Faz
tempo que a bandidagem e o universo das drogas saíram das cidades grandes para
aterrorizar o interior
Prefeito acorda aí! Mataram os policiais e a cidade
tá na mão dos bandidos. Era madrugada e o povo estava todo desperto, assustado e encolhido. Os
policiais não estavam mortos. Só
fugiram, quando um grupo de 20 bandidões, armados com fuzis e, no maior
alarde, tomaram de assalto a cidade.
Caixas eletrônicos da agência do Banco do
Brasil no Centro de Pedregulho, SP (Imagem: Stella Reis / EPTV)
O alvo eram caixas eletrônicas.
Todas devidamente explodidas e esvaziadas. “Ganho”
rápido. Ninguém ferido. Um puta susto coletivo. Para ninguém se meter a herói,
a operação foi toda acompanhada de rajadas de tiros pro alto. Aconteceu em
dezembro passado, na pequena cidade de Pedregulho, no interior de São Paulo. Só
virou notícia agora, domingo, 8 de fevereiro. Deu na imprensa é verdade, não?
Pedregulho tem 15 mil habitantes. Na mesma época, contava a
matéria, 10 outras cidades do mesmo porte, nas vizinhanças da rica Ribeirão
Preto, também viveram suas madrugadas de faroeste caipira. A maioria delas é defendida por dois PMs! Sem fuzis, claro. Os fuzis dos invasores – batizados de Bando do Fuzilão - perfuram
até blindados.
Não há outra saída se não dar no pé, como bem fizeram os
PMs de Pedregulho. Lá no
interior de Minas, onde nasci, nos idos de antigamente, quando se indignava com
alguma barbaridade, meu avô bradava: “Mas
onde nós estamos?” Estamos no século 21.
Pedregulho é de São
Paulo, o estado mais rico do país – onde também de
dia falta água e de noite falta luz. (No
Rio também. Em Minas Gerais e Espírito Santo idem). Mas lá em SP, agora,
tem cangaço como nos tempos do Lampião, que atuava longe, no nordeste pobre e,
então, seco. Diz a lenda que ele tirava dos ricos e dividia com os pobres.
Romantizado
no imaginário popular, o Rei do Cangaço, seria bandidinho nos dias de agora. O novo cangaço paulista, do Bando do
Fuzilão, até pelo seu poder de fogo, não tem qualquer romance. O dinheiro
roubado às claras financia compra de mais e melhores armas, drogas e outras
bandidagens e barbáries. Há anos - e
muitas eleições vividas – que a Segurança é apontada como principal
preocupação da população, que é o coletivo de nós, os peões desse jogo/jogado.
Também é tema recorrente de suprapartidárias promessas eleitorais. Balela. A
coisa só piora.
Se hoje temos mais eficiência em
prender e até condenar bandidagens de colarinho branco, o time da corrupção e
assemelhados, na chamada segurança pública do dia a dia a coisa degringola em
ritmo acelerado de confrontos armados, chacinas, sem
mocinhos, mas com polícia-bandido, balas perdidas, tortura, sequestros e
cangaços.
Faz tempo
que a bandidagem e o universo das drogas saíram das cidades grandes para aterrorizar
o interior, num vale tudo explícito de ações como do Bando do Fuzilão. Serão presos, serão mortos e outros virão
pelo óbvio – não há decisão política, no macro e no micro, de combate real
contra a violência e suas principais causas: o internacional e poderoso
business das drogas e das armas. (Perdi a
conta de quantas vezes já escrevi sobre isso).
Enquanto
não nos atinge diretamente, somos eternos compadecidos das vítimas que, todo
dia, relatam suas tragédias em rede nacional. Pequenos grupos vão as ruas bradar contra a violência. Movimentos
sociais fazem campanhas contra a impunidade. Parlamentares prometem novas leis.
Governantes,
também compadecidos (?), juram providências e
“rigorosa apuração e punição exemplar aos culpados”. (Aliás, alguma apuração/investigação pode não ser rigorosa? Punições
não deveriam sempre ser exemplares?) Balela. De verdade mesmo, eles fingem
que farão, nós fingimos que acreditamos. Enquanto
isso... fuzilões fuzilam.
Fonte:
Tânia Fusco – Blog do Noblat