A única maneira de Israel voltar atrás na declaração de que Lula é
persona non grata seria o Brasil pedir desculpas, e o recrudescimento da
crise com a convocação do embaixador brasileiro de volta e a
correspondente reprimenda ao embaixador de Israel no Brasil mostra que
dificilmente teremos uma solução rápida para uma crise desnecessária.
Já que foi dito, seria preciso encontrar uma maneira que explique a
frase, por meio de um comunicado, sem pedir desculpas. Mas a própria
primeira-dama Janja já demonstrou como é difícil a tarefa de enrolar a
língua de volta à boca. Se a ideia era criticar o governo israelense, e
não o povo judeu, o improviso de Lula foi um ato falho revelador de seus
sentimentos políticos.
O comentário do assessor especial da Presidência, Celso Amorim, de que
quem deve desculpas é Israel, e não a Lula, à Humanidade, reflete bem o
estado de espírito que tomou conta do governo brasileiro depois do
escandaloso episódio.
Não se trata mais de um conselheiro, mas de um
militante de uma causa, sem a devida cautela. Ao se referir ao Estado de
Israel, e não ao governo de Israel, um diplomata experiente como Amorim
sabe que transforma uma política de governo numa política de Estado,
jogando a acusação para Israel.
O Brasil tem todo o direito, e o dever, de denunciar os abusos do
governo de Israel no combate ao Hamas. Se fizer uma conta rápida, dos
milhões de judeus assassinados inequivocamente para exterminar um povo,
com o que está acontecendo hoje em Gaza, não é possível aceitar uma
comparação tão absurda. Além do mais, o assassinato em massa, com
recursos tecnológicos para se repetir em escala industrial, denota o
objetivo de eliminar uma etnia.
A reação do Estado de Israel ao ataque terrorista do Hamas, justificada
pela barbaridade perpetrada, deveria ter sido controlada para evitar os
excessos de força claramente havidos.
Mas não há nem mesmo genocídio,
segundo a Corte Internacional de Justiça (CIJ), em Haia, já passando
para o campo da retórica política a qualificação que o governo
brasileiro adotou em sua linguagem diplomática corriqueira, noutro
deslize. Seria preciso tomar providências, de acordo com a CIJ, para
evitar um ambiente político que leve ao genocídio, o que é muito grave,
mas substancialmente diferente.
O presidente da República tem de ter mais conhecimento histórico, ou
mais responsabilidade, cada vez que abre a boca. Ainda mais um que se
pretende líder mundial e almeja papel relevante no cenário
internacional, numa ação frenética em busca dos holofotes. Esse
açodamento em busca do protagonismo acaba levando a armadilhas, como ser
identificado pelo grupo terrorista Hamas como seu defensor, a ponto de
ser elogiado numa declaração formal, prejudicando os palestinos que não
têm nada a ver com terrorismo.
Mistura alhos com bugalhos de maneira absurda, com consequências
graves. A não ser por uma tendência ideológica contra o Estado de
Israel, completamente fora da política tradicional brasileira, é
inexplicável o que aconteceu.
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