Um ano depois da aprovação da reforma trabalhista que acabou com a contribuição obrigatória, entidades se adaptam a uma receita até 90% menor
A aprovação da reforma trabalhista,
que completou um ano nesta sexta-feira, e sua entrada em vigor a partir
de novembro trouxeram mudanças significativas nas principais entidades
de trabalhadores do Brasil. Com o
fim da contribuição obrigatória, sindicatos estão cortando gastos para
se adequar a uma receita até 90% menor, demitindo profissionais e
reduzindo viagens. Para ganhar novos sócios e aumentar a receita, as
entidades também organizam eventos com oferta de vagas de trabalho e
negociam participação em PLR (Participação nos Lucros ou Resultados).
De uma
arrecadação de 45 milhões de reais em 2017, a UGT (União Geral dos
Trabalhadores) deve terminar 2018 com apenas 4,5 milhões de reais – uma
queda de 90%. Com o resultado no vermelho, a entidade já iniciou a
readequação. “Reduzimos metade dos funcionários e cortamos atividades e
viagens a trabalho”, enumera Ricardo Patah, presidente da União e também
do Sindicato dos Comerciários de São Paulo.
Na
campanha para ganhar novos associados, Patah destaca que o sindicato
realiza serviços de qualificação e eventos com vagas de trabalho. Na
próxima segunda-feira, por exemplo, a UGT vai realizar uma feira na
capital paulista, com a promessa de oferecer 2 mil oportunidades de
trabalho nas áreas de comércio e serviços. “Pedimos
apenas que os candidatos se filiem ao sindicato [durante o evento]. Com
novos associados, podemos continuar nosso trabalho.” Recentemente, a CUT
(Central Única dos Trabalhadores) colocou sua sede de oito andares no
bairro do Brás, em São Paulo, à venda – em um negócio avaliado em 40
milhões de reais, de acordo com a Patrinvest Administração e Investimentos Imobiliários. A entidade, contudo, afirma que a decisão “não tem relação com as restrições econômicas impostas pela reforma trabalhista”.
Entidades patronais também tiveram queda
representativa em receita. A Fiesp, por exemplo, recolheu 3,2 milhões de
reais este ano, segundo dados do MTE. “Tivemos 80% de queda na receita,
em relação a 2017, mas esperamos que esse número volte a crescer com a
contribuição voluntária de associados”, afirma Luciana Freire, diretora-executiva jurídica da federação. Segundo
a advogada, a entidade está aconselhando os sindicatos a organizarem
assessoria jurídica, ações coletivas, seminários e cursos nas áreas
empresarial e tributária para atrair novamente os associados.
Processo de recolhimento
Após a reforma trabalhista, o trabalhador que aceitar contribuir com sua entidade de classe destina um dia de salário às associações da seguinte maneira: 5% para confederação, 15% para federação, 60% sindicato e 20% para uma conta especial reservada para o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalho). Essa divisão era igual antes da reforma trabalhista.
No caso de empresários, alíquota varia de 0,02 a 0,08 do capital social da empresa e é recolhida em fevereiro de cada ano, explica Maurício Pepe De Lion, sócio do Felsberg Advogados. Em ambos os casos, o dinheiro é transferido da Caixa Econômica Federal diretamente à conta das entidades. A grande questão está na não obrigatoriedade das entidades prestarem contas aos associados. Em 2008, o ex-presidente Lula vetou um artigo que obrigava as centrais a prestar contas ao TCU (Tribunal de Contas da União) justificando que o projeto poderia acabar com a autonomia sindical. “Com a reforma trabalhista, os sindicatos têm uma excelente oportunidade para mostrar, pró-ativamente, como o trabalho deles é feito”, acrescenta De Lion.
Operação da PF
O excesso de sindicatos no Brasil, inclusive, foi investigado na Operação Registro Espúrio, da Polícia Federal, que apura cobrança de propina em troca de registros de entidades na Secretaria de Relações de Trabalho. A ação levou à queda do ex-ministro do Trabalho Helton Yomura, alvo da terceira fase da investigação e afastado do cargo pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O novo ministro, Caio Vieira de Mello, que assumiu o cargo no dia 10, sinalizou que fará uma “limpa” na pasta – citando também os sindicatos.
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