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sábado, 3 de fevereiro de 2018

Ensino médio agoniza à espera da reforma



Censo Escolar do ano passado dá a dimensão dos problemas ao identificar a existência de 2 milhões de jovens que estão fora das salas de aula



A renitente crise do ensino médio se consolida como um dos aspectos mais graves das dificuldades na educação brasileira, demonstra o Censo Escolar de 2017. A situação é séria, porque se trata de jovens malformados que, se conseguirem passar para uma faculdadecertamente privada —, terão grandes dificuldades para se qualificar, e, caso entrem no mercado de trabalho como mão de obra de formação média, encontrarão enormes obstáculos na adaptação a sistemas tecnológicos de produção mais sofisticados.

O atoleiro em que se encontra o ensino básico como um todo — com preocupantes reflexos no ensino superior — começou a ser identificado com alguma precisão assim que, a partir dos governos FH, com sequência nas administrações de Lula e Dilma, foram criados testes e indicadores para servirem de painel de controle da Educação.  Nos governo tucanos, atingiu-se a meta da universalização nas matriculas no ciclo fundamental, e, a partir deste ponto, tornou-se evidente que a grande batalha era, e é, a da melhoria da baixa qualidade do ensino. Não tem sido fácil.  Há avanços no fundamental, porém o ensino médio não deslancha. O Censo, por exemplo, identifica uma queda de 8,1 milhões de matrículas, em 2016, para 7,9 milhões no ano passado. Há o fator positivo da redução nas reprovações, porém, existe também desinteresse de jovens na faixa dos 15 a 17 anos em continuar ou estar na escola. Comparado com dados populacionais do IBGE, o Censo Escolar do ano passado indica haver 2 milhões de jovens sem estudar. Parte deles, “nem-nem” — nem estuda, nem trabalha. Calcula-se uma evasão de 11,2%, índice elevado. 

Quanto à qualidade do ensino propriamente dito, ela pode ser mensurada pelo exame internacional Pisa, aplicado entre os países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em que o Brasil costuma aparecer nos últimos lugares.  Um ensino médio travado tem implicações graves para o país, que assim vai perdendo o “bônus demográfico” — a parcela da população de jovens em idade de trabalho, que, se for bem qualificada, torna-se fator essencial para o país subir de estágio de desenvolvimento. Toda nação rica passou por esse processo. O Brasil não tem conseguido se aproveitar, como poderia, deste “bônus”, que se esgota com o tempo, à medida que a população envelhece.

As esperanças estão na reforma do ensino médio, aprovada no ano passado pelo Congresso, com a criação de áreas de interesse à disposição dos estudantes, inclusive o ensino profissional. Deve reduzir a evasão, algo importante.  Mas ela depende da conclusão da Base Nacional Curricular do Ensino Médio, ainda não divulgada. Há, portanto, a necessidade de coordenação entre essas ações, para um enfrentamento amplo desta crise. E o tempo passa.

Editorial - o Globo