Nesse
triplex tem elevador/Dona Marisa foi quem decorou/Se Lula não quer morar, eu
vou
Pode ser
nossa última chance de brincar para valer ou de comer frango, que
aumentou 36% em um ano e forçou o brasileiro a comprar só coxinha (sem trocadilho) e
asinha. Por que, então, essa gente mal-humorada critica o Carnaval como
se fosse o ópio do povo? E se for? Deixa o pessoal rir da maior queda na
produção industrial em 13 anos. Puxa vida. Esta semana a gente esquece os “pobremas”
e lava a jato para baixo da consciência todas as preocupações.
Vamos
cantar a marchinha de um bloco de Olinda: Nesse triplex tem elevador/Dona
Marisa foi quem decorou/A OAS também reformou/Se Lula não quer morar, eu vou
(ô revisão, por favor não coloque acento em “triplex”,
me dá um descanso, porque ninguém fala nem canta com acento no “i”, isso é
palavra oxítona em prosa e verso). Vamos rir com o carro alegórico de
uma escola de samba de Vitória, que mostrou Lula, Dilma
e Cunha presos. O troféu mais cobiçado deste Carnaval serão as
algemas de ouro. As tornozeleiras esgotaram.
Não deixe
o samba morrer./Não deixe o samba acabar. Só nostálgicos têm saudade de quando a voz de
Alcione nesse sambão era o “hit” do verão momesco, em vez dessa porcaria
de estribilho trá-trá-trá, do “Paredão metralhadora”, com a Banda
Vingadora, que saiu de Itabuna, na Bahia, para o mundo. Um fenômeno parecido
com o da zika,
produto de exportação que leva ao Primeiro Mundo a marca do Brasil e de sua
absurda negligência com a vida.
O sucesso
do trá-trá-trá tem tudo a ver com os novos tempos. “Tudo haver” – como se escreve nas redes
sociais. Além de cair a produção industrial, cai de
forma alarmante o nível do idioma e da música. Cai tudo, menos a inflação e o desemprego. Mas, gente, vamos esquecer tudo isso, caramba. Ô
colunista, que tal sair nos blocos e cair na folia? Com pouca fantasia, claro,
para entrar no clima de 2016. Este é o Carnaval dos acessórios. Ninguém tem
dinheiro para comprar fantasia inteira. Igual ao frango, vamos nos contentar
com partes.
Mas tem
um Estado que se rebelou contra as festas: Sergipe! O
presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Clóvis Barbosa, em
pleno recesso, acatou a solicitação do procurador
Eduardo Côrtes, do Ministério Público de Contas, e proibiu 53 municípios de
festejar o Carnaval enquanto não pagarem aos professores,
com salários atrasados desde outubro do ano passado.
Por que
essa preocupação com os professores num país que
desmoralizou a honestidade e o lema Pátria Educadora? Num país onde o mau exemplo vem
de cima e cria máfias da merenda escolar. Num país em que a presidente Dilma Rousseff, em seu mais importante
pronunciamento para o Congresso, não menciona a palavra Educação em nenhum
momento.
Dilma
pede “pacto” fazendo um coraçãozinho com as mãos. Pacto implica
sacrifícios de ambos os lados. Implica confessar que mentiu tanto que poderia
ser enquadrada em crime de “falsidade ideológica”, pior que o do
branco que se passou por negro para entrar na universidade por sistema de
cotas. Pior porque levou a população à beira do
abismo.
“Apesar
da alegada crise”, disse o
procurador Côrtes, de Sergipe, “diversos municípios continuam a realizar
festividades e despesas com publicidade desnecessárias, gastos não essenciais
se comparados às obrigações com a educação”. E o município que desobedecer
e programar festejos e propagandas terá de pagar multa de R$ 60 mil “por
ocorrência”. Que desplante falar em educação em
férias de 40 graus. Ou será que Sergipe é uma inspiração para o país
anestesiado pela crise? Menos festa e mais trabalho.
O
Tribunal de Contas sergipano deve ter lido a reportagem da revista britânica The Economist, intitulada “Festejando à
beira do precipício”, dizendo que, depois do
Carnaval, ninguém vai conseguir relaxar no Brasil – nem Dilma nem os
congressistas. Isso é muito sério, seria inédito, porque a presidente parece
sempre calma e otimista, vivendo do dinheiro público e alheio. “Quando
os políticos retornarem aos trabalhos”, diz a revista, “podem se
arrepender do tempo que passaram sem tentar resolver os problemas”. Zika, Saúde em frangalhos, desemprego, alta desabalada dos
alimentos, crise econômica e política.
Assim me
disse um apavorado dono de marcenaria, prestes a demitir e a falir: “Está pior que nos tempos do
Collor. Porque a crise, desta vez, pegou todo mundo muito endividado. Mandaram
o povão consumir, consumir, consumir, abriram o crédito, prometeram mundos e
fundos, criaram um país de fantasia, um paraíso, e agora os altos juros pegaram
as famílias de classe média, que não têm como saldar as dívidas. É uma reação
em cadeia na economia. Um derruba o outro. Não sei para onde a gente vai”.
Ora,
a gente vai para a avenida.
Fonte: Ruth de Aquino – Época