Polícia Federal prende executivos das gigantes do setor de carnes JBS e BRF
‘Carne Fraca’, maior operação da história da PF, determina bloqueio de até R$ 1 bi em contas de 46 investigados
A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira a
“Operação Carne Fraca”, com o objetivo de desarticular organização
criminosa liderada por fiscais agropecuários federais e empresários do
agronegócio. É a maior operação já realizada pela Polícia Federal em
toda a sua história, segundo a organização.
A operação detectou, em quase dois anos de investigação, que
superintendências regionais do Ministério da Pesca e Agricultura do
Estado do Paraná, Minas Gerais e Goiás atuavam diretamente para proteger
grupos empresariais em detrimento do interesse público. Irregularidades
como reembalagem de produtos vencidos e venda de carne imprópria para
consumo humano foram encontradas.
A operação já prendeu executivos dos grupo JBS (de marcas
como Friboi, Swift e Seara) e BRF (marcas como Sadia e Perdigão) e faz
buscas nas residências dos investigados e nas sedes das empresas. O
gerente de Relações Institucionais do Grupo BRF, Roney Nogueira dos
Santos, e o funcionário da Seara, do grupo JBS, Flavio Cassou, estão
entre os presos.
Os pedidos de prisão preventiva incluídos na decisão da 14ª
Vara Federal de Curitiba incluem ainda os nomes do vice-presidente da
BRF, José Roberto Pernomian Rodrigues, e do diretor da BRF, André Luiz
Badissera. Também há pedido para a prisão do funcionário do Ministério
da Agricultura Daniel Gonçalves Filho, que foi superintendente regional
no Paraná e é apontado como "o líder da organização criminosa".
A
decisão também prevê o bloqueio de contas bancárias e de aplicações
financeiras de até R$ 1 bilhão e o bloqueio de outros bens (sequestro e
arresto) de 46 pessoas, entre elas Flavio Cassou, do JBS, e Roney
Nogueira dos Santos, do BRF. A Justiça determinou o bloqueio de até R$ 1
bilhão das contas de 46 investigados na operação. A JBS informou que está averiguando o que aconteceu. A
empresa informa que não houve buscas na sede da empresa em SP e não
confirma prisão de executivos do grupo. A JBS vai divulgar uma nota
oficial em breve. Também procurada, a BRF ainda não respondeu.
REEMBALAGEM DE PRODUTOS VENCIDOS
Entre as irregularidades encontradas pela Polícia Federal
estão reembalagem de produtos vencidos, excesso de água, inobservância
da temperatura adequada das câmaras frigoríficas, assinaturas de
certificados para exportação fora da sede da empresa e do Ministério da
Agricultura, sem checagem in loco, venda de carne imprópria para o
consumo humano.
Cerca de 1.100 policiais federais estão cumprindo 309
mandados judiciais, sendo 27 de prisão preventiva, 11 de prisão
temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão em
residências e locais de trabalho dos investigados e em empresas
supostamente ligadas ao grupo criminoso. As ordens judiciais foram
expedidas pela 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba e estão sendo
cumpridas em sete estados federativos: São Paulo, Distrito Federal,
Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás. “Os agentes públicos, utilizando-se do poder fiscalizatório
do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a
produção de alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem
qualquer fiscalização efetiva”, disse a PF em nota.
Segundo as investigações, entre as ilegalidades praticadas
por funcionários públicos, está a “remoção de agentes públicos com
desvio de finalidade” para atender interesses dos grupos empresariais.
“Tal conduta permitia a continuidade delitiva de
frigoríficos e empresas do ramo alimentício que operavam em total
desrespeito à legislação vigente”, diz a nota. O nome da operação faz “alusão à conhecida expressão popular
em sintonia com a própria qualidade dos alimentos fornecidos ao
consumidor por grandes grupos corporativos do ramo alimentício. A
expressão popular demonstra uma fragilidade moral de agentes públicos
federais que deveriam zelar e fiscalizar a qualidade dos alimentos
fornecidos a sociedade”.
EXECUTIVOS ACUSADOS
A
decisão da Justiça ressalta que Roney Nogueira dos Santos, da BRF,
"alcança dinheiro a servidores públicos, remunera diretamente fiscais
contratados, presenteia com produtos da empresa, se dispõe a auxiliar no
financiamento de campanha política e até é chamado a intervir em
seleção de atleta em escolinha de futebol". A acusação é de que ele
teria até login e senha para acessar o sistema do Ministério da
Agricultura. André Luís Baldissera, diretor da BRF, e Flavio Evers
Cassou, funcionário da Seara (marca do Grupo JBS), também teriam a mesma
linha de atuação, segundo o processo.
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Fonte: O Globo