Mãe é mãe. Não importa se de situação ou de pretensa
oposição. Mães merecem homenagens todos os dias - não só naquelas datas que o
comércio, em meio à recessão, aproveita para tentar faturar alto. Todo mundo
tem mãe. O pai até pode ser qualquer um - inclusive um não identificado. Mas
todos saíram da barriga de alguma mãe - pelo menos até agora, na versão
convencional, que a ousadia da altíssima tecnologia ainda não provou ser capaz
de substituir. Mãe é sempre alegria. O problema são os filhos da mãe.
Mãe Dilma vai passar o domingão com a mãe, a filha e o
neto, em Brasília. Mas ontem à noite a Presidenta que parece na clandestinidade
novamente, porque tanto vive se escondendo e fugindo do público, sentou na
mesma mesa com um monte de filho da mãe da cúpula do poder de Bruzundanga. Dilma
passou horas juntinha de um monte de gente com quem estaria de mal: Luiz Inácio
Lula da Silva, Eduardo Cunha (presidente da Câmara, Renan Calheiros (presidente
do Senado), Geraldo Alckmin (Governador de São Paulo), senador tucano José
Serra, além dos ministros Aloízio Mercadante (Casa Civil), José Eduardo Cardozo
(Justiça) e até o poderoso presidente do PT, Rui Falcão, o Chapolim Colorado de
Monte Aprazível.
Não, os poderosos não promoveram uma reunião de trabalho, nos
embalos de sábado à noite. O encontrão foi em uma festança de casamento, com
pompa e circunstância digna das tais "elites", no espetacular
Leopolldo, no nobre e badalado Itaim-Bibi, em São Paulo. Que chique! Dilma foi
madrinha do casamento do cardiologista Roberto Kalil com a endocrinologista
Claudia Cozer. Alguns dos outros figurões, pacientes do noivo, foram padrinhos
do casório, cuja festança foi alvo de "panelaço". Uns 30
manifestantes "recepcionaram" com vaias e xingamentos os 400
poderosos convidados.
Os filhos da mãe nem devem ter ligado para o ato. Roberto
Kalil é médico pessoal de Dilma, Lula e Serra. Sempre possuiu pacientes na
cúpula do poder brasileiro. Em seu primeiro casamento, em 1989, entre os
padrinhos estavam o deputado Paulo Maluf e até o último presidente militar
daquela dita-dura, o General João Figueiredo (aquele que um dia proclamou: "Quero
que me esqueçam"). Imagina o que Lula deve ter falado, da festança daquela época, com toda
aquele elite, e para a qual ele ainda não fora convidado, mesmo já sendo um
famoso ex-sindicalista e um ex-deputado constituinte que se candidataria à
Presidência para atrapalhar Leonel Brizola e perder para Fernando Collor?
Os tempos eram outros... Mas os filhos da mãe continuam os
mesmos... Certamente, na mesa da festança de ontem, os ilustres convidados, um
aparentemente comendo o fígado do outro no teatrinho da politicagem, só devem
ter falado de amenidades. Ou, então, aproveitaram para tornar ainda mais bem
costurado aquele compromisso petista-tucano sobre "nada de
impeachment". O mais provável é que todos, no inconsciente, tenham cantado:
"Meu coração, não sei por quê, bate feliz, quando te vê"... Claro que
a musiquinha foi só para o Kalil, e não para os colaterais na mesa de
festança...
Os filhos da mãe que ocupam o poder no Brasil são atores
profissionais, embora mais pareçam políticos armadores. Eles vivem em outra
galáxia. Para o povo que lhes garante o emprego a cada dois ou quatro anos são
verdadeiros alienígenas. Cuidam, sempre perfeitamente, de seus próprios
interesses. Já o interesse público não é problema deles. Apenas encenam que tem
algo a ver com isto. Todos se locupletam nos ambientes de poder. Para estes
filhos da mãe, "o povo que se exploda" - como diria o deputado Justo
Veríssimo, personagem de ficção do imortal Chico Anísio - que parece mais real
que os nossos políticos falsificados.
O Brasil só terá jeito se conseguirmos um jeito de romper
com o poderio dos filhos da mãe. A tarefa é uma missão quase impossível. Eles
se reproduzem mais que mosquito da dengue em água limpa mal guardada pelas
futuras vítimas de sua perigosa picada. Fazer uma limpeza do processo político
de verdade é tão complicado quando a ideia do Comitê Organizador da Rio 2016 de
tentar combater a sujeira na Baía da Guanabara usando a técnica de
"biorremediação" - o uso de microorganismos para engolir a sujeira de
ambientes poluídos.
Haja biorremediação contra nossa politicagem. Os vírus,
bactérias e outros bichos sofrem uma transmutação constante quando infestam
nossos ambientes de poder. Resistem a tudo e ainda se reproduzem como dignos
filhos da pátria mãe gentil... Os segmentos esclarecidos da sociedade
brasileira não conseguem se comportar como uma elite moral capaz de formular
propostas que solucionem problemas da Nação, dos Estados, dos municípios e
sequer dos bairros em que vivem. Enquanto os filhos da mãe continuarem sem
contraponto, permanecerão fazendo o que bem desejarem.
Os poderosos no Brasil se comportam como convidados
permanentes de uma grande festa de casamento entre a incompetência e a filhadaputice
política, tendo a corrupção como amante que anima o clima permanente de uma suruba
na qual o interesse público termina sempre estuprado. Ainda não temos previsão
concreta de que tal lógica da sacanagem seja rompida no Brasil, apesar da
grande insatisfação da turma convidada para aquele raio de suruba na qual não
se come ninguém, mas o povo sai sempre com dor no costado...
É por isso que continuamos a perguntar, com e sem maldade:
Onde está a Honestidade? Quem se habilita a promover uma intervenção
constitucional para resolver, de imediato, tanto problema institucional no
Brasil? Quando vamos conseguir criar uma "liderança em rede", que
reflita a maioria da vontade nacional, em vez de esperar por mais um falso
"salvador da pátria"? Se nada disto sequer for possível, em uma
hipótese menos péssima, quem é o candidato capaz de se contrapor ao retorno
programado do riquíssimo chefão Lula em 2018? Quem hoje teria densidade para
derrotar $talinácio - que já está em campanha descarada e leva uma vantagem
cínica perante o eleitorado idiotizado?
Fonte: Blog Alerta Total - Jorge Serrão