Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador português. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador português. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Enem nem - Alexandre Garcia

"Este Enem serve para se conhecer a que as novas gerações estão submetidas. Querem induzir nos jovens ideias prontas, em lugar de estimular a curiosidade, o estudo e a pesquisa", avalia jornalista

Fiquei assustado com a falta de clareza na prova de domingo do Exame Nacional do Ensino Médio, principalmente depois que o ministro da Educação, Camilo Santana, justificou que o MEC não tem responsabilidade pela elaboração das questões, pois foram feitas por "professores independentes". Ele já está lavando as mãos ante a péssima repercussão do que está contido nas provas.

Lecionei português no ensino médio por quatro anos e linguagem em faculdade de jornalismo, por outros quatro anos. Por isso estou assustado. A querida Dad Squarisi, que já não está entre nós, também se assustaria com a falta de clareza dos enunciados e das opções oferecidas.

Pelas amostras que vi, teria sérias dificuldades em responder à múltipla escolha, por não conseguir entender o que fora proposto e o que realmente estava sendo perguntado. Nem Caetano Veloso, autor de duas músicas sobre as quais pediam pontos comuns, foi capaz de responder — ficou indeciso entre as opções de respostas.

A bancada do agro no Congresso protestou contra o cunho político-ideológico com que a agricultura foi tratada, mas nem preciso entrar nessa questão polêmica. Aqui, no Correio, Luiz Carlos Azedo, no final da sua coluna "Esquerdismo contaminou questões do Enem sobre o agro", resumiu que três questões do exame foram "pautadas por esquerdismo anacrônico".

A militância política exposta na prova é Paulo Freire posto em prática. Não preciso entrar no conteúdo dos enunciados, nem das respostas sugeridas para me assustar com o futuro. Porque se professores redigiram essa prova, é porque eles estão se expressando, nas salas de aula, da mesma forma enrolada. Espero que sejam apenas burocratas que trabalham fora da sala de aula. Mas, se não, fico imaginando como comunicam suas idéias aos alunos, com tanta falta de clareza, de simplicidade, frases gigantescas, enroladas, obscuras. Neurônios caóticos.

Difícil compreensão
O tema da redação é um modelo disso: "Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil". Cruzes! O que seria isso? Lendo o trabalho exaustivo de muitos intérpretes, concluí que o tema seria "escreva sobre a profissional que também é dona de casa".

Pobre do aluno do curso médio, que precisou descobrir o que esses "professores independentes" queriam. O melhores exegetas e filólogos ainda não conseguiram traduzir "pragatização de seres humanos e não humanos", que está no texto usado para propor uma das questões.

Winston Churchill, quando tenente de cavalaria na Índia, em 1898, formulou a receita para escrever bem e se comunicar: "Das palavras, as mais simples; das mais simples, as menores". Em 1940, ele foi o primeiro a resistir ao exército nazista.

Suponho que discípulos de Paulo Freire nunca leram Churchill, embora ele tenha se aliado a Stálin para derrotar Hitler. Mais tarde, no Brasil, Chacrinha sentenciava nos auditórios: "Quem não se comunica, se trumbica!".

É o pessoal do "visualizar", do "disponibilizar", do "colocar", do "protocolizar" palavras quilométricas substituindo curtinhas, para terem tempo de encontrar a palavra seguinte da frase, na falta de vocabulário. 
Enfim, este Enem serve para se conhecer a que as novas gerações estão submetidas. 
Querem induzir nos jovens ideias prontas, em lugar de estimular a curiosidade, o estudo e a pesquisa. 
Não são ensinados a pensar nem a se comunicar.
 
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense

sábado, 28 de outubro de 2023

O lar brasileiro de hoje está pior do que no tempo da escravidão - Bruna Frascolla

Vozes - Gazeta do Povo

A concepção de humanidade com a qual o Brasil foi formado fez dele um lugar melhor.

A concepção de humanidade com a qual o Brasil foi formado fez dele um lugar melhor.| Foto: Victor Meirelles/Domínio público 

Em seu As sinhás pretas da Bahia: Suas escravas, suas joias (Topbooks, 2021), Risério desfaz muitos mitos das historiografias oficiais do Brasil. Um deles, ao qual se dá pouca atenção, é relativo ao casamento de escravos. Cito-o: “Até à década de 1970, à maneira de Florestan Fernandes, nossos historiadores e sociólogos consideravam impensável a ideia de que escravos tivessem formado unidades familiares estáveis e duradouras em nosso país. Hoje, reconhece-se que eles foram capazes não só de estabelecer a família nuclear como de articular a chamada 'família extensa'. Filhos e filhas de negros escravizados chegaram muitas vezes a nascer e crescer sob os olhares conjuntos do pai e da mãe. 
Para trazer à luz um só aspecto, escravos que se casavam, sob a bênção da Igreja Católica, deixavam o ambiente promíscuo da senzala e passavam a ter um canto só para eles, marido e mulher, acompanhados somente pelos filhos, no crescimento da família conjugal” (p. 93).
 
Ou seja, a narrativa segundo a qual a escravidão impedia os negros de formarem família é a enésima importação indevida da realidade norte-americana para analisar o Brasil. 
Nos EUA, sim, as famílias dos negros eram desmembradas à medida que o proprietário ia vendendo os escravos. 
Nos EUA, a alforria era fenômeno raríssimo, e um racismo de origem religiosa, profundamente arraigado, vedava aos negros quaisquer possibilidades de ascensão social por meio da integração.
 
A diferença entre nós e eles tem origem teológica. A Igreja Católica leva a sério a afirmação de que o homem, sem predicações raciais ou étnicas, é feito à imagem e semelhança de Deus.  
A diferença entre um índio canibal, um escravo africano e um português era que os dois primeiros ainda não receberam a boa nova e ainda não foram batizados. 
Uma vez batizados, todos eram igualmente filhos de Deus.
 
A racialização do cristianismo, ao menos na modernidade, começa com Lutero, que considerava os espanhóis indiscerníveis dos mouros, turcos e judeus
Lutero, como se sabe, era um tremendo antissemita no sentido literal do termo: odiava a descendência de Sem, que incluía árabes e judeus. 
A Península Ibérica, a seu turno, tinha muito sangue semita graças ao período que permaneceu sob o Califado Omíada.

    As crianças do mundo liberal vão se parecendo cada vez mais com as crianças da Romênia comunista, que foram largadas em orfanatos estatais depois de os dirigentes resolverem aumentar a natalidade a qualquer custo

Com o calvinismo, porém, inicia-se (e aprofunda-se) uma racialização em sentido oposto: com a doutrina da predestinação, Deus tem dentre os homens uns poucos eleitos. 
Reaviva-se, assim, a ideia primitiva e anti-universalista do judaísmo, segundo a qual Deus tem um único povo eleito, alguns filhos prediletos. Em Os judeus e a vida econômica, Werner Sombart considera que puritanismo é judaísmo (ao menos uma imitação), e recolhe evidências de que uma verdadeira adulação aos judeus surgiu na Inglaterra pouco após a chegada do séquito de sefarditas que acompanharam Catarina de Aragão. Menciona, por exemplo, que os levellers se referiam a si mesmos como judeus – coisa impensável tanto no mundo católico quanto no mundo luterano. 
E hoje vemos os descendentes dos puritanos na América bancando um Estado judeu como uma espécie de exclave sagrado no Oriente Médio.
 
O Destino Manifesto é outra emanação do calvinismo: Deus escolheu o povo que colonizou os EUA; e este tem direito a dominar o mundo. No mundo calvinista, o fiel pode dizer “nós, os eleitos”, e vós (resto do mundo), os rejeitados do Pai. 
É um convite à dominação do homem pelo homem e à desumanização do dominado. 
E isso se refletiu na história dos EUA, que mataram ou expulsaram do seu convívio todos os índios (que tinham, sob o México, uma boa relação), e consideraram os negros uma raça inferior, que deveria ou ser mantida escrava (segundo os sulistas escravocratas) ou deportada “de volta” para a África (segundo o Norte abolicionista).  
Com a vitória do Norte, criou-se a Libéria para deportar negros. Isso de deportar segundo a raça, como se vê, não foi invenção dos nazistas.
 
Apesar da difusão do ateísmo pelo ocidente pós-protestante, o espírito do calvinismo não morreu; em vez disso, tornou-se ainda mais materialista. Veja-se por exemplo o casal Collins, “que se identifica como calvinista secular, é particularmente atraído pelo princípio da predestinação, que sugere que certas pessoas são eleitas para serem superiores na Terra e que o livre arbítrio é uma ilusão. Acreditam que o pró-natalismo é uma consequência natural dos movimentos filosóficos que tomam o polos de tecnologia como as colinas de Silício em Austin, Texas.” Como vocês podem ler em português nesta Gazeta, o pró-natalismo do casal, e não só dele, se baseia na crença em QI.  
Desta maneira, pode-se até negar que se seja racista, já que existem negros com QI alto. 
Por outro lado, usa-se uma via secular para cultuar judeus do mesmo jeito, apontando-se o alto QI médio de judeus asquenazitas.
 
Mas o mais curioso, mesmo, é que (como apontei ano passado) essa crença na determinação do QI pela genética não se sustenta sequer cientificamente. 
Afinal, QI é uma junção de matéria (genética) e interação humana. 
Criar um ser humano não é a mesma coisa que preparar uma sopa Maggi. Os dados do QI de negros vêm dos EUA, onde tais famílias são especialmente desestruturadas. 
Por outro lado, as famílias asquenazitas são estruturadas. 
Resolver que a raça funda a diferença populacional é uma decisão arbitrária. 
Nos EUA, os negros foram submetidos a um exército de assistentes sociais voltados ao aborto e à dissolução da família; logo, era de esperar que o QI fosse mais baixo mesmo.

    Hoje, o que as Big Techs vêm consolidando é aquilo que na Idade Média se chamava de “comunismo de mulheres”: nenhum homem tem direito a uma mulher só sua, porque todas são socializadas

No século XXI, estamos, cada vez mais, virando aquilo que os negros eram nos Estados Unidos: os enjeitados de Deus, sob a opressão dos eleitos autoungidos. 
A queda de QI já é uma realidade generalizada e, até onde se saiba, inédita. 
E a explicação não é uma piora no stock racial; em vez disso, trata-se de redução das relações humanas na formação das crianças. 
As crianças do mundo liberal vão se parecendo cada vez mais com as crianças da Romênia comunista, que foram largadas em orfanatos estatais depois de os dirigentes resolverem aumentar a natalidade a qualquer custo.
 
Era mais fácil, portanto, um filho de escravos brasileiros casados esperar ter o pai em casa do que um filho das classes média e baixa de hoje
Agora deixemos as crianças e vejamos então o escravo negro adulto dos calvinistas: ele tinha direito a uma esposa? Não. 
A mulher tampouco tinha direito a um marido. 
Hoje, o que as Big Techs vêm consolidando é aquilo que na Idade Média se chamava de “comunismo de mulheres” (e que surgiu na Reforma protestante também, com João de Leyden): nenhum homem tem direito a uma mulher só sua, porque todas são socializadas. 
O resultado disso, num regime capitalista, é a prostituição universal
Para implementar isso, a propaganda progressista apelou para duas frentes: aos homens jovens, disse que seria muito bom ter uma porção de mulheres; às mulheres, disse que se não desejassem uma porção de homens, eram reprimidas e problemáticas. 
(Louise Perry abordou o assunto pouco tocado, que é a pílula ter deixado as namoradas sem um pretexto para dizer “não” sem magoar. As mulheres foram talhadas pela natureza para serem mais seletivas e, portanto, quererem menos parceiros sexuais do que os homens.)  
 
Acabar com a limitação do sexo ao âmbito do casamento foi relativamente fácil, com a pílula; e foi possível tocar a sociedade com famílias estruturadas assim. Primeiro os casais namoravam (com sexo), depois casavam. Mas o que estamos vendo agora é, também, o fim do namoro.  
Os rapazes são seduzidos pela ideia de que podem ver qualquer moça pelada por uma modesta quantia de dinheiro, e as moças são seduzidas pela ideia de que podem ganhar dinheiro fácil – e só uma problemática e reprimida não acharia ótima a ideia de ganhar dinheiro pelada com fotos descoladas.
 
O caso mais recente é o do viral “Beiçola do Onlyfans”: uma moça de Porto Alegre ficou famosa nas redes pelo marketing ousado, e o clube do bolinha não tardou em apelidá-la de “Beiçola do Onlyfans”, por sua pouca lisonjeira semelhança com o dono da pastelaria de A Grande Família. 
Ao cabo, a jovem Beiçola se encontrou com o ator que interpretava Beiçola e anunciou alguma doação para ele, passando assim a ser vista como boa moça e ganhando muita simpatia dos (outrora) haters. 
Em seguida, a plataforma na qual ela vende as fotos (uma tal de Privacy, não Onlyfans) anunciou que ela ganhou 500 mil reais com as fotos. 
Bom, ao menos no mundo anglófono, é sabido que o boom do Onlyfans, em 2020, se valeu muito da divulgação de valores inflados para convencer as mulheres de que se vender assim era bom negócio.
 
Pois então: uma escrava do Brasil colonial podia viver em paz sem sequer imaginar que milhares de homens deveriam vê-la pelada, ou que ela deveria querer transar com vários homens
Por outro lado, um escravo no Brasil colonial poderia ter para si, grátis, uma mulher que lhe desse atenção, e que não fosse dividida com nenhum outro homem.

Bruna Frascolla, doutora em filosofia - Gazeta do Povo - VOZES


sexta-feira, 21 de abril de 2023

Crime organizado - O PCC, ao que parece, está em todo lugar - Alexandre Garcia

Vozes - Gazeta do Povo 

Facada Bolsonaro

Vocês viram que história estranha essa de busca e apreensão envolvendo advogados do Adélio Bispo ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC)? Só agora que isso está sendo revelado. 
Um magistrado de Juiz de Fora (MG) onde aconteceu, em 2018, o atentado com a facada na barriga do então candidato a presidente Jair Bolsonaro por parte de Adélio Bispo – autorizou seis mandados de busca e apreensão, realizados no dia 14 de março, contra advogados que receberam R$ 315 mil do PCC e que defendiam Adélio Bispo
Eles alegam que também defendiam gente do PCC e que por isso a facção os estava pagando. Estranha essa presença constante do PCC.
 
Lei para proteger os criminosos
Contei para um português aqui a história de André do Rap e ele não acreditava. Narrei a ele o escândalo em que o Supremo Tribunal Federal (STF) mandou devolver helicóptero e lancha ao narcotraficante
As provas contra ele foram anuladas porque esqueceram de fazer um mandado de busca e apreensão de provas. 
Alegaram que só podiam prendê-lo e apreender o que tivesse nos bolsos e nas mãos, mais nada. 
Como se observa a lei ao pé da letra quando se trata de lei que protege o criminoso! 
Infelizmente isso é verdade, e dói a gente constatar isso.
 
Não dá para alegar que Gonçalves Dias e os agentes do GSI eram bolsonaristas
Queremos também a isonomia em relação ao episódio do 8 de janeiro.  
O ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça Anderson Torres está preso até hoje
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, foi afastado e já voltou. De repente, vemos o agora ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general Marco Edson Gonçalves Dias, lá nas idas e vindas entre os invasores ou pré-invasores do Palácio do Planalto, aqueles que entraram e foram quebrando
Porque depois vemos, nas mesmas imagens, que outros entram e tentam limpar o estrago. 
Por exemplo, encontraram o relógio do século 17 no chão, quebrado, e colocaram de novo em cima da mesa. Aí vem outro sujeito, um outro vândalo, que joga o relógio no chão novamente. Isso precisa ser apurado.
 
O ministro do STF Alexandre de Moraes deu 48 horas para a Polícia Federal colher o depoimento do general Gonçalves Dias, para ele explicar por que pediu exoneração no mesmo dia em que a CNN mostrou as imagens, num furo de reportagem. 
Ou seja, ele passou recibo, não? 
E não há como argumentar que ele seja bolsonarista, já que trabalhou na segurança de Lula (PT) por oito anos nos dois governos, depois trabalhou para a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), e também na última campanha eleitoral de Lula, já na reserva do Exército. 
Ele era o homem certo para ocupar esse lugar.
 
Portanto, quando entrou no GSI, Gonçalves Dias já tinha a turma dele, já conhecia os homens de confiança que pôs lá.  
Então, é um argumento muito fraquinho, muito pueril esse que foi sugerido pela presidente do PT, Gleisi Hoffmann, dizendo que foram os militares. Não, eram aqueles subordinados ao general Gonçalves Dias, homem de confiança do presidente Lula. 
Aliás, já fiz essa comparação anteriormente, não tem como não lembrarmos da história envolvendo o chefe da segurança de Getúlio Vargas, Gregório Fortunato.
 
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

O STF escancara o jogo - Revista Oeste

Edilson Salgueiro

Em apenas um dia, Alexandre de Moraes mandou o devido processo legal às favas e rejeitou a denúncia do PL sobre irregularidades nas urnas eletrônicas

Bastaram 24 horas. Esse tempo foi suficiente para que o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), rejeitasse a denúncia do Partido Liberal (PL) sobre possíveis irregularidades nas urnas eletrônicas. Na decisão, proferida na quarta-feira 23, o magistrado também determinou que a Coligação Pelo Bem do Brasil, representada pelo presidente Jair Bolsonaro, pagasse uma multa de quase R$ 23 milhões. Acusam-na de cometer litigância de má-fé (leia a definição no fim do texto), termo que ensejou a elaboração de reportagens jornalísticas para traduzir o “juridiquês” para o português.

Ministro Alexandre de Moraes | Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE

Ministro Alexandre de Moraes | Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE  

Mas não é só isso. Moraes também determinou o bloqueio do Fundo Partidário das três legendas que integram a coligação PL, PP e Republicanos. A medida permanecerá em vigor até que as siglas paguem a multa imposta pela Corte Eleitoral. E mais: o ministro instaurou um procedimento administrativo sobre “eventual desvio de finalidade na utilização da estrutura partidária”, especialmente em relação às condutas do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e Carlos Rocha, autor do estudo que identificou as irregularidades nos modelos de urnas de 2009, 2010, 2011, 2013 e 2015. Ambos os denunciantes acabaram incluídos no inquérito dos “atos antidemocráticos”.

[após a leitura atenta de toda a matéria, temos a quase certeza absoluta de que nossos leitores irão fazer a pergunta que nos fazemos e que não quer calar: "o que impede o presidente Jair Bolsonaro e o general Braga Netto de apresentarem recurso ao STF, contra a decisão arbitrária e sem fundamento legal do ministro que preside o TSE?]

“Os partidos políticos, financiados basicamente por recursos públicos, são autônomos e instrumentos da democracia, sendo inconcebível e inconstitucional que sejam utilizados para a satisfação de interesses pessoais antidemocráticos e atentatórios ao Estado de Direito”, sustentou Moraes. Anteriormente, em pronunciamento, Valdemar afirmou que a representação entregue ao TSE não trata de pedir uma nova eleição, mas de discutir a história do país. “Este relatório não expressa a opinião do PL”, disse o presidente da sigla, ao apresentar o material. “É o resultado de estudos elaborados por especialistas graduados em uma das universidades mais respeitadas do mundo e que, em nosso entendimento, deve ser analisado pelos especialistas do TSE.”

Na ocasião, Valdemar afirmou que a análise das urnas é necessária para que “seja assegurada e resguardada a integridade do processo eleitoral, com um único intuito: fortalecer a democracia”. Ele solicitou à Corte Eleitoral que invalidasse os votos computados em 280 mil urnas eletrônicas usadas no segundo turno, alegando “mau funcionamento”. De acordo com o relatório, o pedido de recontagem teria como resultado a reeleição de Bolsonaro, e não a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PL). A auditoria privada contratada pelo PL solidificou essa tese: segundo a empresa, apenas os modelos de urnas de 2020, que representam em torno de 40% do total, teriam gerado “arquivos idôneos”. As demais teriam apresentado “inconsistências graves e insanáveis”. A recontagem resultaria em 51,05% dos votos válidos para o atual presidente, contra 48,95% para o petista.

Rocha também se manifestou sobre o assunto e disse que o relatório tem um viés colaborativo. “Gostaríamos de interagir construtivamente com o TSE”, ressaltou. O advogado do PL, Marcelo Bessa, destacou “a possibilidade de fragilidade” nas urnas. Isso não foi o bastante para convencer Moraes.

A conduta do TSE nesse processo tornou-se alvo de críticas. O jurista Fabrício Rebelo, por exemplo, criticou a negligência dos ministros da Corte Eleitoral. “Já imaginaram se existisse um tribunal específico para cuidar de determinado tema e, quando alguém questionasse exatamente aquilo que ele deve analisar, em vez de o fazer, o pedido fosse sumariamente negado e o autor acabasse multado em milhões, além de ameaçado de outras sanções?”, perguntou o especialista. “É sempre motivo de honra receber questionamentos sobre os aspectos jurídicos do cenário nacional. Contudo, preciso admitir a minha incapacidade em responder a qualquer coisa nesse sentido. A situação brasileira não é mais uma questão jurídica. Não há Direito que explique.”

A deputada federal Bia Kicis (PL-DF), por sua vez, alerta para a ilegalidade da decisão do presidente do TSE. “Inicialmente, a ação do PL foi distribuída para a Cármen Lúcia”, lembrou a parlamentar. “Ela declinou para o Alexandre de Moraes porque era uma questão administrativa. E, agora, a questão administrativa gerou ilegalmente condenação em litigância de má-fé, bloqueio antecipado de verbas e inclusão no famigerado inquérito do fim do mundo. De qualquer forma, a decisão é nula, injurídica e teratológica.”

Deputada federal Bia Kicis (PL-DF) | 
Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Já a advogada Fabiana Barroso, especialista em Direito Tributário, afirma que houve uma série de ilegalidades nesse processo. “A verba do Fundo Partidário é impenhorável, porque se destina para a manutenção da democracia e para o livre exercício dos partidos políticos”, observou. “Você não pode determinar o bloqueio do Fundo Partidário. Está na lei, é cláusula pétrea. A liberdade partidária faz parte da democracia.”

A escalada autoritária dos ministros da Suprema Corte deu o primeiro passo ainda em 2019, quando os magistrados decidiram travar uma batalha incansável contra o presidente da República

Amparado nesse conjunto de medidas arbitrárias, que também envolve o cerceamento das liberdades individuais, o deputado federal Marcel van Hattem (Novo-RS) apresentou um requerimento para a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que visa a investigar as decisões dos ministros do Supremo Tribunal Federal e do TSE. O documento foi apresentado na terça-feira. Apenas 48 horas depois, o parlamentar conseguiu o número de assinaturas necessárias para protocolar a CPI. Até o momento, 181 deputados aderiram à ideia. Eram necessários 171.

“Estamos reafirmando nosso compromisso com a democracia, com o Estado de Direito e com o Brasil”, declarou Van Hattem, durante coletiva de imprensa. “Não podemos tolerar o fato de que existem pessoas com seus perfis nas redes sociais censurados e que existam deputados com medo de se pronunciarem.”

Entre os atos de censura elencados pelo deputado, está a busca e apreensão no endereço de oito empresários apoiadores de Bolsonaro; a determinação de bloqueio das contas bancárias de 43 pessoas e empresas “suspeitas” de financiarem “atos antidemocráticos”; o bloqueio do perfil no Twitter do economista Marcos Cintra; e a censura prévia do documentário Quem Mandou Matar Jair Bolsonaro?, da Brasil Paralelo.

A postura de Van Hattem encorajou os parlamentares, outrora receosos com eventuais retaliações das Cortes Supremas. O deputado federal Ubiratan Sanderson (PL-RS), por exemplo, integrante titular da Comissão de Segurança Pública da Câmara, apresentou um requerimento para que Moraes preste esclarecimentos à Casa e explique os motivos pelos quais cancelou as redes sociais de três deputados — Coronel Tadeu (PL-SP), José Medeiros (PL-MT) e Major Vitor Hugo (PL-GO). “Os ministros do TSE, que deveriam garantir o direito de livre expressão, estão tolhendo as liberdades individuais”, criticou.

Na mesma linha, o senador Luís Carlos Heinze (PP-RS) pediu à Mesa do Senado que paute os pedidos de impeachment de Moraes. “Esse requerimento, a exemplo de tantos outros documentos sobre o mesmo ministro, está lá na Comissão Diretora do Senado Federal como se não tivesse sido apresentado”, reclamou o político, ao lembrar que, desde 2019, a Casa acumula pelo menos 60 pedidos de impeachment contra ministros do STF. O presidente do TSE lidera a lista, com 29 solicitações. “É fato que a quebra do princípio basilar da separação dos Poderes tem sido recorrente, o que, por si só, é motivo para o Senado abrir a discussão”, argumentou Heinze. “O Brasil não aceita ser governado por quem não foi eleito. Não podemos nos calar e permanecer inertes diante de uma ditadura escalonada pelo Judiciário.”

Senador Luís Carlos Heinze (PP-RS) | Foto: Agência Senado

Como observa J.R. Guzzo, no artigo de capa desta edição, não há independência entre os Poderes da República. “O Legislativo e o Executivo não têm autoridade nenhuma, e simplesmente recebem ordens do Judiciário”, considerou. “As liberdades públicas e os direitos civis não valem nada. Quem governa o Brasil, sem jamais ter tido um único voto dos eleitores, é o ministro Alexandre de Moraes e os oito colegas de STF que o apoiam ou obedecem às suas decisões.” O colunista afirma que os magistrados impõem a sua vontade à população “através da polícia política que têm hoje sob o seu comando; transformaram a Polícia Federal em força armada particular do STF, uma milícia que executa ordens ilegais, prende deputados e invade residências dos cidadãos às 6 horas da manhã. É ‘democracia’, isso?”

A última ofensiva ao sistema democrático ocorreu nesta semana, com o desprezo às denúncias do PL e o silenciamento de cidadãos, políticos e empresários.  
Longe de ter iniciado recentemente, a escalada autoritária dos ministros da Suprema Corte deu o primeiro passo ainda em 2019, quando os magistrados decidiram travar uma batalha incansável contra o presidente da República. 
Dois anos depois, em 2021, a balança da Justiça pendeu para a esquerda: com a bênção dos ministros do STF, Lula teve quatro ações penais anuladas e viu o caminho livre para voltar à cena política. Em 2022, o Supremo decidiu tornar público aquilo que todos os brasileiros sabiam. Ao contrário do que pensam os ministros da Suprema Corte, ninguém é mané.

*Segundo o artigo 80 do Código de Processo Civil de 2015, considera-se litigante de má-fé aquele que:

  1. I) Deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso;
  2. II) Alterar a verdade dos fatos;

III) Usar do processo para conseguir objetivo ilegal;

  1. IV) Opuser resistência injustificada ao andamento do processo;
  2. V) Proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo;
  3. VI) Provocar incidente manifestamente infundado; e/ou

VII) Interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.

Leia também “A democracia em colapso”

quinta-feira, 12 de maio de 2022

"Constituição exige que haja impessoalidade"

Alexandre Garcia 

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acaba de se manifestar sobre as dúvidas e sugestões dos militares, que visavam a mais segurança, transparência e confiança no processo de apuração. 
Especializados em guerra cibernética sabem que não há segurança absoluta no mundo digital —, militares convidados pelo TSE para integrar uma comissão de transparência das eleições não permaneceram como espectadores passivos apenas para servir de avalistas do processo, mas fizeram muitas perguntas e sugeriram muitas ações que podem afastar as desconfianças de eleitores de quaisquer dos candidatos.

O TSE permanecera em silêncio sobre as sugestões, e até recusou pedido de um deputado para torná-las públicas. Semana passada, o ministro da Defesa sugeriu que tudo fosse divulgado. Apuração é um ato da administração pública e, como tal, precisa ter a publicidade exigida pelo artigo 37 da Constituição.

Nas respostas, o TSE burocraticamente negou tudo o que fora proposto. Coisas simples foram negadas com teimosia adolescente. Certamente frustrou os militares, que aceitaram o convite do Tribunal como uma oportunidade de ajudar.

O calor do ano eleitoral afeta os espíritos e as emoções exacerbam as posições a respeito. De um lado, o presidente da República a advogar transparência no processo, citando os precedentes da eleição Dilma Rousseff x Aécio Neves, e do passeio do jovem hacker português no sistema do TSE. Do outro lado, ministros do TSE, como Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, a não aceitar modificações num sistema que defendem como seguro.

As respostas de agora negando ações simples que dariam mais confiança a eleitores e candidatos, refletem um jogo de cabo-de-guerra. Entre os milhões de eleitores, formam-se torcidas de um lado e de outro, muitas vezes estimulando posições cada vez mais radicais. E os militares, de instituições permanentes de estado, estão no meio dessa corda, querendo e podendo ajudar.

As duas partes aparentemente antagônicas têm o mesmo senhor: o povo brasileiro. É possível que os personagens da contenda tenham em mente que estão servindo ao povo, e sabem que eleição é uma das ações mais sagradas do processo democrático. Para que não pairem dúvidas, como as que subsistem desde que o PSDB não conseguiu auditar os resultados de 2014, cada eleitor precisa entender como seu voto é contado e computado.

Por isso, foi sugerido um teste aleatório num maior número de urnas, inclusive as do modelo mais recente; que os TREs apurem nos estados, para não centralizar tudo num só lugar; e que o Legislativo fiscalize, que haja medidas para o caso de irregularidades e que se tenha o número de abstenções e brancos por seção. Nada disso foi aceito.

Questões pessoais, antipatias, não podem ser consideradas nessa disputa, mesmo porque a Constituição exige que haja impessoalidade. Tensões precisam ser esfriadas para que, racionalmente, se perceba que segurança e transparência interessam a todos que não estejam mal-intencionados.

Não parece que as respostas do TSE tenham vindo para aliviar as tensões. As sugestões dos militares que, embora sob o comando supremo do presidente da República foram convidados pela própria Justiça Eleitoral a participar da Comissão de Transparência, aparecem como uma oportunidade de solução para uma corda esticada.

O que pode distensionar a corda e dar aos brasileiros um fiador de alta credibilidade popular aos resultados das urnas.

Alexandre Garcia, colunista -  Correio Braziliense


 

segunda-feira, 14 de março de 2022

O BRASIL NUNCA PERTENCEU AOS ÍNDIOS.

O Brasil é nosso. Não é dos índios. Nunca foi.

 Nota do editor: Uma inteligência rara, uma bravura inaudita, uma inabalável convicção moral, fizeram-na cativar amores e ódios, admiração e inveja, mas sempre num respeitável pedestal, desses em que certos seres humanos estão porque ali é seu lugar natural. Em homenagem a ela, transcrevo este artigo que tinha bem guardado na memória porque sempre quis poder assinar embaixo.

Sandra Cavalcanti

Quem quiser se escandalizar, que se escandalize. Quero proclamar, do fundo da alma, que sinto muito orgulho de ser brasileira. Não posso aceitar a tese de que nada tenho a comemorar nestes quinhentos anos. Não aguento mais a impostura dessas suspeitíssimas ONGs estrangeiras, dessa ala atrasada da CNBB e dessas derrotadas lideranças nacional-socialistas que estão fazendo surgir no Brasil um inédito sentimento de preconceito racial.

Para começo de conversa, o mundo, naquela manhã de 22 de abril de 1500, era completamente outro. Quando a poderosa esquadra do almirante português ancorou naquele imenso território, encontrou silvícolas em plena idade da pedra lascada. Nenhum deles tinha noção de nação ou país. Não existia o Brasil.

Os atuais compêndios de história do Brasil informam, sem muita base, que a população indígena andava por volta de cinco milhões. No correr dos anos seguintes, segundo os documentos que foram conservados, foram identificadas mais de duzentos e cinquenta tribos diferentes. Falando mais de 190 línguas diferentes. Não eram dialetos de uma mesma língua. Eram idiomas próprios, que impediam as tribos de se entenderem entre si. Portanto, Cabral não conquistou um país. Cabral não invadiu uma nação. Cabral apenas descobriu um pedaço novo do planeta Terra e, em nome do rei, dele tomou posse.

O vocabulário dos atuais compêndios não usa a palavra tribo. Eles adotam a denominação implantada por dezenas de ONGs que se espalham pela Amazônia, sustentadas misteriosamente por países europeus. Só se fala em nações indígenas.

Existe uma intenção solerte e venenosa por trás disso. Segundo alguns integrantes dessas ONGs, ligados à ONU, essas nações deveriam ter assento nas assembleias mundiais, de forma independente. Dá para entender, não? É o olho na nossa Amazônia. Se o Brasil aceitar a ideia de que, dentro dele, existem outras nações, lá se foi a nossa unidade.

Nos debates da Constituinte de 88, eles bem que tentaram, de forma ardilosa, fazer a troca das palavras. Mas ninguém estava dormindo de touca e a Carta Magna ficou com a palavra tribo. Nação, só a brasileira.

De repente, os festejos dos 500 anos do Descobrimento viraram um pedido de desculpas aos índios. Viraram um ato de guerra. Viraram a invasão de um país. Viraram a conquista de uma nação. Viraram a perda de uma grande civilização.

De repente, somos todos levados a ficar constrangidos. Coitadinhos dos índios! Que maldade! Que absurdo, esse negócio de sair pelos mares, descobrindo novas terras e novas gentes. Pela visão da CNBB, da CUT, do MST, dos nacional-socialistas e das ONGs europeias, naquela tarde radiosa de abril teve início uma verdadeira catástrofe.

Um grupo de brancos teve a audácia de atravessar os mares e se instalar por aqui.  
Teve e audácia de acreditar que irradiava a fé cristã. 
Teve a audácia de querer ensinar a plantar e a colher. 
Teve a audácia de ensinar que não se deve fazer churrasco dos seus semelhantes. 
Teve a audácia de garantir a vida de aleijados e idosos.
Teve a audácia de ensinar a cantar e a escrever.
Teve a audácia de pregar a paz e a bondade. Teve a audácia de evangelizar.

Mais tarde, vieram os negros. Depois, levas e levas de europeus e orientais. Graças a eles somos hoje uma nação grande, livre, alegre, aberta para o mundo, paraíso da mestiçagem. Ninguém, em nosso país pode sofrer discriminação por motivo de raça ou credo.

Portanto, vamos parar com essa paranoia de discriminar em favor dos índios. Para o Brasil, o índio é tão brasileiro quanto o negro, o mulato, o branco e o amarelo.Nas nossas veias correm todos esses sangues. Não somos uma nação indígena. Somos a nação brasileira.

Não sinto qualquer obrigação de pedir desculpas aos índios, nas festas do Descobrimento.  
Muitos índios hoje andam de avião, usam óculos, são donos de sesmarias, possuem estações de rádio e TV e até COBRAM pedágio para estradas que passam em suas magníficas reservas. De bigode e celular na mão, eles negociam madeira no exterior.  
Esses índios são cidadãos brasileiros, nem melhores nem piores. 
Uns são pobres. Outros são ricos. 
Todos têm, como nós, os mesmos direitos e deveres. 
Se começarem a querer ter mais direitos do que deveres, isso tem que acabar.

O Brasil é nosso. Não é dos índios. Nunca foi.

Percival Puggina - Outros Autores


quarta-feira, 2 de março de 2022

Direto de Lviv, Ucrânia: a bordo do trem de guerra

Luis Kawaguti -  VOZES
 
Refugiados, jornalistas e soldados voluntários comem Kotelet (frango empanado) com kapusta (salada de repolho) em um restaurante cheio, um dos únicos abertos após às 22h no centro da pequena cidade de Przemysl, fronteira da Polônia com a Ucrânia. A poucos metros dali, centenas de refugiados ucranianos tentam encontrar espaço nos salões da estação de trem, que liga a cidade polonesa a Lviv, na Ucrânia.

Refugiados ucranianos na estação de trem que liga a cidade polonesa de Przemysl a Lviv, na Ucrânia
Refugiados ucranianos na estação de trem que liga a cidade polonesa de Przemysl a Lviv, na Ucrânia -  Foto: Luis Kawaguti

Um soldado voluntário me chama em português e começamos a conversar. Ele é Iwen Puddo, um ex-paraquedista das forças armadas de Portugal, residente na Alemanha. Ele vendeu sua moto e outros pertences para poder ir lutar na Ucrânia contra o presidente russo Vladimir Putin.

Após o jantar, andamos juntos pela praça até chegar à estação de trem, onde centenas se espremem nos ambientes de janelas e candelabros neo-barrocos. Do lado de fora do prédio está três graus abaixo de zero. Ninguém quer ficar exposto à madrugada congelante. Iwen diz a um voluntário polonês que precisa de um lugar para dormir, pois está viajando há dois dias e quer lutar na Ucrânia. Mulheres, crianças e soldados voluntários têm acesso a uma sala um pouco menos cheia que os demais para passar a noite.

Há carrinhos de supermercado cheios de roupas e sacos de dormir, doados pela comunidade. Quando Iwen começa a selecionar um saco de dormir, o voluntário polonês encarregado de ajudar a multidão diz em inglês com acento britânico:“Não, esses aí são para quem está indo embora, combatentes precisam disso aqui”. Ele oferece a Iwen um robusto saco de dormir militar polonês. “Você pode ficar com ele. Espere aqui que eu vou arrumar um bom lugar para você dormir”.

Questionado se também sou soldado, digo que sou jornalista e acabo recebendo a atenção de quem está entrando na Ucrânia por opção. Em um corredor onde montamos nossas acomodações, o voluntário polonês conversa com uma família ucraniana. “Não entrem no próximo trem, vocês vão pegar outro trem até uma cidade próxima da Alemanha. Lá terão acesso a um hotel gratuito ainda na Polônia. Podem ficar o tempo que quiserem, semanas se precisarem. Depois é só cruzar a fronteira e entrar na Alemanha.”

Fronteiras abertas
Até o ano passado, a postura da Polônia era completamente diferente. O presidente Alexander Lukashenko, da Bielorússia, convidou para seu país milhares de refugiados do Oriente Médio e prometeu a eles que poderiam cruzar a fronteira polonesa tranquilamente e chegar na União Europeia. Sua intenção, segundo disseram na época os líderes europeus, era inundar o continente com ondas de refugiados para desestabilizar politicamente o bloco. A Polônia mandou milhares de militares para a fronteira para tentar impedir a entrada ilegal dos imigrantes.

Para entrar na Polônia ou em qualquer país da União Europeia, os refugiados precisavam passar por processos de qualificação que não costumavam ser rápidos. Mas isso não é mais assim. Desde a semana passada, as fronteiras da Europa se abriram para os refugiados da guerra na Ucrânia. Na estação de Przemysl, o vai e vem de pessoas não para durante a madrugada. Acordo às 3h com o anúncio da partida de um trem para a Cracóvia (Polônia). A maioria dos refugiados é colocada nele. O local esvazia um pouco e temos que mudar para um salão próximo, para que o corredor em que estávamos seja limpo.

Não consigo mais dormir. A maioria das pessoas no salão são mulheres e crianças. Também há grupos de estudantes de origem africana. Percebo um ruído baixo e sem fim de conversas, mas as pessoas são muito contidas. Ninguém ri ou se queixa em voz alta. Apenas algumas crianças correm e falam alto. Todos estão bem vestidos e aparentam cansaço. Voluntários distribuem sopa, pão e frutas. As crianças ganham bichos de pelúcia ou carrinhos, tirados por policiais poloneses de uma grande pilha de doações.

Aliás, há aglomeração das pessoas e distribuição de alimentos, mas não porque os refugiados não possam pagar. Os hotéis e restaurantes da cidade não comportam todos. São milhares de pessoas, ao menos 50 mil por dia cruzando a fronteira polonesa neste e em outros sete pontos. As pessoas também não estão aqui para uma vida com maiores oportunidades. Elas querem salvar seus filhos dos ferozes bombardeios russos, mas depois desejam voltar para suas casas.

Me ocorre um pensamento: a guerra absoluta, termo criado pelo autor prussiano Clausewitz para descrever uma situação onde o conflito não é mais refreado por política ou travas morais, parece estar de volta à Europa. Esses refugiados são a prova disso.

Melhor ficarem com as janelas fechadas"
É manhã na estação de Przemysl. Após tomar uma sopa de tomate, me dirijo na companhia do soldado português para um pequeno prédio, onde ficam as autoridades de fronteira, a fim de pagar um trem para Lviv.Uma mulher com duas crianças avisa que temos que ter cuidado. O trem em que ela chegara há poucas horas foi atingido por tiros e duas pessoas morreram. Não consigo confirmar a informação, mas o impacto moral já está feito.

Iwen conversa com militares poloneses perto do posto de fronteira. Quando eles entendem que ele é um soldado voluntário ficam alegres, o saúdam muito e dizem: “Vocês estão no lugar errado, é só ir até a plataforma 3 e embarcar no trem ‘não oficial’. Vocês não precisam de passagem, é só mostrar seus documentos”, diz um deles.

Costumo dizer aos amigos não familiarizados com a Polônia que, mesmo antes da guerra, basta ficar cinco minutos no país para sentir o ressentimento em relação aos russos — que definitivamente não acabou com o fim da dominação soviética. Já no trem, uma oficial de imigração polonesa pede nossos documentos e diz: “Melhor ficarem com as janelas fechadas”. Antes do sinal de internet do meu chip polonês sumir, vejo um alerta de notícias da BBC dizendo que Putin havia mandado suas tropas atacarem alvos indiscriminadamente. A guerra absoluta…

Região importante estrategicamente
O trem segue seu caminho e as pessoas estão em silêncio, ouço apenas cochichos na cabine vizinha e o ronco do soldado português. Abro um pouco a janela e vejo plantações de trigo, pequenas lagoas congeladas e uma trincheira, de onde pende uma bandeira ucraniana. A maioria dos passageiros do nosso vagão parecem ser soldados voluntários como Iwen. Não da Brigada Internacional que o presidente Volodymyr Zelensky prometeu formar. Mas ucranianos comuns, que deixaram mulheres, filhos, pais e namoradas em segurança no solo polonês e retornam para defender sua pátria.

Fico pensando em cenários de guerra. Lviv é a principal cidade do oeste da Ucrânia. Há dois dias surgiram rumores de que uma tropa de paraquedistas russos foi lançada nas proximidades. Também lembro que havia uma grande unidade de tropas russas na Bielorússia, cerca de 100 quilômetros ao norte.

Os russos podem tentar impedir que os ucranianos recebam doações de armas nesta região. Foram prometidos mísseis antiaéreos stinger e drones de ataque. Quem controla o espaço aéreo são os russos, então essas armas vão ter que entrar por terra, possivelmente aqui pela fronteira com a Polônia. Isso torna a região importante estrategicamente e podem haver ataques para impedir a entrega das armas.

“Eu vim aqui para lutar"
O trem para já em território ucraniano e duas militares sobem para pegar documentos. Meu passaporte é carimbado. Iwen tem só uma carteira de identidade e isso parece não satisfazer as fiscais ucranianas. “Eu vim aqui para lutar, Putin está acabando com o país de vocês. Eu vendi tudo que eu tinha para vir e talvez não saia da Ucrânia. Não quero ser mandado para casa como um cachorro”, diz.

As militares, que aparentam ter pouco mais de vinte anos, se mostram comovidas e pedem que ele as acompanhe. Ele volta feliz, cerca de 30 minutos depois, dizendo: “tudo certo, só avisaram a embaixada do meu país. Perguntei onde posso conseguir armas. Elas riram e disseram que eu vou ter o que quiser”, diz.

O procedimento oficial seria comunicar a Ucrânia da intenção de lutar por meio de uma embaixada. Mas, na guerra dá-se um jeito.  O trem pára na estação final em Lviv e poucas pessoas desembarcam. Estamos deixando a plataforma principal quando sirenes distantes começam a soar. Os alto-falantes da estação de trem mandam milhares de passageiros, que esperam para embarcar para a Polônia, procurem abrigo nos túneis da estação, pois um ataque aéreo é iminente.

Há corre corre na estação, mas nas ruas nem todos parecem se importar. Enquanto alguns tentam entrar na estação, outros continuam seus afazeres. Minutos depois o alarme volta a soar, mas não há ataque aéreo. Ele pode ter sido disparado pela aproximação de aeronaves inimigas, que deviam ter outro objetivo. São as tensões da guerra. 

Luis Kawaguti, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Randolfe pede que STF investigue comportamento de Aras

Alexandre Garcia


O senador Randolfe Rodrigues, que foi vice-presidente da CPI da Covid e que representa o Amapá, entrou com uma petição para o ministro Alexandre de Moraes, se queixando do procurador Aras. Imagina que o senador pede, que seja investigado o comportamento do procurador-geral da República, porque ele mandou arquivar, na quinta-feira, aquele inquérito fajuto, que saiu daquela delegada que havia sido requisitada por Alexandre de Moraes para fazer o que deveria ter sido um inquérito administrativo interno do Supremo, mas não sei por que, foi turbinado, não sei como, prendeu gente.

E nesse tal de inquérito, das fake news, resolveram enquadrar o presidente da República, dizendo que ele cometeu crime ao divulgar documentos sigilosos daquele inquérito da invasão dos hackers aos computadores do Supremo no ano eleitoral de 2018. Aliás, o hacker era um português de 19 anos, que foi preso. E que já tinha feito outras invasões como essa. Mas, sobre esse sigilo, em primeiro lugar: houve um laudo de um inquérito administrativo da Inteligência da Polícia Federal sobre a conduta do delegado que atendeu ao requerimento de uma comissão especial da Câmara que pediu os documentos do inquérito, porque investigava a segurança do voto, e chegou à conclusão que o delegado não cometeu nenhum crime. Fez tudo dentro da lei e que não tinha nenhum sigilo nesses documentos.

Então, a procuradoria da Câmara do Deputados, ou seja, o serviço jurídico da Câmara dos Deputados, anunciou um parecer dizendo que não tinha nenhum sigilo nesses documentos, eximindo o deputado Felipe Barros, que distribuiu esses documentos para os deputados, de qualquer culpa.

, o procurador geral, mandou para o arquivo, porque não tinha nada. E Randolfe Rodrigues, que deve estar meio chateado porque até agora não se encontrou nenhum crime em tudo aquilo que a CPI da Covid apurou, que deu tanto vexame, tanta agressão, lambança, palanque, tanto caminhão de som eleitoreiro naquela CPI e não deu em nada, porque não tinha nada mesmo. Agora, está querendo que Alexandre de Moraes investigue o comportamento do procurador-geral da República, que não faz nenhum sentido. Mostra que ele não sabe que o procurador tem a mesma independência e autonomia que qualquer ministro do Supremo.


quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

“A mídia brasileira não tem interesse em falar a verdade sobre a China” - Paula Leal

Revista Oeste

O jornalista Rafael Fontana morou quatro anos no país e escreveu um livro para relatar sua experiência nas entranhas do governo comunista

Quando foi professor universitário na China, o jornalista Rafael Fontana recomendou aos alunos a leitura do livro 1984, de George Orwell. Fontana se surpreendeu, no entanto, ao descobrir que eles nunca tinham ouvido falar na obra, nem mesmo conseguiram comprá-la on-line — o título foi banido há décadas pela ditadura chinesa. Por essa indicação desavisada, ele poderia ter sido deportado do país. Esse e outros relatos estão registrados no livro Chinobyl, lançado em setembro deste ano. 

O jornalista chegou à China em 2015 para ministrar aulas de português em uma universidade. Depois, assumiu o cargo de editor na Rádio Internacional da China, mídia estatal criada em 1950 e veiculada em 65 idiomas. “O país começou muito cedo o processo de espalhar a propaganda chinesa pelo mundo”, disse em entrevista a Oeste. Durante quatro anos, Fontana testemunhou de perto os programas para expandir a influência do Partido Comunista Chinês (PCC) na política de outros países, por meio de financiamentos, propaganda e tecnologias de espionagem — de uma população de 1,4 bilhão de pessoas, cerca de 90 milhões são membros do PCC.  

De volta ao Brasil, recebeu um convite para ser diretor de Comunicação da Huawei, empresa privada chinesa de tecnologia, mas “controlada pela ditadura”. Para o jornalista, há motivos para se preocupar com a presença do gigante chinês no mercado brasileiro. “Eles usam a tecnologia que circula dentro das redes de transmissão para copiar, roubar ou desviar informações que passam pelos equipamentos de forma ilegal e sem que ninguém descubra.” De Brasília e por videochamada, o jornalista com mais de 25 anos de carreira conversou com a reportagem de Oeste sobre sua experiência de imersão na cultura oriental, a rotina na mídia estatal, e contou como funcionam os créditos sociais — um sistema de pontuação atribuído à população por bom comportamento. Chinobyl está em sua segunda edição e o título é uma alusão ao desastre russo de Chernobyl a iminência de uma bomba capaz de abalar o regime comunista chinês, assim como a explosão da usina nuclear, acelerou a desintegração da União Soviética. 

Confira os principais trechos da entrevista.

Quando chegou à China, qual foi o maior choque cultural que você observou?
Todo dia é uma coisa nova. Morar na China não é mudar para um novo país, é mudar para um novo mundo. A forma como eles enxergam o mundo é diferente. A questão da higiene foi um choque. O hábito de cuspir no chão o tempo todo incomoda. É um festival de cusparada. Parece bobo, mas depois de um tempo começa a dar desespero. Existem placas em piscinas sinalizando ‘não cuspa na piscina’. Poxa, precisa de placa? Aí você observa as pessoas na piscina colocando a cabeça para fora para cuspir na borda. Dentro de ônibus, em restaurante, em campo de futebol. O tempo todo tem cuspe no chão.

Você se mudou para a China em 2015 e atuou como professor em uma universidade. Como surgiu seu interesse pelo Partido Comunista Chinês?
Foi um conjunto de fatores. Quando mudei para lá, um amigo que participava de um grupo sem fins partidários que reunia informações sobre a China me pediu para observar as ações do Partido Comunista e como eles se organizavam para expandir a influência do Partido para fora das fronteiras chinesas. Na época, até brinquei: ‘Você está vendo muito filme de ficção científica, isso é teoria da conspiração’. Então já cheguei no país com uma missão. Como professor universitário, comecei a prestar atenção no comportamento dos alunos, professores e na direção. Rapidamente descobri que a vida na China era diferente do que as pessoas pensavam.

Por exemplo?
Quando fui professor na Universidade de Hebei, em Xiao An She, recomendei aos alunos a leitura do livro 1984, de George Orwell. Eles começaram a procurar na internet a versão on-line ou impressa da obra para comprar, mas não encontraram. Nem sequer acharam citações a Orwell na web.
(.......)
Praticamente todos os chineses são vigiados pelos aparelhos celulares

Como foi sua experiência como jornalista na rádio estatal chinesa? Quais diferenças você destaca na rotina profissional em comparação com o Brasil?
No Brasil, estamos acostumados a trabalhar 12 horas, é uma correria. Lá, o expediente era muito tranquilo. Trabalhávamos cinco, seis horas por dia, e tudo era totalmente controlado pela ditadura chinesa. Eu era editor, mas tinha pouca margem para editar. Podia mexer no estilo, mas não tinha como alterar o conteúdo, até porque não tinha acesso aos repórteres chineses. A matéria já chegava traduzida em português, só tinha de lapidar e tornar o conteúdo mais palatável ao público estrangeiro, até porque os chineses não são muito criativos. O conteúdo que eles produzem na China é muito ruim. No departamento de português, onde eu trabalhava, havia uma média de 20 pessoas. No Brasil, esse mesmo trabalho poderia ser feito por oito, dez pessoas no máximo, e com maior qualidade. Os chineses gastam muito e não são eficientes na gestão do dinheiro. É uma estrutura socialista, inchada, eles precisam gerar emprego em todos os setores, inclusive na comunicação, para manter as pessoas ocupadas. Imagine que na rádio havia um departamento de esperanto, com cerca de 20 pessoas trabalhando lá. Ninguém mais fala esperanto no mundo. O departamento ficava em frente ao nosso, e a gente via que a maioria das pessoas que trabalhavam lá era de mulheres de membros do Partido Comunista. Conheci duas jornalistas do departamento de esperanto que tinham começado a estudar a língua naquele ano. Ou seja, mal tinham noção do idioma.

(..............)

Como você ficou sabendo da existência dos créditos sociais do Partido Comunista da China e como funciona isso na prática?
Os chineses não podem comentar com estrangeiros a respeito, mas eles têm consciência, só não sabem o tamanho do perigo. O crédito social foi idealizado por volta de 2009. O presidente Xi Jinping decidiu implementar o sistema a partir do ano 2016, que começou com um projeto piloto para voluntários. Milhões de pessoas do Partido Comunista entraram, até mesmo para fazer uma média com seus superiores. Desde 2020, coincidiu com a pandemia, o sistema passou a ser compulsório. Todos os chineses têm uma pontuação e praticamente todos são vigiados por aparelhos celulares, câmeras, pelos vizinhos. A pessoa começa com uma pontuação alta e, quando ela tem problemas, perde pontos. Por exemplo, imagine que você perdeu pontos por beber demais ou bater o carro. A partir desse momento, você começa a ser evitado dentro de um círculo social de pessoas que têm pontos mais altos. As pessoas começam a te evitar porque uma das formas de ganhar ou perder pontos é o seu círculo de amizade. Para recuperar a pontuação, você pode dar um presente, uma festa. Só que você está sem dinheiro. Então faz um empréstimo no banco e não paga. Em vez de ganhar, perde ainda mais pontos, e isso vira uma bola de neve. A pessoa com baixa pontuação pode receber punições como não embarcar em trens de alta velocidade, não poder escolher os melhores vagões, fazer viagens, pedir empréstimos no banco. Ou seja, a vida vai ficando mais difícil. É algo irreal e que vai levar ao colapso. Quando falei a respeito disso para um grupo de brasileiros em uma palestra, eles mencionaram o episódio da série Black Mirror [trata-se do primeiro episódio da terceira temporada, chamado Queda Livre]. Nem conhecia, pois estava morando na China e não tinha visto a série. Mas nesse caso não é ficção, está acontecendo de verdade.

Você foi diretor de comunicação da Huawei no Brasil, empresa chinesa fabricante de celulares, além de fornecedora de tecnologia e de equipamentos de infraestrutura para outras companhias. Recentemente, houve o leilão do 5G no Brasil. Há motivos para o país se preocupar com o gigante chinês?
Sem dúvida. Como o leilão do 5G no Brasil foi destinado a operadoras de telefonia, a Huawei não participou. Mas a empresa pode vender equipamentos e participar da construção da infraestrutura do 5G no país. Existem praticamente três empresas que dominam o mercado de 5G no mundo: a Ericsson, a Nokia e a Huawei. A Huawei é processada em vários países por casos de espionagem, lobbies fraudulentos e informações privilegiadas. Eles usam a tecnologia que circula dentro das redes de transmissão para copiar, roubar ou desviar informações que passam pelos equipamentos de forma ilegal e sem que ninguém descubra. E não é só espionagem militar, estatal, mas também industrial. A Huawei é uma empresa privada, mas controlada pela ditadura. Os principais cargos, desde o CEO aos diretores, são ocupados por membros do Partido Comunista Chinês. O Tiktok [aplicativo chinês popular entre jovens usado para gravar vídeos curtos], uma vez instalado, circula pelo aparelho. É um perigo e está no termo de adesão, que as informações, se requisitadas, podem ser transmitidas ao regime chinês. As pessoas que usam plataformas chinesas estão sendo espionadas.
 
(...................) Continue lendo

Leia também “Cíntia Chagas: ‘Estamos vivendo uma ditadura da linguagem’”

Revista Oeste - Paula Leal


sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Interferência de Bolsonaro na Polícia Federal é e sempre será uma falácia - Gazeta do Povo

Alexandre Garcia 

Inquérito no STF

Bolsonaro se dispôs a prestar depoimento presencialmente no inquérito da suposta interferência na Polícia Federal [sem argumentos para complicar o assunto, que  foi resolvido pela decisão do presidente Bolsonaro, o ministro Morais manda arquivar o caso.]

Enquanto o presidente do PTB Roberto Jefferson está preso, a direção do partido decidiu expulsar a filha dele, a ex-deputada Cristiane Brasil. Expulsou também o presidente do PTB no Distrito Federal, o pastor Fadi Faraj, e o jornalista Oswaldo Eustáquio, que nem sabia que era filiado ao partido.

Mas qual a razão dessas expulsões? Disseram que eles disseminaram fake news sobre a vice-presidente do partido Graciela Nienov, que assumiu a liderança da legenda de forma interina. Só que isso não é crime.

A Constituição diz que só é crime aquilo que está anteriormente estabelecido como crime. E não existe, no Código Penal, crime de fake news. Pode ser calúnia, aí sim é crime, está na lei. Mas parece que se aproveitaram do fato de Jefferson estar preso para expulsar a filha.

Chefe supremo da PF  
O presidente Jair Bolsonaro disse ao STF que faz questão de depor pessoalmente no inquérito da Polícia Federal que foi provocado por uma denúncia do ex-ministro da Justiça, Sergio Moro. Ao pedir demissão do ministério, Moro disse que estava saindo porque Bolsonaro interferia na Polícia Federal. Ora, não há interferência. Bolsonaro é o chefe supremo da Polícia Federal.

Apenas para lembrar, o presidente tentou nomear um diretor-geral na PF e o Supremo não deixou. Isso sim é que é interferência, porque o artigo segundo da Constituição diz que os poderes são independentes e essa é uma questão interna, de administração interna do poder Executivo. Mas vá lá, isso passou.

Para demonstrar que houve uma interferência ilegítima ou viciosa na Polícia Federal, seria preciso comprovar que Bolsonaro interferiu em alguma investigação. Agora se ficar demonstrado que ele não interferiu, o senhor Sergio Moro vai ter que responder por denunciação caluniosa, que é crime.

O capitalismo de Estado da “pobreza menstrual”

Convocação na CPI
A CPI da Covid está terminando e o senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que foi quem conseguiu mais assinaturas em requerimento para criar a comissão, é quem não conseguiu fazer nada na CPI. Porque o Supremo e o regimento do Senado decidiram que aquilo que ele queria, que era investigar prefeitos e governadores que receberam dinheiro federal, não pode.

Agora, como alternativa, ele convidou o presidente da CPI da Covid  da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, o deputado Kelps Lima (Solidariedade), para relatar como foi o depoimento de Carlos Gabas, secretário-executivo do Consórcio Nordeste. Foi Gabas quem pagou R$ 48 milhões do nosso dinheiro para adquirir respiradores que não foram entregues e comprou-os em uma empresa chamada "Hemp", que traduzindo para o português significa maconha. Uma coisa incrível!

Aliás, a CPI teve a tal ideia de botar um cemitério no espelho d'água do Congresso, com 27 "lápides", 27 "túmulos"... Eu acho — e muita gente está achando — uma coisa tão mórbida. Porque se o Congresso fosse responsável pelas mortes causadas pelo vírus, aí sim. Mas obrigar o Congresso a ver aquilo todo dia. Eu acho que tem que botar na frente de quem foi responsável pela pandemia.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES 

 

sábado, 25 de setembro de 2021

Método de Paulo Freire não é uma proposta de ensino, é um manifesto político do começo ao fim - J. R. Guzzo

JovemPan

Metodologia criada por ele não se destina a ensinar os alunos a ler, escrever ou contar, seu objetivo é formar servidores obedientes à ‘ditadura popular-proletária-camponesa’ que existe nos desejos do autor

A esquerda nacional tentou com grande empenho nos últimos dias, embora com bem pouco sucesso de público, ressuscitar para o Brasil de 2021 um desses ídolos culturais, mais um, que ela fabrica regularmente de tempos em tempos e exige que sejam venerados pelo país inteiro como se fossem os Doze Apóstolos, ou a Santíssima Trindade, ou ambos ao mesmo tempo. Nunca importa, realmente, o que o sujeito fez – sua obra, seu talento ou os resultados concretos da sua atividade. Só interessa, para os agentes culturais do “campo progressista”, a devoção à figura escolhida para o papel de santo. É como na religião, e como em quase tudo o que a esquerda promove. Não pergunte nada; ajoelhe-se e reze. Nessa balada, vão socando em cima do público, com embalagem de herói, as figuras criadas por sua imaginação. A levar a sério o que sai na mídia, nas classes intelectuais e nos “projetos de luta” de ONGs à caça de verbas, são grandes vultos da nossa história. Vai se ver de perto e é tudo uísque paraguaio.

Você está cansado de saber quem são eles todos, pois os comandantes da nossa cultura vêm enfiando o nome de cada um na sua cabeça desde o curso primário Oscar Niemeyer, o geógrafo Milton Santos, Zumbi dos Palmares e mais do mesmo. Na ofensiva feita agora, o escolhido foi o professor Paulo Freire; decidiram que o Brasil todo teria de prestar homenagem a ele pelo centenário do seu nascimento. O retratinho de Freire apareceu na página de abertura do Google. Uma juíza do Rio de Janeiro proibiu que fossem feitos “atentados contra a dignidade” do professor – pelo que deu para entender, é ilegal discordar do seu “método” de educação, embora a Constituição Federal permita, ao que parece, a exposição de mais de uma ideia sobre o tema. Os “formadores de opinião” lotaram as redes sociais e as mesas-redondas de televisão com uma maciça ofensiva de cânticos em louvor a Freire.  

Em nenhum momento ficou claro por que, em termos práticos, ele deveria ser louvado – o que, no fim das contas, o homem fez de útil para a educação brasileira, ou para qualquer outra coisa? Nada que alguém tenha conseguido saber até hoje. Mas, como acontece com todos os heróis da esquerda nacional, isso é um detalhezinho à toa; basta dizer que o sujeito é um dos educadores “mais importantes” do país, e mesmo do mundo, e pronto. Importante por quê? Não interessa.

Paulo Freire, segundo o evangelho da esquerda brasileira, é um educador essencial para a alfabetização e para os demais campos da atividade didática neste país. De acordo com os nossos arquiduques culturais, ele criou um “método” de educação – o “método Paulo Freire” que, por aquilo que nos dizem, é o mais decisivo avanço da cultura humana desde a invenção da escrita. Quando se olha a coisa de perto, porém, não é nada disso. O método de Freire, na verdade, não é uma proposta de ensino – é um manifesto político do começo ao fim
 
Não se destina, não para valer, a transmitir aos estudantes, de alguma forma mais eficiente que outras, conhecimentos de português básico, de ciência ou das quatro operações matemáticas; serve apenas para socar na cabeça das crianças e adolescentes as crenças políticas do autor. Não é preciso ser nenhum Sherlock Holmes para descobrir, em 30 segundos, que crenças são essas – as que pregam um mundo coletivista, com o Estado mandando em tudo, e mais todo o bonde das invenções tidas como “socialistas” ou “comunistas”. Os professores, por essa visão, não têm de ensinar nada; devem ser “agentes de transformação política”. O “método Paulo Freire” não se destina a ensinar os alunos a ler, escrever ou contar. Seu objetivo é formar servidores obedientes à “ditadura popular-proletária-“camponesa”-etc. que existe no mundo mental e nos desejos do autor. É um mundo em que Che Guevara é citado como “exemplo de amor” e a família é descrita como um sistema de “opressão”.

Paulo Freire não faz parte das possibilidades de solução para problema algum

O “método Paulo Freire” jamais foi adotado por nenhum país desenvolvido, ou que tenha um mínimo de sucesso no seu sistema educacional. 
Serve para um país pobre, então? 
Menos ainda – com esses é que não funciona mesmo. É muito significativo que o Brasil, um dos países mais atrasados do mundo em sua educação pública, seja também o que concentra o maior número, ou a quase totalidade, dos admiradores do método. (É claro que todos eles, através dos sindicatos de professores, foram os defensores mais extremados do fechamento das escolas brasileiras durante mais de um ano, por conta da Covid. Querem o “método Paulo Freire”. Mas não querem dar aula.)  
 
O fato, no fim de todas as contas, é que se trata de um mecanismo desenhado, nos seus mínimos detalhes, para dar errado a cada vez que alguém tenta aplicar alguma coisa que se prescreve ali. Freire chamava suas propostas de “pedagogia do oprimido”. Com certeza, na vida como ela é, tornou-se a pedagogia do fracasso. Como diria Theodore Dalrymple: se dessem a Paulo Freire, ou aos educadores brasileiros de esquerda, a administração do Oceano Pacífico, no dia seguinte já iria estar faltando água salgada no mundo. 
 
Como em todos os casos dessa família, o grande ou o único argumento de defesa do universo intelectual brasileiro é dizer que fulano ou sicrano “desfrutam de reconhecimento internacional”. E daí? Nada é mais barato, hoje em dia, do que ter reconhecimento internacional. O único argumento que realmente interessa, em toda essa discussão, são os resultados concretos – e os resultados concretos do “método” são um triplo zero. Paulo Freire não faz parte das possibilidades de solução para problema algum. Faz parte, isso sim, da tragédia permanente da educação no Brasil.
 
 J. R. Guzzo, colunista - JovemPan