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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Greve política prejudica o país e os petroleiros – Editorial - O Globo

Acenar com a possibilidade de desabastecimento de derivados de petróleo afeta legitimidade


Filiada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do Partido dos Trabalhadores, a Federação Única dos Petroleiros (FUP) decretou greve “por tempo indeterminado” nas instalações da Petrobras. O movimento ocorre há duas semanas, por enquanto, sem adesão da maioria. A greve foi deflagrada em reação ao programa de concentração de investimentos da Petrobras na prospecção e produção de petróleo, com venda de refinarias. O plano prevê também o fechamento de unidades deficitárias, como é o caso da fábrica de ureia do Paraná, com cerca de mil empregados e perdas de R$ 1 milhão a cada 24 horas.
A Justiça determinou que pelo menos 90% dos empregados da empresa estatal trabalhem normalmente, para evitar problemas no abastecimento de derivados de petróleo, condição qualificada como “severa” pela federação de petroleiros.
[jogo claro e limpo: 
- refinar petróleo é atividade secundária aa Petrobras, que, desde sua criação teve como finalidade maior a encontrar e extrair petróleo - portanto, refinarias devem ser vendidas;
- fábrica ou qualquer outra unidade que dê prejuizo deve ser fechada e não havendo condições de aproveitamento dos empregados da unidade fechada, demissão com a devida indenização;
- greve, no primeiro dia do inicio a Justiça do trabalho já tem o DEVER de estabelecer o percentual mínimo de empregados que devem continuar trabalhando (notem, não é apenas continuar no trabalho), sob pena de multa. A greve sendo declarada ilegal, no mesmo ato da Justiça especializada determinado o retorno em até 24 horas, sob pena de multa - algo  do tipo dez mil reais por cada empregado que não voltar ao trabalho e por dia parado. IMPORTANTE; A MULTA DEVE SER APLICADA e COBRADA, incluindo cobrança judicial com arresto e penhora dos bens do sindicato.
A JT é especializada em aplicar multas e não cobrar.
Exemplo: se as multas aplicadas ao 'sindicado dos rodoviários do DF' fossem cobradas, com certeza o Sindicato não mais existiria.
- após 72 horas da decretação da ilegalidade começar as demissões.

O movimento tem que ser contido no nascedouto, o que a FUP quer é  sair  do abismo em que ela e os sindicatos,  junto com os líderes sindicais,  estão desde que a mamata do 'imposto sndical' foi exterminada pelo governo Temer.
 
Aos que são contrários ao AI-5, lembrem-se que antes do MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO de 31 de MARÇO de 1964, as greves eram uma constante - naqueles tempos os trens eram os que mais paravam [eu era criança, mas, ainda lembro... tenho excelente memória - hoje os caminhoneiros e petroleiros querem substituit os ferroviários daquela época.
Será que possuem cacife para tanto? Lembrando que aqueles perderam.] 
 
O impasse persiste, não propriamente devido a um conflito trabalhista convencional, o que seria natural, mas porque os sindicalistas proclamam o desejo de assumir o comando das unidades estatais de refino de petróleo “para aumentar a produção e reduzir os preços dos derivados de petróleo”, como afirmaram em comunicado divulgado na quinta-feira. A FUP diz promover uma greve “a favor do Brasil”. E traduz: “Para que a Petrobras cumpra o papel social para o qual foi criada — garantir o abastecimento de norte a sul do país, com preços justos para toda a população.” 

O direito de greve é legítimo, mas é notável a falta de autocrítica dos dirigentes da federação dos petroleiros. Estabelecida há um quarto de século, a FUP se manteve como a maioria das entidades sindicais alinhadas à CUT, em silêncio obsequioso durante os governos do PT. Foi um período de 13 anos nos quais as ações da cúpula política, em Brasília, e o comando da Petrobras, no Rio, deflagraram um processo de devastação da empresa estatal, sem precedentes nos seus 66 anos de existência. Às revelações da Operação Lava-Jato sobre os saques ao patrimônio da Petrobras e do seu fundo de pensão, a Fundação Petros, a federação dos petroleiros reagiu quase sempre alinhada à defesa do governo petista.

Conflitos trabalhistas fazem parte da paisagem de qualquer democracia. A FUP tem todo o direito de atuar numa situação de eventual ameaça aos empregos dos seus associados. Corrói sua legitimidade, no entanto, ao usar a greve acenando com a possibilidade de desabastecimento de derivados de petróleo. Isso é usar um direito constitucional como instrumento de luta de uma coalizão partidária, cuja característica é estar na contramão de toda e qualquer iniciativa que objetive a recuperação da economia nacional, por sinal, conduzida ao abismo pelas forças às quais a burocracia sindical dos petroleiros se rendeu incondicionalmente, no passado recente.


Editorial  - O Globo

 

domingo, 24 de novembro de 2019

TST dá liminar à Petrobras impedindo petroleiros de entrar em greve - VEJA

Categoria aprovou paralisação de quatro dias a partir de segunda-feira alegando descumprimento do acordo coletivo de trabalho

TST dá liminar à Petrobras impedindo greve de petroleiros

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) acatou liminar da Petrobras impedindo que os petroleiros entrem em greve na segunda-feira 25. A programação era parar por quatro dias, com o argumento de que a empresa está descumprindo partes do acordo coletivo de trabalho, de cláusulas que dizem respeito à segurança do trabalho e do meio ambiente e direitos garantidos aos concursados, segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP).

A liminar é assinada pelo ministro Ives Gandra, que fixou em R$ 2 milhões por dia a multa por descumprimento. Em sua decisão, ele alega que o acordo coletivo foi assinado no dia 14 deste mês, há pouco tempo, o que não justificaria a decisão da federação sindical de já convocar uma paralisação. “O ACT (acordo coletivo de trabalho) de 2019/2020 foi assinado há 18 dias, e as cláusulas cujo cumprimento se exige de imediato são de caráter programático, sem prazo específico para implementação. Ou seja, não há prova nem tempo para o descumprimento da norma coletiva em vigor que justifique a deflagração da greve”, informa o TST em nota.

A FUP informou que vai manter as mobilizações solidárias nacionais programadas para ocorrer entre os dias 25 e 29 de novembro. Elas serão realizadas parcialmente, sem prejuízo do abastecimento dos combustíveis. De acordo com a entidade, o objetivo é “alertar a sociedade sobre os riscos da política de demissões em massa e da venda de ativos da Petrobras para o bolso do consumidor, para o meio ambiente e para os trabalhadores do setor (incluindo os terceirizados).” [em outras palavras: a FUP considera que assaltar a Petrobras, especialmente se a quadrilha for formada por petistas e assemelhados, não tem problema.

Mas, promover, desde que necessário, redução do quadro de funcionários da estatal, é algo inadmissível, - aliás, os sindicatos precisam considerar que empregados que param por qualquer motivo estão indicando que não fazem falta, sendo um referencial confiável a indicar que sejam dispensados.
Quanto à multa, é preciso não esquecer que havendo desrespeito à ORDEM JUDICIAL a multa DEVE SER APLICA e COBRADA.
A Justiça do Trabalho é campeã em aplicar multas e não cobrar - essa afirmação é feita no fato de que as multas são aplicadas, os sindicatos desrespeitam e não são cobradas.
Um único exemplo: se as multas fossem cobradas o 'sindicato dos rodoviários' do DF de há muito teria fechado as portas.]

“A ação será mantida por não ferir a decisão TST, que acatou pedido de liminar da Petrobras impedindo a greve por ela por em risco o abastecimento nacional de combustíveis”, diz o comunicado. As mobilizações vão envolver os trabalhadores em ações voluntárias como, por exemplo, a doação de sangue (dentro da Semana Nacional de Doação de Sangue) e a limpeza de praias que estão sendo atingidas pelo vazamento de óleo, que agora chegou ao Estado do Rio.

VEJA - Com Estadão Conteúdo

sexta-feira, 18 de outubro de 2019

Choro sobre o óleo derramado - Fernando Gabeira - Fernando Gabeira

Há três semanas ando pelas praias do Nordeste e não consigo chegar a uma conclusão sobre esse desastre. Foi relativamente fácil seguir os efeitos da mancha, no sentido norte-sul, observar seus efeitos na areia e nos seres marinhos. No entanto, é muito complicado seguir a mancha para trás, em busca de suas origens. Satélites americanos foram usados para isso e não encontraram rastros. Parece que a mancha engana satélites.

Baseado em fotos postas à disposição pelos europeus, pesquisadores da Universidade da Bahia chegaram a ver o que poderia ser uma nova mancha de 22 quilômetros quadrados a caminho da costa baiana. Essa possibilidade foi desmentida. O Ibama sobrevoou a região e não a viu. Chegou a supor que os pesquisadores se tivessem enganado, pois havia nuvens dificultando a visibilidade. A técnica usada para calcular a mancha baseia-se na rugosidade da água. A região apontada como problemática era lisa, chata. A suposição era de que o óleo dominasse a superfície. Os americanos, ao afirmarem não ter conseguido rastrear a mancha, confirmam indiretamente a ideia de que o óleo, mais pesado, afunda e navega numa camada inferior.

Minha experiência induz a uma comparação com o desastre na Galícia, que cobri em 2003. Um petroleiro chamado Prestige derramou 770 mil toneladas de óleo na costa da Espanha. A Galícia, região cruzada por petroleiros mal equipados e semiclandestinos, já conhecera outros vazamentos.Pode ser que isso esteja acontecendo com navios que saem da Venezuela, de onde veio o petróleo vazado. Pressionados pelas sanções americanas, fazem de tudo para escoar a produção, que, de modo geral, vai para a Índia e a China. Barris de rejeitos foram encontrados nas praias com inscrições da Shell. Pesquisadores dizem que rejeitos e óleo derramado na praia são a mesma substância. A Marinha discorda. A Shell também desmente.

Tudo isso se passa com relativo desinteresse nacional. Deputados e senadores foram ao Vaticano e deram as costas para as praias manchadas. O próprio Bolsonaro acusou esquerda, ONU e ONGs de ocultarem o desastre por a origem do óleo ser a Venezuela. Além de denunciar a esquerda, Bolsonaro pouco fez. Em Sergipe foi preciso uma determinação judicial para que protegessem a foz dos Rios São Francisco, Sergipe, Vaza Barris e Real, entre outros. [a decisão judicial foi suspensa, visto que o próprio Ibama reconheceu ser o bloqueio por boias, inadequado para a região.]

Embora possa haver um componente político no relativo desinteresse, vejo outras razões para ele. Há muita atenção para certos biomas, como a Amazônia, pois são vistos como decisivos para as mudanças climáticas. Ignoram-se em grande escala o papel dos oceanos e a importância das correntes marinhas no aquecimento do planeta. Num encontro internacional realizado na Inglaterra, alguns cientistas chegaram a dizer que as correntes marinhas e sua dinâmica é que iam determinar a irreversibilidade do aquecimento global.

Uma semana antes do desastre comecei a ler o livro de Rachel Carson sobre o litoral. Além de excelente escritora, Rachel Carson dedicou-se à zoologia marinha. A riqueza biológica do litoral é descrita por ela com detalhes, desde caranguejos do tamanho da unha do polegar a seres maiores, passando por medusas, nereidas, uma paisagem visual e verbalmente encantadora. Na medida em que conseguirmos transmitir a riqueza da vida oceânica, talvez o interesse aumente.  Na Galícia, em 2003, vi muitos voluntários limpando as praias. Neste desastre no Nordeste também houve movimento, crianças em Alagoas, artistas na Bahia, todos empenhados em tirar a sujeira da praia. Discussão política, requerimentos, comissões, enfim, todo o zum-zum em torno de um desastre tem o seu papel. Usar uma pá e sujar os pés é mais eficaz.

Assim como na Galícia, estamos diante de um problema internacional. Como controlar os navios bandalhas que enganam a fiscalização e descumprem normas de segurança? Se o desastre foi mesmo provocado por um petroleiro, o que me parece mais lógico, o Brasil teria de acionar mecanismos internacionais de controle. Não fazer nada implica esperar um novo desastre, que fatalmente virá. Ainda não sabemos o impacto real do óleo derramado. Temos as praias como alvo porque sua limpeza é essencial para o turismo. Mas há os manguezais e o consumo de crustáceos e moluscos tem um grande papel na dieta da população litorânea. Aí se joga também um jogo mais difícil: limpar os mangues demanda técnica e roupa especial. Ainda assim, é difícil.

Fico pensando num peixe-boi que é acompanhado pela Fundação de Mamíferos Aquáticos. Chama-se Astro e nada agora entre a Praia do Coqueiro e Mangue Seco, na Bahia. Astro é tão tranquilo quanto à presença humana que foi atropelado por barcos 13 vezes. Depois de escapar com vida dessas trombadas, enfrenta um novo momento. O equipamento que o monitora está coberto de óleo. Ele parece que segue bem. Mas, sem dúvida, a vida no mar, que é o berço da própria vida, tornou-se uma aventura perigosa. O transporte clandestino de combustível é um tema que merece cuidado especial. Tende a produzir desastres.

Inúmeras vezes, entre Boa Vista e Pacaraima, na fronteira com a Venezuela, parei para documentar os destroços de carros incendiados. Em geral eram de pequenos contrabandistas fugindo da polícia.  Não adianta apenas criticar a esquerda e as ONGs que cuidam mais dos biomas que estão na moda. Ou culpar a esquerda, que levou anos para descobrir o verde e possivelmente levará séculos para ver o azul. O transporte marítimo de petróleo depende de um controle internacional das embarcações. O Brasil foi vítima. Precisa fazer algo, caso contrário as possibilidades de novo desastre aumentam. O oceano que deixaremos para as novas gerações nunca mais será o que encontramos. Mesmo assim, é preciso resistir.

Artigo publicado no Estadão em 17/10/2019

Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista 



terça-feira, 5 de março de 2019

A lógica da ofensiva contra os sindicatos e sua pouca resistência

Sindicalismo está em uma sinuca

A lógica da ofensiva contra os sindicatos e por que ela enfrenta pouca resistência

Na entradinha do Carnaval o governo editou medida provisória proibindo na prática descontar em folha qualquer taxa para sindicato. O mecanismo vinha sendo aprovado em assembleias após a reforma trabalhista acabar com o imposto sindical. Era uma forma de contornar a asfixia.  Margareth Thatcher e Ronald Reagan atuaram contra os sindicatos, com sucesso. Fernando Henrique Cardoso abriu seu governo quebrando a espinha dos petroleiros. Faz parte dos ciclos político-econômicos orientados a dar mais oxigênio ao capital, para relançar a economia.   Não é novidade que o atual período político se inspira no de 1964. Mas aquele regime nunca precisou - ou vai saber nem quis - eliminar o sindicalismo. Manteve, buscando extirpar os elementos para ele malignos. A repressão foi brutal. Mas não teve como meta eliminar os sindicatos.

Seria porém errado centrar a análise no desejo do governo. Todo poder faz o possível para enfraquecer e no limite eliminar qualquer resistência. Bolsonaro, como Temer, não ataca a estrutura porque quer, mas porque precisa, pela agenda. E principalmente porque pode.  E resmungar contra a ofensiva antissindical é inócuo. Para o resmungo ter efeito, o bolsonarismo precisaria sofrer algum dano de imagem por tentar liquidar os sindicatos. É o contrário: o eleitorado do presidente quer mesmo que ele quebre a coluna vertebral do trabalhismo.   Pois é uma necessidade objetiva para a estratégia de relançamento econômico. O crescimento brasileiro desde os anos 80 é baixo, e um fator central é o muito lento avanço da produtividade. O Brasil não é competitivo globalmente nesse aspecto, com exceção da agricultura.

A recuperação das margens pós-crise continua dependendo da contração dos custos. Especialmente do trabalho. Se não dá para produzir muito mais por hora, que ela custe menos. Nisso ajuda a alta taxa de desemprego. Por isso ela é em boa medida estrutural.  Onde está o problema? Na baixa participação das exportações na economia. O Brasil não é a China, aqui as coisas dependem mais do mercado interno (lá também isso está aumentando). Uma hipótese para nem a economia nem o emprego terem mudado de dinâmica após a reforma trabalhista.   Mas a persistência da estagnação não vem tendo maior efeito político, ainda que seja provável uma reação político-sindical futura. E o retardo na reação explica-se também pela fraqueza orgânica dos movimentos trabalhistas. Ela tem três razões, e a mais importante fica algo escondida.

Há a mudança organizacional do mundo do trabalho,
aspecto muito na moda nos debates. E há o relativo desenraizamento das cúpulas sindicais, após trinta anos em que ir aos gabinetes do poder e ao Ministério Público trazia mais resultado que ir aos locais de trabalho.   O aspecto menos debatido: a pulverização da organização sindical, nascida da reação ao avanço do sindicalismo petista-cutista a partir dos anos 80, finalmente cobra o custo. As razões históricas da “indústria de sindicatos” são conhecidas. E num governo firmemente disposto a matar o sindicalismo, a dispersão pinta ser fatal.  O “fatal” não deve ser lido como “definitiva”, pois as ondas sempre provocam contraondas. Mas que o sindicalismo está numa sinuca, isso está. 
 
Alon Feuerwerker - jornalista e analista político/FSB Comunicação

 

segunda-feira, 4 de junho de 2018

A hora da covardia



Nem Alckmin, nem Marina exigiram a garantia dos direitos básicos de circulação nas estradas e de abastecimento de bens essenciais

Não se tem notícia de humilhação similar. Para todos os efeitos práticos, o governo Temer sucumbiu, atropelado por um caminhão. Mas, em meio ao caos, entre as vozes estridentes dos populistas e os ecos secundários dos oportunistas, deve-se registrar o silêncio dos candidatos de centro. Na paisagem de ruínas, ninguém ousou sair em defesa do interesse geral. A covardia será punida nas urnas.  O Planalto sabia que a explosão viria, mas permaneceu inerte. Diante da catástrofe consumada, ensaiou uma valsa de sucessivos rugidos e recuos, até a completa desmoralização. No início, corretamente, identificou a natureza da operação de locaute, que se fantasiava como greve espontânea. Na sequência, renunciou ao exercício da força legítima, oferecendo carta branca aos grandes empresários de transportes e às facções amotinadas dos caminhoneiros. Corte das estradas, abolição do direito de ir e vir, colapso do abastecimento essencial: uma nação sem governo, sem lei, converteu-se em refém da força privada.

Temer capitulou duas vezes, entregando bem mais do que exigiam as milícias invasoras. No meio do percurso, estendeu sua própria humilhação ao STF, que dera amparo à liberação compulsória das estradas, e aos militares, que se preparavam para cumprir a ordem de romper os bloqueios. O presidente e seu círculo de patéticos estrategistas temiam que a aplicação da lei provocasse uma reprodução das “jornadas de junho” de 2013, incendiando as cidades. [O futuro presidente tem que ser confiável para se ter a garantia que o  Poder Executivo não será covarde nem estenderá a outros a humilhação advinda de covardia.] No altar sacrificial da capitulação, eles imolaram todos os bens públicos que tinham ao alcance. [a covardia começou quando aceitou negociar com as estradas bloqueadas - com bandidos só se negocia quando estão de joelhos, dedos entrelaçados na nuca.] A desoneração da folha das transportadoras, o tabelamento do frete, a contratação de transporte sem licitação, o subsídio ao diesel serão financiados por cortes de gastos sociais, inflação e emissão de dívida. Há, contudo uma perda maior: agora, ninguém mais duvida de que a chantagem compensa, especialmente se for conduzida a seus limites extremos.

Soltaram os cachorros loucos. Nos bloqueios e acostamentos, os especuladores do caos desfraldaram as bandeiras da “intervenção militar”. Na arena de campanha, Jair Bolsonaro prometeu apoio integral aos “caminhoneiros”, simulou um pedido de moderação e, finalmente, garantiu que “um futuro presidente honesto/patriota” anistiará qualquer hipotético atingido por penalidades legais. O protagonista inconteste ganhou coadjuvantes, que se aninharam na boleia de uma carreta bitrem. Ciro Gomes avisou que, sem a revogação da lei do teto de gastos públicos, “vai faltar escola e hospital”. Já Álvaro Dias, um inesperado nostálgico da idade de ouro dilmista, clamou pela administração política dos preços de combustíveis.  A falência técnica da Petrobras nada ensinou ao lulopetismo, engajado na repetição farsesca de uma história trágica. Precisamente quando Bolsonaro advertiu para “a hora de acabar” o motim das estradas, a Federação Única dos Petroleiros (FUP), tentáculo sindical do PT, ensaiou um espetáculo alternativo de dupla utilidade. No plano puramente simbólico, a frustrada greve dos petroleiros reivindicava a redução dos preços do gás de cozinha, uma bandeira “popular” de contraponto petista à baderna da direita. No plano prático, exigia a demissão de Pedro Parente, o presidente que resgatou a Petrobras de um poço sem fundo, passo necessário para uma futura restauração do controle partidário sobre a estatal.

Bolsonaro e o PT operaram segundo seus interesses, apostando nas ações do colapso. O visceral oportunismo de Álvaro Dias só surpreendeu os que não o conhecem. Mas é o silêncio tumular de Geraldo Alckmin e Marina Silva, os candidatos viáveis do centro do espectro político, que indica a dimensão da crise nacional. O candidato tucano permaneceu virtualmente calado durante o auge da crise. No epílogo, depois de firmado o tratado de capitulação, produziu uma exigência vazia de retorno à “normalidade”. A candidata da Rede, por sua vez, criticou com justiça a falta de medidas preventivas do governo e a política de variação diária de preços, apenas para ensaiar um raciocínio primitivo e demagógico — sobre a possibilidade de usar a produção doméstica de petróleo para regular os preços dos combustíveis.

A covardia triunfou. Nem Alckmin, nem Marina exigiram a garantia dos direitos básicos de circulação nas estradas e de abastecimento de bens essenciais. Nenhum dos dois formulou uma nítida condenação dos termos da rendição do Planalto à chantagem dos promotores do locaute. Nenhum deles teve a audácia de defender a gestão de Pedro Parente, explicando que inexiste almoço grátis — e que, sob o império do lulismo, a Petrobras foi à lona por financiar subsídios de cunho populista. 

Segundo constatação do Datafolha, 87% dos brasileiros aprovaram o movimento de paralisação, mas 56% o consideraram prejudicial à população. O instituto registra, ainda, que exatos 87% recusam os aumentos de impostos e cortes de gastos derivados da capitulação governamental. As nações enlouquecem quando o conjunto de suas lideranças políticas entregam-se ao populismo, ao oportunismo e à covardia. Nessa hora, a velha ordem desaba.

Demétrio Magnoli é sociólogo - O Globo


quarta-feira, 30 de maio de 2018

Mesmo com liminar do TST, petroleiros deflagram paralisação hoje

 [Se a multa diária de 500 mil reais,  imposta pelo TST não for cobrada e a FUP compelida a pagar - adotando todas as medidas para executar a dívida decorrente das multas, incluindo penhora de  tudo que pertencer àquela Federação - a Justiça do Trabalho estará desmoralizada.]

A Federação Única dos Petroleiros (FUP)  anunciou hoje (30) que, mesmo com a liminar do Tribunal Superior do Trabalho (TST) que considerou a greve abusiva, a paralisação da categoria foi iniciada e atinge refinarias, terminais e plataformas da Bacia de Campos. O movimento programou atos e manifestações ao longo do dia.

Pelo balanço da FUP, os trabalhadores cruzaram os braços nas refinarias de Manaus (Reman), Abreu e Lima (Pernambuco), Regap (Minas Gerais), Duque de Caxias (Reduc), Paulínia (Replan), Capuava (Recap), Araucária (Repar), Refap (RS), além da Fábrica de Lubrificantes do Ceará (Lubnor), da Araucária Nitrogenados (Fafen-PR) e da unidade de xisto do Paraná (SIX).

A FUP informou que não houve troca dos turnos da 0h nos terminais de Suape (PE) e de Paranaguá (PR). Segundo a federação, na Bacia de Campo os trabalhadores também aderiram à paralisação em diversas plataformas.

Reivindicações
Os petroleiros afirmam que o movimento é uma reação à política de preços dos combustíveis, de crítica à gestão na Petrobras e contra os valores cobrados no gás de cozinha e nos combustíveis.  A paralisação dos petroleiros ocorre três dias depois de o presidente Michel Temer e equipe negociarem um acordo com os caminhoneiros. Por mais de uma semana, os caminhoneiros pararam o país, provocando desabastecimento nos postos de gasolina, supermercados e prejuízos à economia.

Agência Brasil

domingo, 27 de maio de 2018

Paralisação simultânea de rodoviários (locaute) e dos petroleiros (movimento político) Temer não aguenta - quando se força demais a corda ...

Petroleiros decidem realizar greve de 72 horas


[uma simples olhada na pauta de reivindicações dos petroleiros mostra o caráter político - e desordeiros, que busca estabelecer o CAOS; se Temer vacilar eles incluirão na pauta que o governo assuma o total do ressarcimento para cobrir o rombo no Petros




Michel Temer ainda não conseguiu desatar totalmente o nó da paralisação dos caminhoneiros e já está diante de um novo aperto: a Federação Única dos Petroleiros (FUP), entidade sindical que representa os funcionários da Petrobras, decidiu deflagrar uma “greve nacional de advertência”. Vai durar 72 horas. Os braços serão cruzados na virada de terça para quarta-feira, dia 30 de maio. E as atividades só serão retomadas no final da noite de sexta-feira, 1º de junho. Em comunicado divulgado no seu site, a FUP informa que a parada de três dias é uma prévia da “greve por tempo indeterminado.Coisa já “aprovada nacionalmente pela categoria.”

Na negociação com os caminhoneiros, o governo se dispôs a realizar a mágica de manter a política de reajustes da Petrobras e, ao mesmo tempo, oferecer diesel mais barato. Retirou um bode da cartola: congelamento do diesel por 30 dias e subsídio de R$ 5 bilhões para atenuar os reajustes do produto sem impor prejuízos à Petrobras. Os petroleiros exigem que Temer produza uma mágica ainda mais espetacular, que exigirá a retirada de cartolas de dentro dos bodes. A FUP quer a redução do preço do gás de cozinha e de todos os derivados do petróleo, não apenas o diesel.  Mais: a entidade deseja a demissão de Pedro Parente, atual presidente da Petrobras. Muito mais: pede a imediata interrupção da venda de ativos da estatal. Os petroleiros informam que, já neste domingo (27), farão uma espécie de operação tartaruga, retardando a troca de turnos em quatro refinarias e duas fábricas de fertilizantes que a Petrobras cogita privatizar. São elas: Rlam, na Bahia; Abreu e Lima, em Pernambuco; Repar, no Paraná; Refap, no Rio Grande do Sul; Araucária Nitrogenados, no Paraná; e Fábrica de Fertilzantres Nitrogenados Fafen, na Bahia.

No movimento dos caminhoneiros, vitaminado por um locaute (greve de patrões), a liderança é pulverizada. No caso dos petroleiros, o comando é nítido e mais hostil a Temer. [comando único tem muita vantagens;  mas,  tem o seu calcanhar de Aquiles: o que deve ser neutralizado é facilmente identificável.] A FUP é filiada à CUT, braço sindical do PT. Nunca deu um pio contra a roubalheira pilhada na Lava Jato. Jamais se insurgiu contra os apadrinhados de partidos políticos que plantaram bananeira dentro dos cofres da Petrobras nos governos Lula e Dilma. Agora, a FUP sapateia sobre a impopularidade de Temer para tentar desqualificar a gestão técnica da estatal, sem ingerência partidária.  “A atual política de reajuste dos derivados de petróleo, que fez os preços dos combustíveis dispararem, é reflexo direto do maior desmonte da história da Petrobras”, anotou a FUP em seu site. “Os culpados pelo caos são Pedro Parente e Michel Temer, que, intensificam a crise ao convocar as forças armadas para ocupar as refinarias. A FUP repudia enfaticamente mais esse grave ataque ao Estado Democrático de Direito. E exige a retirada imediata das tropas militares que estão nas instalações da Petrobras.”

Nesta segunda-feira (28), a FUP e seus sindicatos realizarão manifestações para bater bumbo contra a importação de derivados de petróleo. Alegam que, sob Pedro Parente, as aquisições feitas no estrangeiro passaram a responder por um quarto de todos os combustíveis vendidos no Brasil. “O número de importadoras de derivados quadruplicou nos últimos dois anos, desde que Parente adotou preços internacionais, onerando o consumidor brasileiro para garantir o lucro do mercado”, escreveu a FUP. “Em 2017, o Brasil foi inundado com mais de 200 milhões de barris de combustíveis importados, enquanto as refinarias, por deliberação do governo Temer, estão operando com menos de 70% de sua capacidade.”

Blog Josias de Souza

[o melhor comentário para encerrar este artigo é curto, sucinto, breve e firme: Lembrai-vos de 64.]