Documento descreve reunião do ex-presidente com militares em março de 1974
Ernesto
Geisel no momento em que anunciava o fechamento do Congresso - Orlando Brito
30/04/1277 / Agência O Globo
Um
memorando feito pelo ex-diretor da CIA William Egan Colby em 11 de abril
de 1974 e destinado ao então Secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger
sugere como o ex-presidente Ernesto Geisel soube e autorizou a execução
de centenas de opositores políticos durante a ditadura militar no
Brasil.
Nele,
está descrito um encontro em 30 de março de 1974 entre o presidente Ernesto
Geisel com o general Milton Tavares de Souza e com o general Confúcio Danton de
Paula Avelino, respectivamente os chefes de saída e chegada do Centro de
Inteligência do Exército (CIE), à época. No encontro, também estava o general
João Baptista Figueiredo, chefe do Serviço Nacional de Inteligência (SNI).
Figueiredo, inclusive, sucedeu Geisel na presidência em 1979.
Durante o
encontro, segundo o documento, o general Milton Tavares de Souza, que estava
deixando a chefia do CIE, informa a Geisel sobre a execução sumária de 104
pessoas feita pelo CIE durante o governo do presidente Emílio Garrastazu
Médici, e pede autorização para continuar a “política” de extermínio no novo
governo.
O
documento foi localizado pelo pesquisador de Relações Internacionais da
Fundação Getulio Vargas Matias Spektor. Para ele, “é a evidência mais direta do
envolvimento da cúpula do regime (Médici, Geisel e Figueiredo) com a política
de assassinatos”. No
memorando, o diretor da CIA escreve que o general Milton Tavares “enfatizou que
o Brasil não pode ignorar a ameaça subversiva e terrorista e disse que métodos
extra-legais devem continuar a ser empregados contra subversivos perigosos. A
este respeito, o General Milton disse que cerca de 104 pessoas nesta categoria
foram sumariamente executadas pela CIE durante os anos anteriores (1973),
aproximadamente. Figueiredo apoiou essa política e insistiu em sua
continuidade”.
Na
reunião, Geisel pediu para pensar durante o fim de semana para decidir se
continuava ou não com a “política”. Em 1º de abril, o memorando informa que o
presidente disse ao general Figueiredo que a “política deveria continuar”. No
entanto, Geisel orientou que “apenas subversivos perigosos fossem executados”.
Ele e Figueiredo concordaram que todas as execuções deveriam ser então
aprovadas por Figueiredo.
“Quando a
CIE prender uma pessoa que possa se enquadrar nessa categoria, o chefe da CIE
consultará o general Figueiredo, cuja aprovação deve ser dada antes que a
pessoa seja executada. O Presidente e o General Figueiredo também concordaram
que a CIE deve dedicar quase todo o seu esforço à subversão interna, e que o
esforço geral da CIE será coordenado pelo General Figueiredo”, descreve o
documento.
Segundo a
rede do governo americano onde esses documentos estão sendo disponibilizados,
uma cópia do memorando vai ser disponibilizada ao Secretário de Estado Adjunto
para Assuntos Interamericanos. Hoje, a descrição do documento está disponível
online no site dos documentos históricos americanos. O original está na CIA.
Na
leitura do documento, é possível reparar que o primeiro parágrafo do memorando
continua secreto e não foi disponibilizado.
O Globo