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domingo, 29 de outubro de 2023

Piora econômica, melhora política. E o dano auto-infligido - Alon Feuerwerker

Análise Política

A tonificação da base parlamentar vem num momento bastante conveniente para o governo, e não apenas pela necessidade política de finalmente aprovar projetos relativos à economia que se arrastam pela tramitação legislativa. A consolidação da base acontece quando a popularidade governamental, apesar de ainda no azul, começa a dar algum sinal de sofrimento.

Nada grave por enquanto, mas segue o esgotamento progressivo da boa vontade de uma parte do eleitorado que não votou em Luiz Inácio Lula da Silva.
Um pedaço da explicação é a economia: os dados de confiança não são animadores, e há consenso de que o futuro imediato não será brilhante. O reossificar da polarização ideológica também ajuda.
 
Sobre a economia, a zona de sombra continua sendo como o governo imagina aumentar o apetite de investimento empresarial privado se o eixo organizador das ações oficialistas é o aumento da arrecadação tributária, já que o Planalto não quer nem ouvir falar em conter gastos. 
É um mistério desde a posse, ou desde antes.

Lula em seu terceiro mandato decidiu apostar no caráter indutor do investimento estatal. Tem lógica, mas o espírito animal do capitalista tem vida própria. Chama a atenção uma diferença entre este Lula e os anteriores: não se nota a ambição de seduzir a classe, não se veem iniciativas de aproximação, de articulação, de sinergia. Nenhum regalo. Nada.

Num ponto, os fatos, sempre teimosos, estão com Lula: o mercado já precificou faz tempo algum déficit primário, e não faz sentido o governo continuar correndo atrás da meta zero. Mas um detalhe é inescapável: quem definiu esse alvo foi o próprio governo. Dano auto-infligido. Mais um exemplo do cuidado que se deve ter ao definir metas. É como criar jacaré na piscina de casa.

No começo é bonitinho, só alegria, só se ouvem os aplausos. Depois… Como dito, as nuvens cinzentas na economia encontram o governo num momento político bastante confortável. O presidencialismo de coalizão com o Judiciário segue firme, e a maioria da maioria de direita no Congresso Nacional já se acomoda nos últimos vagões da composição presidencial do governo de esquerda.

Não chega a ser uma primeira classe, mas é melhor do que ser deixado na estação.  Mais: se a boa vontade do eleitor não lulista sofre, a boa vontade dos mecanismos de formação de opinião parece razoavelmente intocada. Haverá algum muxoxo a respeito da política fiscal, porém nada que seriamente atrapalhe a coesão da frente ampla. Lula sabe que é baixíssimo, no curto prazo, o custo informacional de “confrontar o mercado”.

Pois os companheiros de viagem “de centro” não têm no momento alternativa. Claro que tudo muda se a economia enveredar por dificuldades maiores, mas por enquanto a situação parece controlada. E, se o peronista renovador não-kirchnerista Sergio Massa ganhar a eleição argentina, estará reforçado que não é só “a economia, estúpido".

Outro aspecto que ajuda Lula é o Brasil finalmente deixar a presidência do Conselho de Segurança da ONU. Oportunidade de voltar o foco da comunicação para o mercado político interno. 

 Leia a análise da semana passada: "O impasse não está no Conselho de Segurança

 

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político


quarta-feira, 7 de junho de 2023

Lula tem minoria na Câmara porque o eleitorado escolheu assim - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Petista, a esquerda e os extremistas que estão no governo querem impor ao Brasil coisas que a maioria das pessoas não quer

O presidente Lula acha que a Câmara de Deputados está atrapalhando o seu governo; ele tem a solução para todos os problemas do Brasil, mas não pode “fazer nada”, porque a Câmara “não deixa”
A culpa por tudo, logo no começo, era da “herança maldita” que Lula teria recebido do governo anterior – uma negação flagrante de todos os números e fatos disponíveis quando ele assumiu a Presidência, da inflação ao desemprego, da balança comercial ao lucro das estatais. 
 
Depois veio o Banco Central: os juros altos, segundo Lula, impedem que o governo faça qualquer coisa capaz de melhorar o País. O problema, agora, é a Câmara. Os deputados não aprovam os projetos que ele apresenta. Aprovam, por outro lado, tudo o que ele não quer. Lula fez as contas: a esquerda, como ele disse, tem 136 deputados, no máximo, num total de 513, e com os deputados que tem o seu governo não consegue ir a lugar nenhum nas votações em plenário.
Não passa pela cabeça do presidente da República que seu partido, mais os satélites, só têm um quarto da Câmara porque três quartos do eleitorado, nas últimas eleições, votaram contra ele na escolha dos deputados. Votaram contra as propostas da esquerda.  
Não gostam das suas ideias. Não querem as mesmas coisas. 
Seu Brasil não é o Brasil de Lula, do PT e da esquerda. 
 É disso que se trata, e apenas disso: a grande maioria do povo brasileiro é contra o projeto que ele tem para o País, e sua vontade está expressa na composição da Câmara dos Deputados. 
Eles não estão ali porque foram nomeados. Estão ali porque o povo quis que estivessem. 
Podem não ser os seus melhores representantes, mas são os únicos que existem; não há outra maneira de se dar voz e algum poder de decisão às pessoas a não ser com a eleição de um parlamento. 
Se a Câmara é assim, é porque o eleitorado quis assim.
Lula, a esquerda e os extremistas que estão no seu governo querem impor ao Brasil coisas que a maioria do eleitorado não quer, simplesmente – é esse o começo, o meio e o fim do problema. 
O presidente pode comprar apoio, é claro – já gastou, nestes cinco meses, R$ 5 bilhões em “liberação de recursos” para os deputados. 
Mas essas coisas nunca fornecem resultado garantido; há a venda de votos, mas nem sempre há a entrega do combinado. Fazer o que? 
A única saída, para acabar mesmo com o problema, é cassar os mandatos dos deputados da oposiçãoquem sabe Lula não chega lá, em parceria com o TSE? Enquanto houver TSE, eleição no Brasil não vale nada; mandato de deputado, então, vale menos ainda
Acabaram de cassar o mandato do deputado Deltan Dallagnol, o mais votado do Estado do Paraná, porque o Sistema Lula quis se vingar da sua atuação nos processos da Lava Jato; não houve o menor vestígio de legalidade na decisão. É só continuar nessa batida. 
 Se cassarem mais uns 150, por aí, Lula vai ter, enfim, uma Câmara do jeito que quer. [será que os não eleitos, os sem votos que cassam o mandato dos eleitos,  os com votos = aguentam? dão conta do desgaste de cassar dezenas dos  representantes do Povo?]
 
J. R.Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo] 
 

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

De volta à cena do crime - Revista Oeste

J. R. Guzzo

Após a campanha mais desonesta que já se viu na história política deste país, o líder supremo da esquerda nacional volta a mandar no Brasil 

 Luiz Inácio Lula da Silva | Foto: Agência Brasil

 Luiz Inácio Lula da Silva -  Foto: Agência Brasil

O ex-presidente Lula está de volta à cena do crime, de acordo com a descrição feita tempos atrás pelo próprio vice da sua chapa — eis ele aí de novo, aos 77 anos de idade, eleito presidente do Brasil pela terceira vez. Foi por pouco. Mas jogo que acaba em 5 a 0, ou 1 a 0, vale o mesmo número de pontos, e o que conta é o resultado marcado no placar do TSE. Após a campanha eleitoral mais desonesta que já se viu na história política deste país, com a imposição de uma ditadura judiciária que violou todo o tipo de lei para lhe devolver a presidência, o líder supremo da esquerda nacional volta a mandar no Brasil. Com ele não vêm “os pobres”, nem um “projeto de justiça social”, e nenhuma das coisas cheias de virtude de que falam as classes intelectuais, os parasitas que lhe dão apoio e a sua própria propaganda. 

Voltam a mandar os donos do Brasil do atraso esses que querem manter os seus privilégios de 500 anos, não admitem nenhum governo capaz de atender aos interesses da maioria dos brasileiros que trabalha e exigem um “Estado” com poderes de Deus, e eternamente a seu serviço. São eles os que realmente ganharam. Conseguiram convencer a maior parte do eleitorado, segundo os números da autoridade que controla as eleições, que é uma boa ideia colocar de novo na presidência da República um cidadão condenado pelos crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro. Começa agora o pagamento da conta — e quem vai pagar, como sempre acontece, são os brasileiros que têm menos.

Lula foi levado à presidência pelo colapso geral da Constituição e das leis brasileiras ao longo do processo eleitoral — resultado de uma inédita intromissão do alto Poder Judiciário, abertamente ilegal, em cada um dos passos da eleição. O fato objetivo é que a dupla STF-TSE, com o ministro Alexandre Moraes dando as ordens e Lula no papel de beneficiário único, fez tudo o que seria preciso para um observador neutro definir a disputa como uma eleição roubada — pode não ter sido, na contagem aritmética dos votos, mas com certeza fizeram o possível para dar a impressão de que foi. Basicamente, os ministros do Supremo Tribunal Federal e seu braço eleitoral, o TSE, montaram peça por peça um mecanismo desenhado para favorecer em tudo o candidato do PT. 

O primeiro passo foi a decisão de anular a lei, aprovada pelo Congresso Nacional, que permitia a prisão dos réus condenados em duas instâncias — como efeito imediato e direto dessa virada de mesa, Lula foi solto do xadrez de Curitiba onde cumpria há 20 meses a pena pelos crimes a que foi condenado na justiça. 
 
Em seguida veio o que deverá ficar na história como a sentença mais abjeta jamais dada nos 131 anos de existência do STF, do ponto de vista da moralidade comum e pelo princípio elementar que manda a justiça separar o certo do errado. Os ministros, simplesmente, anularam as quatro ações penais que havia contra Lula, incluindo as suas condenações — e, com isso, fizeram a mágica de desmanchar a ficha suja que impedia o ex-presidente de ser candidato. 
Não deram motivo nenhum para isso, não fizeram um novo julgamento em que ficasse provada a sua inocência, e nem o absolveram de coisa nenhuma — disseram apenas que o endereço do processo estava errado e, portanto, ficava tudo zerado. A partir daí, e até desfecho no dia 30 de outubro, o sistema STF-TSE passou a trabalhar sem qualquer disfarce para favorecer Lula e prejudicar o único adversário real de sua candidatura o presidente Jair Bolsonaro.

A campanha se fez debaixo da pior censura imposta à imprensa desde o AI-5 do regime militar. A liberdade de expressão individual foi liquidada nas redes sociais

A campanha eleitoral de 2022 foi uma fraude jurídica e política como jamais se viu neste país. O STF e os advogados de Lula, pagos com os bilhões do “Fundo Eleitoral” que foi extorquido do pagador de impostos, deram a si próprios o poder de violar as leis e a Constituição Federal para “defender a democracia” — e essa defesa, desde o primeiro minuto, foi fazer tudo para impedir que Bolsonaro ganhasse a eleição. A campanha se fez debaixo da pior censura imposta à imprensa desde o AI-5 do regime militar. A liberdade de expressão individual foi liquidada nas redes sociais. 

O TSE desviou para Lula, com desculpas de quinta categoria, tempo do horário eleitoral que pertencia legalmente a Bolsonaro. Houve trapaça direta, também cerca 1.300 horas de mensagens devidas ao presidente em rádios do Nordeste simplesmente não foram levadas ao ar durante a campanha.  
O TSE não fez nada: a única providência que tomou foi ameaçar com processo criminal quem fez a queixa e demitir o funcionário que encaminhou a denúncia aos seus superiores. Inventaram, num momento especial de demência, multas de 150.000 por hora a quem não obedecesse aos decretos do sistema.  
 
O ex-ministro Marco Aurélio, até outro dia decano do STF, não teve permissão para dizer que Lula não foi absolvido de nada pela justiça brasileira; o homem é um jurista, mas não pode falar de uma questão puramente jurídica. Em outro momento extraordinário, Moraes proibiu que fossem mostrados vídeos em que ele próprio, Moraes, dizia que o PT fez um governo de ladrões — nos tempos em que não era o protetor de Lula, nem seu servidor. 
Proibiram uma foto em que Lula aparece com o boné usado por uma facção criminosa no Rio de Janeiro; na hora ele achou que era uma grande ideia, mas no fim os seus advogados decidiram que a coisa estava pegando mal e mandaram o TSE tirar. Uma ministra, para coroar este desfile de aberrações, anunciou em público que estava, muito a contragosto, violando a lei, mas só fazia isso de forma “excepcional” porque tinham de impedir a reeleição de Bolsonaro e, com isso, salvar a “democracia”. Nunca se viu nada de parecido em nenhum país sério do mundo.

Mas é aí que está, justamente: o consórcio STF-TSE transformou o Brasil, do ponto de vista legal, numa ditadura de republiqueta bananeira em que eleição só é ganha por quem manda. Volta a vigorar, agora, o Brasil da senzala, com os donos do “Estado” no papel de senhores de engenho e com a população escalada de novo para trabalhar, pagar imposto e sustentar a casa-grande. Sabe-se, desde sempre, quem é essa gente. São as múltiplas modalidades de parasitas do Tesouro Nacional — dos que estão diretamente instalados dentro da máquina estatal até os que se servem dela para ganhar a vida sem risco, sem competição e sem trabalho. São as empreiteiras de obras públicas, que governaram o país nos quase 14 anos de Lula-Dilma e agora voltam ao Palácio do Planalto — a turma do “amigo do amigo do meu pai” e você sabe muito bem quem mais
São os eternos donos das estatais, que passaram esses últimos quatro anos longe delas — um desastre que jamais tinham experimentado antes. Foi um período em que as estatais deram lucro; o que poderia haver de pior para quem ganha bilhões com os seus prejuízos, como foi regra na era PT? São, obviamente, os ladrões do erário público esses mesmos que confessaram livremente os seus crimes na Operação Lava Jato, devolveram fortunas em dinheiro roubado e fizeram do governo Lula, com base em provas materiais, o mais corrupto da história do Brasil. São os advogados criminalistas que defendem corruptos e o crime organizado. É a mídia, que voltará a receber verbas bilionárias em publicidade oficial pagas com dinheiro dos impostos; só a Globo, nos governos do PT, levou R$ 7 bilhões em valores corrigidos.

A vitória da associação Lula-STF é a vitória do Brasil da licença-prêmio, dos aumentos automáticos para o funcionalismo público e dos “penduricalhos” que fazem as castas mais elevadas do judiciário terem salários mensais de R$ 100.000 ou mais, sempre com uma explicação legal para isso. Ganham, com Lula, os 12 milhões de funcionários públicos de todos os níveis — é uma população inteira de eleitores, e a maioria vota no PT, por questões elementares de interesse pessoal. (No governo de Bolsonaro o número de servidores federais foi o menor desde 2011; alguma surpresa que Lula tenha aí um dos seus principais reservatórios de voto?) Ganham o “imposto sindical” e os proprietários de sindicatos, que enriquecem metendo esse dinheiro no próprio bolso. Ganha o “consórcio do Nordeste”, um bloco de governadores formalmente acusado de agir como organização criminosa durante a covid. 

Ganham os vendedores de navios-sonda para a Petrobras, que não extraíram uma gota de petróleo — mas embolsaram bilhões de reais até, convenientemente, suas empresas irem à falência. Ganham os artistas, ou quem se apresenta como tal, que em vez de público têm verbas do Estado, por força da infame “Lei Rouanet”. Ganha, em suma, o Brasil do antitrabalho as classes que não admitem o mérito, o esforço e o talento individuais como a base da prosperidade pessoal, do crescimento econômico e da igualdade social. Em vez disso querem políticas públicas” que sustentem o seu conforto e, como sempre, deixem a pobrada exatamente como está, com umas esmolas e a ficção de que “o governo” morre de preocupação com eles.

Na vida real, os 14 anos de governo petista deixaram o país com a maior recessão de sua história, inflação à beira do descontrole

Não há, a partir de agora, grandes notícias a esperar na economia. Lula, pelo que ele próprio vem dizendo aos gritos e há meses, é contra tudo o que foi posto em prática por este governo e deu certo — a começar pelo surgimento de estruturas produtivas que abriram a possibilidade de uma economia menos dependente do Estado. Quer mais estatal, mais ministério e mais funcionário público. Acha que desrespeitar o teto legal de gastos do governo é fazer “política social”. Acha que combater a inflação é coisa “de rico”; para ele, pobre precisa de aumento salarial e dinheiro no bolso, mesmo que esse dinheiro não valha nada. Acha que a Argentina é um modelo de administração econômica; só não está dando certo por culpa do capitalismo. Acha que os invasores de terra do MST devem fazer parte do governo — e por aí vai a procissão. Seu passado, em matéria de economia, é um pesadelo em formação. Ele passa o tempo todo dizendo que o Brasil vivia feliz, ninguém era pobre e todo mundo viajava de avião; na vida real, os 14 anos de governo petista deixaram o país com a maior recessão de sua história, inflação à beira do descontrole, taxas inéditas de desemprego, estatais à beira da bancarrota e a falência múltipla dos serviços prestados à população. Também não se pode contar com qualquer melhora no combate ao crime

As taxas de criminalidade ao fim dos governos petistas foram as piores da história; desde que saíram, todos os índices só tiveram melhoras. Qual a surpresa? Lula é contra a polícia; disse, para efeitos práticos, que os policiais não são seres humanos. Tirou foto com o tal boné de bandido numa favela governada pelo crime no Rio de Janeiro. Diz que é um absurdo prender “meninos” que roubam um mero celular — e mais uma porção de coisas do mesmo tipo. 

Pode-se contar com o pior, também, em matéria de transferência de dinheiro público brasileiro para a “América Latina”. Lula diz, o tempo todo, que os seus grandes modelos de sociedade são Cuba, Venezuela e Nicarágua. Proibiu, via TSE, que se dissesse que ele vive um caso de amor político com essas ditaduras, porque achou que isso não ficava bem na reta final da eleição, mas só provou a sua hipocrisia; é a favor, sim, e quis esconder que era até ser eleito. A partir de janeiro de 2023, esses três, mais Argentina, Chile, Colômbia e Bolívia, terão acesso de novo aos cofres do BNDES, à diretoria da Petrobras e aos US$ 400 bilhões que o Brasil mantém nas suas reservas internacionais. Por que não? Lula, o PT e o seu entorno acham que é bom juntar-se a países que são notórios perdedores; imaginam que vão ficar mais fortes, quando estão apenas somando os problemas dos outros a todos aqueles que o Brasil já tem.

Muito se falou, entre um turno e outro, no crescimento da direita e do “bolsonarismo” dentro do Congresso. As almas mais otimistas têm imaginado até que a nova composição da Câmara, e principalmente do Senado, poderia servir de freio para os desastres anunciados por Lula, pelo PT e pelo que passa por sua “equipe econômica”, sem contar o MST e outros componentes tóxicos. 

No Senado, em especial, os candidatos de Bolsonaro ficaram com a maioria das vagas em disputa nesta eleição — e isso poderia, quem sabe, abrir uma perspectiva de oposição à ditadura do STF, cujos ministros dependem dos senadores para continuar sentados nas suas cadeiras e nas suas canetas. Impossível não é. 

Mas também não parece provável, levando-se em conta o que mostra a experiência — deputado e senador brasileiro só fazem oposição de verdade a governo morto, como aconteceu com Dilma Rousseff. O Congresso não manda nada hoje; com Lula na presidência, promete mandar menos ainda. Obedece de olhos fechados, hoje, tudo o que o STF manda; no seu momento mais infame, concordou com a prisão ilegal de um deputado federal, por ordem e vontade de Alexandre Moraes, um caso sem precedentes na história da República. Por que iria enfrentar o STF com Lula, se não enfrenta nem com Bolsonaro?

O STF está com a vida ganha; não deve ser mais o que é hoje, quando manda em tudo, mas a lagosta fica garantida

Se o presidente tivesse ganhado, a história poderia ser diferente seus senadores assumiriam com o dobro da força política, e os ministros poderiam se ver diante de um perigo real. Com Lula no governo, porém, o STF está com a vida ganha; não deve ser mais o que é hoje, quando manda em tudo, mas a lagosta fica garantida. O fato é que o grande objetivo do STF foi alcançado tiraram Bolsonaro do Palácio do Planalto, depois de quatro anos inteiros de sabotagem e de oposição declarada a seu governo. 

Agora os ministros vão trocar o passo; em vez de dar ordens ao presidente, estarão a seu serviço. Foi assim durante toda a caminhada que levou Lula de novo à presidência. Por que ficariam contra, agora que ele ganhou? O Congresso, hoje, pode decidir o que quiser — é o STF quem diz se a decisão vale ou não vale. Vai continuar dizendo — só que, daqui para a frente, os ministros vão querer o que Lula quiser, e só vai valer aquilo que ele decidir que vale.

Lula tem desde já uma explicação pronta para todo e qualquer fracasso do seu governo — será culpa da “herança maldita” de Bolsonaro, assim como já foi com a “herança maldita” que recebeu de seu atual admirador Fernando Henrique Cardoso, como disse na época. É exatamente o contrário, num caso e no outro. Agora, em especial, ele vai receber uma casa em excelente situação — infinitamente melhor que as ruínas que sua sucessora Dilma deixou ao ser deposta da Presidência pelo Congresso Nacional. Mas e daí? Ele estará de volta ao que seu vice definiu como o local do crime. Pode começar tudo de novo.

Leia também “Uma eleição suja”

J. R. Guzzo, colunista -  Revista Oeste

 

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

"As pesquisas reincidiram nos erros graves da eleição de 2018"

Em nove empresas de pesquisas, nenhuma previa Bolsonaro com 43 pontos. Iam de 31 a 39. Entre as nove principais, apenas duas não apontaram Lula como vencedor em primeiro turno

A indecisão na eleição presidencial desse domingo frustrou os dois lados que agora vão para o segundo turno. O lado de Lula, porque acreditou nas pesquisas que traziam indicação de vitória no primeiro turno. O lado de Bolsonaro, que viu nas ruas e no oceano verde e amarelo a indicação de ganhar fácil no primeiro turno. Assim como as ruas deixaram Bolsonaro com ilusão, as pesquisas iludiram Lula deixando-o confiante a ponto de ausentar-se das ruas. [Lula não se ausentou des ruas por causa das pesquisas;o que afastou o Luladrão das ruas foi medo de ser vaiado, OVOcionado e outros 'afagos' do tipo.]

As pesquisas reincidiram nos erros graves da eleição de 2018. Em nove empresas de pesquisas, nenhuma previa Bolsonaro com 43 pontos. Iam de 31 a 39. Entre as nove principais, apenas duas não apontaram Lula como vencedor em primeiro turno. O "agregador de pesquisas" do Estadão cravou 51 a 36 com a vitória de Lula. Em São Paulo, maior eleitorado, as pesquisas deram pouca importância a Tarcísio e ao Astronauta. Pontes elegeu-se senador com mais de 50% dos votos e Tarcísio liderou o primeiro turno. Aqui em Brasília, as pesquisas foram surpreendidas com Damares; acertaram no governador, mas erraram a classificação dos demais.  

Deputados e senadores eleitos estão se mobilizando em busca de uma CPI para apurar se pesquisas tentam manipular o eleitor, fazendo-o crer num resultado que possa influenciar na decisão do voto. 
Sempre achei complicado tirar conclusões com uma amostra milesimal do eleitorado que não é homogêneo. 
Com o sangue humano, o laboratório pode tirar resultados com uma gota, mas com o cérebro emotivo do eleitor, é difícil até consultando uma amostra de 1%, que seriam 1.560.000 eleitores — mas entrevistam de 2.000 a 7.000 pessoas. 
Amostragem de 0,0013 do todo — um eleitor representa 78 mil? 
Ponha-se ciência nisso. Acompanhei 25 eleições em 62 anos e nunca vi tanta pesquisa como agora. Noticia-se mais sobre pesquisa do que sobre os candidatos e suas intenções e programas. Impõem sobre o eleitor uma enxurrada de pesquisas, como se fossem eleições diárias. Com que objetivo?
 
Quem acreditou em pesquisa ficou com a impressão de que o Presidente se fortaleceu, como mostraram as manchetes do day after; já quem acreditou nas multidões das ruas, ficou desconfiado dos resultados. Tudo porque apareceu essa adivinhação que oferece uma bola de cristal diária como revelação do resultado das urnas. Nesta eleição presidencial, pode ser que as pesquisas tenham querido entregar ao eleitor um fato consumado, mas o resultado disso nos candidatos pode ter sido o contrário, pois a consequência foi  relaxar os músculos de Lula e estimular a atividade de Bolsonaro, que já fez maioria aguerrida na Câmara e no Senado. Formou um Congresso praticamente inviável para seu adversário. 
 
Esta saturação de pesquisas e de empresas de pesquisa revela uma atividade rentável, que encontra quem compre e encontra quem acredite. Mas desvia o eleitor do tema principal, que é não a torcida numa bolsa de apostas, mas pensar e debater sobre o passado do candidato, seu caráter, seu desempenho em cargo público, suas ideias e suas intenções. Muitas pesquisas, na prática e no cotejo com a realidade das urnas, mais parecem agências de apostas e de propaganda.
 
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Lula e suas ‘mancadas do bem’ - Revista Oeste

Silvio Navarro

Discursos do ex-presidente candidato viram dor de cabeça para a esquerda e forçam o consórcio de imprensa a maquiar manchetes

No último sábado, 20, os organizadores da campanha de Lula à Presidência arriscaram mais uma vez um gesto que tem tirado o sono dos seus aliados: entregar um microfone nas mãos do petista. O evento reuniu 4 mil pessoas no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo. É possível notar a apreensão no semblante da plateia, como tem ocorrido quando ele pede para discursar. As falas, mais uma vez, caíram muito mal. “Quer bater em mulher? Vá bater em outro lugar, mas não dentro da sua casa”, disse. “Quando quero conversar com Deus, não preciso de padres ou de pastores. É assim que a gente tem que fazer para não escutar mentiras.”

O palavrório do fim de semana se soma a uma verdadeira sucessão de barbeiragens que Lula tem cometido nos últimos meses. A afirmação de que Jair Bolsonaro “não gosta de gente, só gosta de policial”, dita no fim de abril, ainda não foi contornada com a categoria. A frase ainda azedou o clima da comemoração do 1° de Maio, preparada pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), para o dia seguinte. Lula teve de abrir a festa pedindo desculpas.

No mesmo dia, até o escritor Paulo Coelho, um dos cabos eleitorais do petista na lista de famosos, se manifestou: “Se Lula continuar com essa incontinência verbal. E se não investir em comunidades sociais de maneira inteligente e profissional, vai permitir que o atual inquilino do Planalto tenha sérias chances de reeleição”, escreveu no Twitter.

Na última semana, foram publicadas dezenas de notas em colunas do consórcio da imprensa sobre os “deslizes” do petista. A avaliação dos aliados é que Lula “não tem mais filtro”. Os comícios têm sido selecionados a dedo e são cada vez mais raros. Oficialmente, a campanha informa que Lula tem poupado a voz.

A fala desastrosa sobre agressão às mulheres que incendiou as redes sociais no fim de semana foi dita no mês em que há uma campanha do governo Bolsonaro em curso sobre os 16 anos da Lei Maria da Penha. A ministra da Mulher, Cristiane Britto, tem participado de rodadas de entrevistas no rádio e na TV para falar sobre novas ferramentas para o registro de denúncias on-line criadas na atual gestão.

A bancada feminina também tem se queixado da frequência com a qual ele se refere à virilidade, aos 76 anos. “Estou com tesão de 20”, costuma dizer publicamente. [quando alguém fala demais sobre possuir em abundância certas qualidades, especialmente quando é um mentiroso compulsivo, é motivado por NÃO TER o que apregoa, patologicamente, possuir em abundância.]   A avaliação delas é que a expressão soa como machista.

Outro ponto delicado é a defesa do aborto. A mensagem inicial, que agradava à militância, era assim: “Aqui no Brasil, a mulher não faz o aborto porque é proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questão de saúde pública e todo mundo ter direito e não ter vergonha”.

A retórica causou estrago no eleitorado evangélico. Precisou ser substituída às pressas por essa versão na carta de intenções de governo: “O Estado deve coordenar uma política pública de cuidados e assegurar às mulheres o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos, políticas essenciais para a construção de uma sociedade mais igual”.

As muitas formas de fechar uma Igreja
De todas as mancadas, o que mais preocupa o PT atualmente é o vaivém com o eleitorado evangélico. As igrejas apoiam majoritariamente a reeleição de Bolsonaro. Nesse segmento do eleitorado, a principal figura é a primeira-dama, Michelle, estrela da campanha deste ano. Pastores também estão bastante ativos nas redes sociais, o que irrita a esquerda. Mas, ao levar essa insatisfação para o palanque, Lula aumentou o incêndio.

“Eu não sou candidato de uma facção religiosa. Sou candidato do povo brasileiro” (Minas Gerais, 17 de agosto)

Os partidos que formam a coligação com o PT pediram à Justiça Eleitoral nesta semana a retirada de postagens em redes sociais que vinculem a esquerda ao fechamento de igrejas protestantes. Os alvos são deputados ligados a igrejas, especialmente Marco Feliciano (PL-SP), que é pastor da Assembleia de Deus Ministério Catedral do Avivamento.

“O deputado vem proferindo publicamente falas desinformadoras a respeito das consequências para os fiéis da religião evangélica caso o Partido dos Trabalhadores vença a eleição presidencial (…) ao propagar as falas, sem apresentar qualquer embasamento ou fundamento, trazendo ainda dados que não conferem com os oficiais, fere a imagem e a honra do partido.”

Feliciano respondeu em entrevistas. “Reitero firmemente que tenho muito receio que um governo encabeçado por Lula persiga os evangélicos. A base são inúmeras declarações públicas do ex-presidiário, disse. “Existem muitas formas de fechar uma Igreja. Uma delas é calando os pastores ou obrigando religiosos a terem condutas antibíblicas. A igreja fisicamente estará aberta, mas na prática estará fechada.”

[Lula é ateu, a esquerda também, assim como o comunismo e outras coisas semelhantes; o descondenado apoia Ortega que, - a exemplo de outros países comunistas, progressistas, esquerdistas = ateus =  - persegue os cristãos. CONFIRA.]  

Uma das cartadas usadas pelos adversários de Lula é mostrar que é aliado do ditador Daniel Ortega, que fechou templos na Nicarágua. “O amigo de Lula anda prendendo padres e fechando igrejas”, disse o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente.[A ESQUERDA GOVERNANDO.] Nicarágua, aliás, era um dos nomes que Bolsonaro escreveu na palma da mão durante a entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo.

Uns bons drinques
Na segunda-feira 22, Lula novamente provocou ruídos, dessa vez com as Forças Armadas e com diplomatas. Ele participava do lançamento do livro do seu fotógrafo particular, Ricardo Stuckert, que o acompanha há duas décadas.

“O Itamaraty será aquilo que o governo decidir o que ele seja”, afirmou. “Como as Forças Armadas serão, como todas as instituições do Estado serão, aquilo que o governo quiser que sejam”

Na sequência, esticou mais a corda em relação ao Itamaraty. “Quem define é o Estado e é através de políticas do governo que o Itamaraty pode agir mais ou agir menos”, disse, ao afirmar que há excesso de conservadorismo na chancelaria. “Se você tem um governo que não define que política você quer, que não te dá orientação, é muito mais fácil ficar na embaixada servindo de drinque ou ir à embaixada dos outros tomar drinque”.

Não bastasse a sucessão de frases problemáticas, o petista ainda tem de conviver com a patrulha da cartilha politicamente correta da esquerda. Uma reportagem da Folha de S.Paulo publicada nesta semana lista o que é tratado como “escorregões”. O jornal cita menções à criação do “Ministério do Índio e da Índia” — diz que o correto seria “dos povos indígenas” — e do termo “escravo” quando se tratar de causa racial — deveria ser substituído por “escravizado”.

Bater em mulher
Há ainda pressões que beiram o ridículo, como a que tenta convencer o petista a ceder à linguagem neutra “todes” e parar de contar piadas sobre nordestinos. Pernambucano, Lula usa essas piadas em referência própria. Até o consumo de carne, como a tradicional frase que ele repete — “Os pobres vão poder comer picanha” —, virou problema com os vegetarianos.

Paralelamente, cabe ao consórcio de imprensa tentar minimizar o estrago. Se de um lado as frases de Jair Bolsonaro são consideradas “más intenções”, as de Lula são tratadas como “deslizes”, “gafes” e “escorregões”. É possível prever, por exemplo, como a fala sobre “bater em mulher” seria publicada se partisse de Bolsonaro. O site do PT mantém um arquivo com uma cronologia do que diz configurarem atitudes misóginas e homofóbicas do presidente. Sobre a recente fala de Lula, contudo, não publicou uma linha.

Fato é que restam pouco mais de 30 dias para o primeiro turno das eleições. É uma corrida curta. Se Lula continuar falando de improviso, até os institutos de pesquisa vão acabar desistindo dele até outubro.

Foto: Reprodução/Folha de S.Paulo

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Silvio Navarro, colunista - Revista Oeste


domingo, 7 de agosto de 2022

Michelle Bolsonaro diz que Palácio do Planalto era 'lugar consagrado a demônios' - O Estado de S. Paulo

Discurso da primeira-dama ocorreu em culto evangélico, ao lado do presidente

A primeira-dama Michelle Bolsonaro afirmou que o Palácio do Planalto era consagrado a demônios antes da posse do presidente Jair Bolsonaro (PL). “Por muitos anos, por muito tempo, aquele lugar foi um lugar consagrado a demônios. Cozinha consagrada a demônios, Planalto consagrado a demônios. E hoje é consagrado ao senhor Jesus”, disse ela neste domingo, 7, ao lado do presidente, durante culto evangélico na Igreja Batista Lagoinha em Belo Horizonte.

 Em um discurso de pouco mais de cinco minutos, Michelle chamou muitas pessoas pelo primeiro nome, agradecendo orações feitas a favor do governo. Ela ainda disse que o momento está “muito difícil” e repetiu a frase já dita pelo presidente de que as eleições são uma “guerra do bem contra o mal” e alegou que “nossa nação é uma nação rica, uma nação próspera, ela só foi mal administrada”. “Podem me chamar de fanática, podem me chamar de louca, mas vou continuar louvando nosso Deus, vou continuar orando”, disse.

Depois de seus discursos, a primeira-dama Michelle e o presidente Jair Bolsonaro foram abençoados pelo pastor André Valadão
Depois de seus discursos, a primeira-dama Michelle e o presidente Jair Bolsonaro foram abençoados pelo pastor André Valadão Foto: Reprodução/YouTube Lagoinha

 Ela também relembrou a facada sofrida por Bolsonaro em 2018. “É uma renúncia estar do outro lado. Nós pagamos um alto preço. Até com a vida, como tentaram tirar do meu marido em 2018?.

Michelle, que falou logo após o presidente, tem intensificado sua presença nos atos de campanha do marido, como estratégia para melhorar a imagem dele junto ao eleitorado feminino e evangélico. “Eu sempre falo e falo para ele (Bolsonaro), quando eu entro na sala dele e olho para ele: essa cadeira é do presidente maior, é do rei que governa essa nação, disse a primeira-dama. Durante a fala dela, Bolsonaro demonstrou emoção e ficou com os olhos marejados.

O Estado de S. Paulo - Rubens Anater e Carlos Eduardo Cherem

 

segunda-feira, 2 de maio de 2022

Sem barreiras intransponíveis - Alon Feuerwerker

 Análise política

Não é a primeira vez que se diz isso, mas seria desejável as pessoas manterem uma relação menos passional com as pesquisas eleitorais. Seria desejável mas é impossível. Ao trazer o desfecho das urnas a valor presente, antecipam-se estados de euforia e depressão que costumam caracterizar o posfácio da eleição. É emoção pura. São amor e ódio garantidos.

O habitual, por isso, é as pessoas amarem as pesquisas boas para seus candidatos e odiarem as ruins. É um direito. Mais prudente, entretanto, seria tentar olhar os números com algum distanciamento. E há um caminho: em vez de repudiar as pesquisas, ou acreditar só em algumas, melhor tentar olhar o que têm em comum. Inspirar-se na lei dos grandes números.

Segundo a qual, quanto mais vezes você repetir a mesma experiência, mais a média dos resultados tende a aproximar-se do resultado esperado.

Vale em algum grau para as pesquisas feitas pelas diversas empresas do mercado, ainda que haja distintas metodologias, e por isso não dá para falar, a rigor, na repetição da mesma experiência. Mas uma leitura mais flexível e menos rigorosa da regra é legítima aqui: quanto mais pesquisas você olhar, mais improvável que os traços em comum de todas estejam errados.

O que dizem todas as pesquisas? Hoje, 1) Luiz Inácio Lula da Silva está à frente de Jair Messias Bolsonaro. Mas, 2) este vem encurtando a distância, reagrupando principalmente o eleitorado dele de quatro anos atrás, porque 3) o quadro geral na saúde e na economia apresenta alguma evolução e 4) o contingente que rejeita o PT não encontra alternativa crível.

Onde está o coração da corrida eleitoral? Tentar descobrir qual é exatamente o eleitor em disputa. Pois as energias e os recursos escassos das campanhas precisam ser alocados para onde podem render voto, ou ao menos tirar do adversário, e não para malhar em ferro frio.

A mais recente pesquisa BTG/FSB trouxe Bolsonaro com 30% de intenção espontânea. Na margem de erro, corresponde ao que ele reuniu no primeiro turno quatro anos atrás, pouco mais de 33% do total do eleitorado. Por que a comparação tem de ser com o total? Porque as pesquisas não abrem o questionário perguntando se o eleitor vai votar ou não.

Lula, no momento, vive uma estabilidade. No voto espontâneo, consegue 36%. Reúne o eleitorado duro petista e lulista que levou Fernando Haddad ao segundo turno em 2018 (pouco mais de 21% do total dos eleitores), mais um pedaço dos nem-nem de quatro anos atrás e mais um tanto de gente que só aceitou Bolsonaro quando a opção era o PT.

É razoável interpretar o comportamento desses dois últimos grupos com uma função direta da rejeição ao atual presidente. Ou seja, o desafio colocado para Bolsonaro hoje é um só: diminuir a rejeição. O que pode ser buscado reduzindo a própria ou aumentando a dos adversários, principalmente a do adversário principal.Tentando fazer com que este seja mais rejeitado que o presidente pelo eleitor flutuante.

Dilma Rousseff reelegeu-se assim. Em setembro de 2014 seu bom+ótimo estava em torno de 35%, mas uma campanha duríssima contra os desafiantes, Marina Silva no primeiro turno e Aécio Neves no segundo, fez mais gente acabar rejeitando os adversários do que o contingente que não queria saber da reeleição da petista.

A Dilma de então levava uma vantagem sobre o Bolsonaro de hoje: não recebia tanto ruim+péssimo, tinha um estoque maior de regular. Mas nada impede o atual presidente de trabalhar para chegar a setembro com uma parte do hoje ruim+péssimo transferido para o regular. É o que os adversários vão tentar impedir.

Se Bolsonaro ganhou quatro anos atrás e Lula lidera hoje, ou 1) uma parte expressiva do não-voto em 2018 (brancos+nulos+abstenção, pouco mais de 27%) inclina-se ao petista e/ou 2) um pedaço significativo dos antes eleitores do capitão hoje respondem “Lula”. 

A primeira hipótese parece menos ponderável para projetar o resultado de outubro. Pois o não-voto tem se mantido algo estável na série histórica.

O principal desafiante e o incumbente disputam, centralmente, alguém que já tinha votado no PT, aí votou em Bolsonaro, agora está bravo com este e tem à disposição um produto já testado, um ex-presidente que saiu bem avaliado do cargo. Mas, atenção: quem já votou em Lula e também já votou em Bolsonaro não enxerga uma barreira intransponível pera acabar escolhendo qualquer um dos dois.

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político 

 

terça-feira, 12 de abril de 2022

Aborto é “a questão” central: vida humana é ou não sagrada? - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo

Eu já fui um ateu libertário defensor do "direito ao aborto", e mesmo nessa época mais jovem, eu tratava o assunto com a sensibilidade que ele exige, ou seja, jamais banalizei o ato de interromper uma gravidez. Ao perceber que o pêndulo extrapolou, que feministas estavam sentindo orgulho de matar o feto humano no ventre, e ao absorver valores mais conservadores, mudei bastante de opinião sobre o tema, o que relato em meu livro Confissões de um ex-libertário.

O assunto volta à ordem do dia por conta de um comentário feito pelo ex-presidiário Lula. O petista voltou a bater na tecla esquerdista de que aborto é "questão de saúde pública", pois as mulheres mais pobres correm mais riscos e, afinal, "vão fazer mesmo", então o papel do estado seria o de assisti-las... no assassinato de seus filhos em gestação?!

“Aqui no Brasil não faz [aborto] porque é proibido, quando na verdade deveria ser transformado numa questão de saúde pública, e todo mundo ter direito e não ter vergonha. Eu não quero ter um filho, eu vou cuidar de não ter meu filho, vou discutir com meu parceiro. O que não dá é a lei exigir que ela precisa cuidar”, afirmou o socialista. O editorial da Gazeta do Povo - O PT mostra sua face - rebateu as falas de Lula, mostrando que o PT mostrou sua verdadeira cara:
Os brasileiros que acompanham há tempos a trajetória de Lula e do PT não se espantam com a afirmação. O partido colocou a legalização do aborto entre suas plataformas oficiais em 2007, apenas formalizando o que já era bandeira antiga da legenda. Tanto Lula como Dilma tentaram facilitar o acesso ao aborto contornando o processo legislativo, por exemplo com portarias ministeriais e o famoso Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH3); tiveram ministros abortistas, como José Gomes Temporão (na Saúde) e Eleonora Menicucci [ [uma pergunta que não quer calar: tudo bem, a assassina da mãe não tem condições psicológicas para arcar com a maternidade, mas a criança tem um pai e este quer que ela nasça. Como fica? A vontade da assassina vai prevalecer?

Aliás, só temos a lamentar que a Menicucci que experimentou quase todas as variações da palavra: foi abortante, abortista, aborteira, não tenha sido vitima do agente da voz passiva: não foi abortada! – certamente o mundo seria bem melhor.](de Direitos para as Mulheres); e apontaram ministros do STF favoráveis à legalização, com destaque para Luís Roberto Barroso. A novidade está no fato de Lula falar sem rodeios sobre o tema antes da eleição, inclusive correndo o risco de alienar o eleitorado cristão mais conservador, um grupo que o petismo vinha cortejando até agora – e, para que fique bem claro o desprezo de Lula por esses brasileiros, o petista acrescentou, na mesma ocasião em que falou do aborto, que “essa pauta da família, pauta dos valores, é uma coisa muito atrasada”. [...] 
O grau de maturidade civilizatória de uma sociedade se mede especialmente pela maneira como ela trata seus integrantes mais indefesos e inocentes, muito mais que pela riqueza de seus integrantes. Mas o PT deixa claro que não deseja para o Brasil nem a excelência moral, nem a prosperidade material.

Pequenos geradores de energia cobram troca de usinas térmicas por fontes renováveis

Número de LGBTs está explodindo entre mais jovens. Menos “armário” ou contágio social?

Ninguém nega que a economia seja um dos temas cruciais numa eleição. O povo quer conforto material, ser de classe média, aquela que Lula ataca por "consumismo excessivo" e que as intelectuais petistas consideram "fascista". Na questão econômica, o PT também representa uma enorme ameaça, como fica claro com sua política fiscal irresponsável, sua oposição às privatizações etc.

Mas ninguém deveria subestimar os temas morais, de costumes, de cultura. O aborto, por exemplo, pode ser um fator divisor de águas para muito eleitor. Pode ser, na verdade, o tema mais sensível. E não sem razão. Estamos falando, afinal, de premissas básicas para uma sociedade. 
A vida humana é ou não sagrada? 
Deve ou não ser protegida desde o começo? Esse tipo de dúvida filosófica e moral é fundamental para todo o resto.

Não por acaso os abortistas costumam assinar um pacote completo: são também os ambientalistas mais fanáticos, os defensores mais aguerridos dos animais, aderem ao relativismo moral e cultural, são materialistas, hedonistas etc. Tem método! Essa turma tende a partir da visão romântica do Bom Selvagem de Rousseau, considera a natureza humana infinitamente elástica, e rejeita a sacralidade imbuída na visão cristã de que nós, seres humanos, somos feitos à imagem e semelhança de Deus.

Em essência, essas ideologias são substitutos do cristianismo, ataques contra ele, religiões seculares que colocam Gaia no centro em vez de o homem, preferem animais aos humanos, fazem o ovo da tartaruga ter mais valor que o feto humano
É por isso que debater esses assuntos não é algo secundário, casca de banana ou algo assim, mas o ponto de partida para o restante. 
Vejam, por exemplo, o que a jornalista de esquerda Vera Magalhães escreveu em sua coluna de hoje no Globo: - "A celeuma ocasionada pelas declarações do petista e seu recuo depois mostram que, embora acerte no diagnóstico de que hoje são as mulheres pobres as mais vulneráveis diante de uma realidade em que abortos clandestinos são praticados em todo o país, ainda é necessário um debate aprofundado na sociedade a respeito da questão, mostrando dados e afastando o estigma moralista e religioso. É, antes, um tema para o Congresso, com a realização de audiências públicas e a convocação de especialistas. Numa campanha, tende a produzir mais calor e faíscas que luz.

O aborto é só um exemplo de como patinamos, em 2022, em falas polêmicas e assuntos que nem de perto dizem respeito às urgências postas para um país que sai da pandemia mais pobre, mais desigual e com piores indicadores em áreas como meio ambiente, educação e direitos humanos."

Estigma moralista e religioso?! O preconceito salta aos olhos. Esses esquerdistas adorariam que toda pessoa de fé guardasse para seu foro íntimo seus valores básicos, pois confundem estado laico com estado antirreligioso. Mas como debater aborto sem levar em conta a premissa básica de vida humana e sua sacralidade?! Em sua premissa, já está a visão "progressista" e materialista que concorda com Lula: questão de saúde pública e ponto.

No mais, eis o que Vera julga fundamental: meio ambiente! Ou seja, para ela é mais importante discutir o controle estatal das emissões de carbono do que a proteção aos bebês em formação no ventre materno! 
E sobre educação e economia, a jornalista esquerdista finge não ter aplaudido todas as medidas radicais de governadores e prefeitos na pandemia que prejudicaram totalmente o ensino, especialmente das crianças mais pobres, e a situação econômica do país. É muito cinismo!

 Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

terça-feira, 15 de março de 2022

VOTO POPULAR - IMPEACHMENT DADO PELA CIDADANIA - Percival Puggina

Tudo bem, já vivemos períodos melhores, já tivemos políticos melhores e o século XXI está marcado pela má qualidade média de nossas representações parlamentares. Mas a Câmara Alta da República, o Senado Federal, façam-me o favor...! A Casa dos mais experientes virou abrigo dos mais espertos e dos conchavos. 

São duras estas palavras? São, mas não há lugar para palavras macias em minha opinião. Aliás, se um dia eu quisesse ouvir conversa mole e desistir do Brasil, assistiria a TV Senado.

Desde 2003, nossos senadores escolheram em sequência, os seguintes presidentes para representá-los e dirigi-los: José Sarney, Renan Calheiros (duas vezes), Garibaldi Alves Filho, José Sarney (mais duas vezes), Renan Calheiros (mais duas vezes), Eunício Oliveira, Davi Alcolumbre e Rodrigo Pacheco.

Desculpem senhores senadores, mas algo assim não acontece por acaso. Essa lista fornece o roteiro de uma tragédia moral. Estão aí as pegadas coletivas. Elas não abrem uma trilha, proporcionam, isto sim, uma avenida para irmos até a necessária conclusão: nem os senhores senadores se levam a sério. 

O Brasil poderia ter um número maior de petistas, comunistas e consectários. Poderia conviver com mais universidades a serviço de si mesmas e de estapafúrdias ideologias. Poderia ter ainda maior corporativismo, mais bandidolatria, mais ativismo judicial, mais impunidade. Poderia. E mesmo assim, haveria esperança, se tivéssemos um Senado que fizesse por merecer o apreço da sociedade. Estaria cumprindo seu dever perante a nação. Ali, a política faria soar o clarim das mudanças, dos princípios, dos valores, do amor ao Brasil e seu povo.

No entanto, acantonados na longevidade de seus mandatos, exceção feita a escassas e honrosas exceções, nossos senadores vivem como se não houvesse amanhã. Abastecem-se na democracia, mas rejeitam os anseios nacionais. Fortalecem-se no poder da própria instituição, mas conspiram para fazer dela seu paraíso privado. Nunca a “busca da felicidade”, enfatizada por Thomas Jefferson, esteve tão bem saciada, quanto no Senado Federal brasileiro.

Na última sexta-feira, 9 de março, o senador Rodrigo Pacheco, o omisso, tomou a iniciativa de criar uma comissão para propor uma nova lei de impeachment. 
Logo ele, que está sentado sobre todos os processos de impeachment entregues à Casa resolve exibir interesse por tão relevante tema! E adota uma providência cujo efeito natural é sustar todas as denúncias existentes posto que o Senado produzirá nova lei para regulamentar a questão. Reina a paz nos cemitérios da democracia.
 
A tal comissão tem 11 membros, cinco ligados ao Poder Judiciário, cinco juristas ou advogados e o ex-senador Antônio Anastasia, hoje ministro do TCU. A juristocracia vive dias de glória e esplendor. 
Quem dentre os 11 tem independência absoluta, entende o sentimento nacional e conhece o clamor popular?

Não bastasse isso, o presidente da comissão, escolhido a dedo pelo omisso senador Pacheco, atende pelo nome de Ricardo Lewandowski. Sim, ele mesmo, o ministro do STF que fatiou a pena da ex-presidente Dilma, preservando-lhe os direitos políticos. [a decisão do supremo ministro foi sabiamente revogada pelo sábio eleitorado mineiro, que chutou, via não votando na ex-presidente, já 'escarrada' da presidência.] Alguém acredita que essa comissão vai propor algo para favorecer a instauração de impeachment contra membros de poder?

Bem, o voto popular não deixa de ser uma forma tardia de impeachment. Tudo contribui para tornar ainda mais relevante a eleição de outubro. Cabe à nação ser, nas urnas, o que seus representantes não têm sido nos espaços de poder. 

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


quarta-feira, 4 de agosto de 2021

TSE esqueceu o progresso de 2002 para cá ...

Voto impresso já foi testado em 2002, mas acabou reprovado;  Naquele ano, para testar o sistema, a medida foi adotada em 150 municípios, atingindo 6,18% do eleitorado

[Convenientemente, o TSE esqueceu o progresso havido de 2002 para cá, nos diversos campos da eletrônica, incluindo impressoras; 
EXEMPLOS: esqueceu que em 2002, os celulares pesavam em torno de 500g e ofereciam, se muito, 1% do que oferecem hoje; as impressoras eram verdadeiras carroças, que quebravam só de se olhar para ela; as conexões via internet eram na maioria via discagem telefônica.
O estágio atual de progresso garante que as impressoras, ainda que as mais simples,tem um desempenho com elevada confiabilidade.]
O voto impresso [VOTO AUDITÁVEL = REGISTRO DO VOTO] já foi implantado em caráter experimental nas eleições presidenciais de 2002 — e acabou reprovado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Naquele ano, para testar o sistema, a medida foi adotada em 150 municípios, atingindo 6,18% do eleitorado.
 
Sua introdução no processo de votação nada agregou em termos de segurança ou transparência. Por outro lado, criou problemas, apontou um relatório do TSE. O tribunal concluiu que, nas seções com voto impresso, [nas seções aqui chamadas 'com voto impresso' NÃO OCORREU voto impresso; o voto foi efetuado normalmente na urna eletrônica, meio digital, sendo apenas impresso um espelho do voto confirmado.]  foram maiores o tamanho das filas e o porcentual das urnas que apresentaram defeitos, além das falhas verificadas apenas nas impressoras. “Houve incidência de casos de enredamento de papel, possivelmente devido a umidade e dificuldades de manutenção do módulo impressor”, apontou o texto. [a tecnologia atual, não deixa espaço para que os defeitos apresentados e outros do tipo ocorram.]
 
Correio Braziliense
 
 

quinta-feira, 11 de março de 2021

Vendedores de esperanças - William Waack

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro e Lula vão disputar o mesmo eleitorado, num faroeste sem mocinhos

Nos fenômenos políticos brasileiros dos últimos 20 anos Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro exibem uma importante característica em comum: foram vendedores de esperanças frustradas. [uma diferença gritante, que não empalidece: - o mais velho deles, o escalado para perder, vencedor por engano e agora condenado a perder sempre e sempre, foi condenado por duas sentenças, a primeira delas confirmada   em todas as instâncias - entre elas: TRF, STJ e STF, e a segunda  = mais cadeia = em fase de confirmação, condenações essas que foram anuladas em decisão monocrática do ministro do STF, Edson Fachin, que por vários anos teve as condenações sob seu olhar e só agora decidiu anulá-las, mas optou opor não adentrar ao exame do mérito.  
O outro, o mais jovem, em primeiro mandato - sabotado e boicotado pelos inimigos do Brasil, que encontraram grande aliado na maldita peste - NUNCA FOI CONDENADO.
RESUMO DA ÓPERA: um é criminoso, com vários processos responder - incluindo os dois citados.
O outro CIDADÃO, ficha limpa = PESSOA DE BEM. Um FAROESTE com um mocinho e um criminoso condenado e em fim de carreira.] As diferenças ideológicas e de estilo entre eles empalidecem diante do fato de que assumiram prometendo grandes transformações e acabaram governando com a mesma massa amorfa de forças políticas empenhadas em acomodar interesses setoriais, cartoriais, corporativistas e regionais às custas dos cofres públicos ou de pedaços da máquina pública – plus/minus a roubalheira petista. 

O fator excepcional agora é o alargamento e aprofundamento de crises simultâneas de saúde pública, economia estagnada e liderança política. Elas são causa e consequência ao mesmo tempo do esgarçamento do tecido social (perigo de anomia), da deterioração do equilíbrio dos poderes (Judiciário emasculando os demais) e da incapacidade generalizada de elites econômicas de enfrentar a estagnação de produtividade e competitividade da economia (já nem se fala mais de PIB ruim de ano para ano, mas de PIB ruim de década para década). 

Diante da tragédia da saúde e de seu impacto na economia – claudicante já antes da pandemia –, o problema para Bolsonaro e Lula é qual esperança vão vender. [claudicante por herança maldita deixada pelo mais velho e pela parceira que o sucedeu.] As bandeiras do lulopetismo estão manchadas não só pela corrupção adotada como forma de governo, mas, e ainda mais decisivos, pelo espetacular fracasso no intervencionismo e dirigismo da economia e a incapacidade de resolver mazelas sociais. São graves pois derivam de ideias equivocadas, em boa parte abraçadas por setores das elites empresariais. 

Sem ideias próprias, Bolsonaro abandonou sucessivamente qualquer conjunto coerente de postulados emprestados por Paulo Guedes, além de deixar para lá ou atuar contra as bandeiras da luta anticorrupção, da reforma e enxugamento do Estado e, de forma também espetacular, parou de se empenhar por destravar a economia do País. Que, ainda por cima, enfrenta o agravamento do sufoco fiscal, questão não meramente conjuntural (gastos com pandemia). [praticamente todos os projetos apresentados pelo presidente foram travados ou por decisão do ex-primeiro ministro autonomeado, deputado Maia, ou judicialização. Quando o presidente pensou em respirar aliviado veio a pandemia, a cassação branca dos seus poderes e outras mazelas que, aos poucos, começam a ser superadas.]

A tripla crise é particularmente grave para a vida nacional, pois reforça um angustiante estado de paralisia no qual se destaca a percepção generalizada de que nada anda direito – inclusive criar alternativas políticas aos fracassados vendedores de esperanças. Paira um sentimento (sim, coisa subjetiva, mas política é coisa subjetiva também) de que impera por toda parte uma extraordinária hipocrisia: 
Um STF que só toma decisões ao sabor da política, dizendo que não toma decisões políticas. 
Um Centrão que só pensa nos próprios interesses setorializados, quando fala que defende interesses do País. 
Um presidente que só pensa na reeleição e na própria família, quando diz falar pela coletividade, cujo sofrimento pouco o comove. 

Por uma desagradável ironia, Bolsonaro e Lula (ou as forças que representam) estão hoje na situação de terem de disputar a mesma parcela do eleitorado mais dependente de assistencialismo, mais arriscada a cair na miséria total se faltar a mão do Estado, mais ignorante e com a situação agravada pela falta de acesso a serviços básicos e educação de qualidade. Quadro piorado pela pandemia. 

É uma dura constatação, mas que até aqui não levou as diversas elites dirigentes brasileiras (entendidas como os grupos “que pensam” na economia, no ambiente cultural no sentido amplo e na condução de agrupamentos políticos) sequer a um diagnóstico comum, quanto mais a linhas de ação. A noção de que “a corrupção” seria a grande causa e a explicação para o nosso atraso relativo foi derrubada agora com o “desmascaramento” da Lava Jato (juntando na mesma trincheira safadeza com defesa de princípios da ordem democrática). “Mais saúde e educação”, as palavras de ordem de 2013 viraram slogans vazios de conteúdo. Dizer que estamos vivendo um faroeste sem mocinhos é repetir Maquiavel, cuja originalidade estava na afirmação de que em política não se consegue realizar princípios. O problema é quando vira um faroeste sem esperanças.

William Waack, jornalista - O Estado de S. Paulo