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domingo, 10 de maio de 2015

Os filhos da mãe sempre jogam juntos

Mãe é mãe. Não importa se de situação ou de pretensa oposição. Mães merecem homenagens todos os dias - não só naquelas datas que o comércio, em meio à recessão, aproveita para tentar faturar alto. Todo mundo tem mãe. O pai até pode ser qualquer um - inclusive um não identificado. Mas todos saíram da barriga de alguma mãe - pelo menos até agora, na versão convencional, que a ousadia da altíssima tecnologia ainda não provou ser capaz de substituir. Mãe é sempre alegria. O problema são os filhos da mãe.

Mãe Dilma vai passar o domingão com a mãe, a filha e o neto, em Brasília. Mas ontem à noite a Presidenta que parece na clandestinidade novamente, porque tanto vive se escondendo e fugindo do público, sentou na mesma mesa com um monte de filho da mãe da cúpula do poder de Bruzundanga. Dilma passou horas juntinha de um monte de gente com quem estaria de mal: Luiz Inácio Lula da Silva, Eduardo Cunha (presidente da Câmara, Renan Calheiros (presidente do Senado), Geraldo Alckmin (Governador de São Paulo), senador tucano José Serra, além dos ministros Aloízio Mercadante (Casa Civil), José Eduardo Cardozo (Justiça) e até o poderoso presidente do PT, Rui Falcão, o Chapolim Colorado de Monte Aprazível.

Não, os poderosos não promoveram uma reunião de trabalho, nos embalos de sábado à noite. O encontrão foi em uma festança de casamento, com pompa e circunstância digna das tais "elites", no espetacular Leopolldo, no nobre e badalado Itaim-Bibi, em São Paulo. Que chique! Dilma foi madrinha do casamento do cardiologista Roberto Kalil com a endocrinologista Claudia Cozer. Alguns dos outros figurões, pacientes do noivo, foram padrinhos do casório, cuja festança foi alvo de "panelaço". Uns 30 manifestantes "recepcionaram" com vaias e xingamentos os 400 poderosos convidados.

Os filhos da mãe nem devem ter ligado para o ato. Roberto Kalil é médico pessoal de Dilma, Lula e Serra. Sempre possuiu pacientes na cúpula do poder brasileiro. Em seu primeiro casamento, em 1989, entre os padrinhos estavam o deputado Paulo Maluf e até o último presidente militar daquela dita-dura, o General João Figueiredo (aquele que um dia proclamou: "Quero que me esqueçam"). Imagina o que Lula deve ter falado, da festança daquela época, com toda aquele elite, e para a qual ele ainda não fora convidado, mesmo já sendo um famoso ex-sindicalista e um ex-deputado constituinte que se candidataria à Presidência para atrapalhar Leonel Brizola e perder para Fernando Collor?

Os tempos eram outros... Mas os filhos da mãe continuam os mesmos... Certamente, na mesa da festança de ontem, os ilustres convidados, um aparentemente comendo o fígado do outro no teatrinho da politicagem, só devem ter falado de amenidades. Ou, então, aproveitaram para tornar ainda mais bem costurado aquele compromisso petista-tucano sobre "nada de impeachment". O mais provável é que todos, no inconsciente, tenham cantado: "Meu coração, não sei por quê, bate feliz, quando te vê"... Claro que a musiquinha foi só para o Kalil, e não para os colaterais na mesa de festança...

Os filhos da mãe que ocupam o poder no Brasil são atores profissionais, embora mais pareçam políticos armadores. Eles vivem em outra galáxia. Para o povo que lhes garante o emprego a cada dois ou quatro anos são verdadeiros alienígenas. Cuidam, sempre perfeitamente, de seus próprios interesses. Já o interesse público não é problema deles. Apenas encenam que tem algo a ver com isto. Todos se locupletam nos ambientes de poder. Para estes filhos da mãe, "o povo que se exploda" - como diria o deputado Justo Veríssimo, personagem de ficção do imortal Chico Anísio - que parece mais real que os nossos políticos falsificados.

O Brasil só terá jeito se conseguirmos um jeito de romper com o poderio dos filhos da mãe. A tarefa é uma missão quase impossível. Eles se reproduzem mais que mosquito da dengue em água limpa mal guardada pelas futuras vítimas de sua perigosa picada. Fazer uma limpeza do processo político de verdade é tão complicado quando a ideia do Comitê Organizador da Rio 2016 de tentar combater a sujeira na Baía da Guanabara usando a técnica de "biorremediação" - o uso de microorganismos para engolir a sujeira de ambientes poluídos.

Haja biorremediação contra nossa politicagem. Os vírus, bactérias e outros bichos sofrem uma transmutação constante quando infestam nossos ambientes de poder. Resistem a tudo e ainda se reproduzem como dignos filhos da pátria mãe gentil... Os segmentos esclarecidos da sociedade brasileira não conseguem se comportar como uma elite moral capaz de formular propostas que solucionem problemas da Nação, dos Estados, dos municípios e sequer dos bairros em que vivem. Enquanto os filhos da mãe continuarem sem contraponto, permanecerão fazendo o que bem desejarem.

Os poderosos no Brasil se comportam como convidados permanentes de uma grande festa de casamento entre a incompetência e a filhadaputice política, tendo a corrupção como amante que anima o clima permanente de uma suruba na qual o interesse público termina sempre estuprado. Ainda não temos previsão concreta de que tal lógica da sacanagem seja rompida no Brasil, apesar da grande insatisfação da turma convidada para aquele raio de suruba na qual não se come ninguém, mas o povo sai sempre com dor no costado...

É por isso que continuamos a perguntar, com e sem maldade: Onde está a Honestidade? Quem se habilita a promover uma intervenção constitucional para resolver, de imediato, tanto problema institucional no Brasil? Quando vamos conseguir criar uma "liderança em rede", que reflita a maioria da vontade nacional, em vez de esperar por mais um falso "salvador da pátria"? Se nada disto sequer for possível, em uma hipótese menos péssima, quem é o candidato capaz de se contrapor ao retorno programado do riquíssimo chefão Lula em 2018? Quem hoje teria densidade para derrotar $talinácio - que já está em campanha descarada e leva uma vantagem cínica perante o eleitorado idiotizado?

Os filhos da mãe sempre jogam juntos. Não importa quem seja o eventual "dono da bola". O gol contra nós já nasce de véspera parido da nossa mais cruel madrasta: a passividade brasileira diante do crime institucionalizado. Enquanto não encontramos as respostas corretas para perguntas complexas, os filhos da mãe continuarão jogando seu jogo e se locupletando às nossas custas...

Fonte: Blog Alerta Total - Jorge Serrão