Há um ano, em 11 de julho, quando explodiu em Cuba um movimento de viés libertador levando o povo às ruas, fui muito indagado sobre a sequência e as consequências daquilo.
As observações e experiências pessoais colhidas durante várias viagens relatadas por mim em “A tragédia da Utopia” e as informações que regularmente recebo explicam esse interesse por minha opinião. Não sou cubanólogo, mas sim, conheço a dura realidade daquela ilha.
No entanto, era perfeitamente previsível que aquele regime se recusaria a qualquer entendimento com a população desarmada (desarmada, note-se bem) e iria endurecer contra os manifestantes. Foi exatamente o que ocorreu. O Estado reagiu com inusitada violência – porrete e cadeia – contra todos em quem conseguiu deitar a mão. O evento subsequente simplesmente não aconteceu.
Agora, acabo de ler um rescaldo daqueles dias em matéria publicada na Gazeta do Povo. Trata-se de um relatório divulgado por Cubalex (consultoria jurídica) e pelo Movimento 11J (referido à data dos eventos de 2021): 1484 prisões e 505 pessoas já condenadas ao cárcere ou a “trabalhos correcionais” com internamento. Outras 196 estão em prisão provisória (decorrido ano inteiro de uma simples mobilização popular). Há 703 não encarcerados, dos quais alguns pagaram multas e outros cumprem “trabalhos correcionais” sem internação. Sobre 80 não há informações. Maus tratos e tortura são frequentes e a legislação contra esse tipo de evento tornou-se mais rigorosa.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.