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sábado, 3 de agosto de 2019

Camelôs que trabalham nas praias usam posto do Leme como depósito de mercadorias - O Globo

Só no Brasil ! - Ambulante tem chave da unidade de salvamento; já salva-vida pula a grade

Um guarda-vida trabalha no Posto 1, onde material dos ambulantes está armazenado no andar térreo: camelô tem a chave do portão Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Um guarda-vida trabalha no Posto 1, onde material dos ambulantes está armazenado no andar térreo: camelô tem a chave do portão Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo

O vai e vem começa cedo, antes das 8h. Um barraqueiro abre o cadeado do portão de acesso ao Posto 1, na Praia do Leme. Ele e outros entram para pegar uma quantidade imensa de produtos usados no trabalho nas areias: cadeiras (de praia e de plástico), barracas, sacolas e até mesmo caixas térmicas imensas que servem para gelar bebidas e guardar alimentos. Tudo isso diante de guarda-vidas, que começam a trabalhar também cedo. Nesta sexta-feira, um deles chegou antes dos barraqueiros e precisou pular a grade para ter acesso. 

Na manhã quinta-feira, um homem também abriu a porta no início da manhã e, sem a menor cerimônia, iniciou o esvaziamento do posto, pegando muitas cadeiras. Depois, arrastou uma caixa térmica vermelha para fora e continuou pelo calçadão. Nas grades do posto, eles encostam mais de 50 cadeiras de praia. Até mesas de plástico são guardadas dentro posto de salvamento, que se transformou num verdadeiro depósito do comércio da praia.
Procurado por um repórter do GLOBO, o guarda-vida que pulou a grade — havia dois de plantão nesta sexta no Posto 1 — alegou que estava voltando de férias, e que, por algum motivo que ainda desconhecia, o cadeado havia sido trocado. Ele não quis ter seu nome divulgado. — Estou voltando de férias, e fui pego de surpresa. Vou fazer uma cópia da chave para poder entrar e trabalhar disse o cabo do Corpo de Bombeiros, que presenciou a retirada do material dos comerciantes sem interferir.

Segundo João Marcello Barreto, vice-presidente da Orla Rio, concessionária que administra os postos de salvamento, o serviço de sanitários das 27 unidades do Leme ao Pontal foi terceirizado. Ele disse que vai abrir um procedimento para apurar a denúncia. Caso seja confirmado o uso por ambulantes, o contrato poderá ser cancelado. No Leme, segundo Barreto, está operando desde 2015 a empresa Borges e Ramos Comércio e Serviço de Locação Ltda. O responsável pelo sanitário do Posto 1 alegou que barraqueiros jogam objetos dentro da unidade sem o seu conhecimento.

O vice-presidente da Orla Rio disse que as empresas terceirizadas têm o dever de manter em dia as contas de luz, de água e fazer a limpeza dos sanitários. À Orla Rio, cabe a manutenção predial. A locatária fica com o dinheiro arrecadado para uso dos sanitários, que é R$ 1,50 por pessoa. O valor dos aluguéis dos banheiros está entre R$ 500 e mil reais, “dependendo do lugar”, segundo Barreto.

Associação desconhece
Presidente da Associação de Barraqueiros de Praia do Rio de Janeiro, Paulo Juarez disse que nunca havia sido informado sobre a prática de guarda de objetos em postos de salvamento.— Isso não é comum. Não sei que tipo de entendimento foi feito lá. Nunca ouvi falar disso. A associação não pode intervir. Guardar objetos é por conta de cada pessoa. Tem gente que guarda em carros ou os leva para depósitos fora das praias. Fazer um posto de depósito é muito estranho — comentou Juarez, que disse ser barraqueiro há mais de 30 anos num ponto em frente à Rua Santa Clara, em Copacabana.

O Globo