Desfile de blindados de Bolsonaro lembra Newton Cruz em 1984
O desfile de 150 blindados de Bolsonaro faz lembrar o ameaçador cortejo de Newton Cruz à frente de 116 tanques às vésperas da votação das Diretas-Já
O presidente receberá um convite para presenciar uma operação da Marinha na semana que vem — bastaria um militar entregar o convite em seu gabinete, sem a fanfarra intimidatória que ocorrerá na Esplanada dos Ministérios justamente no dia em que a PEC do voto impresso será votada pelo Congresso. A tentativa de demonstração de força de Bolsonaro faz lembrar o último ato público intimidatório da ditadura militar, tão cara ao presidente.
Foi em 23 de abril de 1984, dois dias antes da votação da Emenda Dante de Oliveira que, se aprovada, restabeleceria as eleições diretas para presidente. O Comandante do Comando Militar do Planalto - CMP, general Newton Cruz, desfilou pela Esplanada dos Ministérios montado num cavalo branco. Chefiava um ameaçador comboio de seis mil militares e 116 tanques e carros de combate.
A emenda das Diretas-Já não passou. [não houve anos seguintes; menos de um ano após o repúdio dos brasileiros a emendas das diretas-já, o cargo de presidente da República foi assumido por José Sarney, criada a famigerada Nova República com todos os males dela decorrentes e que até os dias atuais maltratam os brasileiros.] Mas nos anos seguintes [?] a ditadura militar foi sendo enterrada sem glórias — só deixando saudade em tipos como Bolsonaro. Nove meses depois, um civil de oposição foi eleito presidente, ainda indiretamente; e quatro anos depois, o Brasil tinha uma nova Constituição.
O Antagonista
Dias antes da votação da emenda das diretas no Congresso, general da ditadura desfilou por Brasília à frente de comboio com 6.000 militares e 116 tanques
O desfile de blindados previsto para esta terça-feira (10), para que Jair Bolsonaro possa brincar de golpe, lembra um episódio dos estertores da ditadura militar no Brasil, registra Lauro Jardim.
Em 23 de abril de 1984, dois dias antes da votação da emenda Dante de Oliveira —que, se aprovada, restabeleceria a eleição presidencial direta no Brasil—, Newton Cruz, o comandante militar do Planalto, desfilou pela Esplanada dos Ministérios.
Conhecido pela truculência, [eficiência e empenho no cumprimento das missões que recebia.]o general (na foto), montado em um cavalo branco, chefiava um comboio de 6.000 militares e 116 tanques e carros de combate. Newton Cruz (ainda vivo, aos 96 anos) e Jair Bolsonaro têm em comum mais que o gosto por desfilar com tanques.
O general da ditadura foi testemunha de defesa do atual presidente no Superior Tribunal Militar, no processo em que Bolsonaro era acusado de planejar a explosão de bombas em quartéis do Rio —o então capitão do Exército foi absolvido. E o próprio Cruz foi acusado de envolvimento no atentado malogrado do Riocentro, em 30 de abril de 1981, durante um show musical que reuniu cerca de 20 mil pessoas para comemorar o 1º de Maio. No estacionamento do centro de convenções, uma bomba explodiu num carro que levava dois militares do DOI-Codi, matando um deles e ferindo gravemente o outro.
Chefe do SNI naquela época, o general foi acusado de ter dado aval ao ataque e chegou a ser indiciado. O caso, porém, foi arquivado pelo STM em 2000.
O Globo e O antagonista