Dentro de um ano, o país estará diante de um número melhor do que o
1% que colheu esta semana. O PIB de 2018 deve ficar, segundo as
previsões dos economistas, em torno de 3%. Mesmo com o extremo nevoeiro
do cenário político, o país deve dar mais alguns passos na recuperação
do produto perdido. O consumo vai subir e até o investimento será
positivo.
O crescimento de 2017 foi baixo e concentrado na agricultura, e o
único fato a comemorar foi o fim da recessão de 2014-2016. Os
indicadores foram positivos, mas magros, e não se sentiu a mesma
temperatura em toda a economia. Em 2018, o PIB deve ser mais forte e
espalhado pelos demais setores. A agricultura, por ter crescido muito no
ano passado e batido recorde de produção, deve encolher 3%. Porém, as
projeções estão ficando melhores do que as iniciais. Mesmo sendo menor
do que a do ano passado, a colheita de grãos deve ter o segundo maior
nível da história: 226 milhões de toneladas. Isso terá outros efeitos
benéficos na economia, apesar de estatisticamente o setor entrar na
conta com um sinal negativo.
Um dos pontos positivos será manter a recuperação do consumo. As
famílias vão consumir mais pela soma de vários fatores positivos: a
inflação está baixa, está havendo aumento discreto da renda mesmo com o
quadro do desemprego. Os dissídios estão conseguindo reajuste acima da
inflação. Haverá nova queda do comprometimento da renda das famílias com
o pagamento de dívidas. E, como já foi dito aqui, isso significa um
aumento de R$ 100 bilhões liberados para o consumo ou poupança, segundo
projeção do BNP Paribas.
Uma coisa são os índices agregados, outra é o que os empresários
sentem na ponta da produção. Pegue-se por exemplo embalagem para
margarina. O Brasil consome 220 milhões de embalagens de margarina por
mês. Um número espantoso, mas é esse mesmo. Segundo a empresa Fibrasa,
um dos produtores dessas embalagens, com duas fábricas, no Espírito
Santo e em Pernambuco, o consumo está parado e até teve uma pequena
queda na demanda em fevereiro. A saída desta recessão será assim, com
idas e vindas.
Prova disso é a indústria. Ela dará um susto na semana que vem. Na
terça-feira, será divulgada uma queda na produção industrial de janeiro e
há projeções de tombo de 3%. Na língua própria dos economistas, ela vai
“devolver a surpresa positiva de dezembro”. Mas ela está saindo do
buraco, como mostra a redução da capacidade ociosa. A indústria caiu 13
trimestres consecutivos e terminou 2017 em zero, mas teve números
positivos a partir de meados do ano passado. A previsão é de que suba
4,6% no ano, segundo o economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário
Mesquita. Serviços, também pela previsão do Itaú, ficará em 3%.
Os investimentos devem voltar para o azul, depois de quatro anos
consecutivos de recuo. A expectativa é de alta de 5%. Só que estará
longe de recuperar-se da perda de mais de 25%. Os empresários não farão
grandes investimentos porque não confiam que esteja se iniciando um
período de crescimento sustentado, mas pelo menos estão substituindo
máquinas e equipamentos que ficaram antigos e sofreram o desgaste de
uso.
Certas consultorias e bancos preveem um crescimento do PIB até maior
do que 3%. A MB Associados, por exemplo, acredita que a alta será de
3,5%. O Itaú estima uma taxa mais forte em 2019, de 3,7%, mas no seu
cenário conta com a eleição de um governo que aprove a reforma da
Previdência no primeiro ano de mandato.
Esse é o grande problema das estimativas para o crescimento. O
impulso que vai ganhar corpo em 2018 pode se transformar em voo de
galinha se o problema fiscal não for resolvido. Os economistas explicam
que a recuperação, neste momento, é “cíclica”, ou seja, está apenas
repondo o que foi perdido pela crise. Por isso, não é sustentável sem
que o governo enfrente o problema do rombo em suas contas. O raciocínio
de economistas como Fernando de Holanda Barbosa Filho, da FGV, que
entrevistei esta semana na Globonews, é que até aqui o estímulo
monetário empurrou a economia para fora da recessão, mas a política
fiscal precisa fazer parte do esforço de crescimento e, para isso, o
ajuste das contas é fundamental. Ele arrumará a casa para um novo
período de crescimento.
Miriam Leitão, jornalista - O Globo
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domingo, 4 de março de 2018
Futuro do PIB
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