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domingo, 26 de abril de 2020

Fiéis ao mito: a tática de Bolsonaro para manter sua legião de apoiadores - Veja - Política










Mais uma vez Bolsonaro aposta na política do conflito e da divisão para manter sua base fiel de eleitores mobilizada — essa tática de confronto, aliás, foi a responsável por sua ascensão ao poder, quando encarnou com sucesso a figura de maior opositor aos anos de corrupção do PT. Segundo uma pesquisa recente do Datafolha, a aprovação do presidente na gestão da atual crise ficou em 33% e se mantém estável desde o início da pandemia. Acredita-se que esse porcentual seja semelhante ao das pessoas que apoiam as políticas em geral do presidente (cerca de um terço do eleitorado). O chamado “bolsonarismo raiz”, a parcela mais fiel ao presidente, é composto, segundo o Datafolha, de um público de maioria masculina, com elevado nível de escolaridade e renda, concentrado nas regiões Sul e Sudeste. Há ainda nesse grupo uma proporção de evangélicos e empresários acima da média em relação à população brasileira.
Homens de negócios como Meyer Nigri, dono da construtora Tecnisa e responsável pela indicação do novo ministro da Saúde, Nelson Teich, mantêm-se ao lado de Bolsonaro desde o pleito de 2018. Mas são os pequenos e médios empreendedores que estão na linha de frente das principais carreatas realizadas no país. Marco Gaspar, de 50 anos, é vice-presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte. Há mais de duas décadas ele administra uma rede de papelarias que herdou do pai. Desde o início da quarentena, Gaspar fechou uma de suas três lojas, demitiu quatro funcionários e concedeu férias a outros cinco. Ele fica sabendo das carreatas pelos mais de dez grupos de WhatsApp e Facebook de que participa com outros microempresários que apoiam Bolsonaro e foi às ruas em três ocasiões para protestar pela flexibilização do isolamento social. “A recessão também mata”, justifica. No Distrito Federal, um dos integrantes das manifestações foi Cleber Pires, de 60 anos, que emprega 150 funcionários em estabelecimentos comerciais na região. Pires tem um primo, médico, internado há três semanas na UTI com a Covid-19, mas participa das carreatas. “É para dar um grito de alerta aos governantes”, define. Por pertencer ao grupo de risco da doença, ele não sai do carro durante as manifestações. 

O movimento “bolsonarista raiz” pode ser engordado por um novo grupo, que é formado por pessoas de baixa renda. O Datafolha registrou nas últimas semanas que a aprovação de Bolsonaro cresceu 3% entre os que recebem até dois salários mínimos e 6% entre aqueles com renda de dois a cinco salários mínimos. É nesse estrato que está reunida a imensa maioria de trabalhadores informais que terá acesso ao auxílio emergencial de 600 reais pago pelo governo federal. [oportuno ter presente que milhões de brasileiros ainda não receberam o auxílio emergencial, se cadastraram logo no começo do processo e não tiveram  resposta se receberão ou não.] É o caso de José Roberto Freire, um motorista de aplicativo de 48 anos que mora em Bangu, no Rio, e recebeu a primeira parcela da ajuda na última semana. “Estou utilizando o dinheiro para comer”, diz ele. Freire, que em diversas eleições votou em candidatos petistas, hoje defende com veemência as críticas que Bolsonaro faz às quarentenas dos estados. “O país não aguenta essa paralisia”, afirma.

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