Amanda Almeida, Victor Farias e Bruno Góes
Ao comparecer a um ato de apoio a seu governo e de ataques
ao STF, ao Congresso e ao ex-ministro Sergio Moro, o presidente Jair
Bolsonaro declarou neste domingo, na rampa do Palácio do Planalto, que não
vai mais "admitir interferência" em seu governo e que
chegou "ao limite". O presidente disse ainda ter o apoio
das Forças Armadas, sem detalhar a que se referia. Bolsonaro foi ao encontro de
manifestantes que fizeram uma carreata que percorreu a Esplanada dos
Ministérios.
Depois da crise aberta com a demissão do ex-ministro Sergio
Moro, que o acusou de interferir na Polícia Federal por causa de
investigações que o incomodam, o presidente nomeou o diretor-geral da
Abin, Alexandre Ramagem, para dirigir a PF. Na quarta-feira, o ministro do
STF Aleaxandre de Moraes barrou a nomeação por considerar que ela fere
princípios constitucionais. Bolsonaro havia dito a Moro em uma mensagem que a
investigação de parlamentares aliados a ele era um motivo para a troca na
direção da PF. Na fala aos manifestantes, transmitida em suas redes
sociais, Bolsonaro afirmou que não vai mais "admitir interferência"
em seus atos no governo. E disse que "acabou a paciência".
- Nós queremos o melhor para o nosso país. Queremos a
independência verdadeira dos três poderes, e não apenas uma letra da
Constituição, não queremos isso. Chega de interferência. Não vamos admitir mais
interferência. Acabou a paciência. Vamos levar esse Brasil para frente.
Aos manifestantes, Bolsonaro voltou a expor contrariedade,
sem citar explicitamente a mais recente crise sobre o comando da PF. O
presidente também afirmou ter apoio das Forças Armadas, sem entrar em detalhes.
— Como tenho dito, o Poder Executivo está unido. Um só
propósito: tirar o Brasil de onde se encontra. Vocês sabem que o povo está
conosco. As Forças Armadas, ao lado da lei, da ordem, da democracia, da
liberdade e da verdade, também estão ao nosso lado. Deus acima de tudo. Quanto
aos algozes, peço a Deus que não tenhamos problema esta semana, porque chegamos
no limite. Não tem mais conversa. Daqui para frente, não só exigiremos. Faremos
cumprir a Constituição. Será cumprida a qualquer preço. E ela tem dupla mão.
Não é só de uma mão, não.
Ao falar da crise sanitária, Bolsonaro disse que
"infelizmente" muitos brasileiros serão infectados e vão morrer, e
que isso é uma realidade que precisa ser enfrentada. O presidente defende o fim
do isolamento social em nome da retomada de uma atividade econômica mais
intensa. O isolamento é apontado pelos cientistas e médicos como a única forma
conhecida para conter o avanço do contágio pelo novo coronavírus. O Brasil vive
uma fase de aceleração do número de infectados e mortos pela Covid-19.
— O país, de forma altiva, vai enfrentar os seus problemas.
Sabemos do efeito do vírus, mas infelizmente muitos serão infectados.
Infelizmente muitos perderão suas vidas também, mas é uma realidade quer nós
temos que enfrentar. Não podemos fazer com que o efeito colateral, o tratamento
do combate ao vírus, seja mais danoso que o próprio vírus. Há 50 dias venho
falando isso.
Antes, o presidente voltou
a criticar o isolamento social, disse que as pessoas "querem
trabalhar" e chamou os governadores de "irresponsáveis". — (É uma) Manifestação espontânea, pela liberdade, pela
governabilidade, pela democracia. Isso nunca aconteceu em governo nenhum.
Muitos querem voltar ao trabalho, o governador aqui já está abrindo, mas o
Brasil como um todo reclama volta ao trabalho. Essa destruição de empregos
irresponsável por parte de alguns governadores é inadmissível
— Infelizmente, muitos serão contaminados. Infelizmente,
muitos perderão sua vida também. Mas é a realidade que temos de enfrentar —
disse.
O presidente estava cercado de crianças e aliados, como o
filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e a deputada Bia Kicis (PSL-DF).
Chegou a segurar no colo um menino que saiu de um grupo de apoiadores em frente
ao Planalto.
(........)
Protesto na Paulista
Em São Paulo, o protesto pró-Bolsonaro aconteceu na tarde
deste domingo e se concentrou, mais uma vez, em frente ao prédio da Federação
das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), na Avenida Paulista.
Os manifestantes ostentaram placas e cartazes contra o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), o governador João Doria (PSDB) e
os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A carreata ocupou duas faixas
de cada pista da avenida ao longo de pelo menos dois quarteirões.
Em O Globo, MATÉRIA COMPLETA