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segunda-feira, 7 de março de 2022

Fazer o quê? Insatisfeitos com as reações do Brasil à invasão da Ucrânia não revelaram o que se deveria fazer - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Fazer o quê?

Os partidos, chefes e possíveis candidatos da oposição às eleições presidenciais de outubro declararam-se insatisfeitos com as reações do Brasil à invasão da Ucrânia pela Rússia. 
Não apresentaram uma lista completa, nem parcial, do que o Brasil deveria ter feito até agora e não fez, nem revelaram alguma ideia coerente sobre o que se deveria fazer. 
O principal deles, o ex-presidente Lula, não se juntou ao resto; seu partido soltou primeiro uma nota a favor da invasão, depois uma outra mais neutra e, até agora, não ficou claro o que ele próprio, Lula, acha do assunto, a não ser que o “imperialismo americano” é muito ruim, etc. etc. 
 
O que está em falta, pelo que se viu até aqui, são explicações com um mínimo de realismo, objetividade e inteligência sobre o que o Brasil estaria devendo. 
O que o País fez até agora está errado? 
Há alguma coisa essencial que não foi feita? 
Está em desacordo com a reação média dos países que jogam na mesma divisão? 
Algum parceiro importante está achando que o Brasil deveria ter tomado outras providências? Quais, exatamente?

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O Brasil tem boas relações com a Rússia, sobretudo comerciais, mas nem por isso deixou de manifestar a sua posição. Foto: Mikhail Klimentyev - Kremlin via Reuters

Pelo que veio a público até o momento, o representante brasileiro na Organização das Nações Unidas condenou, nas manifestações que fez em plenário até agora, a agressão militar contra a Ucrânia; não ficou dúvida sobre isso.

O Brasil, basicamente, pediu o pacote-padrão que se pede nesses casos: cessar-fogo imediato, manutenção da integridade territorial da Ucrânia, respeito aos direitos humanos e esforços para o início de negociações que levem à paz. 
O Brasil tem boas relações com a Rússia, sobretudo comerciais, mas nem por isso deixou de manifestar a sua posição. 
Apenas, dentro da tradição da política externa brasileira, não crê na correção, oportunidade e eficácia de boicotes e represálias internacionais. 
 
O Brasil, por decreto já publicado no Diário Oficial, decidiu conceder visto de entrada de seis meses no País aos ucranianos que quiserem vir para cá – mais, caso desejem, residência temporária de dois anos. (Os países da Comunidade Europeia estão para aprovar residência de um ano, renovável em condições ainda não estabelecidas claramente.)  
A Força Aérea mandou um avião militar trazer de volta ao Brasil brasileiros que estavam na Ucrânia e querem voltar – uma operação complicada, levando-se em conta que o espaço aéreo ucraniano está fechado e há necessidade de autorização para aviões militares brasileiros operarem nos países vizinhos. Equipes de reforço do Itamaraty foram mandadas para a área do conflito. 
 
Que mais? Suspender as nossas exportações de alta tecnologia para a Rússia? Quais?  
Cortar os embarques de alimentos – coisa que ninguém fez até agora? Romper relações? Aguardam-se propostas concretas. 
 
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo