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quinta-feira, 10 de março de 2016

Com Dilma, sem Dilma


Não há como recuperar a confiança de consumidores e de empresários, o que impede a retomada de consumo e investimentos

Dado o jeitão da economia e supondo que a política segue como está com a Lava-Jato avançando sobre o núcleo do governo e do PT, o Congresso paralisado, o Fora Dilma avançando nas ruas e no Congresso, mas sem desfechos fatais, tipo renúncia ou impeachment, o panorama fica assim:
— por falta dos investimentos, que desabaram, e por falta de renda para consumo, a recessão deste ano vai a mais de 4%, ou seja, uma queda mais forte em cima dos desastrosos 3,8% de 2015;
— o desemprego vai aumentar; medido pela PNAD contínua pode chegar a 13% (contra os 9% da última medida); uma catástrofe;
— a inflação já começou a desacelerar (no IPCA de ontem), basicamente por um mau motivo; pessoas e empresas, com menos renda e menos faturamento, estão comprando menos; e por motivos mais justos, como a queda esperada na tarifa de energia e a moderação em outros reajustes; tudo considerado, uma desaceleração que deixará a inflação abaixo do nível de 2015, mas ainda bem acima do teto da meta;
— as contas externas vão caminhar para o azul, com todo o serviço sendo feito pelo dólar a R$ 4; as pessoas viajam menos, compram menos lá fora, as empresas cortam importações, substituem o que for possível por produto nacional, mais barato em dólar. E os exportadores vendem mais lá fora. Também fica bom para o investidor estrangeiro trocar seus ricos dólares por reais desvalorizados e aqui comprar qualquer coisa, de títulos a fábricas.

Resultado: aumenta a entrada de dólares e reduz a saída, e isso vai eliminando o déficit nas contas externas. Isso tira da frente a possibilidade de uma crise cambial — que é quando um país quebra por falta de dólares para pagar os compromisso externos.

Esse é o cenário com Dilma na Presidência e o governo funcionando do jeito que está: empurrando com a barriga, incapaz de tocar qualquer medida relevante, especialmente ali onde são mais necessárias, no ajuste das contas públicas. Estas caminham fortemente para o pior, com alta do déficit e da dívida pública. É o ponto central da crise econômica e política. Como o governo Dilma pode piorar ou apenas não ajudar?


Podem piorar as contas públicas, processo que está em marcha. O governo está se preparando para fazer um novo déficit orçamentário, com aumento de gastos diretos, aliás exigência do PT, com os conhecidos truques para legalizar o ilegal.  Também está empurrando os bancos públicos para oferecerem mais crédito barato. Considerando a situação de queda de produção e consumo, é mais provável que os candidatos ao crédito sejam as pessoas e empresas mais atrapalhadas com suas finanças, ou seja, devedores mais ou menos duvidosos. Grande o risco de aumentar a inadimplência e piorar o balanço dos bancos públicos. Lembrem-se: Banco do Brasil e Caixa já quebraram antes.

Com sua paralisia, em cima de viés ideológico, o governo Dilma não ajuda ali onde só ele poderia fazer algo. Por exemplo: avançar nos acordos internacionais de comércio, inclusive e muito especialmente com os grupos em que se encontram Estados Unidos e União Europeia. Com esse dólar, se o país tivesse mais mercados abertos, a indústria exportadora poderia ser a locomotiva da recuperação. Não será, limitada a esse moribundo Mercosul.

O governo também perde tempo na exploração do pré-sal porque não consegue retirar o modelo de partilha com monopólio da Petrobras — o que fica agora mais difícil à medida que Dilma se atira no colo do PT e se abraça com o investigado Lula. O último leilão de poços foi em 2003; o governo diz que pode, quem sabe, fazer outro em 2017. Nem vamos falar dos diabos de que o PT nem quer ouvir falar: da reforma da Previdência, muito menos da legislação trabalhista e da indexação do salário-mínimo. O modelo atual impõe ganhos reais de salários e de aposentadorias, num momento de depressão econômica. O resultado é mais desemprego.

Sim, porque com custos em alta, por causa da inflação ainda elevada, e vendas em queda, por causa da recessão, as empresas precisam cortar custos, especialmente da folha salarial. Nos países normais, o sistema permite que se faça o ajuste preservando os empregos e perdendo nos salários e outros benefícios trabalhistas. Aqui, a pretexto de defender o trabalhador, se faz exatamente o contrário, o ajuste via desemprego. Entre os que mantêm seu emprego, até podem aumentos nominais, mas que a inflação acaba comendo. Ficamos assim com perda de emprego e de renda.

Nessas circunstâncias, não há como recuperar a confiança de consumidores e de empresários, o que impede a retomada de consumo e investimentos. Também sabemos que as medidas que poderiam ajudar dependem, e muito, do Congresso, ali onde há 99 parlamentares investigados, incluindo os presidentes da Câmara e do Senado.


Daí muitos economistas estarem dizendo que, desse jeito, a melhor coisa que pode acontecer é parar de cair e ficar estacionado no fundo do poço, esperando o quê?
Uma mudança política. A consultoria MB Associados fez a conta: com Dilma, a recessão vai a 4,9% neste ano, sem recuperação em 2017. Sem Dilma e com um governo comprometido com os ajustes, a recessão deste ano cai para 3%, com perspectiva de recuperação em 2017.

Fonte: Carlos Alberto Sardenberg,  jornalista - O Globo