Censo Escolar do ano passado dá a dimensão dos problemas ao identificar a existência de 2 milhões de jovens que estão fora das salas de aula
A renitente
crise do ensino médio se consolida como um dos aspectos mais graves das
dificuldades na educação brasileira, demonstra o Censo Escolar de 2017. A
situação é séria, porque se trata de jovens malformados que, se conseguirem
passar para uma faculdade — certamente privada —, terão grandes dificuldades
para se qualificar, e, caso entrem no mercado de trabalho como mão de obra de
formação média, encontrarão enormes obstáculos na adaptação a sistemas
tecnológicos de produção mais sofisticados.
O atoleiro
em que se encontra o ensino básico como um todo — com preocupantes reflexos no
ensino superior — começou a ser identificado com alguma precisão assim que, a
partir dos governos FH, com sequência nas administrações de Lula e Dilma, foram
criados testes e indicadores para servirem de painel de controle da Educação. Nos
governo tucanos, atingiu-se a meta da universalização nas matriculas no ciclo
fundamental, e, a partir deste ponto, tornou-se evidente que a grande batalha
era, e é, a da melhoria da baixa qualidade do ensino. Não tem sido fácil. Há
avanços no fundamental, porém o ensino médio não deslancha. O Censo, por
exemplo, identifica uma queda de 8,1 milhões de matrículas, em 2016, para 7,9
milhões no ano passado. Há o fator positivo da redução nas reprovações, porém,
existe também desinteresse de jovens na faixa dos 15 a 17 anos em continuar ou
estar na escola. Comparado com dados populacionais do IBGE, o Censo Escolar do
ano passado indica haver 2 milhões de jovens sem estudar. Parte deles,
“nem-nem” — nem estuda, nem trabalha. Calcula-se uma evasão de 11,2%, índice
elevado.
Quanto à
qualidade do ensino propriamente dito, ela pode ser mensurada pelo exame
internacional Pisa, aplicado entre os países da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), em que o Brasil costuma aparecer nos últimos
lugares. Um ensino
médio travado tem implicações graves para o país, que assim vai perdendo o
“bônus demográfico” — a parcela da população de jovens em idade de trabalho,
que, se for bem qualificada, torna-se fator essencial para o país subir de
estágio de desenvolvimento. Toda nação rica passou por esse processo. O Brasil
não tem conseguido se aproveitar, como poderia, deste “bônus”, que se esgota
com o tempo, à medida que a população envelhece.
As
esperanças estão na reforma do ensino médio, aprovada no ano passado pelo
Congresso, com a criação de áreas de interesse à disposição dos estudantes,
inclusive o ensino profissional. Deve reduzir a evasão, algo importante. Mas ela
depende da conclusão da Base Nacional Curricular do Ensino Médio, ainda não
divulgada. Há, portanto, a necessidade de coordenação entre essas ações, para
um enfrentamento amplo desta crise. E o tempo passa.
Editorial - o Globo