O Globo
Oficiais do Comando de Operações Especiais atravessaram a última semana
tentando decifrar o significado de palavras ditas por Jair Bolsonaro
durante uma celebração dessa unidade do Exército: “Feliz é o país que
tem umas Forças Armadas e forças auxiliares comprometidas com a
democracia, mesmo com sacrifício da própria vida ou com a destruição da
própria reputação.” Como não explicou, oficiais não entenderam esse
suicídio institucional.
A dúvida tem origem na ocasião do discurso, o 17º aniversário do Comando
de Operações Especiais, criado em 27 de junho de 2002. Até então,
existia um destacamento, cuja ação mais relevante ocorrera no Araguaia
nos anos 70: o massacre de um grupo terrorista do PCdoB. Se era a isso
que se referia, ele se tornou o primeiro presidente a reconhecer essa
carnificina como devastadora para a imagem do Exército na ditadura. Numa perspectiva benigna, pode-se tomar a retórica pelo que parece ser, a
performance ilusionista de um personagem político cevado na banalização
da violência e na louvação a ícones dos porões da ditadura — antítese
do profissionalismo militar.
Convicto da caricatura política que criou e legitimou nas urnas,
Bolsonaro parece ter esquecido quem é na vida real: “Deixei o Exército
em 1988”, recordou no discurso, “e estou muito feliz com tudo aquilo que
aconteceu, mesmo com algo um tanto quanto esquisito lá atrás.” Esquisito, anormal, foi o comportamento do capitão Bolsonaro 32 anos
atrás, ao se envolver num plano para explodir bombas em quartéis, como
registram os arquivos do Exército e do Superior Tribunal Militar. O
objetivo seria causar pânico para justificar um aumento de salário da
tropa. [os arquivos do Superior Tribunal Militar também registram a ABSOLVIÇÃO do capitão Jair Bolsonaro de todas as acusações.
Julgamentos realizados com isenção, absolveram o capitão das acusações que estão mais para folclore ou má fé.
Nos repetimos, ao lembrar que quando se trata de soltar o presidiário Lula até supostas conversas que em nada comprometem o processo (que já foi objeto de recursos em todas as instâncias, até um comitê de boteco da ONU foi acionado pelo criminoso petista) são apontadas como capazes de anular processos;
já uma decisão da instância máxima da Justiça Militar da União, absolvendo o capitão por falta de provas, é transformada em 'não culpado' - transformação inútil, já que não culpado é necessariamente absolvido - por formalidades.
FATO indiscutível é que o presidente Bolsonaro precisa além de um porta-voz, também de ter seus discursos revisados - ele esquece que uma frase sempre pode ser interpretada de forma a ter significados diversos.]
O Exército o prendeu e processou e até o impediu de receber o diploma de
um curso, entregue em casa. Detalhes estarão disponíveis na próxima
semana em livro do repórter Luiz Maklouf. O tribunal o considerou “não
culpado” por formalidades. Um dos juízes do STM, José Luiz Clerot, ponderou: “Nem cem punições a um
oficial não chegam aos pés de uma só das violações éticas desse capitão
Bolsonaro.”
O presidente tenta reescrever a própria história.
O Globo - José Casado, jornalista