a matéria que não foi dada pode ser socada em cima dos alunos, em forma de ensino “condensado”, quando as escolas voltarem a funcionar, mas uma hora perdida é uma hora perdida. Não há como criar o tempo de novo.
Tudo o que esses 50 milhões de jovens não
precisam, hoje ou em qualquer época, é perder um ano de escola. São os
mais pobres – e, portanto, a imensa maioria – e os que mais precisam
adquirir conhecimento para ter alguma oportunidade objetiva de levar uma
vida melhor que a dos seus pais. Como observou um editorial recente de O Estado de S. Paulo,
citando palavras do secretário-geral da ONU, não há nenhuma esperança
de se reduzir as desigualdades sociais, econômicas e culturais sem
fornecer educação de qualidade aos jovens – é aí que está “o grande
equalizador”.
Não há distribuição de dinheiro, ou de casas, ou de “quotas” capaz de substituir o avanço que a educação pode trazer para a condição social de um ser humano;
não há “programas sociais”, nem “políticas públicas”, com a potência que uma boa instrução tem para possibilitar o acesso ao trabalho mais bem remunerado, às oportunidades de realização pessoal e ao conjunto de condições que compõem uma existência distante da pobreza.
A perda do ano letivo de 2020 é com certeza uma das piores notícias que a questão social poderia receber no Brasil de hoje. Não há nenhum causador mais efetivo de pobreza, desigualdade, concentração de renda e injustiça do que a falta de instrução que castiga a maioria da população brasileira. Num país em que a atividade econômica está sofrendo como nunca, e continuará a sofrer nos próximos meses, a distância entre os brasileiros vai se tornar maior ainda do que já é. Não apenas os jovens das classes mais modestas sofrem um prejuízo real e imediato. Os alunos das escolas particulares, de um jeito ou de outro, vão acabar aprendendo mais durante este período de desgraça – e o fosso, em vez de diminuir, vai crescer.
Ouve-se
falar muito, desde o início da paralisação trazida pela epidemia, da
utilização de novos métodos de ensino, baseados no computador, que
permitam um ensino a distância mais efetivo; fala-se em “inclusão
digital”, “escolas virtuais” e outros portentos.
Mas isso tudo, na vida real, tem significados diferentes de acordo com o dinheiro que as pessoas têm no bolso.
“ensino remoto” é uma coisa para a moçada que está em escolas particulares onde se cobram mensalidades de R$ 5 mil, ou por aí. Para a massa dos estudantes da rede pública é completamente outra.
As duas realidades não têm praticamente nada a ver entre si.
Como ensinar por computador alguém que não tem computador?
Como dar aulas pela internet onde não há internet?
De novo: está se falando de 50 milhões de alunos. Não há a menor possibilidade de que seja mantida a distância, já muito grande, que os separa dos que estudam na rede particular. Ela vai ficar muito pior, e a conta vai aparecer no futuro.
J.R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo
Não há distribuição de dinheiro, ou de casas, ou de “quotas” capaz de substituir o avanço que a educação pode trazer para a condição social de um ser humano;
não há “programas sociais”, nem “políticas públicas”, com a potência que uma boa instrução tem para possibilitar o acesso ao trabalho mais bem remunerado, às oportunidades de realização pessoal e ao conjunto de condições que compõem uma existência distante da pobreza.
A perda do ano letivo de 2020 é com certeza uma das piores notícias que a questão social poderia receber no Brasil de hoje. Não há nenhum causador mais efetivo de pobreza, desigualdade, concentração de renda e injustiça do que a falta de instrução que castiga a maioria da população brasileira. Num país em que a atividade econômica está sofrendo como nunca, e continuará a sofrer nos próximos meses, a distância entre os brasileiros vai se tornar maior ainda do que já é. Não apenas os jovens das classes mais modestas sofrem um prejuízo real e imediato. Os alunos das escolas particulares, de um jeito ou de outro, vão acabar aprendendo mais durante este período de desgraça – e o fosso, em vez de diminuir, vai crescer.
Mas isso tudo, na vida real, tem significados diferentes de acordo com o dinheiro que as pessoas têm no bolso.
“ensino remoto” é uma coisa para a moçada que está em escolas particulares onde se cobram mensalidades de R$ 5 mil, ou por aí. Para a massa dos estudantes da rede pública é completamente outra.
As duas realidades não têm praticamente nada a ver entre si.
Como ensinar por computador alguém que não tem computador?
Como dar aulas pela internet onde não há internet?
De novo: está se falando de 50 milhões de alunos. Não há a menor possibilidade de que seja mantida a distância, já muito grande, que os separa dos que estudam na rede particular. Ela vai ficar muito pior, e a conta vai aparecer no futuro.
J.R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo