“Com o ex-juiz Sérgio Moro no Ministério da Justiça, a força-tarefa
da Lava-Jato terá muito mais apoio financeiro, operacional e político
para prosseguir suas investigações”
A expressão República de Curitiba é uma alusão de advogados e
políticos à atuação de militares na crise política que levou ao suicídio
o presidente Getúlio Vargas. Gregório Fortunato, chefe de sua segurança
pessoal, foi o pivô da crise, por ter sido o principal envolvido no
atentado ao jornalista Carlos Lacerda, que fazia ferrenha oposição ao
presidente da República, após o qual a oficialidade da Força Aérea
Brasileira (FAB), reunida no Clube da Aeronáutica, decidiu que o
brigadeiro Eduardo Gomes procurasse seus amigos de alta patente da
Marinha e do Exército para pedir que o ministro da Guerra, Zenóbio da
Costa, exigisse a renúncia de Getúlio. Carlos Lacerda também procurou
Zenóbio, mas o ministro rechaçou a proposta.
Coube ao próprio ministro da Aeronáutica, Nero Moura, porém, levar a
Getúlio a exigência de Eduardo Gomes de que as apurações fossem
conduzidas por um Inquérito Policial Militar (IPM).
O IPM foi a
instauração da chamada “República do Galeão”, u
ma referência à base
aérea que serviria como sede da investigação do assassinato do major
Rubens Florentino Vaz, no atentado contra Lacerda. O major era um dos
oficiais da Aeronáutica que se encarregou da segurança de Lacerda, após o
líder idealista ter sido ameaçado de morte e agredido por Euclides
Aranha, filho do ministro da Fazenda Osvaldo Aranha, no Hotel Copacabana
Palace.
A morte de Rubens Vaz colocou os militares no centro da crise
política. Após as investigações, que incriminaram Fortunato, os
brigadeiros assinariam um manifesto exigindo a renúncia imediata de
Getúlio. Marinha e Exército acompanhariam a posição da Aeronáutica.
“Não
renuncio; daqui só sairei morto, e o meu cadáver servirá de protesto
contra essa injustiça!”, respondeu Getúlio, que consumou o ato, um
trauma na política brasileira até hoje, em razão da carta-testamento que
deixou para a História.
Strike
Nos bastidores do Supremo Tribunal Federal (STF)
está instalada uma
crise envolvendo os principais protagonistas da Operação Lava-Jato,
entre os quais,
o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e os ministros
Gilmar Mendes, Edson Fachin, relator do escândalo da Petrobras,
e o
presidente da Corte, Dias Toffoli. Moro deixou a 13ª Vara Federal da
Curitiba
, mas legou aos integrantes da força-tarefa da Lava-Jato em
Curitiba uma montanha de provas e pistas para investigações dos
principais envolvidos no escândalo da Petrobras e suas 60 ramificações
até agora.
A força-tarefa havia sido contida pelo desmembramento das
investigações, que foram redistribuídas aos juízes federais de
diferentes estados. Mas a prisão do ex-diretor Paulo Vieira de Souza, o
Paulo Preto, suspeito de ser operador financeiro do PSDB,
colocou em
xeque a permanência de Gilmar Mendes como juiz natural do caso. Quem
responde pelas decisões do Paraná é o ministro relator Edson Fachin.
Ontem
, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, se manifestou
contra uma reclamação apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) por
Paulo Preto, antes mesmo que o ministro Gilmar Mendes intimasse a PGR
sobre o pedido
. O engenheiro argumenta que ele não poderia ser
investigado pela Lava-Jato no Paraná, uma vez que os fatos a seu
respeito já estão sob análise da força-tarefa paulista da operação. O
impasse pode ser um novo divisor de águas para a Operação Lava-Jato,
que
tem uma lista de políticos na fila para serem presos, principalmente os
que perderam as eleições e a imunidade parlamentar, ou seja, o direito
de serem julgados pelo STF.
Com Sérgio Moro no Ministério da Justiça, a força-tarefa da Lava-Jato
terá muito mais apoio financeiro, operacional e político para
prosseguir suas investigações.
A lista de políticos que estão sob
investigações é graúda e pode pôr de joelho o Congresso, inclusive na
discussão da reforma da Previdência, que fere interesses das principais
corporações envolvidas nas investigações.
Estão citados: Aécio Neves (PSDB-MG), deputado e ex-senador;
Edison
Lobão (MDB-MA), ex-senador;
Eduardo Cunha (MDB-RJ), ex-deputado, preso
na Lava-Jato;
Eduardo Paes (DEM-RJ), ex-prefeito do Rio de Janeiro;
Eunício Oliveira (MDB-CE), ex-senador;
Fernando Pimentel (PT-MG),
ex-governador de Minas Gerais;
Flexa Ribeiro (PSDB-PA), ex-senador:
Geddel Vieira Lima, ex-ministro, atualmente preso;
Índio da Costa
(PSD-RJ), deputado;
Jacques Wagner (PT-BA), senador e ex-governador;
Sérgio Gabrielli, o ex-presidente da Petrobras;
José Serra (PSDB-SP),
senador e ex-governador;
Lindbergh Farias (PT-RJ), ex-senador;
Marco
Maia (PT-RS), ex-presidente da Câmara;
Marcelo Nilo (PSB-BA), deputado;
Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara;
Rosalba Ciarlini (PP-RN),
ex-governadora do RN;
Sérgio Cabral (MDB-RJ), ex-governador do Rio de
Janeiro;
Valdemar Costa Neto (PR-SP), ex-deputado; e
Vital do Rêgo,
ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).
Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB