O cenário amigável para 2018 só para de pé quando se supõe que a política econômica será mantida, com essa equipe
Nem parece um ano eleitoral com a corrida presidencial tão
indefinida. Os assim chamados agentes econômicos demonstram a calma de
quem está com a vida ganha. No caso, a recuperação. Inflação em recorde de baixa, juros em queda, atividade
acelerando, consumo das famílias em alta, dólar super comportado e até a
criação de empregos - tal é o cenário para 2018 conforme um amplo
consenso. E não é no governo. É no setor privado. Não por acaso, a Bolsa
foi às alturas.
Vira-se o olhar para o ambiente político - e parece outro
país. Um presidente alvo de duas investigações, com o sigilo bancário
quebrado e assessores/amigos muito enrolados. A disputa presidencial
está aberta, é verdade, mas os candidatos com maiores índices de
preferência são aqueles, à direita e à esquerda, que pretendem desmontar
a política econômica vigente, base da recuperação. Dentro do próprio
governo, a política econômica, antes prioridade máxima, vai sendo
afastada da agenda. Como se explica essa diferença? Uma mistura de fatos, expectativas e pura torcida.
No departamento dos fatos principais, temos: o crescimento
da economia mundial, que amplia o mercado para as exportações e dispõe
de mais capital para investimentos; o ambiente global de inflação e
juros bem baixos; o ciclo econômico brasileiro; e a inédita inércia da
inflação baixa. Vai aqui também a força da equipe econômica, liderada por
Henrique Meirelles na Fazenda e Ilan Goldfajn no Banco Central. Com um
time de primeira, eles apontaram na direção correta (busca do equilíbrio
das contas, reformas e privatizações) e fizeram muita coisa, incluindo a
essencial medida que estabeleceu o teto de gastos para o governo
federal. Também cabe no rol dos fatos positivos a recuperação dos bancos
públicos e das principais estatais.
Daqui passamos para a expectativa. O cenário amigável para
2018 só para de pé quando se supõe que a política econômica será
mantida, com essa equipe. Ora, Meirelles é pré-candidato à presidência, oferecendo
como base de sua aspiração a recuperação da economia - que é uma
verdade. Não é trivial derrubar uma inflação de 11% para menos de 3%,
com crescimento do PIB. Meirelles presidente seria a ampliação do roteiro
econômico, mas ele, até aqui pelo menos, não tem votos e, parece, nem
partido. [Meirelles não vai passar de pré-candidato e os motivos são os dois não tem; mesmo que elimine o segundo, resta o primeiro o que vai dissuadi-lo.]
E se ele deixar a Fazenda e cair no vazio? Verdade que o
ministro está tentando colocar um dos seus no comando da economia, mas
isso sai de seu controle e vai para as mãos do presidente Temer. O presidente, ao trocar a reforma da previdência pela
segurança, dá sinais de que está satisfeito com o quadro econômico.
Visto pelo outro lado, significa que o ímpeto pelas reformas esmoreceu.
Temer e seu pessoal estão mais para salvar a pele.
Ainda assim, pode-se ter outra expectativa. Seguinte: ok,
as reformas param, mas também não se desmonta o que foi feito. E isso, claro, remete às eleições. E aí, já começa a ficar mais caro.
O governo federal vende títulos no mercado. Esses títulos
pagam juros e têm vencimentos que avançam no tempo - desde o próxima
semana até 2040, por exemplo. Os juros variam conforme o vencimento e
dizem muita coisa sobre a política. Assim, um título do Tesouro com vencimento em abril
próximo paga juros de 6,56% (sempre ao ano). Para dezembro deste ano,
até um pouquinho menos. Mas um papel com vencimento em janeiro de 2020 -
quando o próximo presidente estará completando um ano de governo - já
paga juros maiores, de 7,3%. Para janeiro de 2021, a taxa sobe para
8,2%. E passa de 9% em dezembro de 2022, quando se completa o mandato
presidencial. No mínimo, isso revela um pé atrás. Não está previsto aí
nenhum desastre, nem uma volta à recessão. Mas é um cenário no qual não
se avança nem se retrocede na política econômica. Ou seja, uma
expectativa de que o próximo presidente vai empurrar com a barriga do
jeito que está.
Acontece que os candidatos que aparecem na frente propõem
outros rumos. Se o próximo presidente tentar restabelecer a tal "nova
matriz" de Dilma ou o neodesenvolvimentismo, o cenário é outro, de
inflação escalando, dólar passando de quatro reais, juros bem acima dos
9%. Por outro, se vingar uma candidatura vinculada à atual
política econômica, o cenário também é outro. Os juros futuros vão cair e
não subir. Em resumo, o cenário base hoje considerado por analistas e
operadores da economia (no bom sentido) é uma espécie de média.
Considera que o atual governo e o próximo nem conseguem avançar nem
retroceder.
Considerando que pode ser eleito um populista ou um
reformista, pode-se dizer que esse cenário médio está errado. Ou seja, a
situação econômica ou piora ou melhora após as próximas eleições.
E aqui entram as torcidas.