Companhias terão de se esforçar para retomar confiança de investidores
O alvo
era o preço do diesel, mas, no caminho, a greve dos caminhoneiros acabou
atingindo as principais estatais brasileiras: Petrobras e Eletrobras. As duas
companhias vão ter de se esforçar muito para convencer investidores de que tudo
continua como era antes. A decisão
da Petrobras de reduzir o preço do diesel em 10% e manter o valor do produto
inalterado ao longo dos próximos 15 dias será um teste de confiança para o
mercado. A reação ao anúncio — feito após o fechamento da Bolsa de São Paulo —
foi rápida, e os recibos de ações da petroleira negociados
em Nova York caíram mais de 10%.
Desde
segunda-feira, os investidores acompanhavam com apreensão o desfecho da crise.
Na avaliação do mercado financeiro, a nova política de preços da Petrobras, que
entrou em vigor na metade do ano passado, é um dos pontos cruciais para a
retomada de credibilidade da companhia. É também uma marca da gestão de Pedro
Parente no comando da empresa. A companhia diz que após esse período retomará
gradualmente sua política. No fim
das contas, a leitura é que, apesar da resistência, a companhia teve de ceder
para evitar um caos ainda maior do que os transtornos que os brasileiros já
enfrentaram nesta quarta-feira. Ainda não se sabe, porém, se o esforço dará resultado.
Até o fim da noite de terça-feira, os grevistas prometiam manter os protestos.
Diante de
uma crise como esta, que coloca em risco a operação cotidiana de empresas, o
deslocamento de pessoas e a produção de riqueza no país, sempre é possível
argumentar que o papel de uma empresa pública deve ser maior do que
simplesmente seguir o sobe-e-desce das ações. O histórico de decisões
equivocadas tomadas pela empresa no passado, porém, vai exigir uma dose extra
de fé dos analistas e um esforço de convencimento maior do comando da
companhia. O recado da empresa foi claro: a trégua nos preços por 15 dias visa
a permitir que governo e caminhoneiros cheguem a um entendimento rápido. Não à
toa, Parente se reúne nesta quinta-feira com o presidente Michel Temer para
discutir a crise dos combustíveis.
A
Petrobras, porém, não foi a única a enfrentar problemas. A Eletrobras, que teve
papel de coadjuvante nesta crise, viu suas ações despencarem mais de 11% na
Bolsa. Sem margem para nada neste ano de eleições, o governo abriu mão de votar
a medida provisória (MP) que abre caminho para a venda das distribuidoras
deficitárias da Eletrobras em troca de apoio na Câmara para votar a reoneração
da folha de pagamento. A MP pode parecer apenas mais uma das intermináveis
tarefas previstas no longo cronograma de privatização da companhia, mas é, na
verdade, um dos passos essenciais para atrair o interesse de investidores.
A decisão
do governo coloca a Eletrobras numa corrida contra o tempo para ajustar a
situação. O governo acena com um projeto de lei no lugar da MP, mas o prazo é
apertado. Caso não consiga vender as distribuidoras este ano, a Eletrobras pode
ter de arcar com uma conta de R$ 16,6 bilhões, que é o montante calculado para
liquidar as empresas. Para muitos analistas, o resumo da ópera é que ficou mais
difícil levar adiante a venda da Eletrobras. O presidente da companhia, Wilson
Ferreira Júnior, viajou para Brasília a fim de discutir o caso com o Ministério
de Minas e Energia. Resta saber se os esforços das duas empresas serão
suficientes para convencer os investidores.
O Globo