Qualquer que seja a escolha livremente feita nas urnas, a Nação será senhora de seu destino
Uma marca
da campanha eleitoral de 2018 é a placidez com que se atacam os princípios
basilares da democracia sem que isto enrubesça a face dos liberticidas ou cause
arrepios nos segmentos da sociedade que os apoiam. O menoscabo pelas
instituições republicanas, os ataques à liberdade de imprensa e o desapreço
pela atividade política dita tradicional são vocalizados, às vezes em português
cristalino, por candidatos bem colocados nas pesquisas de intenção de voto.
A
popularidade dessas candidaturas parece crescer ─ ou ao menos não chega a ser
abalada ─ à medida que recrudescem os ataques verbais e, mais grave, as
ameaças, diretas ou veladas, a tudo e a todos que estejam de alguma forma
associados ao establishment político, aqui tomado em sua mais nobre
acepção, qual seja: o ambiente propício à construção de compromissos em prol do
bem comum. Isto implica tratar adversários como interlocutores legítimos, não
inimigos a serem eliminados das lides próprias da política. Não é isso que se
tem visto.
O anseio
de vingança e o pendor ao autoritarismo, não raro conjugados, têm dado a tônica
dos discursos dos candidatos que lideram as pesquisas e de seus porta-vozes. O
despreparo absoluto para definir e conduzir os rumos da Nação é tomado como
virtude em meio à derrocada de profissionais da política, fruto de uma
perniciosa metonímia ─ não casual ─ que condenou o todo pelo desencaminho de
partes. A História há de cobrar de alguns membros do Ministério Público Federal
e do Poder Judiciário a salgada fatura pela criminalização da política,
indistintamente.
Soa bem o
discurso da destruição aos ouvidos exaustos e indignados de muitos brasileiros
fartos de sucessivos, e cada vez mais escabrosos, casos de corrupção. Tantos
que a fazem parecer, erroneamente, um mal atávico de nossa identidade nacional. Cala
fundo nos corações de cidadãos que temem por suas próprias vidas e as dos seus
nas grandes cidades do País o discurso da força, não só a que provém do Estado,
detentor legítimo do monopólio da violência, mas sobretudo a de lideranças que
buscam personificar um resgate da “ordem”, ainda que em nome disso sobrepujem
as garantias do Estado de Direito que nossa Lei Maior consagra já em seu
preâmbulo.
O que
haverá de surgir dos escombros da chamada antipolítica ─ no fundo, uma falácia
─ não se sabe o que é; e isso não parece ter muita importância no debate
eleitoral. A Nação
não poderá alegar desconhecimento ou “traição” caso triunfe nas urnas um dos
projetos autocráticos e populistas que ora estão sob escrutínio público. Não
haverá inocentes caso se abatam sobre o País os infortúnios que certamente hão
de advir do perigoso flerte com o atraso. Na era da informação massificada, não
há álibi para consciências arrependidas.
Na mesma
medida, estão muito claros os enormes desafios que se apresentam diante da
Nação para que o País volte a trilhar o benfazejo caminho do desenvolvimento
econômico e da justiça social. Tal como as ameaças à democracia, as saídas
deste labirinto no qual os brasileiros foram colocados como camundongos da
nefasta experiência lulopetista, são claras também as propostas apresentadas
por outros candidatos para sanear as contas públicas, retomar os investimentos
e reduzir o dramático nível de desemprego.
A
impopularidade desse conjunto de medidas saneadoras, no entanto, é alta. É
diretamente proporcional à dimensão dos danos infligidos ao País pelos
desatinos de Dilma Rousseff, que em boa hora foi apeada do poder antes que
tivesse tempo de superar os limites de sua própria incompetência. Em pouco
mais de duas semanas, a sociedade brasileira será chamada a escolher entre dois
caminhos possíveis: o mais difícil, o do compromisso nacional com as reformas e
a responsabilidade; e o caminho fácil do populismo e do sonho irrealizável.
Qualquer que seja a escolha livremente feita nas urnas, a Nação será senhora de
seu destino. A ver se iremos em direção ao fortalecimento da democracia e à
saúde fiscal do País ou se daremos uma guinada rumo a um passado de tristes
lembranças.