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sexta-feira, 29 de julho de 2016

INsegurança total - Acesso livre no Engenhão - Repórter entra sem ter credencial checada e sem revista no Engenhão

Além disso, acessou locais como uma central de geradores de energia

Longe dos holofotes, já que é a chegada das delegações à Vila dos Atletas, na Barra, que atrai os olhares do mundo inteiro, o Estádio Olímpico, no Engenho de Dentro, vem tendo dias de extrema calmaria. E tudo indica que o clima de tranquilidade contagiou os responsáveis pela vigilância da arena, que relaxaram na revista de quem chega ao local. Na quinta-feira pela manhã, passei quase duas horas circulando pelo Engenhão sem ser abordado por agentes da Força Nacional. Posso dizer que foi fácil me aproximar de pontos que deveriam ser muito bem protegidos, como uma central de geradores de energia, que, contrariando regras de segurança, não está em um local isolado de pessoas sem envolvimento com a organização dos Jogos. 
 A maior parte dos agentes da Força Nacional estava concentrada nas entradas do estádio, que será palco de jogos de futebol já a partir da próxima quarta-feira, antes mesmo da cerimônia de abertura dos Jogos, no dia 5, no Maracanã. O Engenhão também terá provas de atletismo. Por enquanto, nada de corridas: dá para caminhar e tirar fotos no setor chamado de nível zero, onde ficam os vestiários dos atletas e árbitros e o espaço de controle de doping. 

Na quinta-feira também foi possível entrar a pé na garagem, onde estão os caminhões que transportaram toda a parafernália eletrônica que será usada na transmissão das partidas de futebol e provas de atletismo. Em uma área externa, não tive problemas para chegar perto de geradores de energia (protegidos por grades) e descobri a exata localização de um lounge no qual atletas vão descansar entre as competições. Até fiz selfies na pista onde correrá o jamaicano Usain Bolt, talvez a principal estrela da Olimpíada do Rio. 
 Enquanto passeava pelo Engenhão, o Exército simulava ações de combate ao terrorismo nos estádios Mané Garrincha, em Brasília, e Itaquerão, em São Paulo, que também sediarão partidas de futebol. Na arena do Rio, o cenário era bem diferente. Houve um momento em que pensei que seria abordado. Perto dos geradores, ouvi a voz de um soldado e me virei. Na verdade, ele falava ao celular, querendo saber de um oficial quando chegariam 50 refeições para o almoço da tropa. Desejei a ele um bom dia, não recebi resposta e continuei a caminhada sem ser importunado.

PASSAGEM RAPIDAMENTE LIBERADA
Andei cinco quilômetros no estádio, distância registrada por um passômetro. A única vez em que tive de me reportar a um agente da Força Nacional foi na chegada ao acesso da Rua José dos Reis. Fiquei surpreso com a facilidade para entrar na arena. Encontrei aparelhos de raios X e detectores de metais, mas nenhum estava funcionando. Não houve revista. Mostrei minha credencial e me identifiquei como repórter, esperando que a autenticidade do documento fosse checada eletronicamente, como costuma acontecer em instalações olímpicas. Mas tive a passagem liberada após uma rápida olhada de um policial.
Já dentro do Engenhão, pensei: “E se eu fosse alguém que tivesse adulterado uma credencial?”. Dezenas de voluntários e funcionários de empresas prestadoras de serviços entraram no Engenhão na mesma hora, e, em todos os casos, o controle no acesso foi superficial.

Eu estava com uma máquina fotográfica, dois celulares, chaves, um controle remoto de garagem, um bloco para anotações e uma caneta. Ainda perguntei para um agente se queria que eu retirasse dos bolsos os objetos que levava. “Não, não precisa”, afirmou ele. Então, fui em frente, percorrendo não apenas áreas que deveriam ser de acesso restrito, mas também corredores que ainda têm montes de entulho de obras e até substâncias inflamáveis, como latas de tinta.


Se a Força Nacional falhou, o mesmo ocorreu com integrantes do Comitê Rio 2016. No nível zero, eu era o único circulando por ali sem uniforme. Uma voluntária me abordou, mas para perguntar se poderia me ajudar em algo, já que eu parecia “perdido”.  — Como faço para chegar ao campo de futebol, à pista de atletismo? — questionei.
Ela me respondeu, sem mostrar preocupação:  — Vire à direita no corredor, siga uns 200 metros até um cavalete e vire de novo à direita.

O Comitê Rio 2016 negou, por meio de sua assessoria de imprensa, que tenha havido falha na fiscalização das credenciais ou no esquema de segurança. A entidade afirmou que é possível atestar a autenticidade das credenciais sem equipamentos, já que as originais têm um selo holográfico emitido pela Casa da Moeda. O comitê também destacou que o Engenhão ainda não passou pela checagem final de segurança, quando terá áreas bloqueadas. A Força Nacional e a prefeitura (o município é proprietário do estádio) não se pronunciaram.

NO PARQUE OLÍMPICO, RIGOR
Entrar no Parque Olímpico da Barra exige disposição e paciência. A revista é minuciosa, e o caminho até o acesso principal lembra uma corrida com barreiras, cheia de grades a serem ultrapassadas até que o último portão de ferro fique a apenas um passo de distância.  Quando os primeiros obstáculos são vencidos, chega o momento da leitura eletrônica da credencial. No Main Press Center (MPC), o centro de mídia, a rotina é a mesma em relação à checagem da documentação.


Após a credencial ser reconhecida, é chegada a hora da revista física. Mochilas, bolsas e sacolas devem ser colocadas em esteiras de raios X, um procedimento semelhante ao adotado em aeroportos. A segurança de cada cabine de revista é feita por homens da Força Nacional, com o auxílio da empresa de segurança privada Sunset. No primeiro dia de funcionamento do MPC, os funcionários da companhia receberam orientações para prestar apoio, obedecendo a critérios estabelecidos pela autoridade de segurança federal.

Dentro do Parque Olímpico, algumas instalações ainda passam por retoques. No Estádio Aquático, na quarta-feira, foi possível chegar a poucos metros da piscina de competição. No entanto, quem circula pelas instalações é abordado a todo momento por voluntários e funcionários do Comitê Rio-2016 que estão sempre acompanhados por seguranças da Sunset ou agentes da Força Nacional.

Fonte: O Globo