Apesar da solidez dos fatos, o PT seguirá tentando criar atrito
Dora Kramer - Nenhuma dúvida razoável (Weberson Santiago/VEJA)
Lula promete melhorar o 'português' enquanto estiver em cana
Condenado por unanimidade em segunda instância, réu em mais meia dúzia de processos, o ex-presidente seguirá importunando o país. Perturbação cujo único objetivo é sustentar a ideia de que o PT vive e continuará sobrevivendo como se não carregasse o peso da decadência decorrente do desvio em que enveredou o partido. Desde que se iniciou a queda da máscara ética e politicamente renovadora sob a qual atuou o PT até a conquista da Presidência da República, os petistas tiveram várias oportunidades de se reinventar mediante franca autocrítica, a fim de levar a legenda de volta aos compromissos originais firmados há quase três décadas.
As sugestões nesse sentido foram rechaçadas. O partido
escolheu a beligerância; briga com os fatos e agride a
institucionalidade sem se importar com os danos imputados à sociedade e
os riscos à estabilidade institucional. Os votos dos
desembargadores foram de uma clareza absoluta. No conteúdo, pela
exposição didática da consistência dos autos em que se baseou o juiz
Sergio Moro para decidir pela condenação do ex-presidente, com o relato
minucioso das provas dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. Na
forma, pelo uso por parte dos magistrados de uma linguagem bastante mais
acessível à percepção dos cidadãos que aquela, hermética, adotada no
âmbito do Supremo Tribunal Federal.
Contrariamente ao que o PT pretende fazer crer quando reivindica para Lula lugar de honra no altar dos inimputáveis devido à importância política e social dele, os desembargadores afirmaram que a relevância do personagem serve como agravante para a punição da conduta ilícita. Em miúdos: quanto mais alta a posição, maior a responsabilidade em todos os aspectos da função pública e da condução na vida pessoal.
A despeito da realidade límpida e inquestionável, o PT não vai se render a ela. Inclusive porque, embora preferisse uma decisão por 2 a 1, a sentença unânime não foi uma surpresa para o partido. Fosse esperado outro resultado, seus dirigentes não teriam se dedicado nos últimos dias com tanto afinco a adotar posições de conflito e tentar incutir medo pela via da intimidação geral. A arenga do atrito, portanto, vai continuar. [o PT não tem condições de fazer muita coisa - exceto latir por alguns dias e após tentar melhorar a imagem do partido em alguns estados do Nordeste.
O que apavora o comando da corja lulopetista - inclusive a senadora e ré Gleisi Hoffmann, que ainda preside a organização criminosa - é perder o foro privilegiado; além da senadora e ré, ainda tem muito criminoso no partido e perder o foro é algo apavorante.
Outro motivo mais assustador, não tanto para os capas pretas que já guardaram algum para os tempos adversos, e sim para os militontos é a perspectiva de demissão maciça dos petistas que ainda estão pendurados em alguns órgãos públicos.]
A boa notícia é que resultará em nada. Não terá respaldo da opinião pública nem servirá para conquistar adeptos mesmo entre os ditos partidos de esquerda, que, de resto, já tratam de anunciar candidaturas à Presidência, num claro sinal de que a solidariedade a Lula tem limite. Quanto às ameaças de que as ruas iriam à luta por Lula, é o caso de lembrar Assis Valente no antigo samba: anunciaram e garantiram, mas o mundo não se acabou.