No Rio, segundo um operador, a Fetranspor aspergiu
R$ 260 milhões em seis anos
No mundo
das coisas boas que podem acontecer em 2018 está a possibilidade de Jacob
Barata Filho, o “Rei dos Ônibus”, vir a colaborar com a Viúva. Quem conhece
seus passos garante que isso só acontecerá se vier a formar uma dupla com o
doutor Lélis Teixeira, ex-presidente do Sindicato das Empresas de ônibus do Rio
e da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros, a Fetranspor. Isso
porque Barata é um engenheiro, mas herdou o império do pai. Lélis é um operador
desenvolto, algo presunçoso, porém ousado.
Barata
jamais incriminará Lélis, mas, juntos, poderão prestar um grande serviço aos
passageiros dos ônibus que lhes deram fama e fortuna. Os dois conhecem como
poucos a máquina de roubalheiras do setor. Ela passa pelos três Poderes, pela
União, pelos estados e pelos municípios. Barata e Lélis já foram presos. Gilmar
Mendes, padrinho de casamento da filha do “Rei”, tirou-os da cadeia. O setor
de transporte público era corrupto antes da chegada dos Barata e dos
Lélis. O aspecto sistêmico dessa corrupção é mais velho, mais arraigado e mais
difícil de ser combatido que as roubalheiras da Petrobras. Como há bocas a
alimentar no Executivo e no Legislativo, nenhum empresário consegue prosperar
sem aceitar mordidas.
Vale
lembrar que as primeiras denúncias de corrupção do PT vieram das relações
incestuosas com concessionários de transportes. O Rio só começou a implantar o
seu péssimo sistema de Bilhete Único em 2010, seis anos depois de São Paulo. A
essa época os sábios do mercado perguntavam quem pagaria pela política pública.
Segundo o Ministério Público, o Magnífico Cabral recebeu R$ 144 milhões das
empresas de ônibus. Ele embolsava, inclusive, para não implantar o Bilhete
Único. (Um certo “Pé Grande” recebeu R$ 4,8 milhões da Fetranspor. O governador
Luiz Fernando Pezão nega que seja ele.)
As
empresas fazem o que querem e pagam o que lhes pedem, ajudadas pelo fato de
arrecadarem milhões de reais em dinheiro vivo. No Rio,
segundo um operador, a Fetranspor aspergiu R$ 260 milhões em seis anos. Barata e
Lélis sabem que arriscam tomar condenações pesadas. É certo que eles têm motivos
para supor que se safam, socorridos por recursos, indultos, reviravoltas
judiciárias e macumbas gerais. Mesmo assim, se der zebra, vão para Benfica,
para onde eles acreditavam que só ia quem andava de ônibus.
Elio Gaspari, jornalista - Blog do Noblat - O Globo