As eleições mostram um profundo desencanto com a política. Poder-se-ia,
mesmo, dizer que os decepcionados com a política foram os grandes
vencedores. Os escândalos de corrupção, atingindo vários partidos e,
mormente, o PT tiveram profunda influência sobre o processo eleitoral.
Uma mensagem foi transmitida: os cidadãos das grandes capitais já não
mais aguentam uma política que virou, para muitos, balcão de negócios.
Vejamos
alguns números: os votos nulos, brancos e abstenções alcançaram a cifra
de 38% em Porto Alegre. Cifra igual ocorreu em São Paulo, atingindo, no
Rio de Janeiro, 42%. A votar nestes políticos, os cidadãos optaram por
um não global a todos, repetindo, de outra maneira, a revolta que se
expressou nas manifestações de rua dos últimos anos. Seguindo
esta lógica, o PT foi o maior derrotado, elegendo apenas um prefeito de
capital, no Acre, cidade sem maior expressão nacional. O partido símbolo
da corrupção foi duramente responsabilizado por suas práticas de desvio
e apropriação de recursos públicos.
São Paulo e Porto Alegre
foram cidades importantes para os petistas. São capitais fundadoras do
partido, tendo fornecido seus quadros mais importantes e expressivos
contingentes de eleitores. Na capital paulista, o partido não
conseguiu reeleger o seu prefeito, que perde em primeiro turno. O não ao
petista foi inequívoco, apesar do apoio de Lula, que nada mais agrega
em termos eleitorais. Está mais para a cela 13 do que para o paço
municipal. Note-se que o PT, com Haddad, governou a cidade por 12 anos.
Em
Porto Alegre, o partido não conseguiu colocar o seu candidato no
segundo turno, amargando 16% dos votos válidos. Um fracasso e isto tendo
já governado a cidade por 16 anos. Um bastião petista foi derrubado. Note-se,
ademais, que o candidato, que tinha sido um bom prefeito, não está em
anda envolvido pela corrupção e foi tragado, literalmente, pela onda
antipetista. O mesmo fenômeno ocorreu em Caxias, com o ex-ministro Pepe
Vargas não tendo ido ao segundo turno, tendo sido ele também um bom
prefeito, não envolvido pela corrupção. Foram responsabilizados pelo
coletivo ao qual pertencem.
Observe-se, por último, que o novo
foi apreciado pelos cidadãos, com João Dória vencendo no primeiro turno
em São Paulo e Nelson Marchezan Junior indo ao segundo turno em primeira
posição. São eles assim percebidos por uma população que
procurou dizer não aos que fizeram do bem público um objeto de transação
partidária e privada.
Fonte: Denis Lerrer Rosenfield - Zero Hora
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terça-feira, 4 de outubro de 2016
Desencanto
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