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quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A vaca indo para o brejo



Que a vaca está indo para o brejo, não há dúvida. A questão é saber a velocidade da vaca e a distância do brejo. A frase não é minha, é do Boni (José Bonifácio de Oliveira Sobrinho) quando analisa uma situação limite para saber se há ainda chance de recuperação.

Roubo dele a imagem agrícola para falar do nosso momento político, mesmo por que as imagens agrícolas são muito comuns aos políticos de Brasília, que cunharam outra delas para explicar momentos de transe como o que vivemos: está de vaca não reconhecer bezerro, dizem com frequência nos últimos dias.

É de momentos de crise assim que podem surgir soluções imaginosas, desde que existam políticos à altura da sua gravidade. Por isso, num extremo, o vice-presidente Michel Temer disse aquela frase temerária que até hoje lhe custa a desconfiança do Palácio do Planalto. Sim, é preciso que surja alguém que possa reunificar o país, mas os que estão à mão têm resistências.

 Temer não é um Itamar, e apoiá-lo custa mais politicamente. O PSDB refuga diante da possibilidade de que novas delações do Lava-Jato possam levar por água abaixo sua pose de estadista. Menos por ele, mais pelo partido, que tem em Fernando Baiano um delator perigoso e dono de segredos de parcela importante do PMDB. Consta que, na véspera de romper com o governo e tentando fazer com que o PMDB viesse junto, Eduardo Cunha disse a Temer: “O próximo pode ser você”. Temer refutou a ideia, como impossível.

Mais grave ainda é a linha sucessória, que de uma vez só enfileira Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Por uma desses azares da sorte, um dos dois pode amanhecer um dia na presidência da República, possibilidade que assusta os menos acostumados aos ares de Brasília, onde tudo é possível.

O ambiente de vaca não conhecer bezerro é definido pelo feio hábito de morder e assoprar que tomou conta do jogo político, que acontece muito quando ninguém confia em ninguém. O próprio PT foi protagonista desse comportamento quando colocou no ar um programa de propaganda agressivo contra a oposição e os setores da sociedade que estão contra o governo, dias depois de o ministro do Gabinete Civil Aloísio Mercadante ter elogiado o PSDB e sugerido um pacto político.

Ontem, a própria presidente Dilma Rousseff, do alto de seus 7% de apoio, voltou a agredir os tucanos, lembrando que “no tempo deles” faltava luz, e ela fingia estar novamente reduzindo a conta de luz dos brasileiros. Do Programa de Investimento em Energia Elétrica lançado ontem, por meio do qual o governo federal contratará R$ 186 bilhões em investimentos novos de geração e transmissão elétrica entre agosto de 2015 e dezembro de 2018, a maior parte está prevista para depois do término do mandato oficial dela.

No mesmo dia, o presidente do Senado, Renan Calheiros, que havia se apresentado ao país como o ponto de equilíbrio entre as necessidades do Estado e o destrambelhamento da Câmara, diz que o programa de desenvolvimento que apresentou não significa “uma mão a um governo efêmero e falível”.

A proposta é feita, na sua maioria, de projetos que já estão tramitando no Congresso, e o recurso de agrupá-las num pacote com embrulho novo já foi usado pela presidente Dilma quando as primeiras manifestações de rua sacudiram o governo. Nada aconteceu. Um dia após o outro, uma delação depois da outra, vamos ver o que acontece, se é possível evitar o brejo. No momento atual da nossa política, “a mão que afaga é a mesma que apedreja”.

Correção
Na coluna de terça-feira, me referi indevidamente a “consultorias” de Lula. O ex-presidente nunca fez oficialmente consultorias, mas sim palestras, e aproximações de empresas brasileiras com governos estrangeiros, que estão sob investigação do Ministério Público de Brasília para ver se configuram tráfico de influência. 

Fonte: Blog do Merval Pereira