Por Ricardo Noblat - Veja
A pergunta que ainda se faz
A essa hora, há
exato um ano, Jair Bolsonaro, o candidato azarão à presidência da
República, estava entubado em estado grave na UTI da Santa Casa de
Misericórdia de Juiz de Fora, Minas Gerais, depois de ter sido
esfaqueado na véspera pelo pedreiro Adélio Bispo. Perguntava-se: se
sobrevivesse, continuaria candidato? Uma vez eleito, a
pergunta que se fez e que muitos hoje ainda se fazem é: Bolsonaro teria
vencido aquela eleição se Adélio não tivesse cruzado o seu caminho? Ou: a
facada foi decisiva para que ele se elegesse? A pergunta jamais terá
uma resposta satisfatória porque o momento ainda está impregnado de
paixões.
Na noite do dia 6 de
setembro do ano passado, a menos de 12 horas de ser esfaqueado,
Bolsonaro tinha 21% das intenções de voto na pesquisa feita por telefone
pelo Instituto Ideia BigData. No dia 10 saltou para 24%. No dia 18 para
27%. No dia 25 para 31%. E no dia 5 de outubro para 33%. Seu
crescimento foi constante. Recuemos pouco mais de um
ano. Entre abril de 2017 e novembro daquele ano, o voto espontâneo em
Bolsonaro quase dobrou de tamanho. Foi de 6% para 11%. [o que mostra que na época em que Lula foi sentenciado por Moro, as chances de Bolsonaro ser eleito eram mínimas; jamais um juiz, um magistrado, com a dignidade honradez do ministro Sergio Moro, iria aceitar conspurcar a dignidade do seu cargo, pela 'possibilidade remota' de ser ministro de Estado.
A prova cabal que Jair Bolsonaro seria eleito sem a facada, é que Adelio Bispo foi contratado - todos sabem por quem, apenas ainda não há provas - para matá-lo, o único caminho encontrado pelos que contrataram o sicário ] O que se passou
no período? Aécio Neves (PSDB) foi flagrado pedindo dinheiro ao
empresário Joesley Batista, e Joesley gravou o presidente Temer no
Palácio do Jaburu.
Políticos e empresários
foram presos. Um ex-deputado, assessor de Temer, foi filmado carregando
uma mala estufada de dinheiro no centro de São Paulo. A Lava Jato estava
a pleno vapor. A imprensa só falava disso. E a indignação dos
brasileiros com a corrupção só fazia aumentar. O desemprego também
aumentava. Sim, a facada deu a
Bolsonaro uma cobertura midiática que ele jamais teria. Seu tempo de
propaganda eleitoral no rádio e na televisão era insignificante. Fora o
minúsculo PSL, nenhum outro partido quis juntar-se a ele. A facada
liberou Bolsonaro para que faltasse aos debates com os demais
candidatos. Sim, mas…
Mas o candidato que até
agosto liderava todas as pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente
Lula, estava preso e condenado por corrupção. Em junho de 2018, a uma
pergunta feita pelo BigData, 57% dos eleitores entrevistados haviam
respondido que “não votariam em um candidato do PT de jeito nenhum”.
O PT fizera pelo menos
três apostas erradas. A primeira: Lula poderia ser solto a tempo de
disputar a eleição. A segunda: se não fosse, transferiria seus votos
para Fernando Haddad. A terceira: Bolsonaro seria o candidato mais fácil
para derrotar. Haddad não herdou todos os votos de Lula, mas herdou
toda a rejeição ao PT. O voto útil manifesta-se
no segundo turno de uma eleição quando o eleitor vota em um candidato
para impedir que o outro ganhe. No primeiro turno da eleição de 2018,
diante da fraqueza dos demais candidatos, o voto útil por pouco não
elegeu Bolsonaro. Ele obteve 46,3% do total dos votos válidos, e Haddad,
29,8%.
O eleitorado cavalgou
Bolsonaro para votar contra tudo o que rejeitava. Nisso, a eleição de
2018 foi parecida com a de 1989, a primeira depois do fim da ditadura
militar. Em 1989, foram para o segundo turno os dois candidatos que se
apresentavam como contrários a tudo – Fernando Collor e Lula. O pragmatismo do eleitor é
conhecido. Ele não tem compromisso com o erro. Collor governou por
menos de três anos dos quatro a que tinha direito. Começou a cair quando
pediu às pessoas que fossem às ruas vestidas de verde e amarelo para
apoiá-lo.