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domingo, 31 de outubro de 2021

A guilhotina do bem - Revista Oeste

Maurício Souza, campeão olímpico de vôlei | Foto: Reprodução Instagram
Maurício Souza, campeão olímpico de vôlei | Foto: Reprodução Instagram

O rei Luís XVI, condenado à morte por alta traição e crimes contra o Estado, foi enviado à guilhotina. Sua esposa, Maria Antonieta, teve o mesmo destino nove meses depois. Após a execução do rei, a guerra com várias potências europeias e intensas divisões ideológicas conduziram a Revolução Francesa à sua fase mais violenta e turbulenta. Em junho de 1793, os jacobinos tomaram o controle da Convenção Nacional dos girondinos mais moderados e instituíram uma série de medidas radicais, incluindo o estabelecimento de um novo calendário e a erradicação do cristianismo. Aqui, foi desencadeado o sangrento Reino do Terror, um período de dez meses em que os inimigos suspeitos da revolução foram guilhotinados aos milhares.

Eu não poderia deixar de visitar esse período bárbaro da história mundial e, guardadas as devidas proporções, abordar o assunto da semana envolvendo o jogador de vôlei Maurício Souza. Ele foi “cancelado” pela turma da tolerância e do amor por expor sua opinião sobre um desenho em quadrinhos.

O campeão olímpico teve o contrato rescindido unilateralmente pelo Minas Tênis Clube depois que os patrocinadores do time sofreram pressões dos atuais jacobinos virtuais que tentam de todas as maneiras tirar de circulação aqueles que não rezam a cartilha progressista da turba do Beautiful People. Em tempos em que questionar virou crime inafiançável, opinar contra o politicamente correto virou crime hediondo, com pena de prisão perpétua nos calabouços dos revolucionários de butique. E opinar, sem ofensas, foi o que Maurício fez.

Em seu Instagram pessoal, Maurício já havia criticado o uso da chamada “linguagem neutra”, mais uma página rasa da agenda de identidade de gênero que cancela sem dó nossa linda língua portuguesa. Nessa postagem, Maurício colocou na legenda: “O céu é o limite se deixarmos! Está chegando a hora de os silenciosos gritarem”. Na semana passada, alguns dias depois da repercussão do lançamento da história da DC Comics em que o filho do personagem Super-Homem se assume bissexual, o jogador postou: “É só um desenho, não é nada demais. Vai nessa que vai ver onde vamos parar…”. Mesmo sendo duramente criticado pelo terrível crime de opinião sobre um desenho — um de-se-nho, vale frisar —, Maurício voltou ao seu perfil e comentou mais um capítulo da agenda nefasta da esquerda radical: a exclusão de mulheres com a inclusão de homens biológicos em esportes femininos. Para isso, Maurício publicou uma foto de Gabrielle Ludwig, atleta transexual que faz parte de uma equipe feminina de basquete universitário. A foto, uma afronta às mulheres, já foi usada por mim em palestras sobre o assunto para mostrar — em claras e gritantes imagens — o absurdo que as mulheres estão sendo obrigadas a suportar caladas para não serem guilhotinadas. Homens biológicos, visivelmente formados com todos os resultados de anos de testosterona, competindo com meninas.

Gabrielle Ludwig, atleta transexual da equipe feminina de basquete, 
nos Estados Unidos -  Foto: Reprodução

LEIA TAMBÉM: este homem é uma lutadora
Diante de tamanha atrocidade protegida por essa política injusta e cruel com as mulheres, Maurício comentou: “Se você achar algum homem nessa foto você é preconceituoso, transfóbico e homofóbico. Mais uma conquista do feminismo para as mulheres!”. Não deu outra. Não foram apenas os jacobinos virtuais que chegaram aos montes à praça das redes sociais, as guilhotinas, compartilhadas por jornalistas e até atletas, formaram um corredor revolucionário “do bem”. Não bastava apenas silenciar o rapaz que pecou contra a agenda jacobina, era preciso mostrar às multidões o que acontece com os transgressores. 
É preciso tirar o sustento de um pai de família, encerrar a carreira de um atleta e destruir seu nome e sua reputação. Mas, claro, tudo em nome do amor ao próximo.

Inicialmente, antes de decidir pela rescisão do contrato do jogador, o Minas Tênis Clube, pressionado por seus dois principais patrocinadores, Fiat e Gerdau, havia apenas afastado e multado Maurício, além de exigir que ele publicasse uma retratação. E assim ele o fez. Publicou um pedido de desculpas àqueles que porventura se sentiram ofendidos, mantendo a defesa sobre a liberdade que todos têm para opinar. Não surtiu efeito. Maurício, campeão olímpico em 2016 e ainda rendendo como atleta de alta performance, teve a cabeça cortada em uma ação injusta, orquestrada milimetricamente.

O mais preocupante de tudo é que esse não é um caso isolado. É a nova regra, o novo normal que não pode — em hipótese alguma — ser aceito por nós. Em texto publicado no dia 28 de outubro em sua coluna na Gazeta do Povo, J.R. Guzzo foi no coração da questão:A perseguição desencadeada contra o atleta Maurício Luiz de Souza, jogador da seleção brasileira de vôlei, é um escândalo destes tempos em que o totalitarismo, a intolerância e o rancor são impostos à sociedade com violência cada vez maior pelos movimentos ‘politicamente corretos’. Foi um linchamento, puro e simples, da reputação e da carreira esportiva de um cidadão brasileiro que não fez absolutamente nada de errado, e nem outra coisa além de exercer o direito constitucional à expressão do seu próprio pensamento”.

Ainda dentro desse contexto que agitou o noticiário, minha grande decepção foi com o técnico da seleção brasileira masculina, Renan Dal Zotto, exímio ex-atleta que também defendeu o Brasil nas quadras durante anos, e uma pessoa por quem tenho respeito
Infelizmente, Renan não aguentou a pressão das guilhotinas chegando à praça pública. Paralisado com a virulência da movimentação jacobina, ajoelhou-se e beijou os anéis dos supostos novos reis do pedaço e suas cartilhas politicamente corretas. Em entrevista ao jornal O Globo, Dal Zotto afirmou: “É inadmissível esse tipo de conduta do Maurício. Sou radicalmente contra qualquer tipo de preconceito, homofobia, racismo. Em se tratando de seleção brasileira, não há espaço para profissionais homofóbicos. Não posso ter esse tipo de polêmica no grupo”. O técnico marcou pontos gloriosos com a audiência jacobina, o aplauso fácil veio instantaneamente. No entanto, Dal Zotto não mencionou a atrocidade, o crime nem a injúria cometidos por Maurício.

Esse cancelamento faz parte de uma pandemia intelectual de proporções bíblicas

Tive a sorte de ter bons técnicos na minha carreira como atleta profissional. Alguns me marcaram e deixaram lições que carrego até hoje. Além de técnicos, eles eram líderes. Nos erros, nos acertos, na escolha das palavras e nas lições plantadas que, uma vez proferidas e semeadas, não podem mais ser guardadas. Homens firmes, com prudência, zelo, sem menosprezar nem descartar a contribuição que podem deixar na construção do ser humano. Renan não foi capaz de pairar acima das agendas políticas e mostrar a mão de um líder nato. Seitas ideológicas cobram pedágio, e Renan pagou o seu para ser poupado.

Mas não se enganem, esse cancelamento acompanhado de linchamento e perseguição faz parte de uma pandemia intelectual de proporções bíblicas. Os atuais jacobinos, que prometem lutar contra a opressão às minorias, estão, curiosamente, apenas militando em países “opressores” onde há liberdade suficiente para que tanta bobagem seja dita e colocada em prática, como aqui nos Estados Unidos.

Há três semanas, o comediante Dave Chappelle cometeu um crime tão hediondo quanto o do jogador do Minas. Chappelle, em seu novo show na Netflix, disse que “gênero é um fato” e que “cada ser humano nesta sala, cada ser humano na Terra teve de passar pelas pernas de uma mulher para estar na Terra. Isso é fato”. Depois ele condenou o ataque contra as mulheres que não obedecem à teoria de gênero da esquerda. Já escutaram as guilhotinas se aproximando? Sim, elas foram trazidas, e durante duas semanas o comediante negro que ousou desafiar o politburo foi amarrado em praça pública para a exposição que já conhecemos.

Imediatamente, a mesma onda jacobina que pediu a cabeça do Maurício e de tantos outros que não beijam o anel invadiu as redes sociais e um dos prédios da Netflix. O que eles pediam? Um pedido de desculpas? Não. Queriam a cabeça de Chappelle por ele ter dito — o horror! — que gênero é um fato com homens sendo homens e mulheres sendo mulheres. Grupos ativistas como o Glaad (Aliança de Gays e Lésbicas Contra a Difamação, em português) espalharam a falácia de que “o conteúdo anti-LGBTQ” viola a política da Netflix de rejeitar programas que incitam ódio ou violência. A Glaad pediu então aos executivos da Netflix que ouvissem os funcionários LGBTQ, líderes da indústria e o público e se comprometessem a “viver de acordo com os padrões”. 

Quando o especial de Chappelle foi lançado em massa, o grupo disse que a “marca do comediante se tornou sinônimo de ridicularizar pessoas trans e outras comunidades marginalizadas”. Como outros artistas da Netflix, Jaclyn Moore, que foi roteirista e produtora do programa da Netflix Dear White People, foi até as redes sociais inflamar a militância com comentários do tipo: “Não vou trabalhar com eles (Netflix) enquanto eles continuarem a lançar e lucrar com conteúdo transfóbico descarada e perigosamente”.

Bem, praça cheia, guilhotina a postos, jacobinos babando por sangue. Vamos! O que estamos esperando? Faltou combinar com Chappelle, que não estava muito disposto a entregar sua cabeça. Quando perguntado sobre uma greve de funcionários transgêneros na Netflix depois de o conteúdo de seu show ter viralizado, ele disse: “Para a comunidade transgênero, estou mais do que disposto a lhe dar uma audiência, mas você não vai me convocar. Encontro com vocês nos meus termos, onde eu quiser e quando eu quiser. Não vou ceder às exigências de ninguém”.

Caitlyn Jenner, hoje transexual e que já foi campeão olímpico no decatlo masculino em 1976, está apoiando Dave Chappelle em meio à polêmica em torno dos comentários que ele fez sobre a comunidade transgênero em seu especial da Netflix, The Closer:Dave Chappelle está 100% certo”, tuitou Jenner. “Não se trata do movimento LGBTQ. É sobre a cultura do politicamente correto, do cancelamento. Cultura enlouquecida que tenta silenciar a liberdade de expressão. Nunca devemos ceder ou nos curvar para aqueles que desejam nos impedir de falar o que pensamos.

Diante da postura de Chappelle, o codiretor-executivo da Netflix, Ted Sarandos, acabou usando o bom senso e defendeu o especial de Chappelle em vários memorandos para funcionários da Netflix escrevendo: “Embora alguns funcionários discordem, temos uma forte convicção de que o conteúdo (do show) não se traduz diretamente em danos no mundo real”.

Quem me acompanha em outras plataformas sabe da minha admiração pelo psicólogo canadense e grande pensador contemporâneo Jordan Peterson. Peterson também já sofreu inúmeras tentativas de assassinato de sua reputação por parte dos jacobinos do bem. Para isso, ele tem o seguinte conselho: “Nunca peça desculpas a uma multidão sedenta de sangue. Você não está lidando com pessoas com quem pode restabelecer um relacionamento. Você está lidando com uma ideia sem alma que possui pessoas”.

Milhares das mortes na guilhotina que foram realizadas durante a Revolução Francesa aconteceram sob as ordens de Robespierre. No entanto, o francês revolucionário, que queria impor suas ideias com violência e brutalidade, jamais imaginou que seus métodos alcançariam exatamente o seu pescoço. 
Robespierre, que dominou o draconiano Comitê de Segurança Pública, foi executado em 28 de julho de 1794.

A Revolução Francesa se tornou modelo para outras revoluções nos séculos seguintes, e, como ela, esse tipo revolução consome seus próprios filhos. O Comitê de Segurança foi levado ao seu fim vergonhoso tanto por aqueles que não achavam que Robespierre era radical o suficiente quanto pelos moderados que denunciaram a violência em primeiro lugar. No final, a guilhotina também foi seu destino.

 Leia também: É desproporcional o que fizeram com Maurício Souza, afirma Janaina Paschoal

Deputada não aprovou a demissão do jogador de vôlei pelo Minas Tênis Clube

 “Este homem é uma lutadora”

Ana do vôlei - Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


Davi Alcolumbre insiste em Aras para substituir André Mendonça e trava pauta da CCJ

O Globo

Ex-AGU já aguarda há mais de cem dias para ser sabatinado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado   

Enquanto articula para tentar viabilizar a indicação do procurador-geral da República, Augusto Aras, ao Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), mantém o colegiado inoperante há um mês. A última reunião da comissão ocorreu no dia 29 de setembro. 
[Senhores guardiões da democracia,  senhores vigilantes dos atos antidemocráticos, por favor respondam: 
- É democrático um regime que permite que um  único senador da República mantenha inoperante, sem dar explicações nem citar em qual norma legal se ampara, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado da República?
- tal conduta não configura um atentado à democracia, ao 'estado democrático de direito', oferecendo substanciais riscos à democracia?
-cabe também perguntar: com sua conduta o senador que preside a CCJ impede o funcionamento NORMAL de um dos poderes da República também impede que o presidente da  República exerça uma competência que a Constituição lhe confere - agir desta forma é atentar contra a Constituição?]

Leia:Provar impacto eleitoral de disparos em massa será o desafio do TSE em 2022, dizem especialistas

Com os trabalhos parados, o escolhido pelo governo para ocupar a cadeira na Corte, o ex-advogado-geral da União André Mendonça, aguarda há mais de cem dias para ser sabatinado pela CCJ. Além disso, projetos importantes para o país, como a reforma tributária, seguem parados nos escaninhos da comissão. Hoje, há 214 matérias prontas para serem votadas pelo colegiado, entre elas indicações de autoridades para órgãos como o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Há também impactos no Judiciário: o STF vem funcionando com dez ministros, o que prejudica os julgamentos em casos de empate.

Responsável pela pauta da CCJ, Alcolumbre se recusa a marcar a sabatina de Mendonça e, com isso, trava uma guerra fria com o Palácio do Planalto, do qual virou inimigo político. Sua postura, contudo, também irritou integrantes da comissão. Numa das últimas vezes em que a CCJ se reuniu, Alessandro Vieira (Cidadania-SE), por exemplo, fez duras cobranças para que o colega desse andamento ao processo do escolhido de Bolsonaro, o que expôs Alcolumbre a um constrangimento público. Os problemas do parlamentar amapaense, porém, não se limitam à condução do colegiado.

Ontem, uma reportagem da “Veja” revelou um esquema de manutenção de funcionários-fantasmas e de “rachadinha” que seria comandado por Alcolumbre. Mulheres que foram lotadas no gabinete dele contaram à revista que eram obrigadas a devolver parte dos salários e, em troca, não precisariam trabalhar.

Reflexo da resistência do senador, outros nomes que almejam a vaga aberta no STF com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello intensificaram as articulações para ocupar a prateleira de plano B de Bolsonaro, caso ele decida recuar da indicação de Mendonça e enviar outro nome ao Senado. O presidente diz fazer questão de que seu escolhido seja um evangélico e, desde sempre, afirma que não cogita voltar atrás na escolha do ex-advogado-geral da União.

Reação a PP e PL: Republicanos tenta atrair ministros de Bolsonaro

Cotado inicialmente para a vaga, o desembargador William Douglas voltou a circular em Brasília — assim como Mendonça, ele é pastor. O preferido de Alcolumbre e de outros senadores, Augusto Aras, o único da lista que não se declara religioso, mantém viva a esperança de chegar ao tribunal durante o atual governo, embora não admita publicamente que trabalhe para tal. O deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP), outro evangélico, também não esconde de aliados o sonho de virar ministro do STF. Considerado um azarão, ele próprio costuma dizer em reservado ter 1% de chance de ser indicado.

Na quarta-feira, Bolsonaro voltou a criticar Alcolumbre pela demora:

Não vou desistir. Não vou mandar outro nome para lá (ao Senado). Espero que o André seja aprovado. Está há mais de três meses esperando. Isso é uma tortura, é um desapreço para com o presidente da República. O que ele fez de errado? O que ele defendeu que é indefensável?

A afirmação vem uma semana depois de o presidente elogiar publicamente o presidente da CCJ, dizendo que “com o Davi Alcolumbre, não tive problemas no Senado”. O gesto, inclusive, partiu de uma demanda do próprio senador. Ele fez chegar a interlocutores de Bolsonaro que gostaria de um reconhecimento público de seu trabalho como presidente do Senado, de 2019 a 2020.

O GLOBO apurou que Alcolumbre tem mantido conversas frequentes com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos, sobre a sabatina de Mendonça. Tanto adversários quanto colegas próximos se queixam de que, nas últimas semanas, Alcolumbre passou a não retornar as ligações e que a situação está gerando um desgaste para ele. Senadores têm buscado o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para se queixar da paralisação da comissão.

Esforço concentrado
A interlocutores, Pacheco disse que fará um “esforço concentrado” no final de novembro, em acordo com Alcolumbre, para sabatinar autoridades que estão na fila da CCJ. O processo de Mendonça, porém, ainda é um impasse.

A comissão é considerada a mais importante do Senado, por ter a função de analisar a constitucionalidade e legalidade dos projetos. O prejuízo da paralisação só não é maior porque, como a Casa está funcionando em sistema semipresencial, as propostas que teriam de passar pelas comissões podem ser votadas diretamente pelo plenário. Não há perspectiva de retorno presencial neste ano.

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Líder do MDB no Senado, Eduardo Braga (AM) afirmou que, quando houver o “esforço concentrado”, Alcolumbre deverá pautar todas as sabatinas, incluindo a de Mendonça, e que está “muito difícil” conversar com o colega, embora tenham falado rapidamente recentemente. — Se o Senado não estivesse trabalhando nesse sistema semipresencial, travaria a pauta do plenário. Acho que Davi está no limite. Se (o esforço concentrado) acontecer, vai ter que fazer tudo, não vai poder fazer só de alguns. Vai ter que fazer do Mendonça — disse ao GLOBO.

Política  - O Globo


Super-Homem - Gazeta do Povo

Guilherme Fiuza

Imagem da próxima edição de “Superman: Son of Kal-El” mostra filho de Clark Kent em manifestação - Foto: Divulgação/DC Comics

Em meio a tantas lições de vida instantâneas e tanta vigilância sobre éticas implacáveis de 1,99, é nosso dever apresentar um conjunto de questões realmente filosóficas que precisam ser respondidas para que o mundo possa continuar girando:

- Quando o Super-Homem voou na contramão da rotação da Terra ele já era um transgressor?
- De quanto é a multa para quem é flagrado voando na contramão?
- Se essa infração acarretar uma inversão da marcha do tempo sem sinalização de pisca-alerta a licença do infrator pode ser cassada?
- É verdade que o Super-Homem teria dito: “A criptonita é minha e eu voo na direção que eu quiser”?
- Se disse isso mesmo poderia ser detido por desacato?
- Está correta a tese de que o “S” estampado no peito do herói é um código para “sou mais eu”?
- Um sujeito que tem capa e voa deveria ter sua convivência permitida com os que só se deslocam com os pés no chão ou o certo seria permitir que ele interagisse apenas com outros indivíduos que têm capas e voam?
- A criptonita é a mãe da criptomoeda?
- Se o Super-Homem fez a humanidade voltar no tempo ele é: a) um tradicionalista; b) um nostálgico; c) um subversivo; d) um revolucionário; um reaça.
- Por despertar tantos debates ideológicos, não seria o caso de ressignificar o lendário e imponente “S” peitoral como designação de “sociologia”?


Responda (certo) todas as questões acima, se você não quer que o mundo pare de girar e a humanidade seja obrigada a implorar ao Super-Homem que volte a usar a sua força bruta para fazer o planeta pegar no tranco.

Guilherme Fiuza, colunista - VOZES - Gazeta do Povo

 

CENSURA - Percival Puggina

Milhões de cidadãos se sentem frustrados e impotentes. O produto natural é uma indignação que flui para as redes sociais, seu único espaço de expressão. Ali, ninguém é poupado. Os que patrulham a retórica alheia só leem e só veem ódio, fake news e articulações antidemocráticas quando as críticas se voltam ao Supremo.

Durante votos que pareceram discursos na sessão do TSE que julgou a cassação da chapa Bolsonaro-Mourão, as redes sociais ganharam evidência. A palavra censura só não foi pronunciada porque tem carga negativa, mas ela esteve ali, suspensa como lâmina de guilhotina justiceira. Disseminar ódio tem sido acusação frequente contra as redes sociais. Muitos comunicadores já foram calados; outros calaram-se.

É tênue a linha que separa a indignação do ódio. A indignação expressa inconformidade e impotência; é o sentimento dos injustiçados. Nos espaços próprios da cidadania e nos devidos limites, costuma significar dignidade ofendida, ou repulsa. Não deve descambar para o ódio porque este afeta o discernimento e pode conduzir a ações condenáveis. Mas se tem revelado conveniente confundir os dois sentimentos, chamando de ódio o que é pura indignação manifestada com emoção que a expresse.

O debate político, os desabafos dessa natureza nas redes sociais, não são do tipo acadêmico, dialéticos, como pareceu ser o desejo do ministro Roberto Barroso. Ao contrário, são manifestações que se parecem mais tensas, como ocorre nos parlamentos, por exemplo.

Por outro lado, ao longo de décadas, testemunhei e denunciei o ódio (neste caso, sim), expresso em violência e chamando à violência, como nas invasões do MST, nas vidraças quebradas e nos ônibus e catracas incendiados pelos que querem tarifa zero no transporte público, nas ações do exército do senhor Stédile, nas forças do senhor Vagner Freitas (CUT), nos black blocs e nos Antifas, que em sua primeira aparição na Av. Paulista já entraram numa fumaceira, queimando contêineres de lixo.“Não há mais tempo para conversa e bons modos. (...) O que estamos esperando para cruzar o rio?” (Roberto Requião, na Fundação Perseu Abramo, 2009). “Na minha Bíblia está escrito que sem derramamento de sangue não haverá redenção” (Benedita da Silva, no mesmo evento).

Recuando no tempo, o Fórum Social Mundial transbordou amor à humanidade, mas os mais veementes aplausos, em verdadeira euforia, tomavam conta do auditório quando a revolução entrava na pauta com a presença de veteranos revolucionários das FARC, de Cuba, da Argélia, da Argentina e a cada menção a Che Guevara. Foram décadas de ódio e de apreço e compadrio com regimes odiosos.

Não se zela pela democracia atacando sua essência, a liberdade de opinião.

Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

A VENEZUELA E SEUS CÃES - Gerhard Erich Boehme

Hoje a Venezuela sobrevive de três fontes, a principal não é mais a proveniente  dos petrodólares, de um país que detém as maiores reservas do mundo, mas sim de recursos do narcotráfico, com destaque ao principal grupo, o Cartel de los Soles. Em terceiro lugar surgem as ajudas internacionais e a ajuda de familiares além-mar, ou, aos poucos, recursos repatriados.

E o povo não tem mais como se alimentar, mesmo os cães sumiram.


 

Além das drogas,  a economia continua sendo mantida com base na principal atividade econômica que é a exploração e refino de petróleo, mas agora ainda mais centralizada, com a PDVSA sendo uma parte da tesouraria do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), a versão irmã ou siamesa e venezuelana do nosso Partido dos Trabalhadores (PT). 

A Venezuela é hoje a oitava maior economia da América Latina, depois do Brasil, México, Colômbia, Chile, Peru, Panamá e Argentina.  
Já foi a primeira. Assim também o foi um dia a Argentina
Em 1895 a Argentina era o país mais rico do mundo (mais rica que os EUA em termos de PIB per capita). A Venezuela chegou perto. De um país rico em recursos naturais a realidade da exploração e refino de petróleo chega a algo próximo ao caos, pela primeira vez em um século, são poucas as plataformas de petróleo funcionando na Venezuela. 

Os poços que já exploraram as maiores reservas brutas do mundo estão abandonados ou queimando gases tóxicos, que lançam um brilho laranja sobre as cidades petrolíferas. As refinarias que uma vez processaram petróleo para exportação são gigantes enferrujados, vazando óleo bruto que escurece a costa e dá à água um brilho oleoso. A escassez de combustível paralisou o país. Nos postos de gasolina, as filas chegam a ter quilômetros de extensão.

O colossal setor petrolífero da Venezuela, que moldou o país e o mercado internacional de energia por um século, chegou a uma parada quase total, com a produção reduzida a um gotejamento graças a anos de má gestão e sanções dos EUA. O colapso está gerando uma economia destruída e um ambiente devastado e, segundo muitos analistas, encerrando a era de potência energética da Venezuela.

E os cães?
Entre os anos 50 até o final do Século a Venezuela era o país da América com maior número de cães de raça, a que tinha o maior número de canis e associações, talvez também com a maior população de cães que denominamos de vira-latas.  
Mas veio o Socialismo, na realidade uma espécie de nacional-socialismo bolivariano ou luloPTismo. 
E com ele a cultura da redistribuição de riqueza, adotou-se o estado de bem-estar social, o qual mostrou-se com o tempo um rematado destruidor de riqueza. [Abraham Lincoln acertadamente pregou:      

".........

Você não pode ajudar o pobre, destruindo o rico;
Você não pode elevar o salário, pressionando a quem paga o salário;
Você não pode promover a fraternidade da humanidade, admitindo e incitando o ódio de classes;
......."]

Vale a máxima de Margaret Hilda Thatcher, Baronesa Thatcher de Kesteven:

"O problema do socialismo é que você no fim das contas esgota o dinheiro dos outros" — Em seu último discurso no Parlamento britânico, no dia 22 de novembro de 1990.

Os cães aos poucos foram sendo abandonados pelas famílias, a começar por aqueles que saíram em fuga para os Estados Unidos, Reino de Espanha e Panamá.

O retrato que se via no início deste Século nas ruas de Caracas e quase todas cidades venezuelanas era o de cães disputando o alimento nas lixeiras. Os anos foram se passando e aos poucos a disputa nas lixeiras se dava também com a população mais pobre. E então começaram a surgir as notícias de furtos de animais em zoológicos, parques nacionais e aos poucos os cães sumiram das ruas, repetindo o que ocorreu na China, onde os cães são comercializados como galinhas ou porcos, resultado de uma das piores faces do comunismo como modelo político e o socialismo como econômico. 

Foram 45.000.000 milhões de pessoas mortas de fome, e praticamente todos os cães mortos. Esse é o número de chineses que morreram de fome entre 1958 e 1962. Essa foi uma consequência direta do comunismo e socialismo no país. O programa intitulado "Grande salto para frente", implementado por Mao Tse Tung e o Partido Comunista Chinês tinha o objetivo de acelerar o crescimento econômico da China, mas, apesar disso, causou uma verdadeira tragédia em nome da igualdade. Os resultados não foram diferentes em todos os países onde os cães entraram na dieta alimentar de sobrevivência, como Coreia do Norte, Iêmen e principalmente Cuba.

E vale refletirmos que a domesticação dos cães acompanhou o desenvolvimento da humanidade, sendo o principal referencial de desenvolvimento de um país, região ou família.

Como os cães passaram a "com-viver" com os humanos é uma longa história. O maior crescimento da população canina se deu durante o 1° Reich alemão, o chamado Sacro Império Romano Germânico, de 800 até 1806 na Europa Central e parte do Norte da Europa. No auge, incluía os atuais territórios pertencentes à Alemanha, Áustria, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, República Checa, República Eslovaca e parte da Polônia. Há relatos e achados históricos que mostram a convivência com os humanos há mais de 15 mil anos. 

E segundo a Bíblia, há até mesmo relatos que mostram como devemos temer os cães. Há um juízo sobre esse animal e ele muitas vezes é simplesmente uma questão cultural e não é preciso ser fundamentalista, pensando que a vontade de Deus seja excluí-los. O cachorro é uma criatura de Deus e aí de nós se não cuidarmos deles.

Destaco onde o cachorro é apresentado como um animal impuro (veja Salmos 22,17; Salmos 22,21; Isaías 10-11 e 2 Pedro 2,22) e não eram bem vistos nas cidades do mundo Bíblico. É provável que isso foi motivado pelo fato que eram animais quase sempre abandonados, que procuravam comida no lixo, no meio da carniça. Mesmo assim, é provável que existiam cães domésticos também na sociedade daquele tempo, como podemos ver em Tobias 6,1 (texto da Bíbia católica):- Tobias partiu com o anjo, e o cachorro os acompanhou. Caminharam até o anoitecer e acamparam junto ao   Rio Tigre.

O Livro de Tobias faz parte dos livros chamados de deuterocanônicos. Estes livros foram escritos em Grego e não fazem parte da Bíblia Hebraica, que é a base do nosso Antigo Testamento.  A coleção dos deuterocanônicos é composta pelos seguintes livros: Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Eclesiástico (ou Ben Sirá), Sabedoria de Salomão e Baruque. 

Triste fim o da Venezuela com a ideologia disseminada pelo "Foro de São Paulo", entidade concebida por Lula com Fidel Castro, e é assim que caminha também a Argentina. Lá também, principalmente em Buenos Aires, a população está caindo.

Temos assim o luloPTismo ou o nacional-socialismo bolivariano contrapondo o capitalismo. Enquanto o capitalismo resulta em ampla propriedade dos meios de produção porque a propriedade privada é a sua característica distintiva, já que somente em uma economia capitalista, em que os direitos de propriedade podem ser subdivididos em ações e livremente comercializados, pode uma ampla propriedade sobre os bens de capital manter inalterado seu caráter de riqueza.  

Nesse arranjo, as pessoas voluntariamente vendem sua propriedade; os novos proprietários adquirem os direitos de propriedade sobre os bens de capital.  Há um genuíno mecanismo capitalista permitindo que isso aconteça.  Quase todo mundo pode comprar ações dos meios de produção sob o capitalismo.  Ninguém tem de morrer.  Nenhum sangue é derramado. E nenhum cão serve de alimento.

Mas o que se produziu na Venezuela foi o contrário, foi assim também em Cuba e é o que começa a ocorrer na Argentina. Mas há esperanças, na Argentina, nas últimas eleições houve a mudança do eleitorado. E o atual regime ou radicaliza ou cai. Na Venezuela uma mudança de governo não está no horizonte de curto prazo, concordam os analistas. Ou seriam "cientistas"?

A verdade é que o regime não se sustenta, embora a Venezuela esteja crescendo como narcoestado, a produção de petróleo, que chegou a 3,3 milhões de barris diários, é atualmente de pouco mais 500.000 barris, de acordo com os números oficiais.  A indústria petroleira se deteriorou gravemente pela falta de investimento, de manutenção e de mão de obra especializada. Agora na crise mundial da Covid-19 a Venezuela, com as maiores reservas comprovadas de petróleo do mundo, foi obrigada a importar gasolina do Irã, apesar de ter quase 20 refinarias, a maioria sucateada.

Uma Nação sem liberdade e sem cães.  O PIB (Produto Interno Bruto) da Venezuela é hoje calculado em algo inferior a 45.000.000 Bilhões de Dólares, o que representa uma queda de mais de 80% na comparação com dez anos atrás.

A Venezuela passou do grupo das 30 maiores economias do mundo a algumas posições abaixo da 100ª. No Heritage Index a nação modelo e referencial de Lula está em último lugar na América Latina.

https://www.heritage.org/index/country/venezuela

 A realidade é triste, o tamanho do Estado foi drasticamente reduzido. A Venezuela conta atualmente com mais de 45% da sua população desempregada. E a economia informal é a que mais cresceu e continua a crescer, não apenas com o narcotráfico e a prostituição, mas também com o contrabando. 
Por exemplo, o contrabando de gasolina se expandiu no país, com exceção ainda de Caracas, face ao policiamento e as chamadas de Coletivos, as gangues armadas pró-Maduro que se transformaram em forças ativas contra a oposição e de sustentação ao regime. 
Algo parecido com uma mistura entre MST, MTST e AntiFa's.

Além desta realidade ainda virão os efeitos do Coronavírus.  A segunda onda da Pandemia da Covid-19 começou a afetar a Venezuela quando a economia iniciava a abertura, após meses de confinamento. O surto, que as autoridades chamam de "mais agressivo" e vinculam à variante brasileira do vírus, provocou o colapso de hospitais e clínicas.

O governo reconhece apenas 400.000 mil casos e mais de 5.000 mil mortes provocadas pela Covid-19, mas ONGs e a oposição questionam os números e alegam um elevado nível de subnotificação pela falta de testes de diagnóstico.

Uma triste realidade tão perto de nós.

Transcrito Blog Percival Puggina -  Gerhard Erich Boehme


O buraco na defesa - Alon Feuerwerker

Análise Política

A hipótese de haver uma maioria centrista que rejeita os “extremos” não se vem comprovando. Desde a estreia, na disputa presidencial de 2018. Mas continua um sucesso de crítica, apesar do até agora insucesso de público. Uma pista pode ajudar a explicar a dificuldade na decolagem. O centrismo é tanto mais capaz de hegemonizar quanto mais inclusivo dá a impressão de ser. A ideia de construir consensos excluindo leva jeito de contradição em termos.

Não se deve subestimar, porém, o potencial de outra espécie de “centrismo”, que mais corretamente deveria levar o nome de “solucionismo”. Talvez haja um amplo contingente de eleitores em busca antes de tudo de soluções práticas para problemas idem, e é bem provável que essa turma venha a decidir a eleição. Trata-se então de encontrar a necessidade e preenchê-la, seguindo o conselho de Norman Vincent Peale.

Se bem que de vez em quando vale também criar a necessidade, ainda que artificialmente. O marketing está aí para isso.

Faz sentido que Luiz Inácio Lula da Silva e mais recentemente Jair Bolsonaro estejam voltados a lapidar a imagem de resolvedores de problemas. O primeiro vem ancorado nas percepções positivas sobre seu governo em temas como a fome. [baseado no preceito MANTER A FOME para manter o eleitorado.] O segundo busca bandeiras sociais. Tem lógica. A pandemia vem deixando um rastro de dificuldades econômicas, e a sobrevivência material ocupa o centro das preocupações desde que casos e mortes despencaram.

O Brasil traz uma peculiaridade no assunto que modernamente leva o nome de inclusão social. O foco gira invariavelmente em torno do papel redistributivo do Estado. Agora mesmo, um bordão de Lula é “incluir o pobre no orçamento e o rico no imposto de renda”.[e os ladrões a serviço do condenado petista e do perda total na Petrobras e outras estatais.]  E a luta toda de Bolsonaro é pelo Auxílio Brasil de 400 reais. Ambos estão deixando um buraco na defesa, para alguém que diga a real: só crescimento econômico resolve.

Não se está dizendo aqui que crescimento sozinho resolve, mas que sem crescimento não tem solução. Os exemplos históricos são abundantes. Qual é o problema, então? “Desenvolvimento” virou palavra proibida. Um desafio mais complicado para os países que ficaram para trás, e cuja ascensão econômica agora é combatida pelos que hoje andam na frente como um risco à sobrevivência da humanidade.

Bolsonaro está colhendo os frutos amargos por ter subestimado a necessidade de encaixar a demanda brasileira de desenvolvimento no mindset da hora em escala global. [Não podemos esquecer que Bolsonaro não teve tempo para governar = em 2019, além das dificuldades inerentes a um inicio de governo, tendo que administrar a 'herança maldita' que recebeu, Bolsonaro sofreu sistemático boicote e a partir de 2020 teve que enfrentar a maldita pandemia.
Só agora, com a pandemia sob controle, surgem condições para iniciar seu governo e cujo programa inicial será convalidado em 2022, pelo eleitorado ao efetivar sua reeleição.] Lula corre o risco de ficar preso na tentação do discurso fácil, na lógica do determinante de matriz nula. Ele é sempre zero. A conhecida interpretação lato sensu do princípio da precaução. Ou seja, se algo representa risco, não faça, até reduzir esse risco a zero, ou perto de zero.

E se tanto Bolsonaro quanto Lula tentarem contornar o desafio, em vez de enfrentar? E se preferirem fixar o discurso na rejeição ao antípoda? Costuma funcionar em países como os Estados Unidos, onde só tem espaço para dois candidatos viáveis. Mas no Brasil isso acabaria deixando o citado buraco na defesa, para alguém que diga que em vez de ficar brigando vai se concentrar em fazer a economia crescer e gerar os urgentes milhões de empregos. [em nosso modesto entendimento não existe nenhum candidato com pretensões a enfrentar Bolsonaro (os fatos mostram que o condenado petista inexiste como candidato, portanto 2022 será Bolsonaro contra o resto) que consiga programa melhor de governo do que pregar rejeição ao capitão.]

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


Moraes chegará à presidência do TSE com estrela de xerife no peito - Elio Gaspari

Folha de S. Paulo - O Globo

Pontes não é burro
O ministro Marcos Pontes, da Tecnologia, levou na esportiva o fato de seu colega Paulo Guedes tê-lo chamado de “burro”.  Ex-aluno do Instituto Tecnológico da Aeronáutica e coronel da reserva da FAB, é provável que burro ele não seja. [temos que concordar que Pontes não é burro. Afinal, conseguiu ser astronauta, sendo que até hoje não se sabe as razões do feito e o único resultado é que a FAB nada ganhou, menos ainda o Brasil.] 
 
Em abril do ano passado o doutor anunciou a descoberta de dois remédios com 94% de eficácia contra o coronavírus: — No máximo na metade de maio, um momento crítico, nós teremos aqui uma solução de um tratamento.

Pontes não é burro, acha que os outros são.
 
Esteves errou a conta
O banqueiro André Esteves lida com números. Noves fora outras impropriedades cometidas em sua fala aos clientes do BTG, ele disse que “no dia 31 de março de 1964 não teve nenhum tiro, ninguém foi preso, as crianças foram para escola, o mercado funcionou.”

O dia 31 de março, quando o general Olímpio Mourão Filho se rebelou em Juiz de Fora, foi relativamente normal, com umas poucas prisões. Como disse o marechal Cordeiro de Farias, “o Exército dormiu janguista”. Cordeiro, um revoltoso desde 1924, foi um patriarca das conspirações do século passado e sabia o que aconteceu naquelas horas. No dia seguinte, acrescentou o marechal, o Exército “acordou revolucionário”. Foram presas centenas de pessoas, entre as quais o governador Miguel Arraes, de Pernambuco, mandado para Fernando de Noronha. Estádios e navios foram usados como cadeias. [as prisões foram necessárias e oportunas; tomando como exemplo o preso citado na matéria, governava um estado que sediava as 'ligas camponesas', lideradas por Francisco Julião.]

Mais: no dia 1º de abril morreram sete pessoas.

Para os padrões, foi um golpe incruento mas, como lembrou a Central Intelligence Agency ao presidente Lyndon Johnson na manhã de 7 de abril: “Cresce o medo, não só no Congresso, mas mesmo entre aliados da revolta, que a revolução tenha gerado um monstro.”


O aviso do xerife de 2022
Moraes sabe como funcionam as milícias e quem as financia e como rola o dinheiro

Um ano antes do pleito de 2022, o Tribunal Superior Eleitoral escreveu uma boa página de sua história. [Livrou a chapa de Jair Bolsonaro da cassação*] e avisou aos interessados que se repetirem o golpe das notícias falsas e das milícias eletrônicas, pagarão pelos seus delitos. Nas palavras do ministro Alexandre de Moraes, que presidirá a Corte em 2020: “Irão para a cadeia”.

A decisão unânime do TSE acompanhou o voto de 51 páginas do corregedor Luiz Felipe Salomão. No ambiente envenenado da política nacional, Salomão apresentou uma peça redonda e cirúrgica na demonstração das malfeitorias cometidas e equilibrada na conclusão de que [*faltaram provas e as impressões digitais necessárias para justificar a cassação de uma chapa três anos depois de sua posse.] O magistrado mostrou a letalidade do vírus e abriu o caminho para a advertência de Moraes.

Passados três anos do festival de patranhas de 20018, Alexandre de Moraes chegará à presidência do TSE em agosto, com a estrela de xerife no peito. Salomão fez sua carreira na magistratura; Moraes, no Ministério Público, com uma passagem pela Secretaria de Segurança de São Paulo. Além disso, na condução do inquérito das notícias falsas conhece as obras e pompas das milícias eletrônicas e mostrou-se rápido no gatilho ao mandar delinquentes para a cadeia. Zé Trovão, o caminhoneiro foragido, decidiu entregar-se à Polícia Federal. Na estrela de xerife de Moraes brilha o destempero com que Jair Bolsonaro investiu contra ele, chamando-o de “canalha”.

Moraes sabe como funcionam as milícias e quem as financia e como rola o dinheiro. Salomão, por seu turno, já firmou a jurisprudência que congela os recursos que as alimentam. As conexões internacionais dessas milícias, um fato que há três anos estavam no campo da ficção cibernética, hoje estão mapeadas. Se há um ano elas tinham o beneplácito do governo americano, hoje têm o FBI no seu encalço,

Com Moraes na presidência do TSE é possível prever que entre o início dos disparos propagadores de mentiras e a chegada dos responsáveis à carceragem passarão apenas dias ou, no máximo, poucas semanas. Basta ler o voto de Salomão e acompanhar as decisões de Moraes para se perceber que os reis das patranhas de 20018 são hoje sócios de colônias de nudismo. [os brasileiros que são realmente democratas e que não atacam a democracia sob o pretexto de preservá-la, consideram:
- em 2022, Bolsonaro terá mais de 90.000.000 de votos.
Para tanto, esperam e confiam que eventuais prisões sejam realizadas com estrita observância do texto da legislação vigente e não fundamentas em interpretações da mesma legislação.
Que as prisões não impeçam os eleitores de exercerem o constitucional DIREITO DE VOTAR,  inerente a todos os cidadãos brasileiros.]

(........)
 
Elio Gaspari, colunista - Folha de S. Paulo - O Globo - MATÉRIA COMPLETA

REVOLTA DA CHIBATA - Depois de 111 anos, Marinha açoita memória de João Cândido - O Globo

A Comissão de Educação e Cultura do Senado aprovou a inscrição de João Cândido Felisberto no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria. O marujo morreu há 52 anos, foi anistiado duas vezes e é reconhecido como um ícone da luta contra o racismo. Ainda assim, a Marinha tenta barrar a homenagem.[um líder de um motim, um insurreto contra a Ordem instituída, não pode ser considerado herói; ainda que tenha possuído características que possam ser consideradas nobres, o autor de certos crimes - atentatórios contra principios basilares da disciplina e hierarquia - não pode ser alcançado por anistia. 
Não podemos olvidar, que castigos corporais - quase sempre reprováveis - eram comuns naquela época.
Para que alguém seja considerado herói é necessário que tenha realizado feitos heroicos. Ser alçado à condição de herói por motivações políticas é desmerecer os verdadeiros heróis - basta ver o que estão fazendo com o 'panteão dos heróis'.]

Filho de escrava, João Cândido liderou a Revolta da Chibata, movimento de marinheiros que parou o Rio em 1910. Os rebeldes tomaram quatro navios na Baía de Guanabara e apontaram os canhões para a cidade. Ameaçavam abrir fogo se as punições físicas não fossem abolidas.

Às vésperas do motim, o marujo Marcelino Rodrigues Menezes havia sido castigado diante da tripulação do encouraçado Minas Gerais. Foi amarrado ao mastro e levou 250 chibatadas. A rebelião mobilizou 2.379 praças aos gritos de “Viva a liberdade” e “Abaixo a chibata”. Em mensagem ao presidente Hermes da Fonseca, eles protestaram contra a rotina de maus-tratos: “Pedimos a V. Exª. abolir a chibata e os demais bárbaros castigos pelo direito da nossa liberdade, a fim de que a Marinha brasileira seja uma Armada de cidadãos, e não uma fazenda de escravos que só têm dos seus senhores o direito de serem chicoteados.”

A Lei Áurea, assinada em 1888, ainda não havia chegado aos navios de guerra. Os marinheiros, quase todos negros, continuavam a ser açoitados pelos superiores, quase todos brancos.  O motim instalou o pânico na então capital da República. Os rebelados mataram seis oficiais que tentaram reprimi-los. Um tiro de advertência matou mais duas crianças no Morro do Castelo.

A imprensa defendeu os marujos e apelidou João Cândido de Almirante Negro. No Senado, Ruy Barbosa cobrou o fim dos castigos e exaltou “o homem do povo, preto ou mestiço, que veste a nobre camisa azul da nossa Marinha”.  O governo ofereceu uma anistia para encerrar o movimento, mas descumpriu o trato e expulsou a maioria dos rebeldes. João Cândido foi preso e confinado numa solitária. Absolvido, passou a sobreviver como estivador e vendedor de peixes na Praça XV. Na velhice, morava numa rua sem luz e sem asfalto na Baixada Fluminense. “Ele comeu o pão que o diabo amassou”, conta o historiador Álvaro Pereira do Nascimento, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Morto em 1969, João Cândido viraria herói popular. Inspirou músicas, peças de teatro e desfiles de carnaval. O Congresso aprovou uma nova anistia há 13 anos, mas os chefes militares insistem em açoitar sua memória. Nos últimos dias, a Marinha tentou convencer os senadores a desistirem da homenagem. Em nota, definiu a Revolta da Chibata como “um péssimo exemplo e um episódio a ser lamentado”. “A Marinha não reconhece o heroísmo das ações daquele movimento e o considera uma rebelião”, sentenciou. O texto admite que os castigos físicos não eram “corretos”, mas condena a “ruptura do preceito hierárquico”.

A proposta foi aprovada na sexta-feira e seguirá para a Câmara, onde a pressão deve recomeçar. “Os militares querem apagar a História. João Cândido morreu há 52 anos e continua a ser perseguido”, critica o professor Nascimento. Somando o tempo de banimento em vida, já são 111 anos de perseguição.

Bernardo Mello Franco, colunista - O Globo


sábado, 30 de outubro de 2021

Conclusões da CPI da CPI - Revista Oeste

A Controladoria de Pilantras e Impostores resume verdades que Renan e seus parceiros tentam esconder. 
 
No mesmo dia em que foram escalados titulares e suplentes da Comissão Parlamentar de Inquérito instaurada no Senado para investigar delinquências ocorridas durante a pandemia de covid-19, a direção de Oeste entendeu que aquilo merecia atenções especiais. 
A lista de convocados parecia chamada oral em pátio de cadeia. 
 
A surpresa virou espanto com a escolha do relator: Renan Calheiros, um notório prontuário ainda em liberdade.  
Sim, no faroeste à brasileira produzido pela Era PT é o vilão que persegue o xerife. 
Mas incumbir Renan de investigar patifarias é algo como instalar Marcola, o chefão do PCC, no Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Uma CPI desse calibre exigiu a montagem na redação desta revista de uma Controladoria de Pilantras e Impostores, formada por jornalistas que nunca tratam a verdade a socos e pontapés. Assim nasceu a CPI da CPI.  
 
A orientação repassada aos investigadores limitou-se a dois lembretes: 
1) ver as coisas como as coisas são;
2) contar o caso como o caso foi. 
Honrado com o cargo de relator, tive a missão facilitada pelo esforço dos engajados na força-tarefa e, sobretudo, por constatações feitas por J.R. Guzzo e Silvio Navarro. O resumo das conclusões traduz o bom trabalho da CPI da CPI. Aos fatos.

A origem
Os inimigos de Jair Bolsonaro jamais aceitaram o resultado das eleições de 2018. Assim que a apuração dos votos terminou, os devotos do derrotado tentaram impedir a posse do vitorioso, com o pretexto de que teria feito mau uso das redes sociais durante a campanha. De lá para cá, o governo federal não conheceu um só minuto de sossego. Mesmo nos fins de semana, feriados e dias santos, continua a luta da tropa formada pela esquerda parlamentar, por políticos que só têm compromissos com os próprios interesses, por figurões do Judiciário que enxergam um imperador quando contemplam o espelho e por uma imprensa que vê na derrubada do presidente da República a razão de sua existência. Os conspiradores fazem o diabo para impedir que o governo funcione. 
A mais recente ofensiva ficou por conta da CPI instaurada pelo Senado, por ordem do Supremo Tribunal Federal, para provar que o vírus chinês, no Brasil, não matou ninguém. Os mais de 600 mil mortos foram vítimas do genocídio praticado por Jair Bolsonaro.
 
O G7
Os partidos que deveriam defender o governo conseguiram quatro vagas no time titular. Apenas Marcos Rogério, de Rondônia, soube enfrentar com competência a ferocidade dos sete oposicionistas, escolhidos entre o que há de pior no Senado. Já na sessão inaugural, o relator Renan Calheiros, de Alagoas, o presidente Omar Aziz, do Amazonas, e seu vice Randolfe Rodrigues, do Amapá, deixaram claro que o parecer estava pronto e as conclusões estavam concluídas. 
Mas ficariam seis meses em campo para que a torcida brasileira conhecesse melhor os integrantes do que ficaria conhecido como G7. Má ideia
Quem ainda ignorava o caso ficou sabendo que Aziz foi anexado à fila de investigados no Supremo Tribunal Federal por ter tripulado um desvio de verbas destinadas à saúde que somaram R$ 260 milhões. Envolvidos no mesmo caso de polícia, foram presos a mulher e dois irmãos do agora conselheiro. Em julho, Arthur Virgílio Neto afirmou que Aziz só escapou de uma CPI da Pedofilia instaurada pela Assembleia Legislativa graças à interferência do ex-senador e ex-prefeito de Manaus. “A pedido de sua mãe, respeitável e querida senhora, livrei-o de uma dura condenação penal e da desmoralização completa”, contou Virgílio. [senhor  Arthur Virgilio, bandido não se livra, ao contrário se condena, especialmente se pedófilos - que deveriam ter como pena adicional, porém de aplicação obrigatória, a castração quimica por no mínimo  dez anos.]

O Brasil que pensa e presta foi apresentado aos chiliques e faniquitos de Randolfe, uma voz de castrato à procura de ministros do STF interessados em aumentar a confusão. A plateia entendeu também que as semelhanças entre o relator e o presidente não apareceram agora. Faz tempo que os dois são casos de polícia. Ganharam notoriedade ou voltaram ao palco outros integrantes do G7. (Nada a ver com o grupo das equipes que lideram o campeonato brasileiro de futebol. Esse G é de Gangue, com maiúscula.) O senador Otto Alencar, da Bahia, é médico formado, mas não veste um jaleco há muitas décadas. [ele é do tempo em que sanguessugas eram utilizadas nas medicina - agora apenas o nome é usado e serviu para denominar uma operação da Policia Federal, que justificou que o então ministro da Saúde do governo Lula, o petista Humberto Costa, ganhasse o codinome de 'drácula'.]  Para mostrar que ainda lembra que o antibiótico chegou depois da sulfa, resolveu animar o auditório com pegadinhas. Por pouco não perguntou a alguma Vossa Senhoria se sabia a diferença entre um vírus e um ovário. O senador Humberto Costa, de Pernambuco, mostrou-se tão preparado para socorrer algum doente quanto Otto Alencar. Mas meio mundo lembrou que o mais aflitivo soprano do PT foi aquele ministro da Saúde que se meteu no escândalo dos sanguessugas e acabou ganhando do Departamento de Propinas da Odebrecht o codinome Drácula.

O covidão
O G do G7 foi escancarado já na largada pela demarcação das fronteiras do território a ser devassado pela CPI. Na linha de tiro estavam Bolsonaro e todos os que se moveram desde março de 2020 nas cercanias do presidente da República. Ficaram fora os 27 governadores e mais de 5.500 prefeitos do Brasil. O alto comando da CPI fez de conta que estava na China, combatendo o inimigo no berço, quando o Supremo Tribunal Federal resolveu que caberia aos administradores estaduais e municipais a montagem e a execução da estratégia para a guerra contra a pandemia. Cuidariam da missão como bem entendessem e com plena autonomia. Nenhuma decisão tomada por governadores e prefeitos poderia ser modificada, muito menos vetada, pelo governo federal.

Cabia ao Planalto arranjar a verba e pagar auxílios de emergência a quem perdeu emprego e renda por causa da repressão ao trabalho, à produção e à atividade econômica imposta pelas “autoridades locais”. Previsivelmente, juntaram-se aos estragos feitos pelo coronavírus surtos de incompetência, desperdício de bilhões de reais e uma ladroagem explícita de dimensões amazônicas. A decretação do estado de calamidade pública é uma gazua que, graças à dispensa de licitações e concorrências públicas, permite queimar e embolsar dinheiro até com a polícia por perto. As “autoridades locais” receberam ao longo do último ano, em verbas federais, cerca de R$ 60 bilhões para cuidar da epidemia. Cuidaram do que acharam mais urgente. Aumentar o patrimônio da família, por exemplo.

Entre março de 2020 e julho de 2021, registraram-se bandalheiras bilionárias em todos os Estados. Provas robustas acumulam-se nos porões de centenas de prefeituras. Ainda assim, a CPI pilotada por sete senadores que viravam oito, nove ou dez quando se tornava necessária a solidariedade de suplentes negou-se a enxergar a portentosa onda de saques. Wilson Witzel conseguiu a proeza de ser despejado do governo do Rio antes de chegar à metade do governo. Pousou na CPI como “convidado”, berrou um falatório de inocente injustiçado, combinou com os anfitriões uma “sessão secreta” e foi dispensado de explicações sobre o caso dos hospitais de campanha que foram pagos sem terem existido. Intimados por uma CPI de verdade, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, talvez reencontre na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte seu “irmão de alma” Carlos Gabas, que por decisão do Consórcio Nordeste chefiou o combate à pandemia e o ataque às verbas federais. Fraternalmente, foram poupados pelos detetives de picadeiro que até o começo desta semana agiram em Brasília. Será mais difícil driblar a CPI potiguar, que sabe como tratar fabricantes de álibis mambembes.

O relator
Em 2007, ao tropeçar em outra pilha de patifarias, Renan Calheiros era presidente do Senado. 
Encorajado pelo acervo de dossiês que coleciona e, segundo a lenda, guardam um colosso de deslizes protagonizados por dezenas de políticos, propôs um acordo aos colegas: toparia renunciar se o mandato não fosse cassado. Escapou por pouco da aposentadoria precoce, atestam trechos de um bate-boca com o cearense Tasso Jereissati ocorrido quando a degola ainda lhe ameaçava o pescoço:

— Renan, não aponte esse dedo sujo pra cima de mim! Estou cansado de suas ameaças.
— Esse dedo sujo infelizmente é o de Vossa Excelência. São os dedos dos jatinhos que o Senado pagou.
— Cangaceiro, cangaceiro de terceira categoria!
— Seu merda… — rebateu Renan.

Nesta semana, lá estava a assinatura de Tasso, representante do PSDB na CPI, endossando o palavrório que ergue um monumento à pilantragem e à impostura. O senador cearense não pode ter esquecido o que Renan fez antes daquele duelo verbal em 2007 — nem ignora o que andou fazendo nos últimos 15 anos. Mas também Tasso parece achar que o Grande Satã a exorcizar é Jair Bolsonaro, e que essa tarefa patriótica justifica as mais repulsivas tessituras. Alianças do gênero exigem prodigiosas acrobacias. Deve-se esquecer, por exemplo, que a CPI passou ao largo dos governadores larápios para evitar que a relação de depoentes incluísse Renan Filho, candidato à reeleição em Alagoas, ou Helder Barbalho (filho do suplente Jader Barbalho), também em busca de um segundo mandato no Pará.

Tentativas de intimidação mais de uma vez provocaram, em vez de temor, gargalhadas nacionais

Dez inquéritos em tramitação no Supremo Tribunal Federal atestam que Renan ainda é o recordista na modalidade bandidagem com direito a foro privilegiado. Outros três correm em sigilo ou sob segredo de Justiça. A marca seria ainda mais impressionante se o reincidente compulsivo não tivesse conseguido arquivar dez inquéritos por falta de provas, por decurso de prazo ou por amizade incestuosa entre réu e juiz. “É falso que sejam 17 os inquéritos em tramitação no Supremo Tribunal Federal que envolvem Renan Calheiros. São nove, comunicou há poucos meses uma agência de checagem. 

A subserviência da imprensa velha e suas agências natimortas induziu Renan a dar um passo bem maior do que a perna. O relator pediu a quebra do sigilo bancário da rádio Jovem Pan, de uma produtora de documentários e de alguns sites conservadores, sob a acusação de que disseminavam fake news sobre a pandemia. 
Causou estranheza a abrangência da devassa nas contas: Renan queria que fosse examinada a movimentação financeira a partir de 2018, quando ninguém podia prever a aparição do vírus chinês. A reação dos próprios aliados aconselhou-o a transferir para Drácula a ideia de jerico e a conformar-se com os agrados do jornalismo euforicamente submisso.

Tentativas de intimidação mais de uma vez provocaram, em vez de temor, gargalhadas nacionais. Foi assim ao comparar o Brasil de Bolsonaro à Alemanha de Hitler. Ao dissertar sobre Hermann Goering, divertiu a plateia ao pronunciar em cangacês castiço o nome do temido nazista: “Góringue”. Durante o depoimento do empresário Luciano Hang, resolveu emparedar o depoente com a interpelação fulminante: perguntou-lhe se também lidava com “creptomoeda” e “biticóio”. Hang replicou com o jab na testa: “Nem sei o que é isso”

Mas nenhuma ousadia resultou tão desastrosa quanto a ideia de transformar Bolsonaro em “genocida”. Na véspera da apresentação do relatório, Renan foi alertado por advogados: seria mais fácil para o relator provar que é um homem honrado do que convencer qualquer juiz da pertinência da acusação
A retirada da sandice que julgava suficientemente grave para garantir o impeachment transformou o senador alagoano no disseminador da mais desprezível fake news registrada desde o começo da pandemia.

Ansioso por safar-se da desmoralização, Renan piorou as coisas. Colocou na cabeça — e no relatório — que Bolsonaro deveria pelo menos ser punido por “epidemia com resultado de morte”. O Código Penal informa que só se enquadra nesse crime quem causa um surto de bom tamanho “mediante a propagação de germes patogênicos”. Teria Bolsonaro capturado num laboratório chinês um bando de vírus responsáveis pelo maior desastre sanitário dos últimos 100 anos, e saído pelo mundo contaminando amigos e inimigos?

Ouça o conselho amparado nas conclusões da CPI da CPI, senador: agora sossegue. Melhor curtir enquanto é tempo a liberdade inexplicável. E leve junto Omar Aziz. Os dois, como o resto da turma, devem desculpas aos homens e mulheres agredidos e afrontados numa CPI que, como constatou J.R. Guzzo, nunca se dispôs a apurar com honestidade erros eventualmente ocorridos no combate à pandemia. O G7 não investigou coisa alguma. O que fez foi ocultar crimes.  
Comportou-se nos interrogatórios como uma delegacia policial de ditadura; ofendeu, perseguiu e pisoteou os direitos das testemunhas como cidadãos e como seres humanos. 
A seita dos insolentes e a tropa de choque arrogante só acusaram, como se os interrogados fossem criminosos comprovados e já estivessem condenados antes que pudessem abrir a boca. 
A CPI da CPI concluiu que, ao fim dos interrogatórios, os inquisidores é que deveriam ouvir dos depoentes a merecidíssima voz de prisão.

Leia também “A insolência dos farsantes”

 Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste