O setor energético está para viver mais uma confusão. O governo
colocou a leilão seis distribuidoras de energia da Eletrobras, mas a
Câmara não aprovou o PL que daria segurança jurídica à venda. Com isso,
elas podem ser liquidadas, o que é mais fácil falar do que fazer. Como
seria deixar dois estados do Nordeste e quatro do Norte sem uma empresa
de energia? Ninguém sabe porque nunca aconteceu.
O governo tentou aprovar a urgência no projeto que facilitaria a
privatização dessas concessionárias, mas não conseguiu. As concessões já
venceram e foram renovadas até 31 de julho. Durante o debate do
assunto, o governo disse que ou venderia ou simplesmente as liquidaria. E
agora? — Ninguém sabe ao certo porque é uma situação inédita. Nunca
aconteceu no Brasil de uma concessionária que presta serviço público ser
liquidada — diz Edvaldo Santana, presidente da Associação dos Grandes
Consumidores de Energia (Abrace).
Essas concessionárias provocam prejuízo de R$ 220 milhões por mês, R$
2,4 bilhões por ano. São as dos estados de Sergipe e Alagoas, Amazonas,
Acre, Rondônia, Piauí e Roraima. De todas, a que tem o maior rombo é a
Amazonas Energia. O governo pensou em privatizá-las por um preço
simbólico com o compromisso, pelo comprador, de investir. No caso da
liquidação, a Eletrobras tem que lançar a prejuízo R$ 20 bilhões, mas o
mais importante é o que acontece depois. — Liquidar é o governo pegar de volta a concessão e deixar a empresa sem receita — diz Santana.
Parece completamente inviável. O governo deixaria um terço do
território, 13 milhões de brasileiros sem uma empresa responsável pelo
fornecimento de luz? A melhor opção talvez seja baixar outro decreto
cobrindo este custo anual e deixar isso ser resolvido pelo próximo
governo. Aprovar o projeto no Congresso da privatização dessas
concessionárias era o primeiro passo para privatizar a própria
Eletrobras. O projeto que está no Congresso, e que não foi votado, nem conseguiu a
aprovação de urgência, permitiria resolver inúmeras pendências
complexas, como compatibilizar o prazo de concessão, com o prazo de
outorga das usinas termelétricas, e do gasoduto Urucu-Coari-Manaus. A
maior das dificuldades é a Amazonas Energia que, em qualquer cenário,
vai obrigar a Eletrobras a assumir uma parte do passivo.
O setor de energia no Brasil é uma sucessão inacreditável de
confusões, prejuízos, regulação errada, má gestão e ocupação política de
cargos. O que animou o mercado, quando se falou na venda de ações que
faria o Estado perder o controle da Eletrobras, foi a esperança de
acabar com décadas de nomeação política e má gestão na estatal de
energia. A Eletrobras chegou a valer R$ 46 bilhões em 2010. Durante o governo
Dilma, a perda foi progressiva, mas ela desabou mesmo após a aprovação
da MP 579, de setembro de 2012, que mudou o marco regulatório do setor e
obrigou a Eletrobras a aceitar contratos que eram lesivos aos
interesses da empresa. No ano seguinte, chegou a valer apenas R$ 7
bilhões. A partir de 2016, com a perspectiva do impeachment, e, depois,
com nova gestão, ela foi recuperando valor e chegou a R$ 35,6 bilhões.
Nos últimos meses, com a possibilidade de aprovação ficando mais remota,
ela voltou a cair na bolsa e hoje vale R$ 18 bi, segundo a Economática.
O que fazer com as distribuidoras é só um dos vários problemas que
ainda aguardam solução. O próximo governo terá que começar a consertar
erros que ficaram de gestões passadas e procurar caminhos para tornar a
regulação mais simples e o setor mais eficiente.
Blog Miriam Leitão - O Globo
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quarta-feira, 27 de junho de 2018
Enigma energético
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