Quando a corrupção se espraiava em contratos de plataformas marítimas, refinarias e Comperj, Dilma era chefe da Casa Civil, presidente do Conselho de Administração da Petrobras
O Tesouro, a Receita e o Fundo do Alasca (EUA) denunciaram na semana passada os ex-presidentes da Petrobras José Sérgio Gabrielli e Maria das Graças Foster em um tribunal de Nova York.Foram acusados de acobertar “um esquema de fraudes e corrupção que se tornou um procedimento operacional padrão” na empresa, durante uma década, com o objetivo de inflar artificialmente os preços dos títulos da empresa na Bolsa de Nova York. Mais de 400 investidores já recorreram à Justiça americana sob a alegação de prejuízos em investimentos na estatal brasileira. Em várias ações mencionam a cumplicidade de ex-diretores da Petrobras em negócios danosos no período 2005 a 2015, que podem ter afetado mais de um terço dos ativos.
Vinte meses depois das primeiras prisões por corrupção no Brasil, percebe-se um progressivo aumento dos pedidos de indenizações em tribunais dos EUA. Na semana passada ultrapassaram US$ 98 bilhões. É mais de três vezes o valor de mercado da companhia. Sinalizam o tamanho da confusão além-fronteiras para uma estatal de caixa minguante, com produção estagnada e asfixiada por US$ 80 bilhões em dívidas a pagar nos próximos cinco anos.
É o custo da teia de cumplicidades construída entre a sede, no Rio, e o Palácio do Planalto, em Brasília. Em 2009, quando a corrupção se espraiava em contratos de plataformas marítimas, refinarias de Abreu e Lima e Comperj, Dilma Rousseff era chefe da Casa Civil, presidente do Conselho de Administração e virtual candidata do PT à sucessão de Lula.
Às denúncias de irregularidades, repetia: “A Petrobras tem um dos padrões contábeis mais precisos do mundo.” Gabrielli ironizava: “Já estamos muito transparentes.” Foi nessa época que o advogado Fernando de Castro Sá descobriu que Gabrielli e diretores como Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Serviços) não toleravam contestações aos contratos de obras ditados pelo grupo de lobby da indústria de engenharia. Insistiu e foi retaliado. Ficou sem função, numa sala isolada, sem computador e com salário reduzido.
Um ano depois, promoveu-se “a maior capitalização da Humanidade”, como definiu o então presidente Lula. Foram vendidos mais de US$ 69 bilhões em títulos (a US$ 34 por ação em Nova York, seis vezes o valor atual).
Lula festejou segurando a mão da candidata Dilma num comício em Porto Alegre: “Hoje nós capitalizamos o povo brasileiro, não foi a Petrobras, porque a Petrobras hoje é do povo brasileiro”.
Sobrou uma conta bilionária a ser paga pelas próximas gerações.
Fonte: José Casado, jornalista - O Globo