Troca de tiros. Ou execução pura e simples
Troca de tiros. Ou execução pura e simples
Deixa ver
se entendi. Setenta policiais do BOPE baiano, tropa de elite bem
treinada, cercaram o miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega num espaço
de vaquejadas no município de Esplanada. Uma semana antes, ele escapara
ao primeiro cerco na Costa do Sauípe. Ao escapar também do segundo,
refugiou-se numa casa acanhada de um vereador do PSL a 8 quilômetros de
distância.
A casa, abandonada,
ficava numa área isolada. Sem vizinhos. Só com o descampado à vista. Um
conhecido de Nóbrega deu o serviço à polícia e ela cercou o miliciano
pela terceira vez. Ele estava sozinho, mas, segundo a Secretaria de
Segurança Pública da Bahia, portava um fuzil e uma pistola, além de 13
celulares. Teria reagido à prisão disparando contra os policiais. Acabou
morto.
A acreditar-se na versão
oficial, Nóbrega chegou a ser levado ainda vivo para o hospital de
Esplanada e, ali, morreu. Uma fonte da direção do hospital informou que
ele chegou por lá já morto. Ao removê-lo do local onde teria se dado o
tiroteio, a cena (ainda não chamemos “do crime”) foi alterada. Dela,
além de mancha de sangue, deve ter ficado buracos de bala nas paredes.
[causa estranheza que em várias fotos publicadas na imprensa, são mostrado vários objetos, inclusive fotos da cama com sangue nos lençóis, também são mostradas armas, que estavam com o ex-capitão;
mas, não são mostradas cápsulas das balas, disparadas por Adriano - item comum em cenas de tiroteios envolvendo pistolas.
Sendo um 'expert', atirador treinado, ele certamente portava mais de um carregador, ensejando maior número de disparos, que, estranhamente, não produziram nenhuma cápsula.
Existem meios que impedem que as cápsulas se espalhem após ejetadas e, se usadas, deixariam outras pistas, que também não foram encontradas - ou foram sumidas.]
Não se sabe ainda. Como
não se sabe, três dias depois, se foram recolhidas capsulas das balas
disparadas pelos policiais e por Nóbrega no ato de reagir à prisão.
Seria melhor dizer: à execução. Porque se fosse para prendê-lo, um homem
solitário em uma casa completamente isolada, os policiais poderiam ter
agido de outra maneira. Poderiam tê-lo avisado sobre o cerco e esperar.
O que restaria a Nóbrega,
cercado, apenas com um fuzil e uma pistola, a não ser se entregar?
Salvo se preferisse morrer. Digamos que ele estivesse disposto a
resistir e a disparar toda a munição que dispunha. Muito bem: depois da
última bala, seria forçado a render-se. Mas, não. Os policiais invadiram
a casa e o mataram. Nóbrega era caçado como alguém que tinha muito que
contar.
Com ele, morreram os
preciosos segredos que guardava. [caso os guardasse.] Segredos que lhe seriam úteis na hora
de negociar uma delação em troca do prêmio de uma sentença menos dura.
Quem ganhou com a sua morte? A quem interessava, de fato, que Nóbrega
fosse morto? Só a polícia do Rio e o Ministério Público poderão
responder. É de duvidar que respondam tão logo. Ou mesmo um dia.
Blog do Noblat - Ricardo Noblat, jornalista - VEJA