São Paulo conseguiu reduzir os índices de homicídios. Pernambuco
também, entre 2006 e 2013, mas depois os assassinatos voltaram com
força. O que ocorreu?
É uma situação alarmante não só em Pernambuco, mas no Nordeste todo.
Esses estados não estavam preparados para a expansão do crime
organizado, que migrou para lá a fim de explorar as fragilidades
existentes por meio de alianças com facções locais. O Nordeste precisa
passar por esta fase de adaptação, o que exige uma política nacional.
Hoje os estados não conseguem sozinhos fazer todo o financiamento da
segurança pública.
O senhor afirma que os estados não aplicam parte dos recursos que recebem. Como evitar esse erro?
Algumas vezes existe retardo na aplicação de recursos. Acredito que
isso se deve a diferentes razões. Algumas vezes troca-se o governo ou o
secretário, outras vezes, falta conhecimento técnico para aplicar o
recurso. Alguns projetos estão parados. Na área penitenciária, entre
2016 e 2017, cerca de R$ 1,2 bilhão ficaram sem uso.
(...)
O aumento da população carcerária não serve apenas para alimentar as facções criminosas?
O problema não é prender muito ou não. O problema é prender quem
precisa ser preso. E que o criminoso de fato cumpra a pena. Temos um
problema sério de execução penal, com condenados que integram o crime
organizado ficando pouco tempo na cadeia. Há o caso da pessoa [Suzane
Richthoffen] que matou os pais e foi liberada no Dia dos Pais. Pode ser
legal, mas agride a sociedade pela sensação de impunidade que gera.
A corrupção em presídios e nas polícias não seria o maior obstáculo?
Alguns dos grandes líderes das facções seguem presos e comandando seus
negócios.
É o problema da execução penal. O sistema carcerário deveria
funcionar. A corrupção não afeta só as prisões. Ela atinge a sociedade
em geral, como um câncer. Um ex-governador está preso [Sérgio Cabral].
Qual a razão da prisão? Havia corrupção e crime organizado em nível
governamental para pegar dinheiro de dentro das instituições públicas. A
penalização precisa começar por cima. O Brasil precisa de exemplos.
(...)
Existe alguma forma de minimizar a morte de PMs?
Os números são inaceitáveis para qualquer sociedade civilizada. O
policial representa a legislação que estrutura a sociedade. O policial
[fora de serviço], quando identificado, é morto. Para resolver, só com
autoridades e instituições fortes. A legislação precisa ser alterada, o
judiciário precisa se envolver na execução e na aplicação das leis. A
polícia paga o preço de uma deterioração de todas as demais áreas.
Controlar a entrada de armas e drogas pelas fronteiras é uma missão impossível? O que é necessário para amenizar o problema?
Não. Estamos fazendo muita coisa. Em junho, quando começamos a
implementar algumas medidas no Rio de Janeiro, ao mesmo tempo fizemos
ações ao longo de nossas fronteiras terrestres, por onde passam grande
parte das drogas e armas. Também atuamos nos eixos que vêm dos estados
do Sul e do Mato Grosso do Sul, chegando ao Rio por quatro grandes
rodovias federais. É possível vigiar as fronteiras sim. Para tanto é
preciso integração. Fizemos levantamentos em dezesseis pontos. A Polícia
Rodoviária Federal, junto com a PF, Força Nacional e as polícias
estaduais, tem a Operação Égide, que apoia as ações no Rio. Desde 10 de
julho foram detidas 11,2 mil pessoas, 4 toneladas de cocaína e crack
foram apreendidas, junto com 775 armas de fogo e 126 mil cartuchos de
munição, além da recuperação de 2,5 mil veículos roubados. Mesmo assim,
há necessidade de fechar mais as nossas fronteiras.
Qual a razão da letalidade fora de controle no Brasil?
É uma deterioração social. O crime vulgarizou a violência. É algo que
vem de longo tempo e que piorou com as organizações criminosas. As
disputas de facções por controle do comércio de drogas e outras
atividades nos leva ao nível da barbárie. Tudo isso é resultado da
ausência e do atraso do poder do Estado em se adaptar a essa nova
situação.
A criação de uma força nacional de intervenção permanente no Rio de
Janeiro traria vantagens no combate ao crime e à entrada de armas
ilegais na cidade?
Não acho que solução seja essa. Temos é que estruturar os órgãos
existentes. ...
(...)