Itamaraty enviou a embaixadas circulares com alerta de ‘golpe’
No mesmo dia, secretário-geral ordenou desconsiderar as mensagens
Na última sexta-feira, dia em que manifestantes foram às ruas
defender o mandato da presidente Dilma Rousseff, o Ministério das
Relações Exteriores (MRE) enviou telegramas a todas as embaixadas e
representações do Brasil no exterior recomendando a difusão de mensagens
de entidades alertando para o risco de um golpe político no país. A
mensagem partiu da Secretaria de Estado de Relações Exteriores do
Itamaraty (SERE). O texto pedia que cada posto designasse um diplomata
para dialogar com as organizações da sociedade civil locais. A ordem
acabou abortada por determinação da Secretaria Geral do Itamaraty na
própria sexta-feira, mas depois que as mensagens já haviam sido
disparadas para postos diplomáticos em todo o mundo.
Nos telegramas despachados de Brasília havia reprodução de
comunicados que conclamavam à resistência democrática. O GLOBO teve
acesso à comunicação diplomática, que já foi invalidada pelo MRE. Nesta
terça-feira, o diplomata perdeu o direito de autorizar comunicações no
Itamaraty, segundo revelou o colunista Lauro Jardim.
Perto do meio-dia da última sexta-feira, o Itamaraty disparou o
telegrama ostensivo de número 100.752, em que pedia a designação de um
servidor — de preferência um diplomata — para ficar responsável por
“apoiar adequadamente” o diálogo entre o Itamaraty, a sociedade civil
brasileira e a local. — A ideia era espalhar pelo mundo que há um golpe aqui. E que os
governos e a sociedade civil do mundo inteiro se solidarizassem com o PT
— disse um diplomata ouvido pelo GLOBO sob a condição de anonimato.
A mensagem do Itamaraty foi enviada pelo ministro Milton Rondó Filho, responsável pela área de combate à fome do MRE. Segundo colegas de trabalho, ele é um ferrenho defensor do governo. Às 16h18, o Itamaraty enviou outro comunicado, novamente feito por Rondó. O telegrama 100.755 retransmite uma nota da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong), que reúne 250 entidades. O texto começa com a seguinte frase: “É momento de resistência democrática!”, fala em “profunda preocupação” com os rumos do processo político e ataques dos grandes grupos econômicos e da mídia a governos legitimamente eleitos, e conclama, independentemente das posições políticas e ideológicas, a sociedade para a luta pela democracia : “Não ao Golpe! Nossa luta continua!”.
Cerca de uma hora e meia depois desse telegrama, o secretário-geral do Itamaraty, Sérgio Danese, enviou outro comunicado aos postos no exterior em que pedia para que fossem ignorados os comunicados anteriores.
“Dou instruções. Rogo desconsiderar e tornar sem efeito as circulares telegráficas 100752 e 100755”.
Mesmo após essa instrução, outra comunicação foi enviada. O telegrama 100.757 reproduziu a “Carta aos Movimentos Sociais da América Latina”, que denuncia um “processo reacionário que está em curso no país contra o Estado Democrático de Direito”. A correspondência, assinada por centrais sindicais e outras ONGs, diz que retrocessos não serão admitidos.
SEM AUTORIZAÇÃO SUPERIOR
“A situação agravou-se nos últimos dias”, afirmam as ONGs ao citarem a ação da Polícia Militar na União dos Metalúrgicos em Diadema e o ataque à sede da União Nacional dos Estudantes (UNE). Para elas, isso revive os ataques que precederam o golpe militar de 1964 no Brasil.
Segundo o Itamaraty, mesmo que esse telegrama tenha sido enviado após a ordem que anulava a comunicação do ministro Rondó, ele também estaria cancelado. Isso porque o secretário derrubou o primeiro comunicado que pedia a divulgação desse tipo de correspondência. Consultado, o Ministério das Relações Exteriores informou que essas circulares foram expedidas sem autorização superior e, por isso, foram anuladas. De acordo com fontes do órgão, assim que os primeiros telegramas foram enviados, houve uma reação dos funcionários que criticavam o uso da máquina do Estado para defender o atual governo. Até a noite de ontem, nenhuma medida administrativa foi tomada contra Rondó.
A mensagem do Itamaraty foi enviada pelo ministro Milton Rondó Filho, responsável pela área de combate à fome do MRE. Segundo colegas de trabalho, ele é um ferrenho defensor do governo. Às 16h18, o Itamaraty enviou outro comunicado, novamente feito por Rondó. O telegrama 100.755 retransmite uma nota da Associação Brasileira de Organizações Não-Governamentais (Abong), que reúne 250 entidades. O texto começa com a seguinte frase: “É momento de resistência democrática!”, fala em “profunda preocupação” com os rumos do processo político e ataques dos grandes grupos econômicos e da mídia a governos legitimamente eleitos, e conclama, independentemente das posições políticas e ideológicas, a sociedade para a luta pela democracia : “Não ao Golpe! Nossa luta continua!”.
Cerca de uma hora e meia depois desse telegrama, o secretário-geral do Itamaraty, Sérgio Danese, enviou outro comunicado aos postos no exterior em que pedia para que fossem ignorados os comunicados anteriores.
“Dou instruções. Rogo desconsiderar e tornar sem efeito as circulares telegráficas 100752 e 100755”.
Mesmo após essa instrução, outra comunicação foi enviada. O telegrama 100.757 reproduziu a “Carta aos Movimentos Sociais da América Latina”, que denuncia um “processo reacionário que está em curso no país contra o Estado Democrático de Direito”. A correspondência, assinada por centrais sindicais e outras ONGs, diz que retrocessos não serão admitidos.
SEM AUTORIZAÇÃO SUPERIOR
“A situação agravou-se nos últimos dias”, afirmam as ONGs ao citarem a ação da Polícia Militar na União dos Metalúrgicos em Diadema e o ataque à sede da União Nacional dos Estudantes (UNE). Para elas, isso revive os ataques que precederam o golpe militar de 1964 no Brasil.
Segundo o Itamaraty, mesmo que esse telegrama tenha sido enviado após a ordem que anulava a comunicação do ministro Rondó, ele também estaria cancelado. Isso porque o secretário derrubou o primeiro comunicado que pedia a divulgação desse tipo de correspondência. Consultado, o Ministério das Relações Exteriores informou que essas circulares foram expedidas sem autorização superior e, por isso, foram anuladas. De acordo com fontes do órgão, assim que os primeiros telegramas foram enviados, houve uma reação dos funcionários que criticavam o uso da máquina do Estado para defender o atual governo. Até a noite de ontem, nenhuma medida administrativa foi tomada contra Rondó.
Fonte: O Globo