-juiz de sucesso,
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Foi ao ar
na emissora britânica BBC a segunda entrevista concedida por Lula na cadeia.
Contém uma grande novidade. O presidiário petista fez, finalmente, uma
autocrítica. Ainda não enxerga um culpado no espelho. Mas lamenta "não ter
sido mais incisivo" com Dilma Rousseff em relação às derrapagens do
governo dela. Eis o que declarou Lula a certa altura: "Uma pessoa cheia de
confiança como a Dilma, na hora que o carro começa derrapar nem sempre tem a
tranquilidade de parar e falar: peraí, vamos parar, vamos ouvir, vamos
conversar". O comentário realça duas qualidades do entrevistado. Uma é
conhecida: a maleabilidade. A outra, insuspeitada: a modéstia.
Lula é reverenciado no PT por sua fidelidade ao partido e aos
companheiros. Na entrevista, mostrou-se maleável o bastante para demonstrar que
a lealdade, como a honestidade, é uma virtude facilmente contornável. Se
perguntarem a qualquer petista quais são as três lideranças mais importantes do
PT, a resposta será fulminante: Lula, Lula e Lula. A despeito de não encontrar
uma alma capaz de lhe fazer sombra no petismo, o preso foi modesto o suficiente
para exagerar no poder atribuído à sua criatura. No tempo em que o PT ainda
tentava fazer sentido, as coisas pareciam mais nítidas. Nessa época, Lula era
Deus e Dilma era parte de sua criação. Hoje, a nitidez perdeu a função. Nada é
o que parece. Se deixarem, Lula termina virando uma espécie de sub-Dilma. Por
sorte, os fatos tornaram-se tão notórios que impedem o cinismo. Quaquer
brasileiro de colo sabe que parte do desgaste moral da gestão de Dilma foi
herdado de Lula. O mensalão e as petroroubalheiras nasceram nos mandatos dele.
No início de sua primeira gestão, Dilma ensaiou uma pose de faxineira. Foi
rapidamente enquadrada por Lula. Onde já se viu afastar aliados dos ministérios
por algo tão banal quanto o desvio de verbas públicas?
Lula é
responsável também pela corrosão técnica da administração Dilma, pois foi ele
quem criou a fantasia de que madame era uma gerentona infalível. Em quatro anos
de inépcia, a criatura colocou o país no rumo do brejo. Reeleita com o apoio do
criador, consolidou a ruína. Feita por Lula, Dilma desfez o que restou da obra
do seu benfeitor. Dilma era mesmo "cheia de confiança". Foi Lula quem
inflou o seu ego. O carro realmente "derrapou". Culpa de Lula, que
entregou o volante a condutora precária. Dilma, de fato, não era de muita
conversa. Sorte do Brasil, pois Lula insistia para que ela se entendesse com
Eduardo Cunha. O que teria prolongado o assalto.
Não é que Lula não consiga identificar os problemas. A questão é que ele
só enxerga culpados dentro de sapatos alheios. A culpa pelo erros do verão
passado é de Dilma. A responsabilidade pelos equívocos do presente é de Jair
Bolsonaro, "um doente que acha que o problema do Brasil se resolve com
armas." Não há dúvida de que o capitão põe o seu governo a perder. Mas ele
está no poder há quatro meses. A sorte de Lula é sua barba. Se tivesse que se
barbear todas as manhãs, o presidiário do PT precisaria cumprir um ritual para
se certificar de que ainda existe, pois não faria sentido escanhoar o rosto de
um fantasma. Se fosse obrigado a encarar diariamente o espelho, Lula teria de recitar
o CPF e o RG para ter certeza de que continua sendo ele mesmo, não o impostor
que se esconde atrás do cinismo.
Josias de Souza / Moro vai de ex-juiz de sucesso a ministro frustrado
Blog do Josias de Souza