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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Alguma coisa sobre o livro A Verdade Sufocada

A Verdade Sufocada, autor Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra

“Voz do DOI"

Por Élio Gaspari

Falta pouco para que o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra ponha o ponto final no seu novo livro, intitulado A Verdade Sufocada. Ele comandou o DOI-Codi de São Paulo entre 1970 e 1974, período durante o qual foram desbaratadas as principais organizações esquerdistas envolvidas com a luta armada e atos terroristas. Do período em que comandou o DOI ficou a marca de 502 denúncias de torturas. Em 1987, Ustra publicou Rompendo o Silêncio ”, o primeiro livro com informações sobre a estrutura do DOI.


A Verdade Sufocada terá umas 500 páginas. Durante mais de 30 anos o coronel juntou lembranças, formou uma biblioteca e teve acesso aos dois volumes produzidos nos anos 80 por cerca de 30 oficiais do Centro de Informações do Exército. Nele está uma minuciosa narrativa do período, na visão dos comandantes militares da época.”


Palavras do Coronel Ustra

Complementando a nota do jornalista Élio Gaspari, esclareço que os dois volumes, escritos pelos companheiros do CIE, ficaram prontos, no final de 1987. A obra chama-se "Tentativas de Tomada do Poder", cada volume com aproximadamente 500 páginas. Inicia-se com o movimento comunista que desaguou na Intentona, em 1935, aborda a subversão que culminou com o nosso 31 de março e, pricipalmente, conta nossa a versão a respeito da luta armada e do trabalho dos Órgãos de Segurança para vencê-la. É uma obra que rebate a esquerda, com dados, fatos e provas, mostrando o quanto ela mente.


Depois de pronta, o Ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves, a levou ao Presidente José Sarney e pediu autorização para publicá-la. Sarney não autorizou, sob o argumento de que o momento era inoportuno.

Assim, o Exército continuou mudo e cada vez mais caluniado. Os que lutaram nos Órgãos de Segurança passaram a ser execrados e a versão da esquerda dominou , sem qualquer contestação, até recentemte . A maioria dos militares acredita na única versão dos revanchistas, que a peso de muito dinheiro, fez a cabeça da nação.

Agora, com o surgimento de vários Grupos ligados a nós, com os livros que o nosso pessoal começou a escrever, a história verdadeira começou a ser mostrada. Meu novo livro, " A Verdade Sufocada" - A história que a esquerda não quer mostrar - assim como o "Rompendo o Silêncio" , é uma modesta cooperação nesse sentido.

Carlos Alberto Brilhante Ustra

Alguns crimes do Partido Comunista

ALGUNS CRIMES DO PCB

Contam-se aos milhões os casos mundialmente conhecidos da violência comunista contra a pessoa humana, escudada num estranho valor moral que privilegia a revolução proletária em relação ao indivíduo, os fins justificando os meios.

Afirma Merleau-Ponty:

"A astúcia, a mentira, o sangue derramado, a ditadura são justificados se tornam possível o poder do proletariado e dentro desta medida somente." ("Humanismo e Terror", Ed. Tempo Brasileiro, RJ, 1968, página 13).

A violência, segundo a esquerda radical, seria válida se cometida em nome da classe operária e de seu representante, o Partido Comunista.

Lenin, em seu "testamento", havia indicado seis homens que poderiam substituí-lo na condução do Estado Soviético: Stalin, Zinoviev, Kamenev, Rykov, Bukharin e Trotsky. Stalin, elegendo-se Secretário-Geral do PCUS, nunca conseguiu eliminar a oposição que lhe faziam os grupos internos dirigidos pelos outros cinco.

Na década de 30, a URSS vivia sob o clima da ameaça de uma guerra mundial e da questão sobre se seria possível enfrentá-la com a existência de uma oposição interna a Stalin, na cúpula do PCUS. Os denominados "processos de Moscou" foram as respostas dessa questão e os opositores, sucessivamente, eliminados. Zinoviev e Kamenev foram fuzilados em 1936, Rykov em 1937, Bukharin em 1938 e Trotsky, que já estava banido da URSS desde 1929, foi assassinado em 1940, no México.

E isto para citar, apenas, alguns dirigentes.

Torna-se difícil, entretanto, imputar a Stalin a única culpa pelos crimes, como desejava Trotsky. Em um regime que dá a uma classe um poder total e ditatorial, qualquer homem poderia utilizá-lo sobre as demais parcelas da sociedade.

Alguns anos mais tarde, Tito, chefe do governo iugoslavo, afirmaria que os erros e os crimes cometidos resultavam mais do sistema soviético do que das falhas morais do ditador, cuja ascenção tal sistema proporcionou.

No Brasil, fanatizados pela mesma ideologia e animados pelos mesmos propósitos indecifráveis que os conduziram à Intentona de 1935, os comunistas deram seguidas demonstrações de inaudita violência, ao perpetrarem crimes, com requintes de perversidade, para eliminar, não só seus "inimigos", as forças policiais, mas seus próprios companheiros.

O "Tribunal Vermelho", criado para julgar, sumariamente, todos aqueles que lhes inspiravam suspeitas e receios, arvorava-se em juiz e executor, fornecendo, ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), um espectro trágico e patético.

Pelos casos conhecidos, pode-se inferir, também, que dezenas de outros crimes foram cometidos pelos comunistas, sem que houvessem vindo a público, escondidos pela "eficiência do trabalho executado".

Os casos a seguir relatados mostram, de um modo pálido, mas irretorquível, essa violência levada aos limites do absurdo.

As famílias das vítimas não tiveram, como ainda não os têm, o reconhecimento e o amparo da sociedade.

Aos assassinados, cabe a afirmação de Merleau-Ponty:

"Admitir-se-á talvez que eles eram indivíduos e sabiam o que é a liberdade. Não espantará se, tendo que falar do comunismo, nós tentamos vislumbrar, através nuvem e noite, estes rostos que se apagaram da terra." (Idem, página 32).

- BERNARDINO PINTO DE ALMEIDA

Em 1935, ainda antes da Intentona, Honório de Freitas Guimarães ("Milionário"), membro do CC/PCB, denunciou Bernardino Pinto de Almeida, vulgo "Dino Padeiro", de traição. O "Tribunal Vermelho", cioso de suas atribuições, julgou-o culpado e perigoso para a ação armada que se avizinhava.

O próprio Secretário-Geral do Partido, Antonio Maciel Bonfim, o "Miranda", decidiu executá-lo, com o auxílio de seu cunhado, Luiz Cupelo Colônio. "Dino Padeiro", deslumbrado com a possibilidade de encontrar-se com o número um do Partido, foi atraído para um local ermo, próximo à então estação de Triagem da Central do Brasil, no Rio de Janeiro.

Fora das vistas, "Miranda" desfechou-lhe uma coronhada e, em seguida, dois tiros de revólver. Tendo a arma enguiçado, tomou a de Cupelo e desfechou-lhe mais dois tiros, para ter a certeza da morte. Entretanto, por incrível que pareça, "Dino" sobreviveu e, socorrido por funcionários da ferrovia, pôde contar sobre a tentativa de crime.

Ironicamente, o destino deu voltas. Mais tarde, Cupelo sentiria, em sua própria família, o peso da violência.

- AFONSO JOSÉ DOS SANTOS

Em 2 de dezembro de 1935, com os militantes do PCB entrando na clandestinidade pela derrota da Intentona, o "Tribunal Vermelho" julgou e condenou à morte Afonso José dos Santos. A vítima foi delatada por José Emídio dos Santos, membro do Comitê Estadual do PCB no Rio de Janeiro, que recebeu o encargo da execução.

Três dias depois do "julgamento", José Emídio cometia o assassinato, na garagem da Prefeitura de Niterói. Impronunciado por falta de provas, só em 1941 o crime foi esclarecido.

- MARIA SILVEIRA

Elisiário Alves Barbosa, militante do PCB, quando estava na clandestinidade em São Carlos, cidade do interior paulista, apaixonou-se pela também militante Maria Silveira, conhecida como "Neli". Indo para o Rio de janeiro, o próprio Elisiário, após algum tempo de militância, acusou "Neli" de não mais merecer a confiança do Partido.

O "Tribunal Vermelho" condenou-a à morte.

Planejado o crime, os militantes Ricarte Sarrun, Antonio Vitor da Cruz e Antonio Azevedo Costa levaram-na, em 6 de novembro de 1940, até à Ponte do Diabo, na Estrada do Redentor, na Floresta da Tijuca. No transporte, usaram o táxi dirigido por Domingos Antunes Azevedo, conhecido por "Paulista".

Logo ao chegar, "Neli" foi atirada da Ponte do Diabo por Diocesano Martins, que esperava no local. Mas, havia a possibilidade de que ela não morresse na queda. Para certificar-se da morte, Daniel da Silva Valença aguardava no fundo do abismo.

"Neli", entretanto, já chegou morta. Foi esquartejada por Valença, que procurou torná-la irreconhecível a fim de dificultar a identificação e apagar possíveis pistas.

- DOMINGOS ANTUNES AZEVEDO

Dois meses depois, os assassinos de "Neli" estavam preocupados com a possível descoberta do crime. Em 20 de janeiro de 1941, reunidos, verificaram que o ponto fraco era o motorista do táxi, Domingos Antunes Azevedo.

Decidiram eliminá-lo.

Antonio Vitor da Cruz e Antonio Azevedo Costa, "amigos" do motorista, atrairam-no para um passeio na Estrada da Tijuca. Foram também, Diocesano Martins e Daniel da Silva Valença, este sentado ao lado do motorista. Num local em que o táxi andava bem devagar, Diocesano desfechou três tiros na vítima, que tombou de bruços sobre o volante.

Valença freiou o carro e o cadáver foi atirado à margem da estrada. Segundo eles, os assassinatos de "Neli" e do "Paulista", em nome do Partido Comunista, jamais seriam descobertos.

Esses foram alguns dos crimes cometidos pelo PCB, há mais de 60 anos. Mais tarde, muito mais tarde, esse Partido de Prestes não iria juntar-se às dezenas de organizações comunistas que defenderiam a sangrenta luta armada como o único caminho para a tomada do poder.

Detalhes de mais uma da Dilmona

A AÇÃO GRANDE OU O ROUBO DO COFRE DO ADHEMAR"

1. A FORMAÇÃO DA VAR-P
Em meados de 1969, duas organizações de linha foquista, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e o Comando de Libertação Nacional (COLINA) debatiam-se sufocadas pelo cerco dos órgãos de segurança. Esprimidas entre os sucessos dos atos terroristas e dos assaltos a bancos e as amarguras da prisão de dezenas de seus militantes, ambas buscaram, na fusão, um modo de rearticularem-se, formando uma única organização, mais poderosa e de âmbito quase nacional.
Assim é que, em junho e em julho, em duas casas do litoral paulista, respectivamente, em Peruíbe e em Mongaguá, os dois comandos nacionais realizaram a denominada Conferência de Fusão, em cujo Informe, datado de 07 de julho, já aparecia o nome da nova organização, a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-P), que iria, também, ganhar a adesão de militantes da Dissidência do Partido Comunista Brasileiro de São Paulo (DI/SP).
Foi eleito o seguinte Comando Nacional (CN), três oriundos de cada organização: Carlos Lamarca, Antônio Roberto Espinosa e Cláudio de Souza Ribeiro, da VPR, e Juarez Guimarães de Brito, sua esposa Maria do Carmo Brito e Carlos Franklin Paixão Araújo, do COLINA.
Apesar da fusão ter sido concretizada, as discussões da conferência não foram tranqüilas, transcorrendo num clima tenso e, por vezes, tumultuado. Os "massistas" oriundos do COLINA, melhor preparados politicamente, criticavam os "militaristas" da VPR, pelo "imediatismo revolucionário" que defendiam. Ao mesmo tempo, entrando com 55 milhões de cruzeiros e um grande arsenal de armas, munições e explosivos, os oriundos da VPR sentiam-se moralmente fortalecidos, em face do nenhum dinheiro e das duas metralhadoras Thompson e quatro pistolas trazidas pelo COLINA.
Entretanto, tudo foi esquecido quando Juarez Guimarães de Brito apresentou o seu trunfo, o planejamento da " ação grande", que poderia dar, à nova VAR-P, sua independência financeira.

2. A "AÇÃO GRANDE"
Gustavo Buarque Schiller, o "Bicho", era um secundarista da então Guanabara que havia participado das agitações estudantis de 1968 e, através de militantes do diminuto Núcleo Marxista Leninista (NML), havia-se ligado ao COLINA. De família rica, morava no bairro de Santa Tereza, próximo à casa de seu tio, o médico Aarão Burlamaqui, que a havia cedido para ser a residência de sua irmã - tia do "Bicho", Anna Gimel Benchimol Capriglione, tida como sendo a "amante do Adhemar", ex-Governador de São Paulo. Ao ouvir que no cofre do casarão de sua tia, que morava na Rua Bernardino dos Santos, havia milhões de dólares,levou esse dado à organização.
No início de maio de 1969, "Bicho" recebeu de Juarez Guimarães de Brito a incumbência de realizar levantamentos mais acurados, com croquis e tudo, para um futuro assalto. Descobriu, então, que não havia só um, mas dois cofres, o segundo num escritório em Copacabana. Descobriu, também, que neles deveria haver de 2 a 4 milhões de dólares, além de documentos que poderiam incriminar, por corrupção, o ex-Governador Adhemar de Barros.
Juarez vislumbrou a " ação grande": num assalto simultâneo, arrecadaria recursos financeiros nunca antes conseguidos por uma organização e, com os documentos, poderiadesmoralizar um dos articuladores da Revolução de 1964.
Necessitando de mais dinheiro para o roubo dos cofres, Juarez decidiu executar o que denominou de "ação retificadora", chefiando, em 11 de julho, o assalto à agência Muda do Banco Aliança, com os seguintes sete militantes da VAR-P: Darcy Rodrigues, Chael Charles Schreier, Adilson Ferreira da Silva, Fernando Borges de Paula Ferreira, Flavio Roberto de Souza, Reinaldo José de Melo e Sonia Eliane Lafoz. O assalto não proporcionou o resultado esperado: além de só terem conseguido 17 milhões de cruzeiros, foram perseguidos pela polícia, quando Darcy Rodrigues assassinou o motorista de táxi Cidelino Palmeira do Nascimento, causando "reflexos políticos negativos" para a nascente organização.
Por outro lado, o assalto ao cofre de Copacabana necessitava um tempo maior de planejamento, o que a "revolução" não poderia conceder. Decidiu, então, roubar o de Santa Tereza.
Na tarde de 18 de julho de 1969, os seguintes treze militantes da VAR-P, comandados por Juarez Guimarães de Brito ("Juvenal", "Júlio"), invadiram o casarão de Anna Capriglione, disfarçados de policiais à cata de "documentos subversivos": Wellington Moreira Diniz ("Lira", "Justino", "Mario", "Lampião", "Virgulino"), José Araújo de Nóbrega ("Alberto", "Monteiro", "Zé", "Pepino"), Jesus Paredes Sotto ("Mário", "Reis", "Lu", "Roque", "Tião", "Elmo"), João Marques de Aguiar ("Braga", "Jeremias", "Topo Gigio"), João Domingos da Silva ("Elias", "Ernesto"), Flávio Roberto de Souza ("Marques", "Mário", "Juarez", "Ernesto", "Gustavo"), Carlos Minc Baumfeld ("Orlando", "José", "Jair"), Darcy Rodrigues ("Sílvio", "Léo", "Batista", "Souza"), Sônia Eliane Lafoz ("Bonnie", "Mariana", "Clarice", "Paula", "Rita", "Olga"), Reinaldo José de Melo ("Rafael", "Maurício", "Otávio", "Douglas"), Paulo Cesar de Azevedo Ribeiro ("Ronaldo", "Hilton", "Comprido", "Glauco", "Ivo", "José", "Luiz", "Osvaldo", "Pedro", "Rui") e Tânia Manganelli ("Simone", "Glória", "Marcia", "Patrícia", "Sandra", "Vera").
Após confinarem os presentes a uma dependência do térreo da casa, um grupo subiu ao 2º andar e levou, através de cordas lançadas pela janela, o cofre de 200 Kg, colocado numa Rural Willys. Em menos de 30 minutos, consumava-se o maior assalto da subversão no Brasil.
Levado para um "aparelho" localizado próximo ao Largo da Taquara, em Jacarepaguá, o cofre foi arrombado com maçarico e com o cuidado de, antes, ser enchido de água através da fechadura, para evitar que o dinheiro se queimasse. Aberto, "os militantes puderam ver, maravilhados, milhares de cédulas verdes boiando". Penduraram as notas em fios de nylon estendidos por toda a casa e secaram-nas com ventiladores. Ao final, 2.800.064,00 dólares atestavam o sucesso da " ação grande".
Entretanto, entre os documentos encontrados só havia cartas e papéis pessoais, nada que pudesse incriminar Adhemar de Barros, além das inevitáveis especulações sobre as origens da fabulosa quantidade de dólares.

3. O DESTINO DO BUTIM
O destino dado ao dinheiro nunca foi devidamente esclarecido, perdido nos obscuros meandros da cobiça humana sobrepondo-se à ideologia.
Juarez e Wellington Moreira Diniz deixaram todo o dinheiro no "aparelho" da Rua Oricá, 768, em Braz de Pina, sob a guarda de Luiz Carlos Rezende Rodrigues ("Chico", "Negão") e Edson Lourival Reis Menezes ("Miranda", "Sérgio", "Wander", "Emílio", "Gilson"). Dias depois, Juarez foi buscar o dinheiro e determinou que essas duas "testemunhas" viajassem para a Argélia: Luiz Carlos embarcou em 12 de agosto, a fim de comprar armas, e Edson, via Argélia, foi fazer um curso de guerrilha em Cuba. Cinco meses depois, já no início de 1970, de volta ao Brasil, Luiz Carlos pediu para o militante Jorge Frederico Stein levar a quantia de 220 milhões de cruzeiros do Rio Grande do Sul para a Guanabara, em duas viagens.
Cerca de 300 mil dólares foram colocados em circulação e sabe-se que muitos militantes receberam, cada um, 800 dólares para emergências e que os dirigentes passaram a viver sem dificuldades financeiras. Inês Etienne Romeu ("Alda", "Isabel", "Leda", "Nadia", "Olga", "Tania") recebeu 300 mil. Cerca de 1,2 milhão foi distribuído pelas regionais, para a aquisição de armas, "aparelhos" e carros, além da implementação das possíveis áreas de treinamento de guerrilhas. No final de setembro, Maria do Carmo Brito ("Lia", "Madalena", "Madá", "Sara") entregou ao Embaixador da Argélia no Brasil, Hafif Keramane, a quantia de 1 milhão de dólares. Em contas secretas da Suíça - depois transferidas para a França, foram depositados 250 mil dólares, dos quais 120 mil foram divididos, em 1974, pelos grupos remanescentes da VAR-P e 130 mil foram abocanhados por Lalemant, um francês intelectual de esquerda, editor e dono da livraria Marterout, em Paris.
Quanto ao Gustavo Buarque Schiller, o "Bicho", seu destino foi mais claro, se não trágico, do que o dos dólares que ajudou a roubar. Logo após o assalto, passou para a clandestinidade, escondendo-se com Herbert Eustáquio de Carvalho, o "Daniel". Depois, fugiu para o Rio Grande do Sul, onde usou os codinomes de "Luiz" e "Flávio". Preso no final de março de 1970, foi banido para o Chile em 13 de janeiro de 1971, em troca da vida do embaixador suíço. Depois de passar longos anos de dificuldades financeiras na França, retornou ao Brasil com a anistia, em novembro de 1979. Movido por "conflitos existenciais", suicidou-se em 22 de setembro de 1985, atirando-se de um edifício em Copacabana.
Com dólares, armas e militantes preparados, a VAR-P nascia grande e prometia tornar-se a maior das organizações subversivas brasileiras. Os conflitos ideológicos entre seus integrantes, originados de uma fusão que nunca desceu da cúpula dirigente às bases, acabariam por dividi-la e enfraquecê-la, facilitando a sua posterior destruição.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O maldito revanchismo

Ah! O Revanchismo

Instados por vasta e avassaladora campanha publicitária do governo imperial para descobrir o destino de 140 desaparecidos na luta subversiva, temos aguçado a nossa atenção.

Clamamos em vão, ora pelo João, ora pelo Pedro, ora pelo Antonio, e pelos outros cento e trinta e sete desaparecidos. Infelizmente, só ouvimos os lamentos do Paulo Macena, do Carlos Argemiro, do Edson Régis, e das outras cento e dezesseis vítimas do terrorismo, estes, desconhecidos, personagens do limbo da obscuridade. De fato, eles compunham um grupo de “celerados mercenários” a soldo das forças “ditas” legais. Não tinham família, eram crias de incubadeira, e, portanto, faces sem passado. Cremos que seus “ais” e “lamentos” eram mais agonizantes, por não terem eles, ou as suas famílias, recebido qualquer homenagem ou recompensa, como os seus algozes, sejam eles “aparecidos” ou desaparecidos.

Chorosas mães clamam de saudade por filhos e filhas, por parentes que eram poços de virtudes, indivíduos de reconhecidas qualidades humanitárias, verdadeiros anjos caídos no inferno da ditadura.
Inocentes, puros nos gestos, castos nos pensamentos, querubins que merecem, como bem-aventurados, o aconchego de seus amigos. Que importa, se nos seus sonhos pretenderam tornar esta Nação uma comunidade de “zumbis” nos moldes russos. Não importa se, inadvertidamente, pegaram em armas, para impor seus ideais, e no seu propósito, desacataram as leis e promoveram a desordem.

Muitos buscaram preservar o honrado nome de suas famílias, conscientes de suas insanas aventuras, de sua decisão de matar, de seqüestrar, de assaltar bancos, e de praticar atos terroristas, ações abominadas, inclusive, por seus diletos pais. Por isso, para não macular seus antepassados, por respeitarem ao extremo seus ascendentes e descendentes, buscaram o anonimato, usaram falsas identidades e falsos documentos, cientes de que cometiam hediondos desatinos.

Muitos morreram, não portando os seus verdadeiros nomes, e foram enterrados, o João com o nome de Pedro, o Antonio com o nome de José. Alguns, por não serem reconhecidos, seus corpos não foram reclamados, nem pranteados e jazem em cova rasa, como indigentes, com o nome que escolheram. Portanto, não estão desaparecidos.

Ao longo das últimas décadas, na medida em que os arautos e agentes da subversão colocavam suas cabeças de fora (e viva a Lei da Anistia), e ao mesmo tempo em que ocupavam postos de relevância na estrutura do governo, recrudesceram os seus ataques e tornaram–se visíveis as suas ações de desmoralização da Forças Armadas.
Se no início, titubeantes, a liberdade de atuação ao abrigo da legalidade e a impunidade deram-lhes a confiança necessária para alçarem novos vôos. Daí à prática de solertes arbitrariedades foi um passo.

A máquina estatal, sob a pecha de atos do desgoverno vem cobrindo de legalidade o seu universo de ilegalidades. Pois, colocou-lhes nas mãos diversos instrumentos de manipulação. Com recursos a perder de vista, falando em nome da sociedade, eles concretizam barbáries com a desfaçatez dos que nada temem. Diante de fatos consumados e insanos, a sociedade se aquieta e aceita, uma vez que advindos do “governo”. Juntam-se num mesmo pacote de ignomínias, o politicamente correto e a aceitação absurda da injustiça.

Beneficiados por uma estrutura em torno omissa, conivente ou complacente adquiriram poderes sem limites e não raro extrapolam. Sem freios, libertos de conceitos e padrões que possam obstar seus projetos, seguem em frente.

Se alguém perguntar, mas por que tanto revanchismo?
Poderemos responder que duas são as causas. A primeira refere-se ao partido que abrigou como suas as propostas de comunização do País. A imagem daqueles aventureiros adequava–se como uma luva às ambições partidárias. Não importando se, originalmente, os “heróis” eram do PC, do PC do B, trotskistas, e qualquer sigla de esquerda, todos cabiam na legenda do PT.
Por isso, vivamente, o PT, entendeu que mantendo o revanchismo alimentaria o status do próprio partido, e da maioria de seus políticos, que ganharam dimensões heróicas, agentes de criminosas façanhas cantadas em prosa e verso, e que muito bem disseminadas e distorcidas pela mídia, causam ótima repercussão junto à opinião pública.
A segunda refere-se à sustentação da própria ideologia marxista–leninista, que sempre entendeu ser o segmento militar o seu grande oponente no Brasil, e atua, permanentemente, de forma a aniquilá–lo, para que no futuro, não venha obstar–lhe o caminho.
Destarte, estamos diante de duas grandes e mortais motivações, e precisamos de mais? Daí dá-lhes campanhas e mais campanhas.
Ambas vertentes unem-se para o enfraquecimento do segmento militar, que após tantos revezes, tornou–se um ridículo adversário.

Brasília, DF, 21 de outubro de 2009
Fonte: Ternuma Regional Brasília
Por: Gen. Bda Refo Valmir Fonseca Azevedo Pereira

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O dispositivo militar do Jango

Os Generais do Jango

Pinçando os fatos históricos, cada um com as suas observações e convicções, vejamos alguns aspectos e procedimentos da cúpula militar no entorno do dia 31 de março de 1964.

Mourão, Assim como o governo Lula/Dilma/Tarso vem fazendo sistematicamente, quer fazendo massiva propaganda sobre os desaparecidos políticos e diz aos militares que se deve esquecer o passado (dito pelo Gen Albuquerque, excomandante do EB, em palestra no Clube Militar), quer alimentando as invasões pelo MST, afrontando o direito de propriedade, como parte da pressão de base, quer se imiscuindo nos outros Poderes, com a capa protetora da democracia, mas usando-a de forma fraudulenta, impondo amarras na cúpula do Judiciário, nomeando a sua maioria pelo longo período de governo, advindo da famigerada reeleição, e outras amarras no Legislativo, como no recente escândalo envolvendo o presidente do Senado, já na gaveta, abafado pela mudança de foco para o caso Zelaya e o espetáculo teatral das Olimpíadas de 2016.

Na Chefia do Gabinete Militar estava o Gen Bda Argemiro de Assis Brasil, de 18/10/63 até 31/03/64. Segundo consta, montara um plano para colocar oficiais generais nos principais cargos que fossem ideologicamente afinados com o presidente Jango, garantindo o tal Dispositivo Militar, que, no momento crucial fracassou totalmente.

Em 30 de março de 1964, houve a reunião no Automóvel Clube do Brasil do presidente Jango com os sargentos. Embora mais um fundamento para o desenlace do dia seguinte, não foi a gota d'água, pelo exíguo tempo entre esse acontecimento e o seguinte, com as tropas do Gen Mourão em marcha para o combate.

A despeito do rastilho de pólvora já aceso, pairou dúvida quanto à ida de Jango ao evento. Observe a entrevista de Raul Riff: “Quando o Jango estava se arrumando para ir à reunião dos sargentos no Automóvel Clube, estavam no quarto com ele o Tancredo, o general Assis Brasil e eu. Não me lembro se ele convocou ou se foi ocasional o fato de nós três estarmos lá. Quando ele já estava quase saindo virou-se para nós e perguntou: "O que é que vocês acham? Vou ou não ao comício?" Tancredo foi contra: "Não deve ir porque realmente é uma coisa que não agrada à hierarquia militar. Politicamente não é aconselhável."

Aí o Jango virou-se para o Assis Brasil: "O que é que você acha?" Assis Brasil, que como militar tinha uma opinião que pesava muito, disse: "Não; acho que não pode deixar de ir, porque seria uma falta de consideração, de atenção com os sargentos que promoveram essa reunião." Por fim, virou-se para mim: "Ryff, o que é que tu achas?" Respondi: "Estou de acordo com o Tancredo. Acho que não é oportuno." Ele acabou indo.”

Apesar de toda a lealdade do Gen Assis a Jango, as palavras da filha do ex-presidente, Denize Goulart, não demonstram reconhecimento, nem respeito: “Depois do golpe, quando estávamos no exílio, o general Assis Brasil foi nos visitar no Uruguai. Minha mãe, ao encontrá-lo diante dela, não se conteve e falou: "Piá merece é isso!" e esbofeteou o general!!!” E arrasa: “Ainda há pouco citei o Castello Branco, que era conspirador, mas estava próximo ao presidente. No Chile aconteceu igual: o Augusto Pinochet era o general mais submisso ao Salvador Allende, mas derrubou-o...” (Portal do PDT)

Obviamente, confunde, no militar, a lealdade às pessoas, com concordância ou discordância aos atos postos em prática pela autoridade.

Cargos militares têm que ser ocupados por militares, sem que isso signifique, por um lado, subserviência, prevalência dos interesses pessoais, prêmios de consolação, acomodação, omissão, fraqueza, ou por outro, respaldo, afinamento com as posturas de governo e coparticipação nos riscos. Ter percepção sobre os desvios de conduta no macro e no micro, aceitar ou reagir, gerando uma pequena crise, pela saída, esclarecendo as razões, ou uma crise à altura do desvio constitucional, aceito mansamente pelos outros Poderes, alijando o Executivo infrator, em respeito concepção do Estado.

O Gabinete Militar, criado em 1938 foi designado Casa Militar em 1992, e em 1999, Gabinete de Segurança Institucional. O desmonte das Forças Armadas.

Como ministro da Marinha estava o Almirante Sylvio B. Motta (15/06/63 a 27/03/64) que substituíra o Alte Pedro Paulo Suzano (24/01/63 a 14/06/63), quando ocorreu uma reunião de marinheiros no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro no dia 25 de março de 1964, em prol de uma associação de classe, reivindicações, apoio às reformas de base, etc. Não concordando com a ocorrência, o ministro emitiu ordem de prisão dos infratores para execução por parte dos fuzileiros navais, cujo efetivo aderiu aos demais, apoiado pelo Alte Cândido Aragão. Afinados Jango e Aragão forçaram o pedido de demissão do ministro que foi substituído pelo Alte Paulo Mário da Cunha Rodrigues (27/03/64 a 31/03/64).

Acomodação, liberdade aos presos, manifesto de repúdio pelo Clube Naval; almirantes e oficiais contra a anarquia reinante, demonstrando a insatisfação, dando a lição, não só refutando a indisciplina, incentivada ostensivamente, diferente de hoje, camuflada pelo viés ideológico de juízes, exarando sentenças não compatíveis com as atividades militares em tempo de paz, como preparação, por serem próprias e adequadas aos momentos de guerra. Avançar sob os fogos, zumbido da morte dos rojões e a metralha das armas inimigas serão o desafio a vencer, fora dos gabinetes, togas, cafezinho e ar condicionado.

No Ministério da Guerra, o Gen Ex Jair Dantas Ribeiro (15/06/63 a 31/03/64) e no Ministério da Aeronáutica, o Brigadeiro Anysio Botelho (15/06/63 a 31/03/64) que estavam presentes, juntamente com Alte Sylvio Motta, ministro da Marinha, no comício da Central do Brasil em 13 de março de 1964, onde os discursos e as faixas empunhadas pelos manifestantes, "Jango em 65 Presidente da República: Trabalhadores querem armas para defender o seu governo". "Sexta Feira, 13, mas não é de agosto", "Brizola 65 - Solução do povo", "Jango - Abaixo com os latifúndios e os trustes", "Jango - Defenderemos as reformas à bala". (...)

As Ligas Camponesas, espúrias como o MST de hoje, invadiam as propriedades e barbarizavam. Guerra civil, fechamento do Congresso e plebiscito foram temas.

Oficiais e sargentos foram designados para representares as suas organizações. Aproximadamente 2.500 soldados da Polícia do Exército e do Corpo de Fuzileiros Navais guarneciam o dispositivo.

Dos ministros, nem todos se curvaram. O das Relações Exteriores, Araújo Castro, declarou que comparecer a comícios não era sua obrigação e ficou no Itamaraty.

Do Gen Jair Dantas Ribeiro, há que se buscar um depoimento, ao que parece isento: “A 14 de setembro de 1962, uma greve nacional, articulada com o apoio do comandante do III Exército, general Jair Dantas Ribeiro, obrigou o Congresso a aprovar a emenda Valadares, que determinou a antecipação para janeiro de 1963 da realização do plebiscito sobre o parlamentarismo, marcado para 1965.”

Em “A sociedade cindida”, por Jacob Gorender que completa: “O que chamamos de golpe militar teve inequívoco e poderoso apoio social. Funcionou como contra-revolução preventiva.”

O militar não jura fidelidade aos homens no governo,
mas à Pátria; se compromete em solene juramento a defendê-la, com o sacrifício da própria vida.

A continência à Bandeira Nacional consubstancia esse respeito ao símbolo, mas é impessoal quando se presta à autoridade, civil ou militar, que obrigatoriamente deve estar no mesmo contexto de defesa da concepção do Estado brasileiro, nascido da conjunção entre o homem e a natureza, gestado ao longo de mais de 500 anos de História, parido com sacrifício e portador da verdadeira e primeira certidão de nascimento, definido por suas primordiais características. Deve ser considerada para preservar a sua identidade, diante de qualquer ameaça, sem sofrer transfigurações e mutilações. Dever do militar como parte integrante da sociedade, una indivisível; abominada a expressão sociedade civil organizada, como se na resultante do Poder Nacional, não existisse a componente fardada.

Legitimidade no poder não é só ser eleito, como tem dito Lula na questão de Honduras do afastamento de Zelaya, como exigência do Estado de Direito, que em si, será democrático se for mantida a independência dos Poderes.

Aprender com o passado, tomar decisões no presente de acordo com a sua consciência e ser bem lembrado no futuro, sem pretender que a unanimidade lhe seja fiel.

Ernesto Caruso é Coronel da reserva do EB.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ministério Público Militar investiga desaparecidos do DOI-CODI

MPM ouve coronel Maciel sobre desaparecidos no DOI-CODI
A procuradora de Justiça Militar em São Paulo Hevelize Jourdan Covas Pereira esteve no Rio de Janeiro para ouvir um dos ex-comandantes do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna – DOI-CODI, o coronel Audir Santos Maciel. O militar da reserva esteve hoje (28) na Procuradoria de Justiça Militar no Rio de Janeiro onde foi ouvido pela procuradora sobre o desaparecimento de pessoas no período em que comandava o DOI-CODI. No depoimento, o coronel reformado declarou que, entre 1974 e 1975, ocupava o cargo de chefe do Destacamento de Operações e Informações do DOI-CODI. Entre suas atribuições, estava a busca de informações referentes à defesa interna.

Disse que as ações desenvolvidas pelo órgão objetivavam evitar ações de terrorismo e que o meio empregado para obtenção de informações era basicamente a investigação. Segundo ele, os dados para montagem dos dossiês eram obtidos com terceiros e com familiares que concordavam em prestar depoimento sem qualquer meio coercitivo. Afirmou também que não havia qualquer prática violenta, nem tortura no destacamento que comandava. “As pessoas saíam do DOI-CODI liberadas ou encaminhadas por ofício para o DOPS ... e que desconhece os procedimentos utilizados pelo DOPS”, acrescentou.

Com relação aos desaparecidos, declarou que nenhum dos representados na Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público Federal, em 2008, esteve preso no DOI-CODI, ressaltando que nenhum dos desaparecidos, entre 70 e 80, passou pelo DOI-CODI.

De acordo com a procuradora Hevelize Jourdan, o coronel não fugiu dos questionamentos, respondendo a todas as perguntas e dando sua versão dos fatos. Em determinado momento do depoimento, o coronel Maciel declarou que a maior culpa que guarda do período é não ter liberado o jornalista Vladimir Herzog logo após seu interrogatório.

No dia 25 de outubro de 1975, Vladimir Herzog, então professor e jornalista da TV Cultura, compareceu ao DOI/CODI, por solicitação do Exército, para prestar esclarecimentos sobre ligações com o Partido Comunista. Naquela mesma data, o Exército divulgou nota relatando que o jornalista se suicidara no DOI/CODI após assinar confissão de participação no PCB.

O Ministério Público Militar investiga o envolvimento do coronel Maciel e do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra no desaparecimento de pelo menos 26 pessoas no período em que comandaram o DOI-CODI. O procedimento foi retomado após a manifestação do Procurador-Geral da República no processo de extradição do major Manuel Cordero Piacentini, pedido pela Argentina. Em seu parecer, o PGR afirmou que o crime de sequestro é equivalente ao tipo penal do desaparecimento forçado. Com base nessa argumentação, o MPF encaminhou pedido ao MPM para que os militares sejam investigados.

Fonte: MPM

sábado, 10 de outubro de 2009

O sequestro de um embaixador - Franklin Martins, ministro do Lula, foi um dos bandidos participantes

O SEQÜESTRO DO EMBAIXADOR DOS EUA

Assaltos a bancos e estabelecimentos comerciais, ataques a sentinelas, roubos de armas e explosivos, assassinatos encobertos sob o eufemismo de "justiçamentos", a violência estarrecia porém perdera o ineditismo. A repetição sistemática das ações tirava-lhes o impacto do fato novo gerador de curiosidade. Era necessário imaginar algo que mexesse com a opinião pública.

Com esse pensamento, a direção da Dissidência do PCB na Guanabara (DI/GB) imaginou, em meados de 1969, o seqüestro de um representante diplomático. A ação teria a finalidade de liberar companheiros presos e de chamar a atenção da opinião pública nacional e internacional para a audácia e a determinação do movimento revolucionário comunista no Brasil.

O alvo mais significativo seria o embaixador dos Estados Unidos da América, tachado como representante e defensor dos "interesses imperialistas norte-americanos em nosso País".

O pensamento inicial da DI/GB, em consonância com sua origem universitária, era libertar o seu militante e líder secundarista, Vladimir Gracindo Soares Palmeira ("Marcos"), além dos também dirigentes do movimento estudantil, José Dirceu de Oliveira e Silva ("Daniel") - militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), e Luiz Gonzaga Travassos da Rosa, militante da Ação Popular (AP)

A idéia do seqüestro partiu de Franklin de Souza Martins ("Waldir", "Francisco", "Miguel", "Rogério", "Comprido", "Grande", "Nilson", "Lula") - que havia estado preso junto com os demais líderes até o final de 1968, e foi logo apoiada por Cid de Queiroz Benjamin ("Billy", "Vitor", "Willy", "Miro", "Levi"), integrante da Frente de Trabalho Armado (FTA) da DI/GB.

A direção da DI/GB, liderada por Franklin, concluiu, após os levantamentos preliminares, que a falta de experiência de seus quadros poderia dificultar o sucesso da ação. Seria necessário o apoio de uma equipe mais experiente. A ALN já havia conseguido notoriedade através da intensificação de suas ações armadas, principalmente em São Paulo, e pela constante divulgação de textos de Carlos Marighella, incentivando todo e qualquer tipo de "violência revolucionária". A ALN afigurava-se como o apoio mais confiável e competente.

Em julho de 1969, Claudio Torres da Silva ("Pedro", "Geraldo"), membro da FTA, devidamente autorizado pela direção da DI/GB, foi fazer contato com Joaquim Câmara Ferreira ("Toledo", "Velho", "Valter", "Azevedo"), dirigente nº 2 da ALN. "Toledo", aplicando a autonomia revolucionária permitida pelos princípios da organização, aprovou a ação e, sem o conhecimento de Marighella, prometeu o apoio da ALN à empreitada da DI/GB.

Durante os preparativos, foi alvo de especial atenção a escolha da data da ação. Havia duas opções: a semana de 7 de setembro ou o 8 de outubro. Oito de outubro, significativo pela lembrança da "queda" de Che Guevara na Bolívia, foi preterido pela semana de 7 de setembro em função da urgência em libertar os presos políticos e da intenção de desmoralizar as autoridades e esvaziar as comemorações da Semana da Pátria.

No final de agosto, Cid de Queiroz Benjamin tornou a fazer contato com "Toledo", em São Paulo, pormenorizando detalhes da ação de seqüestro. Da reunião, participou Virgílio Gomes da Silva ("Breno", "Jonas", "Borges"), coordenador do Grupo Tático Armado (GTA) da ALN, que seria o comandante da ação. "Breno", codinome utilizado por Virgílio só para o seqüestro, selecionou os também militantes da ALN, Manoel Cyrillo de Oliveira Netto ("Francisco", "Sergio", "Benê", "Mauro") e Paulo de Tarso Venceslau ("Rodrigo", "Geraldo", "Machado", "Beto"), para participarem diretamente da ação. "Toledo", pela direção da ALN, deslocar-se-ia para o Rio de Janeiro a fim de coordenar as ações e orientar os contatos com as autoridades.

Os levantamentos, reconhecimentos e providências logísticas da ação, todas sob a responsabilidade da DI/GB, já haviam sido tomadas.

Fernando Paulo Nagle Gabeira ("Mateus", "Honório", "Bento", "João", "Ignácio"), jornalista do "Jornal do Brasil" e responsável pelo setor de imprensa da DI/GB, havia alugado em 5 de agosto, por meio de sua amante Helena Bocayuva Khair (nome de solteira Helena Simões Bocayuva Cunha), a casa nº 1026 da Rua Barão de Petrópolis, no Rio Comprido, perto de Santa Teresa. O casarão, além de servir ao setor de imprensa, imprimindo o jornaleco "Resistência", seria utilizado como local de cativeiro do embaixador.

Franklin, Cláudio Torres e Cid levantaram o itinerário do carro do embaixador que, invariavelmente e sem qualquer segurança, transitava de sua residência oficial - um palacete da Rua São Clemente, em Botafogo - para a embaixada, localizada na Avenida Presidente Wilson, no Centro da então Guanabara. O itinerário, sempre o mesmo, iniciava-se na Rua São Clemente, passava pela tranqüila e descongestionada Rua Marques e atingia a Rua Voluntários da Pátria. A Rua Marques, pelas suas características, foi a escolhida para ser o local da abordagem do carro do embaixador.

Vera Sílvia Araújo de Magalhães ("Marta", "Andréia", "Carmen", "Ângela", "Dadá"), militante da FTA da DI/GB, foi a encarregada de levantar a personalidade e os horários de saída do embaixador. Aproveitando-se de sua aparência física atraente e à semelhança de ações anteriores, apresentou-se na casa do embaixador à procura de emprego como doméstica. Atendida pelo encarregado da segurança, Antonio Jamir, "Marta" envolveu-o emocionalmente, conseguindo os dados necessários à complementação do planejamento. "Marta" não se constrangia em utilizar o sexo como "instrumento de ação revolucionária".

Acertados os detalhes, foi marcada a data de 4 de setembro de 1969 para a ação de seqüestro. Mesmo o derrame cerebral sofrido pelo presidente Costa e Silva e a conseqüente assunção, em 31 de agosto, de uma junta governamental integrada pelos três ministros militares não foram um fato político suficiente para alterar a data prevista.

Em 2 de setembro, Paulo de Tarso Venceslau conduziu para a Guanabara, em seu carro particular, os terroristas Virgílio Gomes da Silva e Manoel Cyrillo de Oliveira Netto. Ao chegarem, foram recebidos por Cid e Cláudio que os conduziram "fechados" para um "aparelho" no bairro do Flamengo, perto do Hotel dos Ingleses. Virgílio, cioso de suas prerrogativas de comandante, iniciou, junto com os outros dois militantes da ALN, os reconhecimentos dos locais e itinerários ainda nesse dia, complementando-os no dia seguinte.

Em 3 de setembro, completado o planejamento, Paulo de Tarso comunicou-se com "Toledo", em São Paulo, por telefone, informando: "Negócio fechado, mande a mercadoria". A senha, enviada para a residência do industrial Jacques Emile Frederic Breyton - integrante da rede de apoio da ALN -, significava que a ação estava preparada, seria desencadeada e que "Toledo" poderia deslocar-se para a Guanabara. Nesse mesmo dia, de avião, "Toledo" chegou no Rio de Janeiro, indo alojar-se no "aparelho" da Rua Petrópolis, onde passou a relacionar os nomes dos comunistas presos que deveriam ser trocados pelo embaixador.

Redigido por Franklin e Gabeira e aprovado por "Toledo", ficou pronto o panfleto que seria deixado no carro do embaixador após a ação. Esse manifesto inseria o seqüestro dentro do contexto das demais ações terroristas, classificando-o como um "ato revolucionário". Fazia propaganda "antiimperialista", acusando o embaixador de representante dos "interesses espoliativos norte-americanos no Brasil". Exigia a libertação de quinze presos políticos - a serem anunciados oportunamente - que deveriam ser conduzidos para a Argélia, Chile ou México, onde lhes deveria ser concedido asilo político. A outra exigência era "a publicação e leitura desta mensagem completa nos principais jornais e estações de rádio e televisão de todo o país". Finalizando o manifesto, um ultimato concedia 48 horas para o governo aceitar as condições impostas e mais 24 horas para que os presos fossem transportados para o exterior em segurança; o não atendimento das condições acarretaria o assassinato - segundo eles, o "justiçamento" - do embaixador. O manifesto era assinado pela ALN e pelo Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), nome adotado pela DI/GB a partir de então.

A manhã do dia 4 de setembro de 1969, uma quinta-feira de sol, foi tensa para os executantes diretos do seqüestro. Com a antecedência necessária foi tomado o dispositivo para a ação.

Na esquina das ruas São Clemente e Marques ficou estacionado um Volks bege com João Lopes Salgado ("Dino", "Murilo", "Xisto", "Ribeiro", "Pagé", "Fio", "Colombo", "Tomé", "Gabriel", "Rivo", "Caramujo", "Zé Mineiro") e Vera Silvia. O motorista era José Sebastião Rios de Moura ("Anibal", "Baixinho"), que se postou em pé na esquina, para anunciar a aproximação do carro do embaixador.

Num Volks azul, com chapa de São Paulo, foram transportados Franklin, Cid e Virgílio, o qual saltou na Rua Marques pois, de acordo com o planejamento, seria um dos que entrariam no carro do embaixador durante a abordagem. Esse Volks azul, estacionado na Rua Marques, deveria realizar uma manobra - aparentando movimento normal de trânsito - que obrigasse o carro do diplomata a parar.

Cláudio Torres, Paulo de Tarso e Manoel Cyrillo chegaram num Volks vermelho, com chapa do Espírito Santo. Os três abordariam a pé, junto com Virgílio, o carro do embaixador. Esse Volks estacionou na Rua Marques, no lado oposto ao Volks azul, a fim de estreitar a rua e de impedir a manobra da viatura diplomática.

Na Rua Caio de Melo Franco, no Jardim Botânico, já havia sido estacionada por Sergio Rubens de Araújo Torres ("Rui", "Gusmão", "Júlio", "Vicente", "Jorge", "Ferreira", "Alfredo", "Pepe"), membro da FTA da DI/GB, a Kombi verde que serviria para o transporte do embaixador.

Tudo pronto. O tempo passava, a tensão aumentava mas o Cadillac do embaixador não aparecia.

Por volta das 1100h, o esquema foi desfeito. Apurara-se que o embaixador, contrariando a rotina, havia saído de casa bem mais cedo. Restava a alternativa do retorno do diplomata para a embaixada, após o almoço em sua residência.

Às 1300h, Virgílio determinou que o dispositivo fosse retomado. Apenas o Volks vermelho não precisou ser utilizado, pois havia vários outros carros estacionados, estreitando naturalmente a rua. O Volks foi abandonado na Rua Capistrano de Abreu.

Pronto o dispositivo, surgiu na Rua Marques um carro semelhante ao do embaixador norte-americano. Os olhares ansiosos convergiram para o José Sebastião que, na esquina, não deu nenhum sinal. Era o carro do embaixador português.

Finalmente, às 1400h, José Sebastião fez o sinal convencionado. Surgiu na esquina da Rua Marques o imponente Cadillac negro chapa CD-3, dirigido por Custódio Abel da Silva. Em marcha moderada, vinha aproximando-se do local da armadilha. No banco traseiro, Charles Burke Elbrick, 61 anos, absorto, refletia sobre os problemas rotineiros que o aguardavam na embaixada. A cerca de 20 metros, um Volks azul deixava lentamente o acostamento e fazia uma manobra em "U". O motorista Custódio freou para aguardar que a rua ficasse desimpedida.

Repentinamente, a calma da tarde foi interrompida. Quase que simultaneamente, as quatro portas do Cadillac foram abertas (surpreendentemente não estavam trancadas) e quatro terroristas armados adentraram no carro. Virgílio entrou pela porta traseira direita, enquanto que Manoel Cyrillo entrava pela traseira esquerda, ladeando o surpreso embaixador. Elbrick, aturdido e sem entender o que estava ocorrendo, foi forçado a colocar-se no assoalho do carro com as mãos na nuca, enquanto que Virgílio anunciava: "Somos revolucionários brasileiros". Pela porta do motorista, entrou Cláudio Torres que, empurrando Custódio e tomando-lhe o boné, colocou-se ao volante. Pela porta dianteira direita entrou Paulo de Tarso, ameaçando Custódio com sua arma.

Claudio Torres arrancou rapidamente com o carro, após Franklin manobrar o Volks, desimpedindo a rua.

O Cadillac, ao arrancar, foi seguido pelo Volks azul que fazia a cobertura na retaguarda. Ao retornar à Rua São Clemente, seguindo para a região de transbordo, o carro diplomático passou a contar com uma cobertura à frente, proporcionada pelo Volks bege, dirigido pelo José Sebastião.

Após rodar por alguns minutos, o Cadillac atingiu a região de transbordo, uma pequena rua sem saída, no Humaitá. Elbrick recebeu a ordem para fechar os olhos e sair do carro. Imaginando que seria morto, tentou segurar a mão de Virgílio que empunhava o revólver. Recebeu violenta coronhada na cabeça desferida por Manoel Cyrillo. Sangrando abundantemente e atordoado pela pancada, foi colocado no chão da Kombi e coberto com uma manta.

Os terroristas haviam, entretanto, cometido um erro grosseiro. O motorista Custódio, previsto para dar o alarme à polícia e divulgar o ocorrido, fora levado ao local do transbordo e viu a Kombi verde que levaria o embaixador. Esta foi uma das valiosas pistas que levaram os órgãos de segurança a descobrir, já no dia seguinte, 5 de setembro, o "aparelho" da Rua Barão de Petrópolis.

Conduzido ao "aparelho", Elbrick, ferido e ensangüentado, ainda permaneceu cerca de quatro horas no interior da Kombi, estacionado dentro da garagem do "aparelho", aguardando o escurecer para ser levado para o interior da casa.

Nesse cativeiro, já lá estavam "Toledo", Gabeira e Antonio de Freitas Silva ("Baiano", "Pedro"), este contratado como serviçal e para, futuramente, prestar serviços como mimeografista na preparação da documentação subversiva.

Imediatamente após o seqüestro, o efetivo do aparelho foi engrossado com as presenças de Virgílio, Manoel, Franklin e João Lopes Salgado. No interior da casa, foi montado um esquema de segurança prevendo-se uma guarda que permaneceria no quarto do embaixador e, do lado de fora, uma vigilância permanente da rua e dos arredores, realizada a partir da varanda. Nos contatos pessoais com o embaixador, os terroristas usavam capuzes, para não serem futuramente reconhecidos.

A equipe de sete terroristas mantinha-se tensa, aguardando o desdobramento da ação. O manifesto, deixado no interior do carro diplomático, exigia a sua divulgação através dos meios de comunicação, como uma das condições para a salvaguarda de Elbrick. Apesar do trunfo representado pelo embaixador, estavam encurralados no "aparelho" os mais importantes quadros da ALN e do novo MR-8.

Nessa primeira noite, os terroristas ouviram, pelas emissoras de rádio, a divulgação do manifesto. Era sinal de que o governo brasileiro resolvera negociar, preservando a vida do diplomata americano.

Nessa mesma noite, elaboraram a seleção dos quinze comunistas a serem libertados. A idéia inicial do MR-8 de libertar três líderes estudantis fora posteriormente ampliada por "Toledo" para quinze, o que exigia uma pesquisa para a qual o bando seqüestrador não estava preparado. Tiveram dificuldades em selecionar nomes de outras organizações, pois desconheciam a importância dos diversos presos no contexto da subversão. Ignoravam, inclusive, o verdadeiro nome de Mario Roberto Galhardo Zanconato, militante da Corrente/MG, colocado na relação com o apelido de "Xuxu".

Paulo de Tarso Venceslau, após o seqüestro, permaneceu ainda mais um dia no Rio de Janeiro, em contato com Claudio Torres. Em seguida, deixou seu carro no Rio e, obedecendo ordens de "Toledo", deslocou-se de avião para São Paulo, a fim de apurar algumas "quedas" da ALN e de levantar dados sobre a explosão de um Volkswagen na Avenida da Consolação, na madrugada de 4 de setembro. Retornou no sábado, dia 6, e, após anunciar a morte de José Wilson Lessa Sabbag ("Nestor") - chefe do Grupo de Ação do GTA/ALN/SP - e a identificação do japonês morto na explosão como sendo Ishiro Nagami, o "Charles" ("Toledo" pensava que pudesse ser Takao Amano, o "Jorge"), voltou a São Paulo em seu próprio carro, que havia ficado com Claudio Torres.

Na manhã de 5 de setembro, Gabeira e Cláudio Torres colocaram na urna de donativos da Igreja do Largo do Machado uma mensagem, informando que divulgariam a lista de quinze nomes e um bilhete manuscrito de Elbrick para a esposa, Eunice. Uma cópia da mensagem foi deixada, como alternativa, na urna de donativos da Igreja Nossa Senhora de Copacabana, na Praça Serzedelo Correia.

Elbrick, intimidado por seus algozes, suplicava, em seu bilhete, que as autoridades não tentassem localizá-lo, informando que "a gente que me prendeu está determinada".

Cláudio Torres, orientado por Gabeira, ligou para o "Jornal do Brasil" e para a "Última Hora" comunicando onde estavam as duas cópias da mensagem e solicitou a sua publicação.

No início da tarde de 5 de setembro, sexta-feira, a relação com os quinze nomes foi colocada pela dupla Gabeira/Cláudio Torres na caixa de seleções do Mercado Disco do Leblon. Foi utilizado o expediente de ligar para a "Rádio Jornal do Brasil", informando o local onde estava a mensagem e pedindo a sua divulgação.

Naquela altura, os órgãos de segurança, graças ao amadorismo dos terroristas, já haviam localizado o "aparelho" da Barão de Petrópolis e o mantinham sob vigilância. Após seguirem Gabeira e Cláudio Torres nas andanças para a colocação das mensagens, resolveram demonstrar aos seqüestradores que já os tinham sob vigilância e que qualquer dano causado ao embaixador seria imediatamente reprimido. Dois agentes bateram à porta do "aparelho" e, sem se preocuparem em disfarçar suas intenções, fizeram perguntas sobre os moradores da casa e outros detalhes típicos de uma investigação. Gabeira, esforçando-se em aparentar naturalidade, respondeu, de forma pouco convincente, as perguntas dos policiais. Enquanto isso, dentro do "aparelho", os terroristas, assustados, preparavam-se para fazer frente a uma ação que não haviam previsto. Virgílio correu para o quarto de Elbrick e, colocando-o sentado no chão, permaneceu com o revólver apontado para a cabeça do apavorado embaixador. O comandante "Breno", justificando o conceito de "desassombrado revolucionário", tomara a iniciativa e queria ter o privilégio de eliminar o "representante do imperialismo".

Para alívio dos terroristas, os policiais retiraram-se. A vigilância foi intensificada e, a partir daquele momento até altas horas da madrugada, o tempo foi consumido em discussões para decidir qual a atitude a tomar. Chegaram à conclusão de que deveriam permanecer no "aparelho" e prosseguir com o planejamento inicial. Enquanto mantivessem Elbrick vivo teriam chances de escapar.

O dia de sábado foi de expectativa. O governo brasileiro, em respeito à vida de um representante diplomático estrangeiro, já havia aceitado as condições dos terroristas. O México, um dos países propostos, havia concordado em receber os presos políticos.

Às 1730h de 6 de setembro, um avião Hércules C-130 da FAB, comandado pelo major Egon Reinisch, decolou da Base Aérea do Galeão para levar os primeiros quinze terroristas banidos do território nacional: treze embarcaram no Rio (Agonalto Pacheco da Silva, Flávio Aristides de Freitas Tavares, Ivens Marchetti de Monte Lima, João Leonardo da Silva Rocha, José Dirceu de Oliveira e Silva, José Ibraim, Luiz Gonzaga Travassos da Rosa, Maria Augusta Carneiro Ribeiro, Onofre Pinto, Ricardo Vilas Boas Sá Rego, Ricardo Zaratini Filho, Rolando Fratti e Vladimir Gracindo Soares Palmeira)

e dois (Gregório Bezerra e Mario Roberto Galhardo Zanconato), em escala no Recife.

Por pouco, o plano do governo, de preservar a vida do embaixador, ia por água abaixo. Tropas da Brigada Pára-quedista, comandadas pelo coronel Dickson Grael, tomaram a Base Aérea para impedir a saída do avião. Ao verificarem que ele já havia decolado, ocuparam, às 2230h, a Rádio Nacional, e lançaram ao ar a seguinte mensagem:

"Atenção para um comunicado à nação brasileira:
A tropa de pára-quedistas e outras tropas, insurgidas contra a decisão da Junta Governamental, de fazer a entrega de presos condenados pela Justiça, numa demonstração de fraqueza e à revelia das Forças Armadas - lança - nesse momento, uma proclamação ao povo brasileiro de repúdio a tal medida impatriótica.
Conclamamos à união e tomada de consciência de que existe, em nosso país, declarada guerra interna revolucionária de comunistas, contra a qual iniciamos, neste momento, ações militares de repressão.
Para o cumprimento desta determinação patriótica, estamos dispostos ao mais alto sacrifício.
Em nome de Deus.
Brasil acima de tudo."

Na manhã de 7 de setembro, domingo, foi colocada por Cláudio Torres no monumento em frente à empresa Manchete, na Praia do Russel, a terceira e última mensagem. Os seqüestradores anunciavam o conhecimento da chegada dos quinze subversivos no México e aguardavam apenas uma autenticação, previamente combinada, para libertar o embaixador.

O "aparelho" estava cercado. A vida do seqüestrado valia, então, a vida dos seqüestradores. Os terroristas resolveram contrabalançar o vazio das ruas de um domingo e feriado com a confusão da saída do jogo Fluminense x Cruzeiro, no Maracanã, para libertar o embaixador.

Elbrick foi colocado vendado num Volks dirigido por Cláudio Torres, tendo Virgílio a guardá-lo. Em outro Volks, fazendo a cobertura, deslocaram-se Cid e Manoel.

Helena Bocayuva Khair já havia auxiliado Gabeira a retirar do "aparelho" os dirigentes "Toledo", Franklin e João Lopes Salgado. O "Baiano" também já tinha abandonado o aparelho auxiliado por Helena, tendo sido guardado num outro "aparelho", em São Cristóvão.

Por volta das 1830h, os terroristas trancaram o "aparelho" e iniciaram o deslocamento acompanhados por uma viatura dos órgãos de segurança, cujos integrantes tinham ordens de não intervir. No congestionado trânsito do término do jogo do Maracanã, os terroristas conseguiram distanciar-se e foram perdidos pela viatura.

Elbrick foi abandonado na Rua Eduardo Ramos, próxima do Largo da Segunda Feira, na Tijuca, com ordem de permanecer 15 minutos no local, antes de procurar auxílio. O amedrontado embaixador cumpriu à risca as ordens dos terroristas. Após transcorrido o prazo, tomou um táxi e retornou à sua residência.

Terminava, assim, resguardada a integridade do embaixador, o episódio que serviria de modelo para o seqüestro de mais 3 diplomatas. A exaltada ação subversiva, considerada uma vitória pelas esquerdas, proporcionou, em razão dos erros primários no planejamento e na execução, condições para que fossem desferidos duros golpes na ALN e no MR-8, que culminariam com a "queda" de Marighella em novembro de 1969, em São Paulo.

F. DUMONT

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

ATENTADO AO QG DO II EXÉRCITO

O cruel e covarde assassinato do jovem Mario Kosel Filho

Em 1969, o jovem Mário Kosel Filho, conhecido em sua casa como "Kuka", é convocado para servir à Pátria e defendê-la contra possíveis agressões internas ou externas e é designado para o Quartel General do II Exército, em São Paulo/SP.

Na mesma época, o Capitão Carlos Lamarca, formado pela Academia Militar das Agulhas Negras, serve no 4º RI, em Quitaúna/SP.

O destino dos dois vai se cruzar tragicamente.

A época é difícil, pois brasileiros pertencentes à organizações terroristas tentam, através da luta armada, implantar uma ditadura comunista no Brasil.

O Capitão Lamarca, no dia 24/01/69, trai a Pátria que jurou defender. Rouba do 4º RI muitos fuzis, metralhadoras e munição, deserta e entra na clandestinidade. O material bélico roubado é entregue à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), uma organização terrorista que Lamarca já integrava, antes de desertar.

O soldado Kosel continua servindo, com dedicação, a Pátria que jurou defender. No dia 26/06/68, como sentinela, zela pela segurança do Quartel General, no Ibirapuera. Às 0430h, ele está, vigilante em sua guarita. A madrugada é fria e a visibilidade muito pouca. Nesse momento, um tiro é disparado por uma sentinela contra uma camioneta chevrolet que desgovernada tenta penetrar no quartel. Seu motorista saltara dela em movimento, após acelerá-la e direcioná-la para o portão do QG. O soldado Rufino, também sentinela, dispara 6 tiros contra o mesmo veículo que finalmente bate na parede externa do quartel. Kozel sai do seu posto e corre em direção ao carro para ver se há alguém no seu interior. Há uma carga com 50 quilos de dinamite que, em segundos depois, explode e espalha destruição e morte num raio de 300 metros. Seu corpo é dilacerado. Seis militares ficaram feridos: o Cel Eldes de Souza Guedes e os soldados João Fernandes de Souza, Luiz Roberto Juliano, Edson Roberto Rufino, Henrique Chaicowski e Ricardo Charbeau. É mais um ato terrorista da organização chefiada por Lamarca, a VPR.

Participaram deste crime hediondo os seguintes onze terroristas: Waldir Carlos Sarapu ("Braga, "Rui"), Wilson Egídio Fava ("Amarelo", "Laercio"), Onofre Pinto ("Ari", "Augusto", "Bira", "Biro", "Ribeiro"), Eduardo Collen Leite ("Bacuri", "Basilio"), Diógenes José Carvalho de Oliveira ("Leandro", "Leonardo", "Luiz", "Pedro"), José Araújo de Nóbrega ("Alberto", "Zé", "Pepino", "Monteiro"), Oswaldo Antônio dos Santos ("Portuga"), Dulce de Souza Maia ("Judith"), Renata Ferraz Guerra de Andrade ("Cecília", "Iara"), José Ronaldo Tavares de Lira e Silva ("Dias", "Joaquim", "Laurindo", "Nunes", "Roberto Gordo", "Gordo") e Pedro Lobo de Oliveira ("Getúlio", "Gegê").

Após a sua morte o soldado Kosel foi promovido a 3º sargento e sua família passou a receber a pensão correspondente a este posto. O Exército Brasileiro numa justa homenagem colocou o seu nome na praça de desfiles do QG do II Exército.

Lamarca continuou na VPR seqüestrando, assaltando, assassinando e praticando vários outros atos terroristas, até o dia em que morreu, de arma na mão, enfrentando uma patrulha do Exército que o encontrou no interior da Bahia em 1971. Sua família passou também a receber a pensão militar correspondente.

Apesar de todos os crimes hediondos que cometeu, sendo o mais torpe deles o assassinato a coronhadas de seu prisioneiro tenente PM Alberto Mendes Júnior, Lamarca é apontado como herói pelos esquerdistas brasileiros. Ruas passam a ter seu nome. Tentam colocar seus restos mortais num Mausoléu na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Um filme é feito para homenageá-lo.

Mário Kosel Filho, soldado cumpridor dos seus deveres, cidadão brasileiro que morreu defendendo a Pátria, está totalmente esquecido. Além do esquecimento a Comissão dos Mortos e Desaparecidos que já concedera vultosas indenizações às famílias de muitos terroristas que nunca foram considerados desaparecidos, resolveu indenizar, também, a família Lamarca, numa evidente provocação às Forças Armadas e desrespeito ás famílias de Mário Kosel Filho e de muitos outros que como ele morreram em conseqüência de atos terroristas.

Essa Comissão generosamente distribui o dinheiro do contribuinte apenas àqueles que morreram tentando, através da força das armas, tornar o Brasil um satélite comunista.