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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Greve política prejudica o país e os petroleiros – Editorial - O Globo

Acenar com a possibilidade de desabastecimento de derivados de petróleo afeta legitimidade


Filiada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do Partido dos Trabalhadores, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) decretou greve “por tempo indeterminado” nas instalações da Petrobras. O movimento ocorre há duas semanas, por enquanto, sem adesão da maioria. A greve foi deflagrada em reação ao programa de concentração de investimentos da Petrobras na prospecção e produção de petróleo, com venda de refinarias. O plano prevê também o fechamento de unidades deficitárias, como é o caso da fábrica de ureia do Paraná, com cerca de mil empregados e perdas de R$ 1 milhão a cada 24 horas.
A Justiça determinou que pelo menos 90% dos empregados da empresa estatal trabalhem normalmente, para evitar problemas no abastecimento de derivados de petróleo, condição qualificada como “severa” pela federação de petroleiros.
[jogo claro e limpo: 
- refinar petróleo é atividade secundária aa Petrobras, que, desde sua criação teve como finalidade maior a encontrar e extrair petróleo - portanto, refinarias devem ser vendidas;
- fábrica ou qualquer outra unidade que dê prejuizo deve ser fechada e não havendo condições de aproveitamento dos empregados da unidade fechada, demissão com a devida indenização;
- greve, no primeiro dia do inicio a Justiça do trabalho já tem o DEVER de estabelecer o percentual mínimo de empregados que devem continuar trabalhando (notem, não é apenas continuar no trabalho), sob pena de multa. A greve sendo declarada ilegal, no mesmo ato da Justiça especializada determinado o retorno em até 24 horas, sob pena de multa - algo  do tipo dez mil reais por cada empregado que não voltar ao trabalho e por dia parado. IMPORTANTE; A MULTA DEVE SER APLICADA e COBRADA, incluindo cobrança judicial com arresto e penhora dos bens do sindicato.
A JT é especializada em aplicar multas e não cobrar.
Exemplo: se as multas aplicadas ao 'sindicado dos rodoviários do DF' fossem cobradas, com certeza o Sindicato não mais existiria.
- após 72 horas da decretação da ilegalidade começar as demissões.

O movimento tem que ser contido no nascedouto, o que a FUP quer é  sair  do abismo em que ela e os sindicatos,  junto com os líderes sindicais,  estão desde que a mamata do 'imposto sndical' foi exterminada pelo governo Temer.
 
Aos que são contrários ao AI-5, lembrem-se que antes do MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO de 31 de MARÇO de 1964, as greves eram uma constante - naqueles tempos os trens eram os que mais paravam [eu era criança, mas, ainda lembro... tenho excelente memória - hoje os caminhoneiros e petroleiros querem substituit os ferroviários daquela época.
Será que possuem cacife para tanto? Lembrando que aqueles perderam.] 
 
O impasse persiste, não propriamente devido a um conflito trabalhista convencional, o que seria natural, mas porque os sindicalistas proclamam o desejo de assumir o comando das unidades estatais de refino de petróleo “para aumentar a produção e reduzir os preços dos derivados de petróleo”, como afirmaram em comunicado divulgado na quinta-feira. A FUP diz promover uma greve “a favor do Brasil”. E traduz: “Para que a Petrobras cumpra o papel social para o qual foi criada — garantir o abastecimento de norte a sul do país, com preços justos para toda a população.” 

O direito de greve é legítimo, mas é notável a falta de autocrítica dos dirigentes da federação dos petroleiros. Estabelecida há um quarto de século, a FUP se manteve como a maioria das entidades sindicais alinhadas à CUT, em silêncio obsequioso durante os governos do PT. Foi um período de 13 anos nos quais as ações da cúpula política, em Brasília, e o comando da Petrobras, no Rio, deflagraram um processo de devastação da empresa estatal, sem precedentes nos seus 66 anos de existência. Às revelações da Operação Lava-Jato sobre os saques ao patrimônio da Petrobras e do seu fundo de pensão, a Fundação Petros, a federação dos petroleiros reagiu quase sempre alinhada à defesa do governo petista.

Conflitos trabalhistas fazem parte da paisagem de qualquer democracia. A FUP tem todo o direito de atuar numa situação de eventual ameaça aos empregos dos seus associados. Corrói sua legitimidade, no entanto, ao usar a greve acenando com a possibilidade de desabastecimento de derivados de petróleo. Isso é usar um direito constitucional como instrumento de luta de uma coalizão partidária, cuja característica é estar na contramão de toda e qualquer iniciativa que objetive a recuperação da economia nacional, por sinal, conduzida ao abismo pelas forças às quais a burocracia sindical dos petroleiros se rendeu incondicionalmente, no passado recente.


Editorial  - O Globo