O ex-premier Pedro Santana Lopes (2004-2005) fundou o partido Aliança em
outubro de 2018. Com campanha publicitária, cobertura dos meios de
comunicação e explorando o espaço deixado pela inclinação ao centro do
principal partido conservador — o Social Democrata (PSD), cujos
dirigentes evitam se declarar publicamente de direita —, Lopes atraiu
políticos da sigla como Virgílio Costa, que tinha mais de 40 anos na
legenda.
CHANCE NA ELEIÇÃO EUROPEIA
Lopes convidou para vice-presidentes da agremiação a advogada da
Madonna, Ana Pedrosa-Augusto, e um professor de ciência política, Bruno
Ferreira Costa, ambos jovens e bem-sucedidos. Ao lado do experiente
político, os novatos têm suas fotos estampadas em outdoors nas ruas das
principais cidades com o slogan do Aliança: “Um país às direitas.”
—Percebemos que as novas gerações já assimilam uma direita moderna, que
não é reacionária ou retrógrada, mas capaz de acreditar na liberdade
econômica. Assumimos publicamente que estamos à direita, sim, mas longe
dos extremos — declarou Lopes, que salpica as frases com expressões em
inglês.
O Aliança se apresenta como “low-cost, high profile e paper free”
(de baixo custo, alto perfil na mídia e sem burocracia). Entre os
pilares do seu estatuto estão a “liberdade de educação e o papel da
família enquanto célula estruturante, liberdade econômica e iniciativa
privada”. A sigla tem recrutado com campanhas no Facebook e no Instagram
e usa fotos de modelos para atrair militantes, que podem contribuir com
até €10,4 mil ao ano e devem ajudar na divulgação da captação de
recursos via crowdfunding. Somos um partido do século XXI com aderência de bons quadros junto aos segmentos high tech e de startups —disse Lopes.
Nas eleições para o Parlamento Europeu, em maio, o partido tem a chance
de eleger um deputado. Paulo de Almeida Sande, ex-assessor do presidente
Marcelo Rebelo (PSD), tem 4% das intenções, segundo o Eurosondagem. O
outro objetivo é disputar as eleições para a Assembleia da República, em
outubro, e, caso obtenham sucesso, negociar coligação de oposição com o
PSD e o CSD-Partido Popular (PP). Candidato a estrela do partido, Bruno Ferreira Costa acredita na
falência da geringonça no segundo mandato, para o qual António Costa
deverá se reeleger, como indicam as pesquisas. —Vivem de aparência, por
que são vários os problemas no país. Na União Europeia, Portugal tem que
ter uma posição de exigência e não de obediência —disse o professor.
Para o cientista político José Adelino Maltez, Portugal entrou na fase
de arrumação do tabuleiro pré-eleitoral para a ocupação do vazio à
direita. O interessante será observar se haverá fragmentação nas
Legislativas ou se a polarização PS versus PSD será mantida. Com o
crescente avanço dos partidos de direita e extrema direita pela Europa,
ele faz um alerta. — Um populismo equivalente ao francês ou espanhol ainda não surgiu
porque o fascismo português é covarde e não se recompôs desde o fim da
ditadura. Mas já há um ou outro com discurso contra os imigrantes, os
ciganos. Por enquanto, não parecem ter força intelectual ou financeira,
mas cedo ou tarde isso vai acontecer. Quando o PSD diz que não é de
direita, retoma posição ao centro para tirar votos do PS. E há um
arranjo do cenário e disputa para obter aqueles votos à direita —disse
Maltez.
Nas pesquisas para as eleições europeias, foi registrada a manutenção da
maioria de centro-direita do Partido Popular Europeu, no qual estão o
PSD e o CDS-PP (183 lugares). O grupo dos Socialistas e Democratas, do
qual faz parte o PS, mantém a segunda maior bancada, com 135 deputados. O
grupo de extrema direita Europa das Nações e das Liberdades (ENF),
formado pela União Nacional de Marine Le Pen e pela Liga Norte de Matteo
Salvini, sobe para 59, 22 a mais que os 37 atuais.
CONEXÃO COM O BRASIL
Ao constatar a tendência de crescimento do bloco de extrema direita,
José Pinto-Coelho não sai do Facebook e sonha em eleger, pela primeira
vez, um deputado europeu. Presidente do Partido Nacional Renovador (PNR)
— sigla fundada em 2000 que nunca elegeu representantes e teve 0,18%
dos votos na eleição geral de 2015 —, diz que pretende se candidatar por
Lis boa em outubro. Para tirar partido da onda que levou à eleição de
Jair Bolsonaro, Pinto-Coelho criou esta semana a página PNRBrasil no
Facebook: —Somos o único sem complexo de politicamente correto. Porque os outros
são uma direitinha morna que a esquerda dominante permite e que lhe
convém. Somos contra a imigração permissiva, não queremos uma Europa
muçulmana, não defendemos bandido e só reconhecemos o sexo homem e o
sexo mulher.
Ele, que viveu no Brasil por três anos, explica a estratégia das campanhas:
—Tivemos 15 mil votos nas últimas europeias. Temos que crescer dez
vezes. Não é impossível graças ao que fizeram Bolsonaro, Trump, Salvini,
o Vox espanhol. Mas se chegarmos a 50 mil votos, será um trampolim para
as legislativas, onde, com 20 mil votos, chegarei ao Parlamento.
Pinto-Coelho diz que recebe centenas de mensagens da direita brasileira.
Depois que o EX-deputado do PSOL e ex-bbb renunciou ao mandato e saiu
do Brasil devido a ameaças, ele organizou o protesto “Jean Wyllys não é
bem-vindo em Portugal”. Diz acreditar que o ex-parlamentar brasileiro,
convidado a dar palestras na Universidade de Coimbra no mês passado, é
um dos símbolos do “marxismo cultural”: — Está enraizado nas escolas, nos meios de comunicação e no sistema.
Isto é o sistema. Para eles, a direita é ódio. E a esquerda, a
tolerância.
André Ventura já foi do PSD e é o fundador do Chega, na fase de
formalização, mas já com as assinaturas necessárias para a aprovação.
Defende a castração de pedófilos e declarou que a etnia cigana viveria
de subsídios estatais. Seu partido deverá formaruma frente para as
europeias com o Partido Popular Monárquico (PPM), o Partido Cidadania e
Democracia Cristã (PPV-CDC) e o movimento Democracia 21. Em 2017, também
foi criado o Iniciativa Liberal (IL).
Gian Amato - O Globo