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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

O mi-mi-mi do preço da gasolina

Na interpretação da imprensa, quem não repassa para a gasolina a baixa do preço internacional do petróleo não tem outro interesse que o de fazer caixa às nossas custas 

Quase seis meses atrás fiquei muito bem impressionado com um comentário dos mais lúcidos na minha opinião, é claro que ouvi de Viviane Mosé. Foi no programa Observatório da Imprensa, da TV Brasil, sobre como as coisas viram ou não preocupações nacionais, dependendo das notícias que nos chegam e do que não é noticiado pela imprensa. 

Tenho lembrado muito disso cada vez que ouço as comparações que nossa imparcial mídia faz entre o preço do litro de gasolina no Brasil e o preço do barril de petróleo no mercado internacional.  Para todos os efeitos, segundo o que se lê todos os dias nos jornais e se vê todas as noites nas TVs, nós, pobre motoristas, estamos sendo passados para trás por um governo às voltas com seus déficits e por uma Petrobras corrupta. Os dois se recusam a passar para as bombas que abastecem nossos carros as fortíssimas reduções de preço que o petróleo vem experimentando nos últimos meses. E esse mantra, repetido à exaustão pela chamada grande mídia, faz o maior sucesso nas rodas de conversa Brasil afora.

Realmente, existem fatos que não se pode contestar. O preço do barril de petróleo no mercado internacional, que passou de 110 dólares em meados de 2014, aproxima-se hoje dos 30 dólares. Enquanto isso, no mesmo período, o preço da gasolina no Brasil saiu de 2,97 para 3,65 reais. Para sermos mais precisos, coisa que a imprensa nem sempre tem interesse em fazer, é recomendável usarmos a mesma moeda. Então estamos falando de uma pequena queda no preço da gasolina comum, de 1,30 para 0,90 dólares.

Opa… Quer dizer então que a gasolina não subiu em termos reais? O efeito é o da variação cambial? Isso não parece muito bom para ser publicado. Porque essa notícia – da alta do dólar – já foi dada. Então é preciso manter cada coisa na sua moeda, para não diminuir o impacto. Mas, convenhamos, as variações ainda são muito díspares mesmo usando só o dólar. A relação entre o preço mundial do barril de petróleo o preço do litro de gasolina no Brasil era de 86,2 em junho de 2014 e hoje é de 34,0. Por que não pagamos o que o mundo inteiro paga?

Se nossa imprensa colocasse o interesse em esclarecer acima de outros interesses, possivelmente iria esmiuçar o que a ANP e a Petrobras divulgam sobre o tema e traduzir em linguagem simples e acessível os mecanismos de formação de preços dos combustíveis. Mais ainda, iria mostrar como a Petrobras, fazendo jus ao “bras” que carrega em seu nome, trabalha com a absorção das variações de preço, às vezes ganhando, às vezes perdendo, para reduzir os impactos em nossos bolsos das mais diversas guerras (nem sempre meramente comerciais) travadas nos palcos internacionais.

Não fosse assim, poderíamos estar pagando hoje meros 2 reais pelo litro de gasolina comum, mas teríamos pago 7 no mesmo junho de 2014. Ou poderemos vir a pagar muito mais num futuro próximo, se as relações entre o Irã e a Arábia Saudita continuarem azedando e uma nova guerra for deflagrada na região. É isso mesmo que queremos?

De tudo isso, há que se reconhecer um ponto de absoluta coerência: a chamada grande imprensa dá à questão dos preços dos combustíveis o mesmo tratamento raso e simplório que dispensa ao aumento nas tarifas de transporte público – que, nos telejornais e nos veículos impressos, não passa de uma rusga entre polícia e black blocs.

Fonte: Paulo Cesar Marques da Silva, engenheiro - O Globo