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sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Com recorde de canonizações, Igreja Católica quer recuperar rebanho perdido - VEJA

Igreja Católica quer recuperar rebanho perdido com recorde de canonizações

Neste domingo, irmã Dulce se tornará a primeira santa nascida no Brasil

Neste domingo, 13, a freira baiana irmã Dulce se tornará a primeira santa nascida no Brasil — processo foi o terceiro mais rápido da história

“Beatíssimo Pai, a Santa Mãe Igreja pede a Vossa Santidade que inscreva a beata Dulce Pontes no Catálogo dos Santos e como tal seja venerada por todos os fiéis cristãos.”  

Com essa frase, dita em latim, o cardeal italiano Angelo Becciu, prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, inaugurará, no Vaticano, às 10h15 (hora de Roma) do domingo 13, um momento histórico para o catolicismo brasileiro. Em seguida, o papa Francisco dará rápida anuência, oficializando a canonização da baiana Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes (1914-1992), a irmã Dulce, a primeira santa nascida no Brasil. Uma relíquia será levada ao altar — fragmentos do osso da costela da freira, cuidadosamente guardados num tubo transparente, colado numa pedra ametista em formato de coração. A missa, então, celebrará o nascimento de Santa Dulce dos Pobres, o epíteto pelo qual será conhecida. A consagração do “anjo bom da Bahia” terá sido a terceira mais rápida da história, apenas 27 anos depois de sua morte — perde para a santificação de Madre Tereza de Calcutá (dezenove anos após o falecimento da religiosa albanesa) e de João Paulo II (nove anos). A título de comparação, o processo do jesuíta espanhol José de Anchieta, o “apóstolo do Brasil”, vagou mais de 400 anos pelas gavetas da burocracia romana.

Para Francisco, a canonização de domingo, de irmã Dulce e outras quatro pessoas, é um gesto de coerência de seu pontificado, o da celebração da Igreja que se aproxima dos desvalidos — tanto a brasileira quanto a freira italiana Giuseppina Vannini, a indiana Mariam Thresia, a suíça Marguerite Bays e o inglês John Henry Newman, sacerdote anglicano convertido ao catolicismo no fim do século XIX, ostentaram em vida o permanente contato com as vozes humildes. Levá-los aos céus, para a veneração em terra, é uma tentativa de recuperação do rebanho perdido para o avanço das denominações evangélicas.

Diz o sociólogo Francisco Borba, coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC de São Paulo: “Desde o Concílio Vaticano II, nos anos 60, há um esforço da Igreja de mostrar a ideia de que todos podem ser santos”. Francisco leva essa ideia, que alguns consideram populista, ao apogeu.

Não por acaso, o papa argentino é o que mais fez santos (veja o quadro) — são 898 em apenas seis anos de pontificado, incluindo uma canonização coletiva de 813 pessoas no terceiro mês de seu mandato. No documento Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e Exultai), de 2018, ele decretou: “Ser pobre no coração — isto é santidade”. Para Geraldo Hackmann, professor de teologia da PUC do Rio Grande do Sul, “do ponto de vista prático, a canonização fortalece a Igreja Católica, aproximando os fiéis”. Outra maneira de fortalecimento proposta por Francisco é a que está em discussão no Sínodo para a Amazônia, que se realiza em Roma até a próxima semana: a ordenação de homens casados, atalho para expandir o alcance da fé


LER MATÉRIA COMPLETA    edição nº 2656 de VEJA de 16 de outubro de 2019