Canastrões que defendiam a quadrilha da presidenta contra o golpe viraram amantes tórridos da Operação Lava-Jato
Faltam
dez anos para as eleições de 2018. Lá chegando, o Brasil não lembrará que, um
dia, acreditou ter de escolher entre Lula e Bolsonaro. Um país que chega a
acreditar na dupla sertaneja Janot & Joesley como promessa de salvação,
acredita em tudo. Enquanto
o gigante desperta para o trepidante confronto entre esquerda e direita no
mundo da lua, José Dirceu samba em paz. O
guerreiro do povo brasileiro está na dele.
Você
monta o maior assalto da história da República — um assalto republicano, como
ensinou o saudoso Dr. Thomaz Bastos, precursor do Dr. Tomás Turbando — e é
apanhado em flagrante. O que você pensa? “Já era”? Não. Você ainda tem uma
fortuna no caixa da revolução e um exército de advogados, juízes, jornalistas
(alugados e 0800), militantes baratinhos e sanguinários. Além disso, você está
no Brasil. E tem a lenda. Assim
como faltam dez anos para 2018 (na translação mental da opinião pública), 1968
foi ontem.
Daí a maravilha da assombração Bolsonaro: dá pra continuar brincando
de “Os dias eram assim”, com Dirceu no papel de herói contra a ditadura —
sambando para não perder a ternura (rima rica, ou melhor, milionária). E Lula,
o ladrão condenado que Gabriel Predador não matou e a Justiça não prendeu,
fantasiado de alternativa democrática. Não
prenda a gargalhada, caro leitor. Tire você também o cinismo do armário.
E tome
uma atitude corajosa contra essas famílias retrógradas dos anos 50 (a década
passada), que insistem em casar suas filhas virgens. Rompa com
esse conservadorismo sufocante, apoie o maiô de duas peças. E se
quiser ficar pelado para chocar a burguesia, fique logo, porque daqui a meio
século, por volta de 2017, vão achar que você está com calor. Proteste
contra a censura imposta pelos milicos. Faça isso agora, neste febril 1968,
porque daqui a 50 anos as liberdades estarão mais do que garantidas, e podem
achar que você é um rebelde cenográfico.
Segundo
Nostradamus, até a turma do é proibido proibir vai tentar censurar uns livros
por volta de 2013 (quem te viu, quem te vê), mas não vai rolar. O governo
bonzinho que eles apoiarão também tentará, como quem não quer nada, controlar o
que é publicado — fingindo defender os direitos humanos (tem certeza,
Nostradamus?!). Isso também não vai colar. Serão
tempos difíceis para os canastrões ideológicos. Ou nem
tanto. Eles são criativos. E a plateia... Bem, é aquela sagacidade descrita
acima. Foi assim que o assalto de quase década e meia aos cofres públicos sumiu
do debate eleitoral para 2018. Puseram
alguma coisa forte na bebida do Brasil e, de repente, a vida real deu lugar à
pantomima trash Lula x Bolsonaro, esquerda x direita — enfim, aquele melado
demagógico que Serjão, o erudito, imortalizou como masturbação sociológica.
Merece
até performance no museu, com Dirceu sambando ao fundo (vamos atualizar as
obscenidades, por favor). Enquanto
o Brasil era estripado pelos companheiros por todos os seus orifícios (imagem
exagerada? Vamos aos orifícios: Petrobras via petrolão, BB e Caixa via mensalão,
Tesouro via pedaladas, BNDES via Joesley, Odebrecht e tráfico de influência de
Lula junto a ditaduras amigas que humilham mulheres e gays sem comover os
descolados daqui, Ministério dos Esportes/BNDES via escândalo da Copa etc).
Voltando:
enquanto o Brasil era estripado pelos companheiros, a Lava-Jato era tribunal de
exceção.
Quando,
finalmente, o país conseguiu sair da bocarra do PT, a Lava-Jato mudou de sexo. Os
canastrões que defendiam a quadrilha da presidenta contra o golpe viraram
amantes tórridos da operação — claro, a versão do Janot, do Joesley, do Miller,
do Fachin, enfim, a Lava-Jato trans, pseudônimo da conspiração mais vagabunda
já vista por aqui, regida pelos que depenaram o Brasil e queriam voltar a
mamar. A
Lava-Jato real, liderada por Sergio Moro, subsiste desidratada — graças à
inflexão de personagens como Dartagnol Foratemer, hoje lambendo as botas dos
charmosos amigos da quadrilha.
Eles
dizem que o governo foi tomado por uma quadrilha do PMDB. Ah, é? Então digam os
nomes dos bandidos que sanearam a Petrobras em tempo recorde. Quem são eles?
Digam
quais foram os pilantras do PMDB que acabaram com a roubalheira contábil no
Tesouro e sanearam a política fiscal. O Brasil quer saber! Quem são,
afinal, os decrépitos que enxotaram a gangue do Dirceu e iniciaram as reformas
do Estado, com a recuperação de todos — todos — os indicadores econômicos?
Não
citam, e não citarão um único nome.
Os
cafetões da lenda — agora reforçados pela covardia tucana, que não falha —
sabem que o comando das principais instituições nacionais está nas mãos de
gente séria, virando noites para reverter 13 anos de pilhagem. Os
resultados estão aí, à prova de retórica, e é comovente ver os progressistas de
butique fazendo voto de cegueira. Não
adianta. A eleição de 2018 (daqui a dez anos de lero-lero vermelho X
verde-oliva) será sobre isso: concluir a descupinização do Estado ou devolvê-lo
aos cupins, para vê-los sambando alegremente na sua cara, com o seu dinheiro.
Guilherme
Fiuza é
jornalista