A vantagem comparativa do PT é grande, mas o fato é que todos os partidos estão mal com o eleitor. O que costuma derrubar o PT são períodos de denúncias de corrupção, mais do que radicalização do discurso. Em agosto de 2016, com o fim do processo de impeachment da então presidente Dilma, o índice do PT caiu para 9% de preferências, e o total de eleitores sem partidos atingiu o recorde de 75%. O dado mais importante é o vácuo político, a maioria absoluta não se sente representada pela oferta de partidos e candidatos. Segundo o Datafolha, esse sentimento se acentuou a partir de junho de 2013.
Embora o maior problema do PT sejam as acusações de corrupção, o que indica que esse prestígio partidário pode ser reduzido à medida que o eleitorado tomar conhecimento da condenação em segunda instância de Lula — segundo o mesmo Datafolha, 24% dos eleitores nem ouviram falar do julgamento de Lula no TRF-4 e outros 9% ouviram falar, mas disseram estar mal informados —, a radicalização partidária diante da condenação de Lula e seu impedimento de concorrer devido à Lei da Ficha Limpa podem jogar o partido num gueto político do qual será difícil sair. Ontem, na abertura do ano judiciário, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, disse que é “inadmissível e inaceitável” que se ataque a Justiça. A procuradora-geral da República também salientou que ainda há muito a fazer para corrigir os rumos do país.
A mesma pesquisa do Datafolha revela que 53% dos eleitores querem Lula na cadeia, e 37% dos entrevistados consideram que ele recebeu um tratamento igual ao de todos os outros criminosos, enquanto outros 22% perceberam que ele recebeu um tratamento melhor. Os acintosos discursos de dirigentes partidários e aliados de diversos níveis — falando em sangue nas ruas, morte de pessoas e desobediência civil — caíram no vazio, mas deixaram no ar a desconfiança de que uma parte do PT trabalha fora das regras democráticas. Outras reações chegam ao ridículo, como a proposta de organizar um milhão de habeas corpus pelo país pedindo a liberdade de Lula, numa ação coordenada pelos diretórios regionais do PT, outra tentativa de desmoralizar a Justiça.
Houve também a proposta de que Lula fizesse greve de fome quando preso, em protesto. Os que tiveram essa ideia não sabem que essa questão sempre foi problemática para Lula. Quando foi preso em 1980 durante a ditadura militar, devido à greve dos metalúrgicos, os sindicalistas resolveram fazer uma greve de fome.
O líder Zé Maria, um dos fundadores do PT e hoje candidato permanente à Presidência da República pelo PSTU, conta, em relato publicado no blog do sociólogo Ricarte Almeida Santos nunca desmentido, que houve “uma grande decepção” quando descobriram que “Lula estava furando a greve de fome, recebendo barras de chocolate e comendo às escondidas”.
Ainda presidente, Lula fez uma visita oficial a Cuba em meio a uma greve de fome de um preso político conhecido por Zapata. Lula deu declarações dizendo que “(…) temos de respeitar a determinação da Justiça e do governo cubanos. A greve de fome não pode ser um pretexto de direitos humanos para liberar as pessoas. Imagine se todos os bandidos presos em São Paulo entrarem em greve de fome e pedirem liberdade”.
Zapata morreu com Lula ainda em solo cubano, e a comparação de presos políticos com presos comuns levou a críticas severas contra ele.
Merval Pereira - O Globo