo —, já tinha a cartilha na ponta dos dedos e na ponta da língua. Uma rápida pesquisa mostra o manual, quase infantil:

— Jemele Hill, CBS: “É um alívio ter adultos no comando”.

— John Brennan, ex-diretor da CIA de Barack Obama: “Agora temos adultos na Casa Branca”.

— Dana Bash, CNN: “Qualquer um que tenha alguma conexão com a realidade sobre o que está acontecendo ao seu redor deve dizer: ‘Os adultos estão de volta à sala'”.

— Cornell Belcher, MSNBC: “Parece que temos um adulto profissional mais uma vez na Casa Branca”.

— Fareed Zakaria, CNN: “Realmente, o que eu diria é que os adultos estão de volta”.

— Nicolle Wallace, ex-assessora de George W. Bush, MSNBC: “Há uma sensação, eu acho, em todo o mundo, de que os adultos voltaram”.

— Jonattan Capehart, Washington Post, MSNBC: “Temos um adulto na Casa Branca agora e isso é glorioso”.

— Don Lemon, CNN: “Ok! Os adultos estão de volta na sala!”.

Detalhe: Don Lemon, âncora da CNN de um dos importantes telejornais da emissora, chorou ao vivo quando deu o resultado final da eleição de 2020 e noticiou a vitória de Joe Biden. Onde estão os adultos na imprensa?

Chama o Obama!
Biden certamente é um adulto e completará 80 anos neste ano, mas ninguém em Washington acha que a Presidência de Biden é gloriosa. A verdade é que todos sabem que ele é um desastre. 
As pesquisas mostram que os eleitores concordam com essa afirmação. Os números de sua popularidade só não são mais baixos do que os de Kamala Harris
Joe Biden é a pessoa mais impopular em praticamente qualquer lugar. 
 
(...)

Durante a pomposa recepção àquele que foi um dos piores presidentes dos EUA, chamado às pressas para tentar evitar um banho de sangue nas eleições de novembro, o atual presidente dos Estados Unidos, em sua própria Casa, foi evitado como o diabo evita a cruz. Ninguém falava com ele e, em um momento de visível confusão mental, tudo diante de várias câmeras, ele se afasta olhando para o vazio enquanto uma multidão se formava em torno do ex-presidente Barack Obama, que, obviamente, demonstrava muita satisfação pela atenção. Mas nada que já não esteja ruim não possa piorar. . Algumas das principais manchetes nesta semana em veículos alinhados ao Partido Democrata não deixam dúvidas:

— ABC News: “A apreensão dos eleitores está maior do que apenas o aumento dos preços ou a guerra da Rússia na Ucrânia. A criminalidade violenta nas cidades norte-americanas permanece persistentemente alta e há um problema crescente na fronteira”.

— CNN: “O índice de aprovação do presidente Biden ainda não atingiu o fundo e vem caindo durante todo o ano”.

— NBC News: “A inflação altíssima está acabando com os salários maiores. Embora os ganhos por hora tenham aumentado 5,6% em relação ao ano passado, um em cada cinco trabalhadores diz que fica sem dinheiro antes de receber o próximo pagamento”.

— ABC News: “Temos uma inflação histórica e preços recordes de combustível. Os norte-americanos estão sentindo isso”.

—Revista Politico: “Os números de Biden caíram dois dígitos com os eleitores jovens, que foram uma grande parte de sua coalizão em 2020”.

Culpa de Vladimir Putin
Então parece que a inflação é real e não é transitória como o governo de Biden anunciou inúmeras vezes em 2021? Então parece que cortar verbas para as forças policiais (Defund the police, slogan de dez entre dez democratas desde 2020) na verdade aumenta o caos e que o crime e a desordem nas cidades também são reais? 
E, vejam vocês, parece que uma guerra inútil com a Rússia, empurrada pelos democratas beligerantes até para ser usada como cortina de fumaça diante de tantos problemas domésticos, não é tão popular quanto pensavam. De repente, a imprensa resolveu admitir tudo isso. Durante meses, Biden vem dizendo que tudo de ruim que o norte-americano está percebendo ao seu redor é, claro, culpa de Vladimir Putin. E a mídia o apoiou. Mas, de repente, não está mais comprando a bobagem de que os quatro anos de Trump na Casa Branca sofreram interferência russa, nem de que Putin é o grande vilão do caos no cotidiano norte-americano.

(...)

Questão de sobrevivência
Já está muito claro que o Partido Democrata e sua grande ala na imprensa decidiram descartar Joe Biden. Nunca houve uma ordem oficial para fazer isso, mas o que percebemos é a mente coletiva trabalhando para acabar com a erva daninha do momento. Sem dó. Os democratas têm as mesmas reações porque têm os mesmos instintos: “Biden é fraco, devemos nos livrar dele”. Para a maioria das pessoas, isso soa duro e implacável, ainda mais considerando os anos de janela do democrata no partido. No entanto, no reino animal é uma resposta totalmente natural. É a primeira regra das matilhas. O conhecido fratricídio no reino dos bichos que operam por instinto não é nada pessoal. É apenas uma questão de sobrevivência do grupo, e é exatamente assim que o Partido Democrata opera.
 
O Partido Democrata opera como operam os balaios coletivistas da turma preocupada com o “bem-estar de todos”. Os indivíduos são irrelevantes. O grupo é tudo o que importa. Ninguém no partido realmente se importa com Joe Biden ou jamais se importou, ou se importa, com George Floyd, Greta Thunberg ou qualquer outra pessoa que é explorada como herói insubstituível para alguma pauta política. Todas as pessoas são dispensáveis. O que importa é o partido e o partido importa porque nos números há poder. E os números de Biden são horríveis. Um dos piores de toda a história dos Estados Unidos da América. E, claro, em algum nível, Joe Biden sabe disso. Ele entende como isso termina. Inevitavelmente, depois de 50 anos no partido, é sua vez de ser eliminado. Como ele vai sair de cena, gritando por misericórdia ou aceitando a derrota como um homem, é a única pergunta. 
De qualquer maneira, que saia de cena logo. 
Os Estados Unidos e o Ocidente precisam de uma liderança capaz de reverter os danos de um presidente que, além de inepto, mostra fraqueza. Animais se guiam por instintos, e os tubarões já perceberam que há sangue na água.

Leia também “Uma tragédia anunciada”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste - MATÉRIA COMPLETA


domingo, 13 de março de 2022

O que documentos inéditos sobre a vacina da Pfizer revelam sobre seus riscos - Gazeta do Povo

Eli Vieira

“Como se tornou o padrão”, diz de forma resignada o juiz americano Mark T. Pittman em sua decisão de janeiro, “as partes não conseguiram concordar com uma agenda de produção [de documentos] mutuamente aceitável”. 
As partes são a Administração de Alimentos e Drogas dos Estados Unidos (FDA) e a organização sem fins lucrativos Profissionais da Saúde Pública e Médicos pela Transparência (PHMPT). A última forçou a primeira, via Lei de Acesso à Informação do país, a liberar documentos a respeito dos trâmites que levaram à aprovação da Comirnaty, vacina de mRNA da Pfizer-BioNTech. O processo começou em setembro de 2021.

Vacina da Pfizer
Vacina da Pfizer: documento traz informações inéditas| Foto: EFE/EPA/MICHAEL REYNOLDS

A FDA foi condenada pelo juiz a tornar públicas 300 mil páginas dos documentos, começando com a liberação imediata de 12 mil, seguida de 55 mil páginas por mês. Antes, em novembro, a agência havia proposto liberar os documentos no ritmo de 500 páginas por mês. Isso significa que a liberação completa levaria 55 anos ou mais. A justificativa para esse plano intergeracional é que somente dez funcionários cuidam dessa tarefa, e que já estavam ocupados com 400 outros pedidos de informação via lei de acesso à informação. É preciso, por exemplo, anonimizar pacientes nos documentos. Mas o juiz não se convenceu.

O juiz mandou que a ONG e a agência publiquem um relatório de progresso no dia 1º de abril. A primeira leva de 55 mil páginas foi liberada no dia 1º de março, perdendo atenção nas notícias para a situação na Ucrânia. A ONG reclamante selecionou 150 arquivos, equivalentes a 500 páginas (menos de 0,2% do total) e os disponibilizou em seu site.  A Gazeta do Povo traz abaixo uma seleção das informações contidas nesses documentos, com explicações e pontos de cautela.

BMJ x Facebook
Um documento traz informações previamente confidenciais de 191 locais em que foram realizados os estudos da vacina, e o pesquisador responsável por cada um.  
A grande maioria é nos Estados Unidos, mas também foram envolvidos África do Sul, Alemanha, Argentina, Turquia e inclusive o Brasil. Alguns pesquisadores ficaram responsáveis por mais de um centro. Por exemplo, a pesquisadora Laura Hammit, da Universidade Johns Hopkins, ficou com nove centros
No Brasil dois locais foram envolvidos: Cristiano Zerbini cuidou do estudo no CEPIC (Centro Paulista de Investigação Clínica e Serviços Médicos Ltda.), em São Paulo; e Edson Moreira da Fiocruz conduziu o estudo no Hospital Santo Antônio e Associação Obras Sociais Irmã Dulce, em Salvador.

Estão listados também quatro locais em que o estudo foi conduzido pela subcontratada Ventavia Research Group, de onde veio uma denúncia de más práticas de pesquisa pela ex-funcionária Brook Jackson publicada em novembro de 2021 na revista científica British Medical Journal (BMJ). Brook Jackson tem experiência de 18 anos em ensaios clínicos e tinha posição imediatamente abaixo de CEO na Ventavia, supervisionando a obediência da empresa às leis, regulamentos e protocolos científicos.

A publicação da BMJ foi rotulada no Facebook como “sem contexto” pela agência de checagem de fatos Lead Stories. Seguiu-se uma disputa pública entre a agência e a revista. Jackson no momento está processando a Ventavia e a Pfizer em um tribunal do Texas que liberou no mês passado um documento dos trâmites do processo.

A ex-auditora clínica alega ter observado diariamente “fabricação e falsificação de informações em amostras de sangue, sinais vitais, assinaturas e outros dados essenciais” do estudo local, acusa a Ventavia de ter incluído participantes ilegítimos, incluindo familiares, de ter mantido o imunizante em temperatura inadequada, entre outras más práticas. Importante lembrar que somente 2% dos locais de teste foram administrados pela Ventavia.

Engolir moeda, ser atingido por um raio: eventos adversos?
Particularmente interessante é o documento de título “Análise Cumulativa de Relatos de Eventos Adversos Pós-Autorização da [Comirnaty] recebidos até 28 de fevereiro de 2021”. As primeiras doses do imunizante foram autorizadas para armazenamento em 1º de dezembro de 2020, e para uso emergencial dez dias depois nos Estados Unidos. A aprovação completa veio quase um ano depois, em 21 de agosto de 2021. Portanto, os dados incluídos neste relatório vão até seis meses antes da aprovação completa da vacina da Pfizer.

A análise cumulativa foi produzida em resposta a uma requisição da FDA por um plano de farmacovigilância, como a introdução do documento mostra. Antes de discutir os resultados, é muito importante que fique clara a diferença entre evento adverso e efeito colateral.  
Evento adverso é quase literalmente qualquer coisa negativa que possa acontecer com um participante de um estudo clínico como o desenvolvimento da vacina.
 
Em um documento similar a respeito da segurança da vacina da Pfizer para crianças, disponível no site da FDA, é listado como evento adverso, por exemplo, o caso de uma criança que engoliu uma moeda (p. 45)
Já outro relatório a respeito da vacina de mRNA da concorrente Moderna lista como evento adverso sério o caso de uma pessoa idosa que foi atingida por um raio (p. 54). Ninguém em sã consciência pensaria que esses seriam efeitos de ter tomado as vacinas. A palavra efeito implica relação de causa e consequência.
 
Sabemos que a miocardite em homens jovens a uma taxa de 10 a 20 por 100 mil é um provável efeito da vacina da Pfizer. Mas isso é porque foram feitas mais investigações para ligar o evento adverso a este fator. 
É por cautela que os pesquisadores incluem todo tipo de evento adverso não só daqueles pacientes que receberam a vacina como também dos que não receberam e são do grupo controle (que não recebe nada) ou placebo (que recebe algo inócuo sem saber se é a vacina ou não). Inicialmente ao menos, os pesquisadores também não sabem quem recebeu a vacina ou não (a falta de anonimização de participantes foi um dos defeitos alegados por Brook Johnson no caso dos testes locais da Ventavia)
Além disso, ao coletar eventos adversos ativamente ou passivamente, os pesquisadores também não sabem se um evento adverso como, digamos, derrame cerebral é comparável ao caso de engolir moeda ou ser atingido por um raio, ou se é mais parecido com a miocardite masculina jovem.

Por isso, aqueles que estão usando a liberação desses documentos para alegar ou insinuar que todos os eventos adversos listados na análise cumulativa foram causados pela vacina da Pfizer estão fazendo desinformação, de forma consciente ou não.

Resultados da análise cumulativa até fevereiro de 2021
Ao atender ao pedido judicial por informação, a FDA removeu do relatório da análise cumulativa o número total de doses entregues ao redor do mundo (p. 6), mas informa que há 42 mil relatos de eventos adversos, 2% dos quais são mortes. A remoção das informações é feita com uma tarja cinza com um código em cor preta que vem da lei americana e significa que foi ocultada uma informação sensível. Pode ser sensível para o governo federal, ou uma informação comercialmente sensível para a fabricante da vacina.

Por exemplo, é ocultado o número de novos funcionários que a Pfizer contratou em tempo integral na época para lidar com os relatos de eventos adversos, que é informação privilegiada a respeito da empresa, assim como o número de funcionários que ela planejava contratar até junho de 2021. A FDA não existe para prejudicar comercialmente a Pfizer, mas para regular seu trabalho e monitorar a segurança de seus produtos. No entanto, a remoção da informação do número total de doses tem o efeito de dificultar o cálculo da incidência de cada tipo de evento adverso por dose.

Fica evidente a inadequação dos relatos de eventos adversos para fazer conclusões causais quando se analisa os 42 mil casos. Por exemplo, 71% dos relatos são a respeito de mulheres, contra 22% dos homens (o resto não tem informação de sexo). Isso não está de acordo com um dos efeitos adversos preocupantes mais bem conhecidos, que acontece mais em homens jovens. Uma hipótese que explica isso melhor é que as mulheres são mais propensas que os homens a buscar ajuda médica, são mais avessas a correr riscos. Isso exemplifica como os relatos têm ruídos de influências diversas que nada têm a ver com a real incidência de reais efeitos colaterais. No entanto, mais pessoas do grupo dos vacinados tiveram eventos adversos comparadas às do grupo placebo. A febre severa foi 14 vezes mais comum entre vacinados, por exemplo.

O tema central de muitos dos documentos liberados é justamente os efeitos adversos cobertos pela análise cumulativa de um ano atrás. Ela já está desatualizada. Temos análises envolvendo mais pessoas, com mais rigor. Uma delas, organizada por um consórcio de planos de saúde, foi publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA), com a primeira autoria de Nicola Klein, do Centro de Estudos de Vacinas do plano de saúde Kaiser Permanente. O estudo monitorou semanalmente os eventos adversos em 6,2 milhões de pacientes com duas doses cada até junho de 2021, ultrapassando a cobertura de tempo da análise cumulativa da Pfizer. Aproximadamente metade desses receberam a vacina da Pfizer, metade recebeu a vacina da Moderna, também de mRNA.

Os cientistas dos planos de saúde investigaram por teste estatístico se os eventos adversos observados nos vacinados estão acima dos níveis esperados. A inflamação do coração e em seu revestimento foi observada em 34 casos, 85% deles em homens jovens.  
Esse evento esteve acima do esperado para a população em geral, o que sabemos de outros estudos, pois essa inflamação, além de ser evento adverso, é também efeito colateral
Consistentemente com outros estudos, foi leve e passou rápido na maioria dos casos. Nenhum outro evento adverso esteve mais presente entre vacinados que na população em geral.

Mais informações liberadas por via judicial

Apesar de ser uma pequena fração do que está por vir nas 55 mil páginas de informações a serem liberadas mensalmente pela FDA a respeito da vacina da Pfizer/BioNTech, já há muita informação nos 150 arquivos liberados. A principal informação é a do relatório da análise cumulativa, em torno dos quais muitos outros arquivos orbitam, sendo dados brutos. Há mais coisa digna de menção neste comentário inicial.

Na defesa da Comirnaty, especialmente contra críticas exageradas, alguns podem ser tentados a alegar que o uso pretendido da vacina é o que ela está entregando agora: diminuir o risco de um quadro de covid mais grave. Os documentos mostram que isso não é verdade e a vacina foi apresentada à FDA como “imunização ativa para prevenir a doença de coronavírus 2019 (COVID-19)”. Prevenir a doença é diferente de prevenir um pior quadro dela.

Os documentos mostram que a Pfizer já sabia, através dos modelos animais, que mais doses intensificavam efeitos adversos: “A incidência e severidade das reações foi maior depois da segunda ou terceira injeções comparadas à primeira injeção. A maioria dos animais tiveram um edema muito tênue depois da primeira dose. Depois da segunda ou terceira dose, a severidade do edema aumentou para grau moderado ou, raramente, severo.” Também é revelado que a fabricante sabia do rápido decaimento da proteção vacinal.

É confirmado pelos arquivos que o imunizante não fica no local da aplicação e se espalha pelo corpo, como já havia sido sugerido pela Agência Europeia de Medicamentos e por um relatório japonês que vazou. As nanopartículas de mRNA são encontradas em pequenas quantidades nos ovários, no baço e 16% ficam no fígado após 48 horas da injeção.

Estamos só no começo da jornada de saber o que houve nos bastidores da FDA quando a Pfizer fez seu pedido de licença para a vacina Comirnaty. Porém, como no caso do relatório da análise cumulativa de eventos adversos, muita cautela deve ser usada na hora da interpretação da novidade das informações. Circular uma lista de mais de mil eventos adversos listados no relatório como se fossem todos conhecidos como efeitos colaterais é, de fato, desinformação.

Eli Vieira, colunista - Gazeta do Povo - Ideias 


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2022

Quantas pessoas estão morrendo ‘de covid’ e quantas estão morrendo ‘com covid’? O Estado de S. Paulo

 J. R. Guzzo

Existe uma diferença fundamental entre uma coisa e a outra

Números de mortes relacionadas como consequência da covid são um enigma

Os números de mortes relacionadas pelas autoridades como consequência da covid, que avançam neste momento para além de onde estavam seis meses atrás, são um enigma. Ajudam, com toda a certeza, a reproduzir pânico, insegurança e angústia
Deixam uma mensagem de terror: as coisas nunca estiveram piores, e se você tinha alguma esperança de que melhorassem pode desistir, pois nada está melhorando. Isso tudo aí continuará igual por um tempo indefinido, e de preferência para sempre. Mas não se sabe, com um nível razoável de lógica comum e de mero bom senso, o que esses números querem realmente dizer. Ninguém está fazendo o menor esforço para descobrir.

Não se trata de nenhuma complicação de matemática das curvas, ou de alta cirurgia de cérebro. É algo que qualquer professor de ginásio poderia perfeitamente estar tratando em suas aulas, se estivesse dando alguma aula após dois anos de pandemia. É apenas o seguinte: quantas pessoas, nessas listas diárias de mortos, estão morrendo “de covid” e quantas estão morrendo “com covid”? 
Existe uma diferença fundamental entre uma coisa e a outra — e essa diferença não está sendo apresentada ao público com um mínimo de honestidade, ou sequer de inteligência elementar. É assim de propósito? 
É resultado da desordem que tem marcado os números da covid desde o primeiro caso? São as duas coisas ao mesmo tempo? 
 
O fato é que a população está sendo ativamente desinformada. Deve continuar assim. Hoje em dia tudo o que não se conforma exatamente aos “protocolos” vigentes sobre como pensar a respeito da doença é imediatamente denunciado como “negacionismo”.
É claro que os dados exatos revelariam outra realidade. Se o paciente que pegou covid entra no hospital com um enfarte, tem uma parada cardíaca e morre, a sua morte se deve ao que: à covid ou à parada cardíaca? E, se além do vírus, ele tem um câncer de fígado, disfunções renais extremas ou pneumonia dupla, razões pelas quais, aliás, foi levado ao hospital? Qual é a causa real da sua morte?  
Muitas dessas mortes, ou um número literalmente incalculável, são atestadas pelas autoridades e reportadas pela mídia como resultado “da covid”; é óbvio que isso distorce completamente o que de fato está acontecendo.
 
O número de infectados com certeza subiu enormemente, considerando-se os números do passado recente — é inevitável, em consequência, que tenha aumentado o número de doentes graves internados nos hospitais com covid, com os seus outros problemas de saúde
 Na imensa maioria dos casos, quem pega a covid simplesmente se cura, sem precisar ir sequer ao pronto-socorro
Mas os que começam a passar realmente mal por causa de suas doenças (chamam a isso de “comorbidades”) vão para o hospital, como iriam tendo ou não tendo covid — e ali os que não têm recuperação morrem. Vão direto para a “lista” do dia seguinte.
 
O público está sendo enganado — no mínimo, nessa história toda, há a obrigação, por parte de quem informa, de separar uma coisa da outra. Isso simplesmente não está sendo feito. É muito simples. Todos os dias as autoridades da área da saúde, as prefeituras e os Estados divulgam os seus números — mesmo porque, na sua incompetência estatística sem limites, o Ministério da Saúde jamais conseguiu, desde o primeiro morto dois anos atrás, entregar uma única cifra decente sobre o que está acontecendo. Ninguém tem a mais remota ideia, do ponto de vista técnico, da seriedade das informações que passam — e ninguém tenta investigar qualquer uma delas, nunca. 
Os jornalistas apenas regurgitam, exatamente como engoliram, os números enviados pelas “autoridades locais”. Não é aritmética. Não é “ciência”. Não é jornalismo.
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S.Paulo